quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Para entender a posição da Índia

Excelente o texto de John P. Neelsen e veiculado pela conta de twitter do Geopol.pt. O texto faz um resumo muito preciso das contradições, dos interesses, e da forma como a Índia enfrenta seus desafios e se relaciona com seus vizinhos e com os novos ventos que sopram no cenário mundial. A leitura não é tão rápida, mas vale bastante a pena.

No final a URL para uma entrevista com o General alemão Erich Vad. Está em alemão, mas o google tradutor dá conta de colocá-la em português. O Gen. Vad foi conselheiro de Angela Merkel durante vários anos.

Guerra na Ucrânia: como é que a Índia se está a emancipar do Ocidente Por John P. Neelsen*

Não é só a Índia que vê a guerra da Ucrânia como um conflito europeu que é prejudicial para todo o mundo. O Ocidente e o sistema internacional falharam. Como o país mais populoso está a procurar uma nova ordem com a China e a Rússia.

🇮🇳 O conflito na Ucrânia, com a intervenção militar da Rússia, foi transformado pelos EUA e pela NATO, de um conflito inicialmente étnico interno e mais tarde regional, na sequência do colapso de um grande império, neste caso a União Soviética, numa guerra por procuração europeia com o objetivo de arruinar economicamente e eliminar militarmente e de forma permanente a Rússia como potência geopolítica.

Além disso, o Ocidente coletivo está a esforçar-se por transformá-la e expandi-la num confronto sistémico global entre democracias e autocracias (Biden 2021; Biden-Harris 2022). O objetivo final é travar o declínio da sua hegemonia histórica. Um namoro fútil com a maior democracia A Índia, enquanto país mais populoso com mais de 1,4 mil milhões de habitantes, a quinta maior economia e o principal representante do Sul Global, desempenha um papel central neste contexto. Assim, foi convidada para as cimeiras das democracias em 2021 e 2023 e para a reunião do G7 na Alemanha em junho de 2022. São mantidos contactos intensos, incluindo conversações pessoais entre vários chefes de Estado e o primeiro-ministro Modi, para integrar a Índia na falange anti-russa. Foi o que aconteceu mais recentemente com o chanceler Scholz em Nova Deli, no contexto do G20, a que a Índia preside atualmente. Embora tenha sido acordada uma intensificação das relações económicas e científico-ecológicas, a facilitação da imigração de especialistas indianos em TI e a aceleração da retoma do acordo de comércio livre com a UE, que esteve em suspenso durante anos, o chanceler falhou na sua preocupação política central (Neelsen 2023). Até à data, a Índia não condenou a intervenção da Rússia na Ucrânia, absteve-se das resoluções pertinentes da ONU e não impôs sanções. Para o governo indiano, trata-se, antes de mais, de uma guerra europeia com graves repercussões negativas a nível mundial, e o diálogo e a diplomacia, e não a entrega de armas, são necessários para lhe pôr termo, porque "a era atual não é de guerra", disse Modi a Putin. Tendo em conta as suas boas relações com Washington e a UE, Moscovo e Kiev, Nova Deli poderia desempenhar um importante papel de mediação.
A responsabilidade do Ocidente na guerra da Ucrânia

A atitude de recusa da Índia é de interesse neste contexto. Deve notar-se, desde já, que o Ocidente coletivo prossegue fundamentalmente a sua política de apoio militar maciço à Ucrânia em nome da violação do direito internacional e dos princípios das Nações Unidas. No entanto, os governos dos países que recusam a fidelidade ao Ocidente argumentam de forma semelhante. Ao fazê-lo, dão a entender que consideram que as justificações baseadas em valores do Ocidente são um palavreado diplomático-retórico ("UN-speak") que obscurece os verdadeiros motivos. Isto estabelece o seguinte quadro de argumentação. Já há um ano, o ministro dos Negócios Estrangeiros indiano, S. Jaishankar, sublinhou: «A Europa tem de se libertar da ideia de que os problemas da Europa são os problemas do mundo, mas os problemas do mundo não são os problemas da Europa» (Jaishankar 2022). Isto começa por lançar dúvidas sobre o significado paradigmático geopolítico da guerra da Ucrânia. A posição básica da NATO ou do Ocidente coletivo, segundo a qual a Rússia (a) é a única responsável, (b) age de uma forma fundamentalmente imprevisível, belicosa, hostil às normas e ao direito internacional, não é partilhada. Ainda menos partilhada é, aliás, a visão de um confronto geopolítico em que as democracias, lideradas pelos EUA, se encontram num conflito sistémico maniqueísta com as autocracias, representadas principalmente pela Rússia e pela República Popular da China, pela paz, pelo direito internacional e pelo desenvolvimento. Porquê? Relativamente às causas do conflito, o argumento é o seguinte: 1. A tese da NATO da decisão soberana de cada país em aderir a uma aliança militar deve ser fundamentalmente questionada, tendo em conta a inerente formação de blocos de confronto, numa altura em que se exige a cooperação e a coexistência pacífica com base na segurança comum. No caso concreto, isto é inquestionável, tendo em conta o alargamento a Leste com o estacionamento de tropas e mísseis nucleares diretamente nas fronteiras da Rússia, especialmente após o fim do Tratado ABM.
Isto é especialmente verdade tendo em conta o papel do Ocidente no golpe de Estado de 2014 em Kiev, apesar da proibição da ONU de intervir nos assuntos internos de outros estados. Além disso, o equilíbrio de poder económico e militar é muito desigual. Em comparação com a quota-parte do PIB mundial dos países da NATO, que é de cerca de 45%, a Rússia está ao nível da Itália, com 2,3%. Do mesmo modo, o orçamento militar da NATO é mais de 20 vezes mais elevado, com 1,96 biliões (1,96 trilhões) de dólares contra 84 mil milhões. (nato.int

, 14 de dezembro de 2022).

2. A tese da Rússia imperialista com ambições de restaurar o Império Czarista ou a União Soviética também é insustentável. Por exemplo, estima-se que 150.000 soldados russos tenham atravessado a fronteira com a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, um número demasiado reduzido tendo em conta a extensão do país e a força do seu exército quando se trata de conquistar efetivamente a Ucrânia. Por um lado, trata-se de destruir a infraestrutura material e humana da Ucrânia, militarmente utilizável como futuro membro da NATO, que ameaça diretamente a Rússia. Por outro lado, trata-se apenas territorialmente do Donbass russófono no leste do país, cuja população tem sido discriminada por Kiev e cuja autonomia tem sido combatida com força armada e milhares de mortes, apesar do Acordo de Minsk II de fevereiro de 2015, que é vinculativo ao abrigo do direito internacional (Vad 2023; Kujat 2023). Não são os valores, muito menos os direitos humanos e internacionais, mas apenas os interesses de poder que, em última análise, determinam a política externa ocidental. 1. O conflito na Ucrânia é apenas o teatro de uma guerra do Ocidente coletivo, como evidenciado pela participação do Japão e da Austrália, para manter a sua supremacia. Trata-se menos de salvar a Ucrânia do que de destruir a Rússia como potência militar global, desestabilizando o seu sistema político e arruinando a sua economia, a base da sua capacidade de projeção global. As entregas cada vez maiores de armas cada vez mais pesadas, o treino de soldados ucranianos, a utilização e transferência dos mais modernos sistemas de interceção, vigilância e controlo não servem para contribuir para as negociações de paz, mas sim para prolongar a guerra. Isto inclui também as transferências financeiras maciças para apoiar a destruída economia ucraniana e o mito de uma democracia baseada nos direitos humanos, na liberdade e na separação de poderes (Rügemer 2022). 2. Para além da guerra imediata, os efeitos das políticas ocidentais fazem-se sentir em todo o mundo sob a forma de inflação, interrupção das exportações de energia, falta de abastecimento de cereais e fertilizantes. As mais de 10.000 sanções impostas à Rússia (e à Bielorrússia) são em grande parte responsáveis por este facto. Na verdade, estas sanções são particularmente prejudiciais para o Sul Global e para os pobres em geral, e quanto mais tempo durarem, mais o são. Reduzem o crescimento global, aumentam o peso da dívida dos países em desenvolvimento, fazem subir para níveis incomportáveis os preços das importações de energia e de fertilizantes, condição básica para qualquer desenvolvimento agrícola e industrial. Frustram as aspirações de progresso, provocam miséria em massa e alimentam a agitação política em países que nada têm a ver com a guerra na Ucrânia. Os seus governos devem ser ainda mais atingidos quando o G7, na sua conferência no Japão, ameaçar com "sanções severas" aqueles que minarem as sanções ocidentais (AFP, 18 de abril de 2023). O Ocidente perderá toda a credibilidade quando as exportações de cereais e fertilizantes ucranianos e russos, que se tornaram novamente possíveis após duras negociações mediadas pela ONU, acabarem na sua maioria na Europa e não no Sul Global, onde são particularmente necessários (BBC, 16 de março de 2023). Neste contexto, é compreensível que a Índia, que depende em 85% das importações de petróleo, tenha aumentado as suas importações de petróleo russo de 0,2% para 30%, tendo em conta os preços favoráveis resultantes das sanções. Este facto estimulou a sua economia, aliviou a balança comercial externa e até a melhorou através da exportação de produtos transformados de petróleo bruto, entre outros, para a UE. A Índia não se submete a pressões políticas estrangeiras. Pode e segue os seus próprios interesses, como provam mais uma vez as actuais negociações sobre um acordo geral de comércio livre com a Rússia, atualmente o seu mais importante fornecedor de petróleo (Deutschlandfunk, 17 de abril de 2023).
4. Com as suas sanções não decretadas pelo Conselho de Segurança da ONU, o Ocidente coletivo viola não só o direito internacional, mas também os fundamentos do sistema económico e comercial internacional, incluindo a OMC (Jeffrey Sachs, cirsd.org

, 1 de fevereiro de 2023).

Para além da exclusão abrangente do mercado da Rússia, isto inclui também a sua exclusão do sistema de transferência financeira SWIFT, fazendo uso abusivo do dólar como moeda internacional de pagamento e de reserva, bem como do novo e alargado conceito de segurança para investimentos económicos estrangeiros. Por último, até a inviolabilidade da propriedade, pedra angular da sociedade civil e das relações económicas internacionais, é vítima do confisco e da expropriação de facto da propriedade estatal e privada russa.
«Nenhum grupo de estados pode reivindicar um papel de liderança mundial» (Narendra Modi)

De acordo com o primeiro-ministro Modi, a arquitetura de governação internacional existente falhou completamente na guerra da Ucrânia. Refere-se às organizações internacionais dedicadas à reconciliação de interesses e à resolução pacífica de conflitos, incluindo a ONU, bem como à ordem neoliberal. A ONU não só foi marginalizada — contrariamente ao seu mandato — como também instrumentalizada pelo Ocidente para ostracizar a Rússia. Os tratados de desarmamento foram cancelados e instituições internacionais como o G20, em vez de se ocuparem dos problemas económicos e financeiros globais, foram convertidas para a exclusão política da Rússia. Do ponto de vista da Índia, chegou a altura de uma nova ordem mundial. O Ocidente coletivo hegemónico, baseado na exploração e na crença na sua própria superioridade civilizacional, está a ser substituído por uma visão de uma ordem multipolar baseada na cooperação e na vantagem mútua. Os seus protagonistas mais importantes são os países emergentes, com a China, a Rússia e a Índia na linha da frente. São representados, sobretudo, pelo tri-continental BRICS do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, fundados em 2009, bem como pela Organização de Cooperação de Xangai (OCX), iniciada em 2001 e que, desde 2017, inclui a Índia e o Paquistão como membros de pleno direito, juntamente com a Rússia, a China e quatro repúblicas da Ásia Central e, mais recentemente, o Irão. Ao contrário dos 12 por cento da população das metrópoles capitalistas ricas da NATO, da UE e do G7, estes países representam mais de 40 por cento da população mundial. Ao contrário dos países do Norte, que estão a envelhecer e a estagnar economicamente, a sua quota no comércio mundial e na riqueza global também está a aumentar economicamente. Enquanto o G7 contribuía com mais de 50 por cento do produto nacional mundial em termos de poder de compra em 1982, em 2022 esta quota tinha diminuído para 30 por cento, enquanto os BRICS passaram de 10 para 31 por cento (Chandrakanth 2023). Por conseguinte, exigem não só uma reforma fundamental da ONU, especialmente do Conselho de Segurança, com representação permanente da Índia, África e América Latina, mas também um peso adequado nas organizações económicas de Bretton Woods. Além disso, criaram as suas próprias instituições financeiras alternativas, baseadas não no poder económico mas na igualdade, análogas às sociedades por acções. E, em resposta à instrumentalização do dólar, a base económica da hegemonia americana, os acordos comerciais bilaterais são cada vez mais facturados nas suas próprias moedas. É o caso da Índia que, impulsionada pela guerra da Ucrânia e pela política de sanções extraterritoriais do Ocidente, está a transformar a rupia numa moeda de comércio global (DWN, 14 de abril de 2023). O mesmo se aplica ao comércio entre a Arábia Saudita e a China ou entre o Brasil e a China, bem como entre os dez Estados da Asean (DWN, 16 de abril de 2023). Em vez de uma ordem mundial ostensivamente baseada em valores, mas na realidade baseada em interesses de poder, eles confiam na primazia de uma ONU (reformada), na igualdade e no direito internacional, na diversidade cultural e na autodeterminação económica e política. Em combinação com a proibição de intervenção, a resolução pacífica de conflitos e o desenvolvimento conjunto, remontam historicamente aos "Pancha Shila" — os "Cinco Princípios" da coexistência pacífica, que foram acordados num tratado de cooperação entre a Índia e a República Popular da China em 1954, constituindo depois a base da Conferência Asiático-Africana de Estados Independentes em Bandung (Indonésia) em 1955 e, finalmente, moldando o Movimento dos Não-Alinhados desde 1961. O multilateralismo em vez da formação de blocos conflituosos, as plataformas em vez de alianças militares firmes são alguns dos princípios da sua aplicação na prática que são particularmente importantes atualmente.
«A política externa indiana é uma busca incessante de ascensão na ordem internacional.» (Ministro dos Negócios Estrangeiros Subrahmanyam Jaishankar)

Mas a política externa da Índia não se caracteriza por uma posição anti-ocidental e pró-Terceiro Mundo. Com 18% da população mundial, o país é demasiado grande para isso, a sua economia demasiado importante, as suas ambições geopolíticas demasiado pronunciadas. Acima de tudo, porém, o sistema internacional está a passar por um processo de mudança fundamental no equilíbrio de poder e nas alianças, o que torna difícil tomar partido unilateralmente. O único objetivo de Nova Deli é claro: uma ordem policêntrica com a Índia como um dos pólos. Nesta via, o ambiente geopolítico de Deli tem de ser analisado mais de perto. Vários factores são determinantes neste contexto: 1. Geográfico-político: (a) pela sua localização central no meio do Oceano Índico. Com uma costa de 7.500 quilómetros entre o Mar Arábico e a Baía de Bengala até ao Estreito de Malaca, controla uma das mais importantes rotas comerciais mundiais. Assim, 80% do comércio mundial de petróleo passa pelo Oceano Índico, desde as costas de África e do Médio Oriente até ao Sudeste e Leste da Ásia, incluindo o Japão e a Coreia do Sul. Em contrapartida, (b) faz fronteira com as altas montanhas dos Himalaias, de baixa permeabilidade, a norte. (c) Historicamente mais uma potência terrestre, a Índia tenciona alargar cada vez mais as suas perspectivas marítimas no futuro. 2. A sua política externa é dominada pela inimizade histórica com o vizinho Paquistão, que se traduziu em três guerras até à data, cristalizadas na luta por Caxemira. A isto acresce a sua relação conflituosa com a China, o seu grande vizinho e concorrente a norte, com quem partilha uma fronteira muito disputada que se estende por 3.500 quilómetros. A crescente aproximação política e económica entre a República Popular e o Paquistão, concretizada recentemente com a expansão do Corredor Económico China-Paquistão através de Caracórum até ao Oceano Índico, no âmbito da Iniciativa "Uma Faixa, Uma Rota" (BRI), só veio aumentar os receios de Deli. No entanto, a China e a Índia, vítimas do colonialismo ocidental desde o início do século XIX, registaram um declínio sem precedentes, passando de representarem, em conjunto, cerca de metade do produto nacional global para apenas quatro por cento cada, por volta de 1950. Co-iniciadores do Movimento dos Não-Alinhados em Bandung, estiveram entre os porta-vozes das posições do Sul Global durante décadas. No entanto, a ascensão económica da China desde 1980, cujo PIB é agora cinco vezes superior ao da Índia (18,1 contra 3,4 biliões de dólares), e a sua crescente importância político-económica como a maior potência comercial, com relações cada vez mais densas também com os países do Oceano Índico, ameaçam o papel da Índia como potência preeminente e reguladora. 3. A política externa indiana está a tornar-se correspondentemente mais complexa no entrelaçamento das ambições internacionais de progresso num ambiente geopolítico transitório e cada vez mais militarizado. Um enfraquecimento excessivo da Rússia na sequência da guerra da Ucrânia e, ao mesmo tempo, uma aproximação excessiva e dependência da China na sequência da política de sanções do Ocidente não é do interesse de Nova Deli. Historicamente estreitamente ligada a Moscovo nos domínios energético, incluindo nuclear, económico e militar, esta cooperação está a ser reforçada. E embora Nova Deli esteja a expandir a sua própria indústria de defesa e a diversificar as suas importações de Israel ou da França, por exemplo, através da compra de caças Rafale, a Rússia continua a ser, de longe, o maior fornecedor, por exemplo, do sistema de defesa antimíssil S-400. Ao mesmo tempo, a cooperação com os EUA está a aumentar. Isto reflecte-se no aumento da coordenação militar para melhorar a interoperabilidade e, enquanto parceiro estratégico, no acesso preferencial a armas. Além disso, a cooperação com os EUA e o Japão está a intensificar-se no grupo "Quad" ("Diálogo de Segurança Quadrilateral", uma aliança informal entre os EUA, o Japão, a Índia e a Austrália, que foi criada por necessidade na sequência da catástrofe do tsunami de 2004 e à qual os EUA estão a tentar dar um verniz militar), especialmente desde que Washington estabeleceu o objetivo de conter a República Popular da China, para além de aprofundar as relações em questões económicas e ambientais em nome do "Indo-Pacífico livre e aberto". A cooperação com a China e a Rússia nos BRICS e na OCX com uma cooperação simultânea no grupo "Quad" não é uma contradição do ponto de vista da Índia. Pelo contrário. Em nome do "multi" em vez do tradicional "não-alinhamento" e precisamente na recusa de um posicionamento bipolar de confronto como parceiro júnior numa "aliança de democracias" dominada pelo Ocidente, Deli vê uma grande oportunidade. Aliada e cortejada por todos os lados, o âmbito da sua política externa é alargado, o seu papel político internacional é reforçado e, ao mesmo tempo, a sua atratividade como local de negócios e destino de investimento direto estrangeiro é realçada. Ao mesmo tempo, promove o desenvolvimento de uma ordem internacional multipolar, potencialmente menos militarista e mais cooperativa, dedicada aos problemas reais do ambiente, da desigualdade e do desenvolvimento. * O Prof. Dr. John P. Neelsen (nascido em 1943) é um antigo professor universitário do Instituto de Sociologia da Universidade de Tübingen. ---------------------- Fontes: Guerra da Ucrânia: como é que a Índia se emancipa do Ocidente A falta de credibilidade do Ocidente como defensor do direito internacional Ler numa página Biden-Harris (2022): Estratégia de Segurança Nacional, 12 de outubro de 2022. Joe Biden (2021): Observações do Presidente Biden na Cimeira para a Democracia, Washington, 9 de dezembro de 2021, onde considerou a luta pela democracia o "desafio definidor do nosso tempo". MG Chandrakanth (2023): Como os países do Brics ultrapassaram o G7 em PIB com base em PPC. In: The Times of India, 9 de abril de 2023. Subrahmanyam Jaishankar (2022), Entrevista, 3 de junho de 2022. Harald Kujat (2023): Entrevista (na altura Inspetor-Geral das Forças Armadas Alemãs e Presidente do Comité Militar da NATO). John Neelsen (2023): O chanceler Scholz em Nova Deli. Cortejo fútil da maior democracia no conflito da Ucrânia, in: WeltTrends 196 (primavera de 2023). Werner Rügemer (2022): Unsere europäischen Werte, in: Gehrke, Wolfgang/Reymann, Christiane (eds.): Ein willkommener Krieg? Nato, Rússia e Ucrânia. PapyRossa Verlag, Colónia.
Erich Vad (2023): Quais são os objectivos da guerra? Entrevista com o antigo general Erich Vad. In: Emma, janeiro de 2023, cf.

https://www.emma.de/artikel/erich-vad-was-sind-die-kriegsziele-340045

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

BRICS crescem, mas mudança depende de vencer desafios

Semana passada tivemos mais um encontro anual dos BRICS. Como esperado o bloco cresceu (não tanto quanto se esperava), como esperado o bloco tomou decisões internas, que afetam (ou não) diretamente seus membros, mas como não esperado o bloco não se pronunciou diretamente sobre alguns dos problemas geopolíticos que afligem a humanidade, enquanto se pronunciou de forma espinhosa para o Ocidente sobre outras, e ainda o fez de forma genérica sobre a situação geopolítica atual.

Vamos começar dizendo que no início do mês, em reunião ocorrida entre Ministros dos 5 membros originais foi decidido maior apoio a pequenas e médias empresas; regras mais flexíveis, ainda que responsáveis, para as questões de emissão de carbono, baseadas em regras da OMC e condições reais dos envolvidos; e por último a discussão com membros fora do bloco sobre temas como economia digital, e cooperação com países menos desenvolvidos com busca desse desenvolvimento.

Já na cimeira, além dos 5 países originais, outros 62 países participaram, uma grande parte deles tendo enviado seus líderes mais importantes, sendo indubitavelmente um evento importantíssimo para o planeta. E não, Macron não esteve presente.

Como era esperado o bloco cresceu. Não como previam, mas cresceu. Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Irã, Etiópia,  Egito e Argentina, o bloco passou a ser formado por 11 países. Ou melhor, passará a ser formado por 11 países, já que a adesão dos 6 novos membros só será oficializada em 1 de janeiro de 2024. Eles assumem como membros plenos, e participam das decisões do grupo com poder de voto, e é importante lembrar que o bloco age em uníssono e em consenso.

Esse foi o maior dos avanços, que trouxe mais equilíbrio ao bloco, que agora começa a expressar mais a tão falada multipolaridade defendida por eles. Além disso outros países já expressaram suas intenções de aderir ao bloco, que já analisa os pleitos, e tende a crescer ainda mais em sua próxima reunião anual.

Outro avanço do grupo foi a confirmação de que os membros estudam mecanismos de trocas comerciais baseados nas próprias moedas, o que diminui a dependência do dólar, e ainda mina o gigante do Norte.

BRASIL NISSO

O Brasil conquistou duas grandes vitórias próprias. Uma foi em conjunto com a Índia, já que teve seu pleito conjunto de assumir uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU parcialmente atendido pela declaração final no evento, quando o bloco se comprometeu a lutar para que o CSONU seja revisto, e também a África do Sul assuma uma cadeira no órgão.

A outra grande vitória do Brasil foi a inclusão da Argentina. Talvez seja uma solução um pouco precipitada, já que tudo indica que a situação interna do país irmão está ainda mais complicada que a brasileira, e isso se expressa na vitória de Javier Milei, candidato de extrema-direita, nas prévias argentinas.

Sim, o ingresso nos Brics pode melhorar a posição da composição neoliberal que ocupa a Casa Rosada, mas dependerá muito mais de algumas mudanças de rumo do próprio governo argentino, e talvez o ingresso no bloco chegue tarde. De qualquer forma a China já cancelou alguns muitos milhares de toneladas de alimentos que importaria dos EUA, e provavelmente o fará agora dos argentinos e brasileiros. Isso deve melhorar um pouco a situação dos hermanos, mas talvez não seja suficiente, e pior, talvez chegue tarde. Ao mesmo tempo essa ação chinesa pode já refletir a futura nova formação do bloco.

Só para lembrar, é importante para o Brasil uma Argentina estável e forte, e vice-versa. Mas os ataques a essa estabilidade, e ainda mais, a essa fortaleza, virão cada vez mais fortes do bloco Ocidental e das forças ligadas a ele.

Já para o bloco a importância é que agora eles representam diretamente algo em torno de 65% de território e população da América do Sul, e já existem ao menos outros dois países que pleiteiam aderir ao Bloco, Venezuela e Bolívia. Um bom trabalho com esses países, e a adesão no subcontinente pode aumentar sensivelmente, apesar de todas as manobras atlanticistas na região.

DÚVIDAS

Apesar de as coisas parecerem muito favoráveis aos Brics após a cimeira de Joanesburgo, as coisas não são assim tão simples. A começar pela forma como o bloco se organiza e delibera sobre suas ações, que até o momento exige unanimidade sobre os temas. Sim, a adesão de 6 novos membros, com características tão díspares entre eles, pode começar a gerar problemas nessa engrenagem, que terá muito mais dificuldades em deliberar sobre as coisas.

E exemplifico, porque enquanto o Brasil fica repetindo o patético bordão ocidental sobre democracia e "liberdades", russos, chineses, e indianos são muito mais pragmáticos, e tendem a respeitar muito mais os princípios da ONU sobre autodeterminação dos povos e não interferência em assuntos domésticos.

Ao mesmo tempo será um desafio enorme, já que o grupo será integrado por duas superpotências globais, três potências regionais, alguns representantes importantes de seus continentes, e candidatos a tornarem-se importantes no jogo geopolítico a médio prazo. Tudo isso temperado por ideologias, culturas e modos de vida e visões de mundo bastante díspares. Se 

Os 11 países também representarão 46% da população mundial e 35% de seu PIB. Além disso serão controladores de quase metade da produção de mundial petróleo, além de ampliar bastante sua importância pela adesão de mais um enorme produtor de alimentos. Se posteriormente viermos a somar as áreas que a Rússia está reanexando da Ucrânia, não é demais afirmar que o bloco dominará os setores em nível global.

Mas a dúvida permanece: como países tão díspares conseguirão unanimidades em suas decisões para fazerem com que todo seu poder bélico, econômico e populacional se reflita num mundo mais justo, respeitoso e plural, algo que está no cerne da constituição do bloco?

domingo, 27 de agosto de 2023

Riqueza e perigo juntos, quando não foi assim?

O texto de Marília Marasciulo é bastante interessante, e bastante verdadeiro também. Não a toa a Marinha do Brasil chama as 200 milhas de zona de exploração econômica exclusiva do Brasil no mar de Amazônia Azul. E além de alimentação e petróleo, há muito mais coisa a ser explorada nesse enorme território subaquático no qual o Brasil detém exclusividade para tal.

E não se enganem, embora ainda tenhamos muitos recursos para explorarmos de forma mais fácil sem  nos arriscarmos nas profundezas do mar, chegará o dia em que teremos que descer às profundezas para extrairmos sal, cascalhos, areias, fosforitas, crostas cobaltíferas, sulfetos e nódulos polimetálicos, entre outros. 

Mas se muitas vezes a extração dessas riquezas trazem riscos em terra, imaginem no fundo do oceano, um local extremamente perigoso para o ser humano. Só que essas duas coisas sempre andaram juntas, lado a lado. Saiba mais no texto abaixo.

Por Marília Marasciulo, com edição de Luiza Monteiro

 


Mais de um século e meio após a publicação de Vinte mil léguas submarinas, célebre romance de 

1870 escrito por Júlio Verne, o mundo novamente acompanhou a busca por um submarino. Quer 

dizer, um submersível, como aprendemos durante a incansável cobertura midiática do 

desaparecimento de Titan, veículo que levava um grupo de cinco turistas para ver os destroços do 

Titanic, que está a quase 4 quilômetros de profundidade.



sábado, 26 de agosto de 2023

“I Wan’na Be Like You” (The Monkey Song) (Louis Prima) Cover by Robyn Adele Anderson

Você lembra do clássico da Disney, "Mogli, o Menino Lobo"? Pois bem, Robyn Adele Anderson nos traz uma excelente interpretação de I Wan'na Be Like You, música do filme. Por sinal a interpretação do filme é feita por Louis Prima & Phill Harris, e também é uma ótima versão.
 

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Líder Wagner caiu do céu

Está sendo noticiada a morte de Yevgeny Prigozhin em um acidente aéreo ontem nos arredores de Moscou. Dmitry Utkin, outro fundador e líder dos Wagner, também estava no avião, e também é tido como passageiro do embraer que despencou. Claro, a morte dos dois já está sendo noticiada, e inclusive alguns meios de comunicação russos informam que os corpos foram reconhecidos e recolhidos do meio dos escombros do acidente.

Do acidente em si temos duas versões até o momento. A primeira é que o avião explodiu no ar, sozinho. A segunda é que teria sido abatido por um míssil da defesa anti-aerea russa.

Há 5 hipóteses muito plausíveis.

A primeira é que foi realmente uma rebelião há pouco mais de um mês atrás. Nesse caso o grupo ligado a Putin poderia ter causado a queda do avião, como forma de represália e aviso a outros possíveis "rebeldes".

A segunda hipótese é que realmente não houve nenhuma rebelião, tudo não passou de um embuste do grupo de Putin, então os "dissidentes" internos do governo poderiam ter causado o acidente como vingança e para remover o cão de guarda interno e ponta de lança de Putin no exterior da cena política.

A terceira é uma ação de países atlanticistas. Sim, os Wagner vêm sendo um problema sério aos interesses de países da aliança atlântica em regiões importantes, como o Oriente Médio e mais recentemente na África. O sucesso de suas ações já atrai interesses de alguns países latino-americanos de também contarem com os serviços do grupo. A ideia, claro, é retirar a pedra do sapato.

A quarta hipótese é uma Maskirovka ainda mais elaborada do que as que vimos até agora. Os dois mortos teriam simulado seu embarque no avião, e agora estariam mais livres para engendrar ações pelo mundo, inclusive com cirurgias plásticas, etc.

Por último, mas não final, pode ter sido apenas um acidente. Sim, às vezes eles ocorrem, mesmo no mundo da alta geopolítica mundial, ainda que não sejam tão comuns.

Qual das hipóteses é a real acredito que jamais saberemos, mesmo com os russos prometendo uma investigação rigorosa sobre o que ocorreu com o avião do Wagner. E ainda que tenhamos uma posição oficial, não significa que ela seja a verdade. Talvez, quem sabe, num futuro distante, o caso seja realmente esclarecido, mas aí já não terá mais relevância para o momento. Vamos acompanhar.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Milei, a Argentina, e o Brasil

Javier Milei foi o vencedor das prévias das eleições presidenciais argentinas. Para quem não sabe, a eleição presidencial na Argentina se realiza em 3 turnos. As prévias, que ocorreram agora e que servem para os partidos ajustarem suas campanhas e definirem candidatos. O primeiro turno, que aí já vale eleição, e se algum candidato alcançar 45% dos votos, ou 40% e estiver mais de 10% a frente do segundo colocado, então ele estará eleito. Se isso não ocorrer os dois melhores colocados vão ao segundo turno.

Pois bem, o que Milei ganhou foram as prévias, e muita coisa pode ocorrer até as eleições argentinas, mas as prévias têm servido para correções de rota, rearranjos políticos, e até trocas de candidatos. Com esse quadro nada está decidido, embora o vencedor das prévias saia sempre em vantagem na corrida eleitoral.

E o terror que tomou conta do mundo político com a possibilidade de eleição de Milei. Isso porque o candidato, tido como de extrema-direita, tem alguns posicionamentos muito peculiares. A venda de órgãos humanos, crianças, entre outras coisas, estão entre os temas mais polêmicos defendidos por Milei. Para completar o quadro ele defende a liberalização total da economia, a dolarização da Argentina, e com isso transformará o país platino num vassalo completo dos norte-americanos.

E diferente do que muitos pensam, a destruição final da Argentina como nação soberana não significa a entrada do Brasil nesse espaço deixado, já que o mesmo processo corre no Brasil - apenas está mais atrasado porque o Brasil é um país maior e mais complexo - e o grande beneficiado deverá ser os EUA mesmo, com alguma sobra para os europeus.

No fundo, para os brasileiros não interessa a destruição da Argentina, porque apenas deixará o Brasil ainda mais na mira de desestabilização e destruição também.

Mas a verdade nessa história toda é muito simples de ser encontrada. Em todo o espectro da política atual - esquerda, centro e direita - o projeto é sempre o mesmo. Neoliberalismo na veia, destruição do tecido produtivo industrial, regados com pinceladas de auxílios governamentais para anestesiar as sequelas deixadas por essas políticas.

O resultado é o aparecimento dessas aberrações.


domingo, 20 de agosto de 2023

Os maltusianos e suas previsões catastróficas

Interessante o artigo abaixo. Sim, é interessante porque repete as perspectivas malthusianas criadas lá nos Séc. XVIII e XIX por Thomas Malthus, que deu nome aos estudos catastrofistas. 

Entendam, ninguém nega a necessidade de mudanças nos padrões de consumo de nossa sociedade atual, mas muito mais que isso precisamos mudar o que queremos de nossa sociedade futura, e isso precisa ser construído agora.

Sim, a raça humana polui demais, a raça humana consome de forma equivocada, mas acima de tudo, a raça humana não disponibiliza os recursos para alterar as condições que tem. 

Se temos uma parcela enorme do planeta totalmente fora do consumo, essa mesma parcela está fora da busca por soluções para o próprio mundo. São muitos e muitos bilhões e pessoal gastos e usado com pesquisas e desenvolvimentos de formas de destruir e matar essa população, e muito menos recursos são investidos nas buscas para as soluções de nossos problemas.

Isso ocorre porque o mundo é voltado e dominado por pessoas que não querem solucionar nada, mas apenas acumular riquezas e poder.

Claro, a humanidade não pode crescer ao infinito, ainda mais que estamos confinados nesse planeta, e um dia teremos que encontrar o equilíbrio entre a população e os recursos que o planeta pode nos oferecer, mas esses recursos estão longe ainda do esgotamento, ainda mais se colocarmos as forças e energias necessárias para encontrarmos as saídas para nossos desequilíbrios e para nosso padrão de vida.

Agora claro, se seguirmos no rumo em que vamos, então teremos realmente problemas populacionais, e não demorará muito.

Há pouco mais de 200 anos, no ano de 1800, aproximadamente um bilhão de pessoas habitavam a Terra.

Apenas um século depois, esse número aumentou em mais 600 milhões.

Atualmente, a população global está em torno de 8 bilhões de pessoas.

Esse tipo de expansão representa uma ameaça à sustentabilidade do nosso ecossistema, gerando a possibilidade de uma “correção populacional”. De acordo com um estudo recente, essa correção poderia ocorrer antes do final do século.





sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Governo Lula cava a própria sepultura

O Economista e Professor Christian V. Kuhn e o Cientista Político Felipe B Zorzi fizeram um resumo excelente resumo do que aconteceu no Brasil de 2013 para cá. 

O texto também vem ratificar várias coisas que falei aqui no Blog dos Mercantes. Erros do PT, como as repetidas promessas quebradas, a indicação de rumo a esquerda, mas a realidade de um caminho de direita, um monte de distorções e quebras de confiança e de ligação real com o povo, assim como a validação de discursos, políticos e partidos de direita ao realizar alianças irresponsáveis e sem nenhum sentido de melhoria para a população brasileira, e culmina com a repetição desses erros e o aprofundamento deles nesse momento

Eu não trouxe todo o texto deles, mas sugiro entrarem no link abaixo e lê-lo na íntegra diretamente no sítio do Disparada. Vale a pena.

O Castelo de Cartas do Governo Lula III

Por Christian V. Kuhn e Felipe B. Zorzi

Nos últimos 10 anos, o Brasil vem passando por sucessivos eventos de instabilidade. Ocorreram protestos de massas, processo de impeachment, intervenções judiciais, campanhas contra o governo nas mídias, uso de robôs nas redes digitais para manipular a opinião pública etc. Cristalizou-se uma polarização social entre grupos que se identificam como direita ou esquerda, conservadores ou progressistas. Porém, os primeiros sinais de crise remontam ainda às manifestações que se espalharam pelo país no episódio que se convencionou chamar de Jornadas de Junho de 2013. Inicialmente, elas foram motivadas pelo descontentamento de estudantes com a alta das tarifas de ônibus urbano, mas com seu desenrolar novos grupos aderiram e a pauta se expandiu para os mais diversos temas (manifestações contra os partidos políticos, contra a Copa do Mundo de 2014, a favor de uma Reforma Política etc.).




quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Alimentos não serão única pressão na inflação

Semana passada eu postei aqui que teríamos alguns pontos de pressão na inflação. O primeiro deles é parte de alimentos, que será pressionada sobretudo pelo fim do chamado acordo de grãos na Ucrânia. Para mais informações sobre ele basta clicar aqui. Mas como eu disse no próprio texto publicado, os alimentos não serão o único ponto de pressão na inflação. Vamos vê-los a partir de agora.

Outro fator que, sem dúvida, voltará a elevar a inflação no Brasil é o preço dos combustíveis. Inclusive eu esperava que levasse ao menos mais uns dias para que a Petrobras majorasse seus preços, e eu publicasse esse post antes disso, mas ela já o fez. Os percentuais são pesados, tendo a gasolina aumentado 16,2% e o diesel em 25,8%. Ora meus caros leitores, vocês podem apostar que isso terá impacto já no curto prazo, uma vez que o aumento é bastante expressivo.

Esse aumento se dá por dois vieses distintos. O primeiro é que o dólar no Brasil resiste à queda, e perdeu valor em escala muito menor que em outros países, já que a elite brasileira segue apostando na moeda norte-americana. Até faz sentido, uma vez que ela coloca parte substancial de suas reservas nessa moeda, e uma queda grande as afetaria substancialmente.

Mas o outro é geopolítico, e tem a ver com a Rússia também. A OPEP costuma ser conhecida por quem acompanha política e geopolítica. Pois bem, agora existe a OPEP+, que inclui a Rússia. Nos últimos tempos, e devido a queda no valor do petróleo nas bolsas internacionais, a Rússia vem trabalhando junto ao clube dos produtores do chamado ouro negro para que reduzam suas produções. Eles o fizeram, e com destaque para a Arábia Saudita. Ela agora renovou o prazo em permanecerá com sua produção reduzida, e isso tem pressionado os preços para cima. Como o final da PPI foi uma grande falácia do atual governo, o Presidente da Petrobras já estava reclamando da contenção dos preços dos derivados, e agora repassou ao menos parte desses aumentos.

Esses são os dois grandes fatores que deverão pressionar o aumento de preços no Brasil, também conhecido como inflação. Mas eles não são os únicos. A quebra de algumas cadeias de abastecimento internacionais também deverão pressionar o aumento de preços em alguns setores pontuais, ainda mais em um país que tão candidamente abre mão de ter alguma autonomia, no próprio abastecimento. 

E inflação retornando haverá imediatamente a desculpa de se aumentar juros aparecerá instantaneamente. Ela será acrescida da desculpa de que esses juros precisam estar ainda acima dos 13,75% que eles dizem ter sido o responsável (não foi) por domar o surto anterior de inflação, e a Selic deve ultrapassar esse patamar. Não deverá demorar a acontecer.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

A extrema-direita italiana é mais esquerda que Lula e o PT

Enquanto no Brasil o partido de "extrema esquerda", o PT, abre mão de taxar milionários, grandes fortunas e lucros e dividendos na tão necessária reforma tributária e acaba por transformá-la apenas numa mal feita faxina no sistema, na Itália a "extrema-direita" de Georgia Meloni decide taxar em 40% os lucros extras dos bancos devido ao aumento das taxas de juros do Banco Central Europeu.

Isso é o resumo, mas também precisamos lembrar que o continente europeu não é aquele em que o socialismo venceu, mas sim aquele em que o individualismo exacerbado se sobrepõe, em grande medida, às necessidades mais gerais, e muitas vezes urgentes da sociedade. E isso se dá apesar da propaganda contrária, que diz ser um continente onde as sociedades são defendidas.

Então o fato de Lula e seu Governo abrirem mão de aplicar uma política de contenção dos ganhos excessivos do setor financeiro, e também dos maiores setores do grande capital nacional e internacional no país apenas comprovam que nada têm de esquerda, e que estão ainda mais à direita do que um governo considerado de extrema-direita na Europa.

E compreendam, não há essa relativização que tentam impor para a análise de fenômenos sociais. A classe média não é universal, mas alguns elementos que a compõem são universais, e entre eles estão uma capacidade financeira razoável para a aquisição de bens de consumo duráveis, casa própria, alguns produtos de luxo, viagens, etc. O fato de seu país ter um enorme contingente de pessoas na faixa da extrema pobreza não transforma a classe média em ricos. Esse é um exemplo, porque nem tudo na vida é relativo, como uma corrente hoje em dia defende.

Por Bruna Miato*, g1

A Itália anunciou um novo imposto único de 40% sobre os lucros extraordinários dos bancos do país na noite desta segunda-feira (7). A medida pode gerar uma receita de até 3 bilhões de euros por ano para o governo de extrema-direita da ministra Giorgia Meloni, segundo estimativas do Bank of America.


A decisão veio em meio a um forte crescimento nos lucros dos bancos italianos no último ano, que têm se beneficiado das altas nas taxas de juros promovidas pelo Banco Central Europeu (BCE) para conter o avanço da inflação na zona do euro. Atualmente, a principal taxa do continente está em 3,75% ao ano, maior patamar em 22 anos.




domingo, 13 de agosto de 2023

Quantidade de radiação gama vinda do Sol preocupa

O Sol está liberando milhares de vezes mais radiação gama do que se esperava. Os cientistas ainda não sabem se isso é normal, e acontece de tempos em tempos, ou se é alguma anomalia pontual da estrela mãe de nosso sistema.

Seja como for a enorme liberação de raios gama preocupa, já que ele interfere em nosso DNA e pode causar danos e mutações nos seres humanos.

E não se anime, você não vai virar o Hulk. 

URGENTE: O Sol tá liberando radiação de forma preocupante - pico de raios gama nunca antes visto!

Cientistas detectaram um nível de radiação do tipo gama vindo do Sol - isso nunca foi visto antes!

Os raios solares estão a níveis preocupantes, de uma forma nunca antes vista. A radiação observada foi a radiação gama - o tipo mais extremo e energético do espectro eletromagnético. Nenhum físico previu que isso seria possível.

Utilizando o Observatório HAWC (High-Altitude Water Cherenkov), em Puebla no México, os cientistas detectaram um nível de radiação gama muito extremo. Sua origem? O Sol.

O observatório HAWC foi projetado para estudar os raios cósmicos através do efeito Cherenkov - quando partículas carregadas se movem acima da velocidade da luz.