Não importa qual o motivo do "ótimo" dito por Temer. Não importa se foi por aprovar a compra do silêncio de Cunha, como não importa se foi por apoiar a compra de um Juiz Federal e um Procurador da República, mais ainda, não importa se Temer acreditou ou não no que Joesley dizia. O que importa é o seguinte:
1 - Se Temer apoiou a compra do silêncio de Cunha, agiu ativamente na obstrução da Justiça, com interesse direto, até porque o próprio Temer cita Moro, que indeferiu as perguntas de Cunha à Temer. Além disso há formação de quadrilha, corrupção, e assunção de que tem algo a esconder, já que "o Eduardo decidiu me fustigar". Se nada deve, porque seria fustigado?
2 - Se o "ótimo" não foi pela compra do silêncio de Cunha, mas pela compra de um Juiz Federal e de um Procurador da República. Aí ele está encobrindo corrupção, e teria que fazer as denúncias cabíveis e ordenar as investigações devidas. Ele peca pela omissão.
3 - E não importa o que ele pensava sobre a conversa que corria. Isso é a única coisa que realmente é privada, porque o pensamento é absolutamente individual, restrito a própria pessoa. Nesse caso importa o que foi dito, e não o que se pensou sobre o assunto.
Seja como for há crime de responsabilidade. Seja como for a conduta é totalmente inapropriada a um Presidente da República.
A conversa mantida entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu revela que o peemedebista tomou conhecimento de um plano para destituir um procurador da República que investigava a JBS, mas não reagiu de forma contrária à estratégia.
Também não há informação de que Temer tenha procurado a PGR (Procuradoria-Geral da República) ou outra autoridade de investigação para informar sobre o plano.
| Pedro Ladeira/Folhapress | |
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Presidente Michel Temer diz que não irá renunciar à Presidência durante discurso no Palácio do Planalto |
Batista disse que estava "tentando trocar o procurador" que estava "atrás" dele. A Folha apurou que se trata de Anselmo Henrique, da Operação Greenfield. Deflagrada em novembro, a operação investiga desvios em fundos de pensão de servidores públicos federais.
O executivo disse a Temer que estava "dando conta" de dois juízes, os quais não identificou nominalmente, e que conseguiu colocar um procurador "dentro da força-tarefa" da Greenfield.
O suposto informante é uma referência ao procurador Angelo Villela, preso nesta quinta (18) na Operação Patmos, e que entrou nos quadros da Greenfield em 22 de março. Para a PGR, Villela foi "infiltrado" na operação.
"Aqui eu dei conta de um lado, o juiz, dar uma segurada, do outro lado, o juiz substituto, que é um cara que fica.... [inaudível] Tô segurando os dois", diz Joesley.
"Ótimo, ótimo", respondeu o presidente.
"Consegui um procurador dentro da força-tarefa, que tá me dando informação. E lá que eu tô para dar conta de trocar o procurador que tá atrás de mim. Ô, se eu der conta, tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que dá uma esfriada até o outro chegar e tal. O lado ruim é que se vem um cara com raiva, com não sei o quê...", diz Joesley.
Neste momento, Temer não se manifesta contra o plano e a conversa muda.
Em outro trecho, Batista faz referência a um pagamento de R$ 50 mil mensais para um "rapaz", que lhe trazia "informação". Os investigadores interpretam como uma menção ao procurador Villela.
OUTRO LADO
Em nota, o presidente Michel Temer afirmou
não ter acreditado na veracidade das declarações feitas por Joesley Batista no encontro gravado pelo empresário.
O peemedebista disse que, por na época ser investigado em inquérito, o executivo parecia contar vantagem e, por isso, não podia acreditar que ele teria cooptado um juiz e um procurador.
MEIRELLES
Batista também falou sobre a "ótima" relação que tem com Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, mas faz algumas reclamações. Eles trabalharam juntos porque Meirelles foi presidente da J&F, a holding do grupo JBS.
"Não sei o quanto vou mais firme nele, o quanto deixo ele com essa pepineira", diz Batista sobre Meirelles. O empresário diz que já conversou com Meirelles sobre o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, a presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn.
"Precisa mexer na Receita Federal, pô, o Rachid está aí há tanto tempo. [Meirelles teria respondido] 'Ih não posso, [e também] BNDES é do [Ministério do] Planejamento, não'", registra o áudio.
Batista disse a Temer que já reclamou a Meirelles sobre o presidente do Cade. "Eu não vou falar nada descabido, mas olha, esse presidente do Cade... precisa ter presidente do Cade 'ponta firme'", afirma Batista.
"Eu queria ter alguma sintonia contigo para quando eu falar com ele, ele não jogar"¦ 'ah não, o presidente"¦'", disse Batista. "Não deixa", completou Temer. "Mas se eu falar com ele e ele empurrar a você, quero poder dizer 'olha'"¦", disse Batista. "Pode falar", concordou o presidente."Quando digo de ir mais firme no Henrique é isso", afirmou o delator.
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BATISTA Queria primeiro dizer: estamos juntos aí. O que o senhor precisar de mim, me fala... Queria te ouvir um pouco, presidente. Como tá essa situação toda com o Eduardo [Cunha], não sei o quê, Lava Jato...
TEMER O Eduardo resolveu me fustigar. Você viu quê...
BATISTA Não sei, como que tá essa situação?
TEMER Eu não tenho nada a ver com a defesa. O Moro indeferiu 21 perguntas dele que não têm nada a ver com a defesa dele. Eu não fiz nada [inaudível]
BATISTA: Queria falar assim: dentro do possível, eu fiz o máximo que deu ali, zerei tudo, o que tinha de alguma pendência daqui pra ali zerou, tal. Ele [Cunha] foi firme em cima, ele já tava lá, veio, cobrou... Pronto, eu acelerei o passo e tirei da frente. O outro menino, o companheiro dele que tá aqui, né... O Geddel sempre tava...
TEMER: [inaudível]
BATISTA: Esse... Geddel que andava sempre ali. Mas Geddel também, com esse negócio eu perdi o contato. Ele virou investigado, agora eu não posso encontrar ele...
TEMER: É, vai com cuidado. [inaudível] Obstrução de Justiça [inaudível]
BATISTA: O negócio dos vazamentos, o telefone lá do Eduardo com o Geddel, volta e meia citava alguma coisa meio tangenciando a nós, a não sei o quê. Eu tô lá me defendendo. O que que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora: eu tô de bem com o Eduardo, ok.
TEMER: Tem que manter isso, viu? [inaudível]
BATISTA: Todo mês...
TEMER: [inaudível]
BATISTA: Também. Eu tô segurando as pontas, tô indo. Meus processos, eu tô meio enrolado aqui, né [Brasília]. No processo [inaudível]
BATISTA: Isso, é, investigado. Não tenho ainda a denúncia. Aqui eu dei conta, de um lado, do juiz, dar uma segurada, do outro lado, do juiz substituto, que é um cara que fica.... [inaudível]
TEMER: Tá segurando os dois...
BATISTA: Tô segurando os dois.
TEMER: Ótimo, ótimo.
BATISTA: Consegui um procurador dentro da força tarefa, que tá, também tá me dando informação. E lá que eu tô para dar conta de trocar o procurador que tá atrás de mim. Se eu der conta, tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que dá uma esfriada até o outro chegar e tal. O lado ruim é que se vem um cara com raiva ou com não sei o quê... O que tá me ajudando tá bom, beleza. Agora, o principal... O que tá me investigando. Eu consegui colar um [procurador] no grupo. Agora eu tô tentando trocar.
TEMER: O que tá... [inaudível]
BATISTA: Isso! Tamo nessa aí. Então tá meio assim, ele saiu de férias, até essa semana eu fiquei preocupado porque até saiu um burburinho de que iam trocar ele, não sei o quê, fico com medo. Eu tô só contando essa história para dizer que estou me defendendo aí, to me segurando. Os dois lá estão mantendo, tudo bem.