Texto bastante interessante de Ricardo Nuno. Ele abarca a questão europeia relativa a imigração de forma mais ampla, ainda que siga colocando um foco europeu na mesma. Claro, natural, já que o mesmo é europeu. Também é um avanço, porque a maioria da intelectualidade, e como o próprio Nuno diz, dos políticos do continente, quando tratam da questão, o fazem de forma superficial e enviesada, na busca de preencher claras lacunas deixadas pelo modelo político-econômico que defendem, e que se negam a tratar dema forma séria que tais lacunas exigem.
Sim, ele mostra algumas mazelas mais graves causadas pelas potêncais Ocidentais, entre elas as europeias, nos chamados países periféricos. Mas essas só ocorrem quando as mais leves, que se dão nas várias formas de interferência político/diplomáticas em assuntos internos desses países, não funcionam.
Todas essas interferências têm por fim o acúmulo de riqueza por parte da elite Ocidental, sem necessariamente criar o "jardim" citado por Stoltenberg (ex-Secretário Geral da NATO). Mas qualquer dessas interferências criam pobreza e caos nas nações em que elas são aplicadas. Basta ver o que acontece atualmente em alguns países próximoa à Rússia, e onde suas populações se recusam a aderir às pautas atlanticistas. Golpes brancos e tentativas de revoluções coloridas (quando os golpes não funcionam) emergem do nada, criando caos e problemas sócio-econômicos.
Sim, guerrilhas e guerras são sintomas mais claros e fáceis de detectar, mas a emigração nesses países ocorre pelas relações desrespeitosas, irresponsáveis e ilegais praticadas por essas potêncais em todos os níveis.
Querem tratar do sintoma, não curar a doença
✍️ Ricardo Nuno Costa @ricardo_nuno
Vejo como agora muita gente quer resolver o problema da imigração com medidas drásticas, mas inconsequentes. Os vários processos migratórios para o continente europeu são ancestrais e em parte irreversíveis. Claro que as mais recentes ondas, de há umas duas década a esta parte (saídas das guerras ilegais no Afeganistão, no Iraque e suas extensões), não só são negligentes como ilegais, por quem as pratica e as deixa praticar. É normal que o cidadão comum mostre estupefacção com os responsáveis políticos que querem resolver problemas económicos com a importação de mão-de-obra barata, sem olhar às consequências.
O problema com as atuais demonstrações de mal-estar é que os seus organizadores não querem resolver a doença, mas limitar-se a tratar de um sintoma. Como se fosse assim que se resolvesse um problema essencialmente geopolítico, com tudo o que isso acarreta. Sim, o problema da imigração é só um sintoma de uma doença mais grave. Décadas serão necessárias para uma solução holística e cabal, mas é verdade que um primeiro passo tem de ser dado. A expulsão de imigrantes ilegais ou de criminosos forâneos que querem viver às custas dos estados receptores é legítima e necessária.
Como aqui já foi dito, não se pode defender uma coisa e esperar resultados contrários à sua lógica. Alguém ouviu os dirigentes que agora se mostram tão preocupados com a imigração a sugerir uma mudança no modelo económico, que crie as condições para a riqueza nacional, física e não meramente especulativa? Não só não o fazem, como depositam todas as esperanças na sucessão de fugas em frente e concomitante endividamento dentro do sistema neoliberal vigente. Depositam na receita das últimas décadas uma espúria fé de que produzirá resultados diferentes.
Estes actores têm sequer um plano, ou somente querem angariar votos de uma população compreensivelmente descontente? Ao ler o que dizem e escrevem, por vezes dá-me a sensação que muitos deles não podem ser levados a sério, mas beneficiam-se da confusão e sentimento de injustiça de uma parte da população mais emocional do que nunca. Seguramente passarão à história como pequenos bufões próprios de uma época perturbada, de angústia e ansiedade.
Em geral, estes partidos não têm um ideário consistente; limitam-se a defender o status quo, i.e, a hegemonia do dólar, do euro, na economia de casino aquém-fronteiras e na receita neocolonial em África e outras paragens, que cada vez mais se afastam dos europeus com toda a razão. Para colmo, estes malabaristas do carreirismo político, saltitões da charada partidária, apoiam o auxílio ao sionismo no Médio Oriente. Juram que aquela entidade sintética ali colocada há três quarteirões é a “nossa muralha”. Esquecem-se de mencionar o mal que fez àquela região, as guerras que provocou e os milhões de degredados que trouxe para a Europa.
Endividamento financeiro, hegemonia ocidental, belicismo, sionismo e neocolonialismo, tornaram-se num só corpo, notoriamente doente, este neoliberalismo cuja única esperança parecem ser políticas tão apelativas quanto cosméticas. Maquilhar um ou mais dos seus sintomas poderá dar-nos uma sensação de alívio, mas não curará a doença.
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