quinta-feira, 23 de maio de 2013

Blog dos Mercantes: é só diminuir a corrupção no Brasil para atingirmos níveis de desenvolvimento superiores aos atuais

A Folha de S. Paulo publicou entrevista com Dani Rodrick, economista e professor de política internacional na Universidade de Harvard. Nela Rodrick diz que o Brasil não voltará a crescer 7% ao ano, mas afirma que podemos chegar aos 5%.

"Existe estudo que mostra que o Brasil
poderia ter o nível de desenvolvimento
social do Canadá somente com a
diminuição da corrupção, já que
bilhões são desviados dos
cofres públicos todos os anos."

É verdade que alguns de seus argumentos são realmente válidos, visíveis e sensíveis, mas o são para o momento atual, senão vejamos:

1-    Os países desenvolvidos passam por crise e já não apresentam tanta demanda econômica como há alguns anos
2-    O Brasil já atingiu o máximo de industrialização e agora inicia o processo inverso, sendo os serviços o grande promotor de desenvolvimento atual
3-    A indústria não absorve mais mão de obra em grande escala, mas sim capital, sendo agora primordial o desenvolvimento científico-tecnológico
4-    Os BRICs utilizam políticas de desenvolvimento ultrapassadas e se apresentam como suplicantes
5-    A valorização do Real vem dizimando algumas indústrias
6-    O Brasil deveria se preocupar mais com o meio ambiente

7-    Por último, mas não menos importante, o Brasil apresenta um sistema híbrido de liberalismo financeiro e mais mercantilista (intervencionista) no sistema produtivo-comercial.

Os itens acima não estão exatamente na ordem do texto, mas isso não influencia no que vamos dizer agora.

Alguns tópicos são muito pontuais, e podem ser usados como base para uma diminuição momentânea do crescimento brasileiro, mas jamais devem ser analisadas como verdades absolutas em longo prazo. Outros são intrínsecos à economia brasileira, e têm solução; mas necessitam de ajustes e mudanças culturais para sua implantação. Outros ainda são pura propaganda ideológica e dominadora, não devendo a nação abrir mão de seu direito ao desenvolvimento sem contrapartida daqueles que já o alcançaram à custa de seus recursos naturais.

 A crise que assola a Europa irá se reverter e os Estados Unidos já mostram sinais claros de que sua economia aos poucos se recupera.

O Brasil ainda não atingiu o máximo de sua industrialização, como provam a demanda interna existente, mas vem perdendo boa parte de seu parque industrial para as nações asiáticas, notadamente a China, que, devido às suas condições de produção desiguais, vêm angariando indústrias de todo o mundo. Mas isso um dia também irá mudar, pela evolução das próprias forças de produção. Em alguns casos perdemos para vizinhos como Uruguai e Argentina.

A indústria sempre necessitou de investimentos intensos e alta tecnologia. As máquinas a vapor da primeira Revolução Industrial são hoje de uma tecnologia totalmente obsoleta, mas eram altamente avançadas e caras à época. A diferença é que a tecnologia hoje se desenvolve mais rapidamente que no século XIX.

Também temos problemas sérios internos, como impostos excessivos e duplicados, supervalorização do Real, falta de infraestrutura adequada e dificuldades de financiamento. Para sanar alguns desses problemas necessitaríamos de mudanças culturais e morais. 
Outros de financiamento, o que justifica a existência do BNDES e mesmo da criação de um banco desse estilo com os outros BRICS, desde que a sanha por reconhecimento internacional não leve o país a bancar sozinho tal instrumento.

Existe estudo que mostra que o Brasil poderia ter o nível de desenvolvimento social do Canadá somente com a diminuição da corrupção, já que bilhões são desviados dos cofres públicos todos os anos.

Este blogueiro arrisca a dizer que, diminuindo a corrupção endêmica, poderíamos alcançar níveis de desenvolvimento superiores aos 7%, uma vez que mudaríamos o foco do governo para atender aos interesses coletivos nacionais, e não aos privados como vem acontecendo.


E vale uma lida no texto abaixo.

Economia brasileira não volta a crescer 7%, diz professor de Harvard
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
O Brasil não voltará a crescer entre 7% e 8% ao ano, diz o economista Dani Rodrik, professor de política econômica internacional da Universidade Harvard e um dos maiores especialistas em economia do desenvolvimento.
Segundo Rodrik, o ambiente global benéfico -alto crescimento da China, elevados preços das commodities, países avançados em expansão- não vai se repetir. "É realista esperar uma taxa de crescimento de 3% a 4% no Brasil", disse àFolha Rodrik, que participou ontem de seminário da revista "Carta Capital".
Segundo ele, a fase de alto crescimento no mundo acabou. O Brasil, com instituições democráticas sólidas, é resiliente. "Mas o país não deve ser excessivamente ambicioso, precisa ser cuidadoso, fiscalmente seguro, para lidar com os choques externos que provavelmente virão."
*
Folha - O Brasil cresceu 0,9% em 2012 e há uma percepção de que o modelo de crescimento baseado em consumo se esgotou. O que o sr. acha?
Dani Rodrik - Dois anos atrás, todo mundo dizia que o Brasil estava vivendo um novo milagre econômico. Eu achava que era um enorme exagero. Agora, as pessoas estão tirando conclusões apressadas em cima de apenas um ano de crescimento.
O Brasil não vai mais crescer 7%, como no milagre econômico antes da crise da dívida ou mesmo em 2010 (7,5%). É realista esperar uma taxa de crescimento de 3% a 4%. Se o contexto global ajudar, 5% é uma taxa razoável.

O sr diz que, a partir de agora, alto crescimento no mundo será exceção. Como se situa o Brasil nesse cenário?
As condições que permitiram crescimento de 7% a 8% não vão se repetir. Antes, tínhamos os estágios iniciais da industrialização -ao tirar mão de obra da zona rural ou do setor informal e levar para as indústrias, tínhamos ganhos de 400% na produtividade. Agora, não teremos grandes ganhos sem mais investimentos em educação e tecnologia. Com as mudanças tecnológicas, a indústria é muito mais intensiva em capital e não absorve tanta mão de obra. E o Brasil, na realidade, já atingiu o pico de industrialização e está agora se desindustrializando. Mas isso é verdade para a maioria dos países. É inevitável. A discussão agora é a velocidade da desindustrialização, se está mais rápida do que deveria. A indústria não mais será o motor do crescimento. Serviços e outras áreas irão gerar ganhos de produtividade.

O sr. ficou decepcionado com a decisão dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de criarem um banco de desenvolvimento...
Essa é uma noção dos anos 50, de que é preciso ter financiamento de infraestrutura. Frequentemente, o que emperra o desenvolvimento não é a falta de financiamento, mas sim instituições frágeis, excesso de regulação, falta de política industrial e moedas sobrevalorizadas. Financiamento é apenas um dos fatores. Não me parece o foco apropriado para os Brics. Faltam ideias novas de como consertar a globalização e criar uma nova relação entre emergentes e ricos.
O sr. diz que os Brics precisam parar de se comportar como "suplicantes". Qual é a mensagem que o Brasil deveria passar nos foros mundiais?
Gostaria de ver o Brasil abordar o sistema internacional não como um país em desenvolvimento dizendo que é pobre e precisa de ajuda. Em vez disso, o Brasil precisa se posicionar como formador de políticas, que também tem grandes responsabilidades. Em áreas como mudança climática, por exemplo, não haverá redução de emissões se os emergentes não assumirem responsabilidade.

O que o sr. espera de Roberto Azevêdo à frente da Organização Mundial do Comércio?
A agenda da OMC precisa mudar. A Rodada Doha morreu e as pessoas deveriam simplesmente declarar isso. O real desafio para a OMC é estabelecer uma nova narrativa, que não se restrinja a: "você reduz suas tarifas e em troca nós abrimos nossos mercados". No momento, o maior problema não é a falta de abertura comercial.
E o Brasil precisa mudar sua atitude. O Brasil ocasionalmente precisa proteger sua indústria, mas tem de entender que os países ricos passam por uma situação muito difícil e também precisam proteger a sua indústria. O Brasil, apesar de todas as elevações de tarifas recentes, não pode ser chamado de economia fechada. Aliás, acho que a atual estrutura de tarifas no Brasil é até positiva.

Por quê?
Porque, na margem, está dando uma proteção temporária para algumas indústrias que estão sendo dizimadas pela valorização da moeda. Vivemos no mundo possível, não no mundo doutrinário.

Qual é a importância de ter um brasileiro liderando a OMC?
O Brasil pode levar para a OMC uma abordagem pragmática, não doutrinária, que é uma evolução da proposta radical de livre mercado -é assim a política econômica do Brasil atualmente. Então ter um brasileiro no comando da OMC é muito positivo.

O sr. classifica os países de mercantilistas ou liberais. Em que faixa se situa o Brasil?
O Brasil é uma boa mistura -usa regras liberais em seu sistema financeiro, políticas monetária e cambial, mas é mais mercantilista no que se refere às políticas industriais, proteção por tarifas, regras de conteúdo local e uso do BNDES. Talvez precise de menos liberalismo no fronte macroeconômico e mais no fronte comercial.


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