Pode parecer anacrônico, pode parecer fora de lugar, ou mesmo algo totalmente em desacordo com as tendências de mercado, mas fato é que nunca deixou de ser feito, e nunca deixou de ser uma forma eficaz de proteger indústrias, mercado, e principalmente, empregos.
E protecionismo não se faz apenas com impostos de importação, que talvez seja a forma mais simples, mas também menos eficaz de se proteger os interesses nacionais. Menos eficaz porque costuma ser alvo de uma série de ataques, tanto internos, quanto externos, e que por vezes levam a disputas na Organização Mundial do Comércio - OMC.
Mas há outras formas, como embarreiramento e exigências técnicas, sanitárias, sociais; há o incentivo e facilitação à pesquisa, produção, e abertura de empresas; também pode se dar com subsídios, tanto em impostos, quanto em facilidades de crédito, ou até em juros baixos. Até mesmo cláusulas em acordos comerciais privados podem trazer políticas protecionistas embutidas. Enfim, são várias as formas de se promover o protecionismo, algumas não parecem, embora sejam.
E isso é assim em todo o mundo, porque apesar do discurso, a Europa promove, a China promove, a Rússia promove, o Japão promove, os Estados Unidos promovem.
Cabe ao Brasil parar de ser o trouxa dessa equação, e passar a atuar com firmeza na defesa dos interesses maiores do país. Isso significa que não são apenas as atividades primárias e financeiras que devem ser contempladas nessas ações, mas todas as áreas em que o país possa vir a ter relevância global, incluindo, mas não limitando, a indústria automobilística, aeroespacial, naval, navegação, farmacêutica, hospitalar, etc.
Para quem acha que é bakela, leia a reportagem abaixo.
Brasil tenta evitar briga com China na OMC por causa do açúcar
O Brasil espera evitar que um confronto com a China por causa do açúcar se transforme em uma batalha na Organização Mundial do Comércio.
Autoridades do governo do Brasil estão negociando com a China na esperança de criar um trato comercial que possibilitaria uma quota de importação do açúcar brasileiro isenta de taxas adicionais, disse Eduardo Leão, diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), em entrevista por telefone.
As "condições do acordo estão sendo negociadas pelos dois governos", disse Leão.
A iniciativa surge depois que a China impôs, nesta semana, mais taxas à importação do açúcar, além do imposto atual de 50 por cento sobre as compras acima das quotas estipuladas, para tentar proteger sua indústria nacional. O Brasil é o maior produtor e exportador de açúcar do mundo e também é o principal fornecedor da China. As novas tarifas implicariam uma redução de cerca de 800.000 toneladas por ano das remessas brasileiras ao país asiático, disse Leão, no dia 22 de maio. Ele acrescentou que as taxas adicionais "não se justificam".
O gabinete do Ministro das Relações Exteriores do Brasil não quis comentar imediatamente as negociações. Se as negociações atuais entre o Brasil e a China sobre um novo acordo não forem bem-sucedidas, o setor açucareiro vai "deixar claro" ao governo que uma queixa deve ser apresentada à OMC, disse Leão.
A China impôs uma taxa adicional de 45 por cento que será cobrada por 12 meses, informou o Ministério do Comércio no dia 22 de maio. A taxa cairá para 40 por cento no ano que começa em 22 de maio de 2018 e para 35 por cento no ano seguinte, segundo o Ministério.
A China começou a investigar as importações em setembro depois que as remessas dispararam e prejudicaram a indústria local. O país também ampliou medidas contra o contrabando de açúcar nas principais regiões fronteiriças, inclusive Myanmar. A China estipulou uma quota anual de importação de 1,95 milhão de toneladas para este ano, a mesma de 2016. O país importou 3,1 milhões de toneladas em 2016, segundo dados alfandegários. Estima-se que um volume de 2 milhões de toneladas entre por ano no país asiático através do contrabando, de acordo com Leão.
O setor brasileiro gostaria que a quota fosse de 3 milhões de toneladas anuais, com impostos em torno de 15 por cento, disse Leão. Essa quantidade equivaleria à metade dos 6 milhões de toneladas que o país asiático precisa importar a cada ano, disse ele.
Taxas mais pesadas não vão mudar a demanda chinesa pela commodity, disse Bruno Lima, diretor de açúcar da INTL FCStone, em entrevista por telefone.
"As necessidades do país persistirão, e essa quantidade de açúcar vai entrar de qualquer jeito, inclusive por contrabando", disse Lima.