quinta-feira, 15 de março de 2018

Livre concorrência?

Muito interessante o artigo abaixo, escrito por Manuela D'Ávila. Vejam bem, a questão transcende a venda da Embraer, embora ela seja absolutamente inaceitável. Nenhum governo sério do mundo permitiria que uma empresa de altíssima tecnologia, e estratégica para o desenvolvimento da nação, fosse vendida para uma potência estrangeira, e essa era a ideia das chamadas golden share, quando da também absurda privatização que a empresa sofreu nos anos 90.

Mas até aí a coisa vai. Mas se você ler o artigo todo, a disputa inicial é entre uma empresa canadense, a Bombardier, e uma americana, a Boeing. O que fazem os governos americanos, canadense e britânico metidos na disputa. Denúncias de subsídios de um lado, ameaças de sobretaxar as importações de outro, mas o discurso desses 3 governos é o do livre comércio, da livre iniciativa, e do neoliberalismo. Como explicam então tantas intromissões de seus governos em negócios privados?

Enquanto isso o governo usurpador entrega a Embraer, incluindo seus segredos tecnológicos, de mão beijada para uma empresa estratégica no complexo de ataque dos EUA. E o representante dos bancos ainda diz que quer acabar com as golden share do governo brasileiro, para evitar qualquer chance de alguém no futuro barrar qualquer tipo de uso da Embraer contra o Brasil.




O que a disputa da Boeing com a Bombardier diz sobre o Brasil

Dizer que os países desenvolvidos deixam o mercado agir livremente não passa de uma mentira mal-intencionada

MANUELA D’ÁVILA

Foram eles que usaram sua força para pressionar a Comissão de Comércio Internacional dos EUA em favor dos interesses de seus respectivos países.

A história começou quando Trump, preocupado com o avanço da empresa canadense sobre o mercado da Boeing, decidiu estabelecer taxas que preservassem o mercado americano para a empresa de seu país, dificultando a entrada de aeronaves fabricadas pela concorrente.

A justificativa para estabelecer a taxação? Os governos do Canadá e do Reino Unido teriam oferecido subsídios pesados para a Bombardier, de modo que não haveria livre concorrência no caso.

Trump lutando pela Boeing. Trudeau, pelos interesses geopolíticos e tecnológicos do Canadá. May, pelos empregos em Belfast.

Enquanto esses governos lutam com unhas e dentes pelos interesses de suas empresas estratégicas e pelo emprego qualificado de seus trabalhadores, o que o Brasil faz?

Promove uma política econômica que desindustrializa o país, aceita e patrocina um processo violento de desnacionalização e, justamente na aviação, apesar do jogo de cena, permite que a Embraer seja comprada pela Boeing.

Esse caso da disputa que citamos é muito representativo. Dizer que os países desenvolvidos deixam o mercado agir livremente é uma mentira mal-intencionada.

Prova ainda a importância estratégica da indústria de ponta, especialmente em um setor decisivo, inclusive para assuntos de defesa, como o da fabricação de aviões.

E, por último, demonstra que qualquer governo comprometido com o desenvolvimento tem a obrigação de proteger, incentivar e fomentar sua indústria

Essas são as regras do jogo geopolítico internacional. Diante delas, só há duas opções: lutar pelos interesses do país ou traí-lo, transformando-o em um quintal neo-extrativista habitado por um povo pobre e sem perspectiva.

Manuela D'Ávila é deputada estadual pelo PCdoB no Rio Grande do Sul e pré-candidata do partido à Presidência da República

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