A Folha de S. Paulo publicou entrevista
com Dani Rodrick, economista e professor de política internacional na
Universidade de Harvard. Nela Rodrick diz que o Brasil não voltará a crescer 7%
ao ano, mas afirma que podemos chegar aos 5%.
"Existe estudo que mostra que o Brasil
poderia ter o nível de desenvolvimento
social do Canadá somente com a
diminuição da corrupção, já que
bilhões são desviados dos
cofres públicos todos os anos."
É verdade que alguns de seus
argumentos são realmente válidos, visíveis e sensíveis, mas o são para o
momento atual, senão vejamos:
1- Os países desenvolvidos passam por crise e já não
apresentam tanta demanda econômica como há alguns anos
2- O Brasil já atingiu o máximo de industrialização e
agora inicia o processo inverso, sendo os serviços o grande promotor de
desenvolvimento atual
3- A indústria não absorve mais mão de obra em grande
escala, mas sim capital, sendo agora primordial o desenvolvimento
científico-tecnológico
4- Os BRICs utilizam políticas de desenvolvimento
ultrapassadas e se apresentam como suplicantes
5- A valorização do Real vem dizimando algumas indústrias
6- O Brasil deveria se preocupar mais com o meio ambiente
7- Por último, mas não menos importante, o Brasil
apresenta um sistema híbrido de liberalismo financeiro e mais mercantilista
(intervencionista) no sistema produtivo-comercial.
Os itens acima não estão
exatamente na ordem do texto, mas isso não influencia no que vamos dizer agora.
Alguns tópicos são muito
pontuais, e podem ser usados como base para uma diminuição momentânea do
crescimento brasileiro, mas jamais devem ser analisadas como verdades absolutas
em longo prazo. Outros são intrínsecos à economia brasileira, e têm solução;
mas necessitam de ajustes e mudanças culturais para sua implantação. Outros
ainda são pura propaganda ideológica e dominadora, não devendo a nação abrir
mão de seu direito ao desenvolvimento sem contrapartida daqueles que já o
alcançaram à custa de seus recursos naturais.
A crise que assola a Europa irá se reverter e
os Estados Unidos já mostram sinais claros de que sua economia aos poucos se
recupera.
O Brasil ainda não atingiu o
máximo de sua industrialização, como provam a demanda interna existente, mas
vem perdendo boa parte de seu parque industrial para as nações asiáticas,
notadamente a China, que, devido às suas condições de produção desiguais, vêm
angariando indústrias de todo o mundo. Mas isso um dia também irá mudar, pela
evolução das próprias forças de produção. Em alguns casos perdemos para
vizinhos como Uruguai e Argentina.
A indústria sempre necessitou de
investimentos intensos e alta tecnologia. As máquinas a vapor da primeira
Revolução Industrial são hoje de uma tecnologia totalmente obsoleta, mas eram
altamente avançadas e caras à época. A diferença é que a tecnologia hoje se desenvolve
mais rapidamente que no século XIX.
Também temos problemas sérios
internos, como impostos excessivos e duplicados, supervalorização do Real,
falta de infraestrutura adequada e dificuldades de financiamento. Para sanar
alguns desses problemas necessitaríamos de mudanças culturais e morais.
Outros
de financiamento, o que justifica a existência do BNDES e mesmo da criação de
um banco desse estilo com os outros BRICS, desde que a sanha por reconhecimento
internacional não leve o país a bancar sozinho tal instrumento.
Existe estudo que mostra que o
Brasil poderia ter o nível de desenvolvimento social do Canadá somente com a
diminuição da corrupção, já que bilhões são desviados dos cofres públicos todos
os anos.
Este blogueiro arrisca a dizer
que, diminuindo a corrupção endêmica, poderíamos alcançar níveis de
desenvolvimento superiores aos 7%, uma vez que mudaríamos o foco do governo
para atender aos interesses coletivos nacionais, e não aos privados como vem
acontecendo.
Economia brasileira não volta a crescer 7%, diz
professor de Harvard
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
O Brasil não voltará a crescer entre 7% e
8% ao ano, diz o economista Dani Rodrik, professor de política econômica
internacional da Universidade Harvard e um dos maiores especialistas em economia
do desenvolvimento.
Segundo Rodrik, o ambiente global benéfico
-alto crescimento da China, elevados preços das commodities, países avançados
em expansão- não vai se repetir. "É realista esperar uma taxa de
crescimento de 3% a 4% no Brasil", disse àFolha Rodrik, que
participou ontem de seminário da revista "Carta Capital".
Segundo ele, a fase de alto crescimento no
mundo acabou. O Brasil, com instituições democráticas sólidas, é resiliente.
"Mas o país não deve ser excessivamente ambicioso, precisa ser cuidadoso,
fiscalmente seguro, para lidar com os choques externos que provavelmente
virão."
*
Folha - O Brasil cresceu 0,9% em 2012 e há
uma percepção de que o modelo de crescimento baseado em consumo se esgotou. O
que o sr. acha?
Dani Rodrik - Dois anos atrás, todo mundo
dizia que o Brasil estava vivendo um novo milagre econômico. Eu achava que era
um enorme exagero. Agora, as pessoas estão tirando conclusões apressadas em
cima de apenas um ano de crescimento.
O Brasil não vai mais crescer 7%, como no milagre
econômico antes da crise da dívida ou mesmo em 2010 (7,5%). É realista esperar
uma taxa de crescimento de 3% a 4%. Se o contexto global ajudar, 5% é uma taxa
razoável.
O sr diz que, a partir de agora, alto
crescimento no mundo será exceção. Como se situa o Brasil nesse cenário?
As condições que permitiram crescimento de
7% a 8% não vão se repetir. Antes, tínhamos os estágios iniciais da
industrialização -ao tirar mão de obra da zona rural ou do setor informal e
levar para as indústrias, tínhamos ganhos de 400% na produtividade. Agora, não
teremos grandes ganhos sem mais investimentos em educação e tecnologia. Com as
mudanças tecnológicas, a indústria é muito mais intensiva em capital e não
absorve tanta mão de obra. E o Brasil, na realidade, já atingiu o pico de
industrialização e está agora se desindustrializando. Mas isso é verdade para a
maioria dos países. É inevitável. A discussão agora é a velocidade da
desindustrialização, se está mais rápida do que deveria. A indústria não mais
será o motor do crescimento. Serviços e outras áreas irão gerar ganhos de
produtividade.
O sr. ficou decepcionado com a decisão dos
Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de criarem um banco de
desenvolvimento...
Essa é uma noção dos anos 50, de que é
preciso ter financiamento de infraestrutura. Frequentemente, o que emperra o
desenvolvimento não é a falta de financiamento, mas sim instituições frágeis,
excesso de regulação, falta de política industrial e moedas sobrevalorizadas.
Financiamento é apenas um dos fatores. Não me parece o foco apropriado para os
Brics. Faltam ideias novas de como consertar a globalização e criar uma nova
relação entre emergentes e ricos.
O sr. diz que os Brics precisam parar de
se comportar como "suplicantes". Qual é a mensagem que o Brasil
deveria passar nos foros mundiais?
Gostaria de ver o Brasil abordar o sistema
internacional não como um país em desenvolvimento dizendo que é pobre e precisa
de ajuda. Em vez disso, o Brasil precisa se posicionar como formador de
políticas, que também tem grandes responsabilidades. Em áreas como mudança
climática, por exemplo, não haverá redução de emissões se os emergentes não
assumirem responsabilidade.
O que o sr. espera de Roberto Azevêdo à
frente da Organização Mundial do Comércio?
A agenda da OMC precisa mudar. A Rodada
Doha morreu e as pessoas deveriam simplesmente declarar isso. O real desafio
para a OMC é estabelecer uma nova narrativa, que não se restrinja a: "você
reduz suas tarifas e em troca nós abrimos nossos mercados". No momento, o
maior problema não é a falta de abertura comercial.
E o Brasil precisa mudar sua atitude. O
Brasil ocasionalmente precisa proteger sua indústria, mas tem de entender que
os países ricos passam por uma situação muito difícil e também precisam
proteger a sua indústria. O Brasil, apesar de todas as elevações de tarifas
recentes, não pode ser chamado de economia fechada. Aliás, acho que a atual
estrutura de tarifas no Brasil é até positiva.
Por quê?
Porque, na margem, está dando uma proteção
temporária para algumas indústrias que estão sendo dizimadas pela valorização
da moeda. Vivemos no mundo possível, não no mundo doutrinário.
Qual é a importância de ter um brasileiro
liderando a OMC?
O Brasil pode levar para a OMC uma
abordagem pragmática, não doutrinária, que é uma evolução da proposta radical
de livre mercado -é assim a política econômica do Brasil atualmente. Então ter
um brasileiro no comando da OMC é muito positivo.
O sr. classifica os países de
mercantilistas ou liberais. Em que faixa se situa o Brasil?
O Brasil é uma boa mistura -usa regras
liberais em seu sistema financeiro, políticas monetária e cambial, mas é mais
mercantilista no que se refere às políticas industriais, proteção por tarifas,
regras de conteúdo local e uso do BNDES. Talvez precise de menos liberalismo no
fronte macroeconômico e mais no fronte comercial.
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