Mais um excelente texto de Wellington Calasans, mas dessa vez vejo uma análise datada. Sim, não que ela esteja errada, mas apenas que ela observa um momento presente e futuro muito próximos. Vamos entender o porquê.
Não vejo as ações de Putin por um acordo de paz como erros, mas como opção por um caminho menos destrutivo, e muito menos catastrófico. Sim a entrada de tropas da NATO em território ucraniano seria o estopim de uma escalada, e é isso que Putin busca evitar, e a tática para isso são a mesa de negociações e a demonstração de poder se fogo muito superior ao dos ocidentais. Isso se alia ao fato de que as armas milagrosas ocidentais, que deveriam ter o mesmo efeito, até agora não produziram nada de efetivo. E enquanto o Ocidente corre atrás de ter coisas mais efetivas (e ainda não as tem), os russos seguem tendo algumas de reserva. A China também já tem algumas armas superiores às ocidentais.
E por falar em China, esta vem avançando muito rapidamente em tecnologia militar e quantidade de armas. Em alguns campos já ultrapassou os americanos, incluindo na Marinha, onde as últimas informações dão conta de que a chinesa já ultrapassou a orgulhosa US Navy em quantidade de belonaves, e em tonelagem também, e segue crescendo.
Temos que lembrar que uma eventual entrada direta da UE com tropas na Ucrânia significaria, a princípio, um arejamento nas tropas em si, em termos de quantidade, mas não em qualidade, e menos ainda de equipamentos. Além disso a entrada da UE vai torná-la alvo dos russos, e eles têm capacidade de atingir alvos em qualquer parte do mundo. O contrário não é exatamente verdade, como o conflito atual vem mostrando.
Por fim a China não poderia permitir que os russos perdessem essa guerra, sob pena de isolamento e aí sim, ficar suscetível, então ela seria obrigada a entrar em apoio aos russos.
E falando em China, esta já estaria envolvida num conflito direto com os EUA. Essa é a ideia expressa abaixo.
E a ideia do EUA expressa a tentativa de reproduzir a WWII, quando os estadunidenses, junto com alguns aliados, se ocupavam do Japão, enquanto davam algum apoio logístico para a Europa se "ocupar" da Alemanha.
E aqui vão 6 erros de avaliação dos estrategistas estadunidenses, caso a ideia deles seja realmente essa.
1- A Alemanha era uma máquina de guerra formidável e superior ao resto da Europa em 1939, mas comparativamente, a Rússia é bem superior à UE em relação ao que era a Alemanha.
2- Na WWII o Japão tinha um potencial industrial formidável, mas a fábrica do mundo era o EUA, Hoje o EUA tem uma indústria formidável, mas a fábrica do mundo é a China, e muito à frente de EUA e UE juntos.
3- Não devemos confundir a busca pela solução diplomática com inação. Preferir a solução diplomática não significa não ir a luta, e muito menos não poder lutar. Os chineses disseram isso claramente: "preferimos conversar e chegar a um acordo, mas se não quiserem estamos prontos para qualquer guerra que queiram travar". E os chineses não podem deixar a Rússia cair.
4- O Ocidente está desfasado, tanto em tecnologia, quanto em táticas e estratégias bélicas. Isso pode ser recuperado, mas não significa que ocorrerá, até porque o outro lado não está parado, e segue desenvolvendo também.
5- Na WWII as armas nucleares apareceram de forma episódica e num momento em que os destinos já estavam resolvidos. Hoje elas já estão aí, e serão usadas em caso extremo.
6- Na WWII o EUA estava bastante "protegido" devido sua posição geográfica. Sim, era muito difícil atingir o território estadunidense diretamente, já que dois oceanos o separavam das outras nações tecnologicamente desenvolvidas da época. Hoje isso não existe mais, e até a pequena Coreia Popular pode alcançar território americano e causar danos consideráveis.
Uma hora os ocidentais precisarão levar em conta todos os itens dessa equação. Uma hora a estupidez Liberal e Neoliberal, a arrogância dos "destinos manifestos", e a cegueira misturada com preconceito que os fazem menosprezar outros povos terão que ser deixadas de lado e precisarão pautar as ações das lideranças ocidentais em direção à negociação e ao respeito por outros povos e culturas.
O plano deles foi exposto por Wellington Calasans brilhantemente. O plano deles é suicida.
A retórica de Donald Trump sobre a paz na Ucrânia oscila entre promessas ambíguas e ações contraditórias, revelando uma estratégia que mais parece um jogo de ilusões do que um esforço genuíno para resolver o conflito.
Enquanto o ex-presidente norte-americano repete frases de efeito como “paz mediante a força”, seu enviado especial, Keith Kellogg, anuncia planos para deslocar tropas da OTAN para a Ucrânia, supostamente como parte de uma “força de resiliência”.
Essa dualidade entre discurso e ação sugere que as negociações de Trump não são movidas por um desejo real de paz, mas sim por uma agenda que visa reorganizar as peças do tabuleiro geopolítico para favorecer interesses de longo prazo de Washington.
A proposta de Kellogg — estacionar contingentes da França, Alemanha, Reino Unido e Polônia a oeste do Dnieper, enquanto uma “força de paz” atuaria a leste — é incompatível com as exigências do Kremlin por desmilitarização ucraniana.
A Rússia já deixou claro, por meio de Putin, Lavrov e Shoigu, que a presença de tropas da OTAN em solo ucraniano seria tratada como uma declaração de guerra, com potencial para desencadear um conflito global.
Ainda assim, o governo Trump apoia uma declaração conjunta de ministros europeus prometendo “garantias robustas de segurança” à Ucrânia, incluindo uma coalizão militar multinacional.
Isso não apenas ignora as linhas vermelhas russas, mas também expõe a hipocrisia de um processo de paz que, na prática, prepara o terreno para uma escalada.
A incapacidade de Putin de entender que o Ocidente nunca irá aceitar a Rússia como um país amigo, o impediu de consolidar uma vitória militar nos últimos três anos, preferindo negociar um “acordo entre grandes potências”.
Esse erro do líder russo criou um vácuo perigoso. Seu foco em diálogos, como os previstos para Istambul, contrasta com a ousadia do Ocidente, que avança com planos de militarização mesmo diante de advertências nucleares.
A tolerância do Kremlin a um conflito sem fim, marcado por ataques a infraestruturas russas e humilhações estratégicas, produz e alimenta dúvidas sobre a eficácia de Putin como líder.
Contudo, culpar apenas Moscou é ignorar que Washington explora essa hesitação para reforçar sua posição: ao substituir tropas norte-americanas por europeias na Ucrânia, os EUA liberam recursos para confrontar a China, seu “oponente mais forte”.
A pergunta que paira é se o Kremlin realmente acredita que as “negociações de paz” de Trump são mais do que uma cortina de fumaça para redirecionar conflitos.
A história mostra que Washington não hesita em usar acordos como armas — e a Ucrânia pode estar sendo preparada para ser um campo de batalha permanente, não um espaço de reconciliação.
No entanto, enquanto Trump e seus aliados europeus tecem redes de contradições, a Rússia reafirma sua resiliência histórica.
Desde a Segunda Guerra Mundial, o povo russo demonstrou capacidade de suportar pressões extremas, transformando crises em momentos de coesão nacional.
Os russos provam todos os dias que a ameaça de uma Terceira Guerra Mundial, embora grave, não apaga séculos de determinação frente a adversidades.
Se o Ocidente insiste em tratar a paz como um jogo de xadrez, Moscou, como bom jogador que é, tem provado, mesmo com tropeços, que não abdica de seu direito à segurança — e que a verdadeira paz só floresce quando respeita a soberania de todas as nações.