quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Nazismo não perseguiu apenas judeus

Algo que pouca gente sabe, e que mesmo no texto abaixo não fica exatamente claro. Óbvio, que até pelo título dessa postagem, dá para perceber que o Estado Nazista não se limitou ao holocausto, mas você sabe qual foi a verdadeira motivação de Hitler e seus seguidores?

Se sua resposta for não, então entenda que isso não costuma ser divulgado por dois motivos principais. O primeiro é a quantidade de judeus mortos, que chegou a cifra dw 6 milhões de pessoas. O segundo é político, já que não há interesse no ocidente em indicar que os alvos principais do Nazismo eram xomunistas, lideranças políticas, e só depois os judeus e outras etnias consideradas inferiores ou perigosas.

 Se você não acredita, pesquise.

O que aconteceu com os negros alemães durante o nazismo

Poucos conhecem o destino da comunidade de origem africana na Alemanha após a conquista do poder por Adolf Hitler, em 1933.

Por Carlo Cauti, G1
 


Adolf Hitler e Heinrich Himmler revistam tropas das SS (Foto: Associated Press)Adolf Hitler e Heinrich Himmler revistam tropas das SS (Foto: Associated Press)
Adolf Hitler e Heinrich Himmler revistam tropas das SS (Foto: Associated Press)
Em meio à polêmica envolvendo supremacistas brancos nos Estados Unidos, após o confronto durante a manifestação em Charloteesville, na Virgínia, neste fim de semana, voltam à tona nas redes sociais discussões e interpretações históricas relacionadas a movimentos racistas -- entre eles aquele que é possivelmente o mais notório, o nazismo.
A história das perseguições nazistas contra minorias étnicas, linguísticas, religiosas e políticas, bem como outras partes da população alemã, é bem conhecida, documentada e relembrada nos livros de história do mundo inteiro. Entretanto, há uma categoria específica de vítimas cujo destino trágico foi pouco contado e muitas vezes não é incluído nos grupos perseguidos por Adolf Hitler.
É o caso dos alemães negros que viviam na Alemanha antes da tomada de poder do Führer.

Comunidades históricas

Quando Hitler chegou até a Chancelaria do Reich, em 1933, havia milhares de negros que viviam na Alemanha, embora o exato número nunca tenha sido calculado por censos. As estimativas, portanto, variam muito.
A comunidade alemã negra ainda estava se formando em 1933. Na maioria das vezes eram famílias de alemães de primeira geração, ou seja imigrantes africanos com crianças nascidas na Alemanha, mas que ainda não tinham atingido a maioridade.
Nesse sentido, a comunidade negra alemã da época era semelhante à da França e do Reino Unido – ou seja, formadas, principalmente, por famílias de homens e mulheres vindos das colônias africanas e asiáticas desses impérios.
O núcleo desta pequena comunidade era formado por um grupo de homens africanos e de suas mulheres alemãs. Essas pessoas vieram principalmente das colônias africanas pertencentes à Alemanha entre 1884, o ano de fundação do império colonial alemão, e 1919, quando Berlim, no tratado de Versalhes que decretou o fim da Primeira Guerra Mundial, perdeu todos os seus territórios ultramarinos.
Além disso, havia entre 600 e 800 crianças nascidas de relacionamentos entre mulheres alemãs e soldados das tropas coloniais francesas - constituídos, em sua maioria por africanos.
Essas unidades militares faziam parte das tropas de ocupação que Paris enviou à Renânia, uma área industrial no oeste da Alemanha, para impor o cumprimento do Tratado de Versalhes.
As tropas francesas se retiraram somente em 1930, e a região foi desmilitarizada, até que Hitler enviou tropas alemãs em 1936, violando o Tratado de Versalhes.
Esta comunidade negra alemã estava dispersa em toda a Alemanha e era ligada, em muitos casos, a associações e organizações comunistas e antirracistas.

Leis de Nuremberg

As leis raciais de Nuremberg de 1935, as chamadas "leis para a proteção do sangue e da honra alemãs" – que privaram os judeus alemães de sua nacionalidade e lhe proibiram de se casar ou de ter relações sexuais com pessoas do "sangue alemão" – também foram aplicadas à nascente comunidade negra na Alemanha.
Essas pessoas foram, de fato, consideradas de "sangue estrangeiro" e sujeitas às leis de Nuremberg.
A partir desse momento, apesar de os negros alemães terem nascido na Alemanha e serem filhos de cidadãos alemães, a concessão de cidadania a essas pessoas tornou-se impossível. Os nazistas chegaram a lhe entregar passaportes, chamando-os de "negros apátridas", negros sem pátria.
Isso deixou impossível para eles achar um emprego formal. Alguns foram usados como trabalhadores forçados e classificados como "trabalhadores estrangeiros" durante a Segunda Guerra Mundial.
Outros foram usados como figurantes e atores de filmes de propaganda nazista sobre as colônias africanas perdidas pela Alemanha. Estes tipos de empregos tornaram-se uma das poucas fontes de renda disponíveis para essas pessoas.
Em 1941, as crianças negras foram oficialmente excluídas das escolas públicas de toda a Alemanha, mas a maioria sofreu abusos raciais em suas salas de aula muito antes disso. Alguns foram forçados a sair da escola e nenhum foi autorizado a cursar universidades ou escolas profissionais.
Entrevistas e memórias escritas por homens e mulheres negros alemães, assim como reivindicações de compensações econômicas apresentadas depois do fim da Segunda Guerra Mundial, testemunham essas experiências compartilhadas por muitos negros alemães.
Livros como "Black Germany – The Making and Unmaking of a Diaspora Community, 1884–1960" (Alemanhã negra – A criação e a destruição de uma comunidade da diáspora, 1884-1960, sem tradução para o português), dos professores Robbie Aitken, da Universidade Sheffield Hallam, e Eve Rosenhaft, da Universidade de Liverpool, contam essa história.

Nazistas preocupados

O medo nazista do risco de "poluição racial" levou a um dos principais crimes cometidos por Hitler contra esta comunidade: a esterilização.
Os casais chamados "mistos" foram obrigados a se separar. Quando uma mulher alemã branca solicitava uma licença-maternidade ou ficava grávida de um alemão nascido na África, o parceiro era imediatamente forçado à esterilização.
Em 1937, uma operação secreta nazista foi além: cerca de 400 crianças negras da Renânia foram esterilizadas contra a vontade de seus pais. Por causa dessas perseguições, muitos negros fugiram da Alemanha.
Entretanto, poucos alemães de origem africana foram realmente internados em campos de concentração. De acordo com as últimas pesquisas históricas, não mais de 20 membros da comunidade negra alemã foram levados por nazistas e uma pessoa morreu no programa de extermínio de pessoas com desabilidades, dentro do programa que os nazistas chamaram de “Aktion T4”.
O único alemão negro que foi enviado para um campo de concentração, não por razões políticas, foi Gert Schramm, internado em Buchenwald por causa da cor de sua pele aos 15 anos, em 1944. Ele escreveu um livro "Ein schwarzer Deutscher erzählt sein Leben" ("Um alemão negro conta de sua vida", sem tradução em portugês), relatando sua experiência dramática.
A maioria dos alemães negros foi preso por razões políticas ou pelo chamado “comportamento antissocial”, como a homossexualidade.
De acordo com os nazistas, a própria cor da pele identificava uma pessoa pertencente a esta comunidade como um sujeito "diferente" dos outros alemães. Por isso, uma vez presas, essas pessoas não eram mais liberadas.
Um comportamento que mostra como, mais do que vítimas de uma perseguição nazista, a comunidade negra alemã foi perseguida pelo racismo espalhado nas sociedades europeias da época.




terça-feira, 29 de agosto de 2017

Encontro dos Pelicanos

No final da década passada teve início a criação de um grupo de Oficiais Mercantes formados na década de 60 do Séc. XX. A ideia era reunir esses amigos e companheiros do período de estudos, que a vida a bordo e as correrias do dia a dia haviam separado. Essa reaproximação se daria através de grupos de contato e encontros, seja de alguns poucos para almoços na hora do trabalho, seja de todos em grandes e planejados encontros, em locais onde pudessem interagir, junto com suas famílias, e passar momentos agradáveis.

Pois bem, com o tempo esse número extrapolou o pequeno grupo inicial, e hoje congrega algumas centenas de Mercantes, de várias décadas e turmas diferentes. Muitos não chegaram a se encontrar a bordo, mas todos estão ligados pelos mesmos laços de amor à profissão no mar, e ao sentimento de terem a mesma origem marinheira.

Também, como não podia deixar de ser, esses encontros cresceram, e o próximo é esse que está aí embaixo, entre 6-8 de outubro de 2017, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.


E Saudações Marinheiras!




sábado, 26 de agosto de 2017

Um coral de sopranos

Se o Britain's Got Talent já teve o "Only Boys Aloud", agora apresenta um coral apenas com meninas, o "Coral Angelicus", onde o soprano dá o tom.


terça-feira, 22 de agosto de 2017

Capitalismo sem controle é autofágico e tende a se destruir


Como já disse algumas vezes, o capitalismo sem controle é autofágico e tende a se destruir e à sociedade e ao planeta também. É o que afirma o professor, economista e pesquisador AntonioDavid Cattani.

E mais uma vez reafirmamos aqui, que o mercado, embora importantíssimo, jamais substituirá o Estado, porque têm objetivos distintos. O primeiro busca a concentração das riquezas, independente da dor das pessoas. O segundo busca o bem-estar das pessoas, e mediar a busca pela acumulação, com as necessidades da população.

O problema surge quando um dos lados se apropria do Estado, criando o desequilíbrio e as distorções.

Aconteceu nos países socialistas da extinta Cortina de Ferro, acontece em vários países capitalistas da atualidade. Em ambos os casos, sofre a população.

ENTREVISTA | ANTONIO DAVID CATTANI

Podres de ricos investem no desastre social

por Flavio Ilha
    Podres de ricos investem no desastre socialFotos: Igor Sperotto
    Economista, professor e um dos mais respeitados pesquisadores sobre a concentração de riqueza no mundo, Antonio David Cattani está lançando um novo livro. Em Ricos, podres de rico (Tomo Editorial, 64 páginas), disseca de forma didática e acessível – “sem economês”, salienta – como o aumento da riqueza nas mãos de poucas empresas ou pessoas é um risco à democracia, além de uma ameaça ao próprio capitalismo. “A crise de 1929 foi provocada pelo mesmo fenômeno que estamos observando agora. Em um, dois anos, vamos ultrapassar aquele patamar de concentração. É a crônica de um desastre anunciado”, diz nesta entrevista ao Extra Classe.
    Extra Classe – O senhor estuda a concentração de riqueza nas mãos de poucas pessoas há pelo menos dez anos. A que conclusões chegou nesse período?Antonio Davi Cattani – Meu argumento é que a concentração de renda com a existência de multimilionários é nefasta para a economia e para a democracia. Para a democracia parece evidente, gera corrupção, tráfico de influência. Mas na economia persiste uma discussão sobre a importância de se acumular riqueza antes de distribuí-la. Em outras palavras, a tese de que a concentração de renda criaria mecanismos de maior eficiência econômica para investimentos produtivos que gerassem mais empregos e oportunidades. Bem, dez anos depois posso afirmar que isso é uma falácia. Uma mentira deslavada. Um discurso dos ricos, que querem apenas justificar seus rendimentos e seus privilégios.
    EC – Não se trata de um fenômeno do capitalismo brasileiro?Cattani – Não, de jeito nenhum. Em nenhum capitalismo, em nenhum lugar, a acumulação volta para a sociedade. Em outro livro (A Riqueza Desmistificada, 2007) eu analiso a situação dos Estados Unidos, onde há uma redução de impostos para os mais ricos, desde o primeiro governo de Bill Clinton (a partir de 1993) até o Barak Obama. Mostro ali que, ao contrário do que justificam os teóricos da concentração, não há mais investimentos, mas apenas mais especulação, o que gera instabilidade econômica e mais consumo de produtos de alto luxo, iates, jatinhos, viagens ao espaço. Os podres de rico têm tanto dinheiro que em determinado momento surge a seguinte questão: investir mais para quê? Para se incomodar contratando mais gente? Se eu posso ganhar dinheiro, muito dinheiro, com isenções, com privilégios fiscais? No caso brasileiro, que você menciona, o agravante é que a concentração de riqueza permite comprar, entre outras coisas, o próprio Congresso. Dou o exemplo da JBS, que investiu milhões de reais, centenas de milhões de reais, em todos os partidos, por uma razão bem objetiva: defender seus privilégios. Os bancos, a indústria farmacêutica, o ensino particular, o agronegócio, todos usam essa estratégia. Isso é um atentado à democracia.
    EC – Qual a relação possível dessa concentração de riqueza com a nossa atual crise política?Cattani – Total. O golpe do ano passado foi todo financiado por essa concentração, por esse poder econômico nas mãos de poucos. Não estamos falando do empresariado em geral, há empresários sérios e comprometidos com resultados, que cumprem as leis, mas do grande capital, dos grandes conglomerados que têm um controle estrito sobre a política e também sobre a mídia.
    EC – O que isso tem a ver, por exemplo, com a condenação do ex-presidente Lula? Há alguma relação?Cattani – Sim e não. Por um lado, a concepção da chamada República de Curitiba segue esse padrão concentrador: um pessoal forjado nos Estados Unidos, com uma mentalidade antipopular e elitista, cuja visibilidade se deve ao apoio dos grandes grupos econômicos, que contamina principalmente a classe média. Dou um exemplo: a indústria farmacêutica não suportou a ideia de uma medicina preventiva, desenvolvida nos governos do PT. O ideal, para esse segmento, é deixar as pessoas adoecerem para vender remédios. Outro exemplo: o ingresso de alunos das classes mais baixas na universidade pública, que provocou indignação em muitas áreas específicas. Isso evidentemente está associado com concentração de renda e espírito elitista. Mas não é uma exclusividade brasileira, a concentração de renda ocorre em todo o mundo, até na Suécia – que era um modelo clássico de distribuição – o que não remete à criminalização do ex-presidente Lula. De modo geral, a concentração está se acentuando nos Estados Unidos, na França, na Inglaterra.
    EC – Desde quando?Cattani – Desde os anos de 1980. Basicamente devido à mobilidade do capital financeiro obtida a partir da tecnologia da informação. O poder desse pessoal, o poder desses podres de ricos, só aumentou. Eles compram, corrompem, criam leis, privilégios, isenções. E quando tudo dá errado, dão um golpe de Estado ou, se não for possível, mandam o dinheiro para fora e o reintegram à economia quando as coisas estiverem melhores. Essa história de que os investidores estrangeiros estão voltando ao país, por exemplo, é mais uma balela. É tudo capital brasileiro, nacional, capital que está lá fora, que foi obtido de forma ilegal, que está sendo repatriado.
    EC – Por que tão poucos pesquisadores estudam a riqueza na academia?Cattani – Porque é muito mais fácil trabalhar com a pobreza, com os pobres. Entrevistar um papeleiro, um operário, um gerente de fábrica, é tranquilo. Agora, vai tentar entrevistar um grande empresário, vai perguntar ao (Jorge) Gerdau por que ele levou a sede do seu grupo econômico para Amsterdã (Holanda). Primeiro, você não chega perto dele nem com uma agenda especial, de pesquisador. Depois, a informação essencial é protegida, não se torna pública de jeito nenhum. Eu escrevi um artigo sobre fraudes corporativas e apropriação de riqueza que não consegui publicar no Brasil, apenas no México (na revista Convergência), em 2009. Isso que tinha apenas informações públicas.
    Podres de ricos investem no desastre socialFoto: Igor Sperotto
    EC – Qual é a metodologia dos muito ricos para ficarem cada vez mais ricos?Cattani – Primeiro, os muito ricos se protegem mutuamente. Ou seja, transparência (de informações) só vale mesmo para o Estado, para os governos. Nas empresas deles, não mesmo. Segundo: fomentam ideologicamente a ideia de meritocracia, a ideia de que a pobreza é um problema, e a riqueza, em contraponto, é solução. É claro que não é a solução, a concentração da riqueza agrava o problema da desigualdade. Isso é óbvio. Mas essa falsa meritocracia acaba prevalecendo, as pessoas acham que os ricos são, ou ficaram ricos, porque são competentes. Não é verdade, tirando as exceções de praxe. A maioria dos grandes empresários, por sinal, frauda as regras da concorrência, do livre mercado, quando fazem aquisições, quando compram os concorrentes. Para os grandes empreendimentos, essas regras simplesmente não existem. Outra conclusão possível é de que a riqueza não é abstrata, não está por trás de uma marca, de um conglomerado. Esses impérios são comandados por pessoas, por pessoas físicas, o dinheiro vai para a conta dessas pessoas. É a personalização da riqueza, com nome, endereço e conta bancária. Os privilégios, portanto, estão tanto no nível corporativo quanto no nível pessoal. Uso um exemplo bem simples e clássico para mostrar isso: quem ganha um salário, digamos, de R$ 5 mil aqui, paga imposto de renda compulsoriamente numa alíquota de quase 30%. Já o dono de uma empresa, pessoa física, que ganha R$ 5 milhões de pró-labore, não paga nada, nem um centavo, porque essa renda é lançada como lucro e dividendo – que é isento na nossa legislação. Proporcionalmente, essa pessoa física deveria pagar cerca de R$ 1,4 milhão de imposto de renda sobre esse montante. Mas não paga porque temos uma legislação, criada por um lobby empresarial, determinando essa isenção. As pessoas acham que o fulano é rico porque é competente. Mentira: é rico porque compra privilégios.
    EC – Que dados o senhor usa em suas pesquisas, diante da dificuldade de se obter informações confiáveis do mundo corporativo?Cattani – Temos de usar apenas dados públicos, pois não há outra maneira. Temos que usar o que aparece por aí, reportagens, balanços, estudos. Algumas ONGs fazem trabalhos ótimos de investigação. Um desses levantamentos, por exemplo, conseguiu identificar evasão de divisas por grandes empresas exportadoras: as companhias que comercializam commoditiesvendem oficialmente por um preço abaixo da cotação internacional e recebem a diferença, digamos 20%, 30% do valor de face, diretamente em contas no exterior. Exportam com subfaturamento e recebem a diferença diretamente em paraísos fiscais.
    EC – Isso não é lavagem de dinheiro?Cattani – Sim. E corrupção também, porque é uma operação que precisa ser camuflada de alguma forma.
    EC – Operações como Lava Jato e Zelotes podem ajudar a moralizar esse ambiente empresarial?Cattani – Essa é uma outra questão que precisamos desmistificar: qual foi, por exemplo, o rombo causado na Petrobras apurado pela operação Lava Jato? R$ 10 bilhões? Mas qual o montante de sonegação das grandes empresas brasileiras, a cada ano? É da ordem de R$ 300 bilhões, segundo o sindicato dos auditores fiscais. Talvez R$ 500 bilhões, não se sabe ao certo. Por ano. Na fusão do Itaú com o Unibanco, uma taxação superior a R$ 25 bilhões acabou de ser anistiada pelo Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) porque os conselheiros consideraram que não houve ganho de capital na transação. O Carf é o mesmo órgão onde foram registrados inúmeros casos de compra de votos, que envolvem, entre outros, grupos de mídia como RBS e Globo. É claro que isso nunca vai ser manchete porque eles, incluindo a mídia, se protegem. É um quebra-cabeças. Por que a Gerdau, que já mencionei aqui, foi para Amsterdã? Porque é um paraíso fiscal e, dessa forma, se resolve a questão sucessória. Aqui o imposto de transmissão patrimonial varia de 6% a 8%. Baixíssimo. Nos Estados Unidos, é de 40%. No Japão chega a quase 60%. Em Amsterdã é zero. Ou seja, nossos super-ricos não querem nem pagar o mínimo que a legislação do Brasil exige na transmissão de poder e de capital para os sucessores. Isso é lavagem de dinheiro, uma forma de manutenção da riqueza. É como se houvesse um mundo paralelo ao nosso, do qual nem chegamos perto. O problema é que esse mundo está acabando conosco.
    EC – Além das cifras bilionárias, esse mundo paralelo envolve mais o quê?Cattani – Impunidade, principalmente. E problemas de ordem moral, pois historicamente esse pessoal se safa em todos os processos, sejam administrativos, sejam criminais. Problemas ambientais, também, como a devastação da Amazônia. Pequenos posseiros existem desde sempre, mas o problema começa de fato quando há um grande investimento. Porque ele dificilmente não respeita as leis ambientais, e em geral corrompe a fiscalização. O posseiro que matou uma onça vai para a cadeia; o empresário que devastou quilômetros e quilômetros de floresta está viajando de jatinho para Miami. A concentração de renda se retroalimenta porque cria impunidade e privilégios em várias áreas.
    EC – Nesse cenário, qual a perspectiva de solução?Cattani – Precisamos de formação e de informação. As pessoas não sabem o que acontece, o trabalhador que paga impostos compulsoriamente acha que todo mundo paga também. A solução é simples: basta os ricos pagarem os impostos que devem.
    EC – Mas como fazer isso?Cattani – Sensibilizando a população, já que pela via legislativa ou pelo poder do Estado não tem como. Não com esse Congresso nem com esses governos. As pessoas têm que saber o que está por trás de determinadas decisões políticas. Um exemplo: pequenos empresários que aderem a essas campanhas por menos impostos precisam saber que os grandes empresários, que são seus ídolos, não pagam imposto. Quem paga é ele. Se todo mundo pagasse seus impostos corretamente, dentro dos padrões capitalistas normais, o equilíbrio seria muito maior.
    EC – Para onde esse comportamento vai nos levar, na sua opinião?Cattani – Para o desastre.
    EC – Desastre? De que tipo?Cattani – Um empobrecimento brutal da população trabalhadora ou desempregada, que já estamos vendo aí pelas ruas. A queda para a pobreza é rápida, em um, dois anos, o pessoal que perde emprego se afunda. A parte mais vulnerável da sociedade sente isso rapidamente, há um enorme contingente que voltou a passar fome, que voltou a viver na rua, com mais violência, mais crimes. Um desastre social. Ao mesmo tempo, com o aumento da distância entre ricos e pobres, veremos ainda mais concentração de renda. Isso é muito sério, pois fica cada vez mais difícil combater esse modelo.
    EC – Há um risco de convulsão social?Cattani – Aí a análise é mais complicada. Veja bem: o sistema vai crescendo, crescendo, vai jogando gente para fora. Chega um ponto em que todo esse capital concentrado não consegue a rentabilidade necessária porque não tem quem o sustente. Não há mais consumidores. Isso parece óbvio: mais pobres, menos consumo. Mas aí temos de nos deter num detalhe: o sujeito que tem muito dinheiro não tem medo de arriscar. Ou seja, transforma a economia num cassino, que vai criando o que chamamos de volatilidade econômica, ou seja, um colapso global.
    EC – Já não vivemos isso em 2008, com recuperação?Cattani – Aquilo foi um ensaio, apenas. Uma brincadeirinha, uma reacomodação. A crise de 1929, a maior dos tempos, foi provocada justamente pela concentração de riqueza nas mãos de cada vez menos pessoas. Depois do crash, durante 45 anos os mais ricos, até mais ou menos 1980, se mantiveram num patamar relativamente seguro de estabilidade para o sistema. O que vemos hoje, não há dez anos, é que estamos chegando ao nível de concentração proporcional ao que se podia observar em 1929. Vai passar desse nível, mais um ano ou dois, não mais, vai passar. E isso não é funcional para a economia. Há uma série de legislações favorecendo a concentração. Ao mesmo tempo, as camadas médias, os serviços prestados pelo Estado, já não dão conta de manter o sistema em relativo equilíbrio. O que estamos vendo, então, é uma transferência de recursos sem controle que nunca ocorreu antes. Nos Estados Unidos, os executivos de grandes empresas triplicaram seus rendimentos, seus bônus anuais, nos últimos 30 anos. Não sou eu quem está dizendo isso, mas a (revista) The Economist. Eles estão dizendo que vai arrebentar, eles estão pedindo para parar. E ninguém para. O que pode ocorrer, na minha opinião, é uma quebra ainda maior que em 1929. Estamos vivendo a crônica do desastre anunciado. A ganância não tem limites: quanto mais dinheiro, mais forte. Quanto mais forte, mais ganancioso. É um círculo vicioso que só estica mais e mais essa corda. É uma luta ideológica cruel porque nós, os 99% que não temos quase nada, não conseguimos nos sobrepor aos 1% que detém a riqueza do planeta.