Após o malfadado encontro entre Zelensky e Trump na Casa Branca, Moscou não perdeu tempo e houve uma reunião de emergência com a participação de Putin e altos funcionários ligados à segurança russa. Nesta reunião foi dada a instrução ao Ministro da Defesa russo Andrey Belousov, para que todas as travas que seguravam o exército russo fossem retiradas. Sim, aqui já se falou algumas vezes que os russos estavam sendo muito comedidos com os ucranianos, e isso por diversos motivos.
Pois é, mas passaram a fazer parte da estratégia russa a destruição total dos sistemas de distribuição e geração de energia ucranianos, a liquidação de seus líderes (a princípio o próprio Zelensky não é alvo, mas apenas altos colaboradores), maior destruição da moral de militares e população ucranianos, forte ofensiva em várias direções (o que inclui a direção de Odessa, como eu disse no último vídeo), a tomada da estratégica cidade de Kharkiv, a cidade de Nikolaev também virou alvo (como eu disse, não era só Odessa).
O uso de guerra híbrida também é uma possibilidade, levando a uma guerra civil entre facções ucranianas. Isso é possível pelo que eu já falei, e é o fato de que Zelensky perde apoio. Sim, o apoio recebido de líderes europeus era efêmero, e se esvai a medida em que não há coesão no Bloco Europeu, e muito menos real capacidade técnica, militar e financeira para manter o conflito com os russos por longo período. Os próprios ucranianos também já mostram fortes sinais de esgotamento, tanto é que Zelensky já ensaiou um pedido de desculpas a Trump, mas no momento sem resposta efetiva. Trump tem pressa, mas ela não pode ser tanta a ponto de ser entendida como desespero.
Ao mesmo tempo Trump aprofunda sua retirada bélica da Ucrânia, e até o auxílio de inteligência é retirado. Sem as informações de satélite e o uso de sistema de orientação americanos a capacidade de muitos armamentos europeus se perde. O arsenal nuclear inglês, por exemplo, depende disso, além de mísseis de precisão dos 3 grandes estados europeus da NATO.
E os russos começaram a cumprir seus novos objetivos traçados. Não, os ataques ao campo de treinamento no Oeste da Ucrânia e ao navio cargueiro em Odessa não eram parte disso, mas apenas missões que os russos levam a cabo desde o primeiro ano de conflito. O cumprimento mesmo começou ontem, quando muitos bombardeiros e caças-bombardeiros levantaram voo, a frota do Mar Negro (não os barcos patrulha e os ucranianos atacavam) com seus navios e submarinos se posicionaram, além de baterias de mísseis hipersônico, Todos lançaram e uma grande frota de drones e mísseis varreram os céus da Ucrânia e terminaram por atingir seus alvos. Isso foi tão impactante a ponto de Zelensky pedir trégua.
Ao mesmo tempo uma sorridente Van der Leyen chegava a Bruxelas para anunciar um plano de 800 bilhões (ou mil milhões como se diz em Portugal) para o rearmamento da Europa. O provável novo primeiro ministro alemão fala em 500 bilhões da Alemanha, e Macron fez alguns caças-bombardeiros Rafale sobrevoarem a Alemanha com mísseis sob as asas, oferecendo com isso o guarda-chuva nuclear francês para a Europa Ocidental continental (os ingleses têm o próprio). Após o intenso bombardeio russo, Donald Trump também afirmou que estuda colocar novas sanções à Rússia. Trump também falou que se a Europa quiser armas para enfrentar os russos terá que pagar por elas, exatamente como eu disse que ele faria.
Com esse quadro chegamos ao final do dia de ontem. E ainda que eu já tenha feito algumas rápidas considerações enquanto falava, precisamos observar melhor alguns desses desdobramentos. O primeiro deles é muito óbvio, e é o fato de que os russos leram a confusão na Casa Branca e os passos dados pelas lideranças europeias exatamente como eu, ou seja, não há um final tão rápido para os conflitos à vista, e deram o passo que um bom estrategista dá, que é apertar ainda mais o inimigo quando ele mostra alguma fraqueza ou ponto vulnerável. Daí o aumento das ações militares. O que se esperava conquistar na mesa de negociações e com plebiscitos será buscado no campo de batalha, ficando os formalismos civis para depois. Também serve de alerta aos europeus, que falam em enviar tropas de paz à ucrânia, algo que foi mais uma vez violentamente rechaçado pelos russos, exatamente como eu falei que seria.
Quanto a Europa, esta busca uma nova organização interna. Devido a pujança econômica, a Alemanha há décadas era o grande líder do bloco europeu, mas sempre levemente contestada pela França e Reino Unido. O Reino Unido está fora da UE e a França se aproveita de um momento de extrema debilidade alemã, do fato de que nada indica que seu novo governo mudará os rumos disso, e da necessidade bélica que os Estados europeus têm demonstrado para tentar inverter as posições, passando ela a ser o grande líder, e deixando a Alemanha como contestadora. O problema é que a própria França não passa um momento econômico tão bom assim, seu poder militar é apenas médio e se encontra debilitado pelo apoio de 3 anos à aventura ucraniana, e o próprio Macron é um líder muito contestado dentro de casa. Tem pesquisa indicando uma popularidade de apenas 7% ao francês. Difícil levar um país a novos voos com esse nível de apoio interno. Na Itália uma Meloni indecisa não sabe se ruma para a nova ordem mundial ou se tenta se reposicionar dentro do Bloco Europeu de forma mais efetiva. O resultado é que seu discurso nem fica em cima do muro, e muito menos agrada os lados. É um emaranhado de contradições e soluções sem sentido propostas enquanto o país fica meio que a deriva nos acontecimentos.
Já os 800 bilhões (mil milhões) propostos por Van der Leyen, e que pode ser mais que isso são um outro problema, porque eles não existem. Bem, esse dinheiro não é para ser aplicado todo agora, mas ao longo de ao menos 4 anos. Vamos destrinchar isso. € 90 bilhões viriam do fundo de combate à covid não utilizado e que seria realocado para o rearmamento. Os Estados membros seriam autorizados a gastar 1,5% de seu PIB nessa rubrica, mas sem contar para as regras fiscais do bloco. Parte seria conseguido pelos países do bloco por empréstimos totalizando € 150 bi, O restante seria capitado ao longo dos próximos 4 anos. O que ela não fala é que muito provavelmente muitos países do bloco teriam que cortar de seus gastos sociais para conseguir esse 1,5% do PIB, e que esse empréstimo prometido seria conseguido a juros e provavelmente de impressão de dinheiro. Outro fato importante a ser considerado é que a capacidade industrial do continente ainda é grande, mas ela está muito fragilizada pelo enforcamento energético em que eles se meteram por livre vontade, e pelo fato de o continente não ter as matérias-primas necessárias à produção de armas em larga escala. Por último sempre há o risco de essas medidas minarem as condições da população europeia, e de que tenhamos nova rodada de quedas de governos no continente, governos estes que podem vir a fazer forte oposição a essas posições da tecnocracia burocrática de Bruxelas. Sobre a França e o vídeo recheado de inconsistências de Macron eu farei um comentário em outro vídeo.
Já Trump mostra apenas que ele segue sendo um boquirroto, e que não entendeu a situação atual do conflito. Sim, querer a paz é ótimo, mas ele não tem como impor boicotes mais duros à Rússia. Tudo o que poderia ser feito de mais duro nesse sentido já o foi, e apenas pequenas mordidas são possíveis nesse momento. Ao mesmo tempo Trump também afirmou que se os europeus quiserem defesa, entenda-se novas armas, terão que pagar por elas. Isso se aplica ao apoio que o dinheiro de Van der Leyen dará a Ucrânia, e ao próprio rearmamento europeu.
Como vemos temos muitos interesses em jogo, e muita coisa para ser arranjada antes que tudo venha a se acalmar na Europa. Sim, e a cada semana mais claros ficarão esses interesses. Macron sabe que a França e a Europa não têm condições de fazer frente aos russos, mas ele não pode perder a oportunidade que se apresenta de inverter a posição na Europa com os alemães, por outro lado os alemães tentam minar essa pretensão francesa. A tecno-burocracia europeia quer firmar ainda mais sua posição de poder sobre os Estados Nacionais da região. Trump quer se livrar de um enorme gasto, e se possível ainda sair com uma nova fonte de renda, seja em riquezas na Ucrânia, seja cobrando segurança aos europeus. Quem sabe os dois? Os russo querem unir todo seu povo sob o mesmo país novamente, afastar a ameaça Ocidental que já se apresenta há cerca de 200 anos, e poder virar ainda mais suas atenções à Ásia e o chamado Sul Global, onde as grandes oportunidades de negócio e desenvolvimento se apresentam hoje. Já a Ucrânia ainda se apresenta oficialmente como Estado, mas na prática ela não passa de uma marionete nas mãos dos grandes interesses geopolíticos. Ela já não tem mais forças nem para ser ouvida no terreno geopolítico. A catástrofe bélica minou todo o poder e importância que o país tivesse. Ter ouvido o canto da sereia ocidental levou os ucranianos às rochas e a um naufrágio catastrófico.
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