quarta-feira, 29 de maio de 2013

Acidente em Estaleiro no Rio de Janeiro: incalculável prejuízo humano e social

Mesmo com todas as precauções tomadas hoje em dia, acidentes continuam acontecendo. Mas o ocorrido no estaleiro Rio Nave com o “Skandi Angra” foi algo completamente inesperado e inaceitável. Independente do fato de haver vítimas fatais ou não, já que alguns trabalhadores podem estar desaparecidos, não podemos deixar de registrar a seriedade e a preocupação que causa uma situação desta envergadura.

O Blog dos Mercantes deseja que as previsões mais pessimistas não se confirmem, e que fiquemos somente com os poucos trabalhadores que sofreram ferimentos leves.

Também esperamos que sejam adotadas medidas mais rigorosas e melhor treinamento do pessoal, assim como uma melhor manutenção e inspeção do material utilizado nas operações do estaleiro, na busca incessante por segurança.

Mais do que os prejuízos financeiros, físicos e no cronograma das empresas, temos sempre o risco de um incalculável prejuízo humano e social, quando ferimentos e mesmo a vida de trabalhadores estão em jogo, e a estabilidade emocional de suas famílias.

Leia a matéria publicada no site do Estadão.

Navio se desprende do cais no Estaleiro Rio Nave
Rio - Um navio em construção se desprendeu do cais no Estaleiro Rio Nave, na Zona Portuária do Rio, deixando ao menos quatro pessoas feridas na manhã de hoje. O acidente ocorreu quando o rebocador Skandi Angra estava sendo preparado para a cerimônia de lançamento ao mar, marcada para as 15 horas.
De acordo com a Capitania dos Portos do Rio de Janeiro as vítimas eram trabalhadores do estaleiro e tiveram apenas ferimentos leves. Ainda pode haver desaparecidos no local, mas a informação não foi oficialmente confirmada.
A hipótese mais provável é a de que o navio tenha perdido o controle após o rompimento de um cabo de sustentação, arrastando estruturas metálicas e outras embarcações próximas.
Além da equipe da Inspeção Naval da Capitania dos Portos, bombeiros, mergulhadores e veículos de apoio terrestre de seis diferentes quartéis foram mobilizados para o socorro às vítimas.
Criado em 2000, o Rio Nave atua com reparo e construção naval. O estaleiro ocupa uma área de 150 mil metros quadrados no bairro do Caju, arrendada do extinto Estaleiro Caneco. Em agosto do ano passado o governo do Rio publicou um decreto desapropriando a área, onde seria construído um Distrito Industrial Naval.

sábado, 25 de maio de 2013

Humor quase marítimo: pode isso, Arnaldo?

Tirei da postagem de uma amiga no Facebook. Muito bem sacada, além de bem humorada.
Sem esquecer que a permanência não pode ser obrigatória.


quinta-feira, 23 de maio de 2013

Blog dos Mercantes: é só diminuir a corrupção no Brasil para atingirmos níveis de desenvolvimento superiores aos atuais

A Folha de S. Paulo publicou entrevista com Dani Rodrick, economista e professor de política internacional na Universidade de Harvard. Nela Rodrick diz que o Brasil não voltará a crescer 7% ao ano, mas afirma que podemos chegar aos 5%.

"Existe estudo que mostra que o Brasil
poderia ter o nível de desenvolvimento
social do Canadá somente com a
diminuição da corrupção, já que
bilhões são desviados dos
cofres públicos todos os anos."

É verdade que alguns de seus argumentos são realmente válidos, visíveis e sensíveis, mas o são para o momento atual, senão vejamos:

1-    Os países desenvolvidos passam por crise e já não apresentam tanta demanda econômica como há alguns anos
2-    O Brasil já atingiu o máximo de industrialização e agora inicia o processo inverso, sendo os serviços o grande promotor de desenvolvimento atual
3-    A indústria não absorve mais mão de obra em grande escala, mas sim capital, sendo agora primordial o desenvolvimento científico-tecnológico
4-    Os BRICs utilizam políticas de desenvolvimento ultrapassadas e se apresentam como suplicantes
5-    A valorização do Real vem dizimando algumas indústrias
6-    O Brasil deveria se preocupar mais com o meio ambiente

7-    Por último, mas não menos importante, o Brasil apresenta um sistema híbrido de liberalismo financeiro e mais mercantilista (intervencionista) no sistema produtivo-comercial.

Os itens acima não estão exatamente na ordem do texto, mas isso não influencia no que vamos dizer agora.

Alguns tópicos são muito pontuais, e podem ser usados como base para uma diminuição momentânea do crescimento brasileiro, mas jamais devem ser analisadas como verdades absolutas em longo prazo. Outros são intrínsecos à economia brasileira, e têm solução; mas necessitam de ajustes e mudanças culturais para sua implantação. Outros ainda são pura propaganda ideológica e dominadora, não devendo a nação abrir mão de seu direito ao desenvolvimento sem contrapartida daqueles que já o alcançaram à custa de seus recursos naturais.

 A crise que assola a Europa irá se reverter e os Estados Unidos já mostram sinais claros de que sua economia aos poucos se recupera.

O Brasil ainda não atingiu o máximo de sua industrialização, como provam a demanda interna existente, mas vem perdendo boa parte de seu parque industrial para as nações asiáticas, notadamente a China, que, devido às suas condições de produção desiguais, vêm angariando indústrias de todo o mundo. Mas isso um dia também irá mudar, pela evolução das próprias forças de produção. Em alguns casos perdemos para vizinhos como Uruguai e Argentina.

A indústria sempre necessitou de investimentos intensos e alta tecnologia. As máquinas a vapor da primeira Revolução Industrial são hoje de uma tecnologia totalmente obsoleta, mas eram altamente avançadas e caras à época. A diferença é que a tecnologia hoje se desenvolve mais rapidamente que no século XIX.

Também temos problemas sérios internos, como impostos excessivos e duplicados, supervalorização do Real, falta de infraestrutura adequada e dificuldades de financiamento. Para sanar alguns desses problemas necessitaríamos de mudanças culturais e morais. 
Outros de financiamento, o que justifica a existência do BNDES e mesmo da criação de um banco desse estilo com os outros BRICS, desde que a sanha por reconhecimento internacional não leve o país a bancar sozinho tal instrumento.

Existe estudo que mostra que o Brasil poderia ter o nível de desenvolvimento social do Canadá somente com a diminuição da corrupção, já que bilhões são desviados dos cofres públicos todos os anos.

Este blogueiro arrisca a dizer que, diminuindo a corrupção endêmica, poderíamos alcançar níveis de desenvolvimento superiores aos 7%, uma vez que mudaríamos o foco do governo para atender aos interesses coletivos nacionais, e não aos privados como vem acontecendo.


E vale uma lida no texto abaixo.

Economia brasileira não volta a crescer 7%, diz professor de Harvard
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
O Brasil não voltará a crescer entre 7% e 8% ao ano, diz o economista Dani Rodrik, professor de política econômica internacional da Universidade Harvard e um dos maiores especialistas em economia do desenvolvimento.
Segundo Rodrik, o ambiente global benéfico -alto crescimento da China, elevados preços das commodities, países avançados em expansão- não vai se repetir. "É realista esperar uma taxa de crescimento de 3% a 4% no Brasil", disse àFolha Rodrik, que participou ontem de seminário da revista "Carta Capital".
Segundo ele, a fase de alto crescimento no mundo acabou. O Brasil, com instituições democráticas sólidas, é resiliente. "Mas o país não deve ser excessivamente ambicioso, precisa ser cuidadoso, fiscalmente seguro, para lidar com os choques externos que provavelmente virão."
*
Folha - O Brasil cresceu 0,9% em 2012 e há uma percepção de que o modelo de crescimento baseado em consumo se esgotou. O que o sr. acha?
Dani Rodrik - Dois anos atrás, todo mundo dizia que o Brasil estava vivendo um novo milagre econômico. Eu achava que era um enorme exagero. Agora, as pessoas estão tirando conclusões apressadas em cima de apenas um ano de crescimento.
O Brasil não vai mais crescer 7%, como no milagre econômico antes da crise da dívida ou mesmo em 2010 (7,5%). É realista esperar uma taxa de crescimento de 3% a 4%. Se o contexto global ajudar, 5% é uma taxa razoável.

O sr diz que, a partir de agora, alto crescimento no mundo será exceção. Como se situa o Brasil nesse cenário?
As condições que permitiram crescimento de 7% a 8% não vão se repetir. Antes, tínhamos os estágios iniciais da industrialização -ao tirar mão de obra da zona rural ou do setor informal e levar para as indústrias, tínhamos ganhos de 400% na produtividade. Agora, não teremos grandes ganhos sem mais investimentos em educação e tecnologia. Com as mudanças tecnológicas, a indústria é muito mais intensiva em capital e não absorve tanta mão de obra. E o Brasil, na realidade, já atingiu o pico de industrialização e está agora se desindustrializando. Mas isso é verdade para a maioria dos países. É inevitável. A discussão agora é a velocidade da desindustrialização, se está mais rápida do que deveria. A indústria não mais será o motor do crescimento. Serviços e outras áreas irão gerar ganhos de produtividade.

O sr. ficou decepcionado com a decisão dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de criarem um banco de desenvolvimento...
Essa é uma noção dos anos 50, de que é preciso ter financiamento de infraestrutura. Frequentemente, o que emperra o desenvolvimento não é a falta de financiamento, mas sim instituições frágeis, excesso de regulação, falta de política industrial e moedas sobrevalorizadas. Financiamento é apenas um dos fatores. Não me parece o foco apropriado para os Brics. Faltam ideias novas de como consertar a globalização e criar uma nova relação entre emergentes e ricos.
O sr. diz que os Brics precisam parar de se comportar como "suplicantes". Qual é a mensagem que o Brasil deveria passar nos foros mundiais?
Gostaria de ver o Brasil abordar o sistema internacional não como um país em desenvolvimento dizendo que é pobre e precisa de ajuda. Em vez disso, o Brasil precisa se posicionar como formador de políticas, que também tem grandes responsabilidades. Em áreas como mudança climática, por exemplo, não haverá redução de emissões se os emergentes não assumirem responsabilidade.

O que o sr. espera de Roberto Azevêdo à frente da Organização Mundial do Comércio?
A agenda da OMC precisa mudar. A Rodada Doha morreu e as pessoas deveriam simplesmente declarar isso. O real desafio para a OMC é estabelecer uma nova narrativa, que não se restrinja a: "você reduz suas tarifas e em troca nós abrimos nossos mercados". No momento, o maior problema não é a falta de abertura comercial.
E o Brasil precisa mudar sua atitude. O Brasil ocasionalmente precisa proteger sua indústria, mas tem de entender que os países ricos passam por uma situação muito difícil e também precisam proteger a sua indústria. O Brasil, apesar de todas as elevações de tarifas recentes, não pode ser chamado de economia fechada. Aliás, acho que a atual estrutura de tarifas no Brasil é até positiva.

Por quê?
Porque, na margem, está dando uma proteção temporária para algumas indústrias que estão sendo dizimadas pela valorização da moeda. Vivemos no mundo possível, não no mundo doutrinário.

Qual é a importância de ter um brasileiro liderando a OMC?
O Brasil pode levar para a OMC uma abordagem pragmática, não doutrinária, que é uma evolução da proposta radical de livre mercado -é assim a política econômica do Brasil atualmente. Então ter um brasileiro no comando da OMC é muito positivo.

O sr. classifica os países de mercantilistas ou liberais. Em que faixa se situa o Brasil?
O Brasil é uma boa mistura -usa regras liberais em seu sistema financeiro, políticas monetária e cambial, mas é mais mercantilista no que se refere às políticas industriais, proteção por tarifas, regras de conteúdo local e uso do BNDES. Talvez precise de menos liberalismo no fronte macroeconômico e mais no fronte comercial.


terça-feira, 21 de maio de 2013

Escravidão Contemporânea?

De vez em quando estamos lendo ou assistindo ao jornal na televisão e somos surpreendidos com uma reportagem sobre a soltura de trabalhadores que viviam em “condições análogas a da escravidão”.

Normalmente tal ação é desencadeada pelo Grupo Móvel de Fiscalização do Ministério do Trabalho, e é apoiado pelas Polícias Federal e Militar local.

Mas como pode existir esse tipo de trabalho se a Lei Áurea data de 13 de maio de 1888? Não teríamos tido tempo suficiente para extirparmos tal forma de trabalho de nossa sociedade?

Bem, antes de tudo é necessário dizer que quando vivemos sob o sistema de produção capitalista, o que dizemos é que esse tipo de sistema de produção é predominante, coexistindo com ele em maior ou menor grau, outros sistemas de produção. Essa coexistência pode ser harmônica ou conflituosa, dependendo dos interesses do modo de produção dominante à época, e do grau de desenvolvimento intrínsecos nas relações entre os modos de produção e de como se articulam os atores dessa sociedade.

Também é necessário dizer que tal fato não se aplica apenas às relações de produção rural. Temos exemplos de redução de liberdade aos trabalhadores em várias áreas e em diversos países. Quando estive na Espanha em 1997 para fazer um curso, foram liberados trabalhadores latino-americanos que trabalhavam em confecções. Conversando com meus anfitriões, me disseram que não era algo tão raro de acontecer. Em São Paulo aumentam os casos de imigrantes ilegais bolivianos, que são usados de forma abusiva em vários setores produtivos. Na China, o maior exemplo atual, algumas empresas são consideradas prisões, tal o grau de degradação imposta aos trabalhadores.

Na Marinha Mercante também acontece, principalmente em navios de Bandeira de Conveniência, onde o Estado de Bandeira exerce pouco ou nenhum controle das condições a bordo. Quando inspetor da ITF cheguei a bordo de determinados navios, em que as condições encontradas eram semelhantes às descritas nas fazendas onde são encontrados os escravos modernos: salários muito abaixo, até mesmo do marco regulatório mínimo; condições de habitação subumanas; existência de mecanismos para manutenção de vínculo independente da vontade do trabalhador; descumprimento do contrato de trabalho, ou inexistência do mesmo; obrigar o trabalhador a trabalhar além do prazo combinado, ou excesso de horas diárias; cerceamento parcial ou total da liberdade, tudo isso conseguido muitas vezes com ameaças e uso da força.

Em minhas andanças pela internet me deparei com o texto no blog de Leonardo Sakamoto, e é exatamente desse tema que ele trata, e coloca de forma bem clara mecanismos de ligação entre o poder político local e alguns de seus “barões do capital”, por isso achei interessante trazê-lo à discussão.

Eu costumo dizer que o sonho de boa parte dos empresários capitalistas é produzir com escravos e vender em um mercado livre e muito bem remunerado. Alguns tentam!

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Blog dos Mercantes de volta - e com força total


Após cerca de cinco meses em que nosso Blog dos Mercantes esteve praticamente parado devido a problemas de saúde do blogueiro, estamos finalmente em condições de, aos poucos, voltar a nossa rotina de postagens de vídeos, comentários sobre atualidades, dicas culturais e outros.

Nesse regresso queremos expressar algumas posições que parecem importantes a este blogueiro.

A primeira é que, como sempre dissemos em nosso blog, não temos a pretensão de sermos os donos da verdade ou de impormos uma visão baseada em pura ideologia política, mas de darmos uma segunda opinião em posições que são repassadas como verdades absolutas, mas, que muitas vezes, têm outros pontos de vista que podem levar a soluções tão boas quanto as apresentadas.

Ao mesmo tempo buscamos passar um pouco da experiência adquirida em muitos anos trabalhando em várias áreas do transporte.

A segunda é fazer um breve resumo do que aconteceu nesses meses em que o blog teve muito pouca atividade.

Na Marinha Mercante continuam os embates sobre a presença de brasileiros a bordo de embarcações estrangeiras. Mas as empresas vêm substituindo brasileiros por europeus, asiáticos e sul americanos a bordo de seus navios. Esse movimento das empresas já vem causando desemprego entre brasileiros, principalmente porque nossa autoridade marítima vem formando profissionais em demasia, e o aumento da frota não acompanha a oferta de novos tripulantes.

Por outro lado existe um movimento sério para a regulamentação do setor de cruzeiros no Brasil. A questão é que tipo de regulamentação iremos criar, e como a mesma será aplicada?

De qualquer forma nosso setor tem estado um pouco afastado da mídia.

Mas não podemos deixar de uma vez mais registrar nosso repúdio ao desemprego de brasileiros em seu próprio país em prol da invasão de trabalhadores estrangeiros.

É fato que os sindicatos marítimos têm atuado intensa e decisivamente nas duas frentes, não esquecendo que as representações patronais também se articulam e se contrapõem a muitos dos interesses dos trabalhadores e mesmo do país, haja vista que a grande maioria dos armadores que operam em nossa costa atualmente é estrangeira.

No setor portuário temos intensos debates sobre a MP 595, que, com todas as emendas, está se tornando uma colcha de retalhos e pouca alteração deverá proporcionar ao setor. Muitos podem dizer que isso seria um retrocesso, mas após ler o texto original posso dizer que a mudança mais profunda afetaria apenas aos TPAs, motivo pelo qual se manifestaram tão fortemente contra a MP.

Além do mais a Lei 8630 ainda não foi totalmente implantada, mas já se buscam mudanças no setor, procurando mais uma vez que os trabalhadores paguem a conta pelo mau planejamento e falta de infraestrutura do setor.

Por fim desejamos que o Blog dos Mercantes seja um espaço democrático e prazeroso àqueles que o acompanham, assim como o é para o blogueiro escrevê-lo.