A inflação no Brasil, principalmente na área de alimentos, parece controlada. Mas novas pressões inflacionárias aparecem no horizonte, e ela vem travestida de geopolítica. Sim, porque a não renovação do Acordo de Grãos, que permitia a saída da produção, principalmente de trigo, da Ucrânia deve pressionar fortemente os preços internacionais nos próximos meses, e isso irá se refletir no Brasil que, na contramão do mundo, ainda mantém um dólar com valor relativamente elevado.
Vamos entender melhor a situação. Em 2022, após o início das hostilidades abertas entre a Rússia e a Ucrânia, e devido ao risco de aumentar ainda mais a inflação dos alimentos no mundo, e até de problemas sérios de abastecimento em algumas regiões do mundo, a Rússia assinou um acordo com a Ucrânia e a OTAN, que foi mediado pela Turquia, e que garantia a saída da safra de grãos da Ucrânia (um dos maiores produtores do mundo) pelo porto de Odessa. Acontece que nesse acordo a OTAN e a Ucrânia se comprometiam a não levar a cabo alguns atos, como por exemplo, atacar regiões que a Rússia considerava como suas. Pois bem, a Rússia diz que essas condições não foram cumpridas, e a por isso não renovou o chamado Acordo de Grãos.
Isso já levou um acirramento das escaramuças no Mar Negro, e à destruição de parte significativa da infraestrutura portuária de Odessa, principal ponto de escoamento desses grãos, e que segue no domínio da Ucrânia.
Mas isso não significa que a produção ucraniana não seja escoada, só que ela será escoada de forma mais lenta, mais cara e talvez não chegue a ser totalmente escoada, já que a Rússia poderá não respeitar os comboios de trens que devem levar a produção a outros portos, principalmente no Mar Báltico, ou diretamente ao resto do continente europeu por trem. Mesmo esses portos deverão ficar congestionados, porque a maioria não está preparado para um aumento tão expressivo no volume da movimentação de carga.
Todo esse atraso deve levar a Europa a buscar outros fornecedores, já que ela é o maior dos destinos das exportações ucranianas. Desabastecimentos momentâneos e locais podem ocorrer, pelo mundo todo, principalmente em países com menor poder de barganha.
E todo esse contexto deve levar a uma pressão nos preços de algumas commodities de alimentos, notadamente de trigo, mas também de milho, girassol (óleo), etc.
Só esse contexto já é suficiente para levar a uma pressão inflacionária nos preços de vários alimentos vitais para a população de inúmeros países, inclusive o Brasil. O problema é que esse não é o único ponto de pressão para a inflação mundial, e o Brasil também será afetado. Sobre esses outros pontos falaremos na próxima postagem.
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