terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O que tem a ver a pirataria Somali com a Marinha Mercante?

O texto tirado do site UOL traz duas observações importantes. Embora não afete diretamente a grande maioria dos marítimos brasileiros, a primeira e mais nítida é a pergunta: quando as autoridades internacionais começarão a dar à Marinha Mercante a atenção que a mesma requer? O problema da pirataria Somali há muito ultrapassou os limites do tolerável (se é que algum tipo de crime hediondo possa ser tolerável). Para casos muito menos graves, temos visto mobilizações muito mais intensas e sérias por parte de governos e organizações internacionais, mas no caso da pirataria, vemos apenas reações, sempre tímidas e de forma alguma solucionarão o problema.

A segunda nos afeta muito mais diretamente, principalmente se as leis brasileiras forem mudadas, e leis são mudadas com uma simples assinatura, muitas vezes na calada da noite. A composição da tripulação do navio ITALIANO: 5 italianos (provavelmente oficiais) e 17 indianos (provavelmente guarnição). Além disso me arriscaria a dizer que os italianos não chegam a completar a lotação de oficiais a bordo, sobrando uma ou duas vagas aos indianos (nos postos mais baixos da oficialidade).

Em nossas primeiras postagens comentamos rapidamente sobre a falta de tripulantes nos países mais desenvolvidos, exceção feita aos Estados Unidos, cuja legislação preserva a indústria naval, a Marinha Mercante e os tripulantes de nacionalidade norte-americana. A tripulação do navio italiano apenas confirma que a maioria dos países desenvolvidos ainda está muito longe de voltar a ter tripulações nacionais em condições de operar suas grandes frotas. Os esforços vêm sendo feitos, mas a formação e o treinamento de tripulações capacitadas a operar os modernos navios mercantes não se dá do dia para a noite. A formação de um oficial leva em média 3,5 anos e tripulantes de guarnição, dos postos mais baixos, não estarão realmente aptos a exercer a profissão com menos de um ano de treinamento e experiência.

O Brasil possui tripulações formadas e aptas a tripular navios modernos e com alta tecnologia embarcada. O que precisamos agora é valorizar a profissão e oferecer condições melhores para esses tripulantes a bordo.

A decisão menos inteligente que o país pode tomar é  reduzir ou correr o risco de perder essas tripulações. O preço a pagar é alto, não para os tripulantes, mas para a nação como um todo.


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