segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

"Segura na broxa que eu vou tirar a escada"

O que acontece com a Ucrânia neste exato momento é exatamente isso; o nosso tradicional chiste: "segura na brocha que vou tirar a escada". O texto abaixo é bastante completo, ainda que não muito longo, mas o suficiente para descrever o processo que levou a Ucrânia à beira do desastre total, mas eu não deixarei de acrescentar um fato crucial em toda essa história, e que sem ele esse desenrolar e desfecho seriam impossíveis. Nos dois próximos parágrafos.

O fator crucial, que permitiu à Ucrânia chegar à atual situação é interno do próprio país. Sim, sem que forças internas agissem de forma cega e irresponsável, não haveria promessa Ocidental, viagem de Boris Johnson que tivesse levado a Ucrânia a essa derrocada. Essa situação interna se divide em duas partes. A primeura é que uma parte significativa das elites econômicas e políticas do país eslavo preferiram ouvir o canto da sereia Ocidental à prestar atenção ao grito desesperado da razão. 

A segunda parte está mais ligada ao iaginário coletivo, e foi possível graças ao alto grau de corrupção, e ao imaginário popular histórico.  Esse é um ódio doentio e insano que parte da população nutre aos russos. Parte disso pode ser creditado a fatos pretéritos, mas parte é devido a uma aproximação acrítica com o bloco Ocidental, que no fundo jamais considerou seriamente uma adesão ucraniana a suas fileiras de forma autônoma e soberana. Com a debacle que se abate agora sobre o país, dificilmente ela se dará, mesmo que de forma subalterna.

Lamentável, mas cada povo colhe o que planta.

Ucrânia à beira do colapso e do abandono

Por Luis Segura @luisgonzaloseg

🇺🇸🇪🇺🇺🇦🇷🇺 Os Estados Unidos e a União Europeia (com Josep Borrell à cabeca) instigaram, encorajaram e incentivaram, quase forçaram, a Ucrânia a lutar com promessas de apoio incondicional e de adesão à União Europeia e à NATO.

Boicotaram conversações e acordos com a Rússia, tanto antes como depois da invasão.

Enviaram dezenas de milhares de milhões de euros e enormes quantidades de armamento que foram pagos pelos cidadãos e geraram enormes lucros para a indústria militar. Entretanto, os cidadãos sofreram níveis terríveis de inflação.

Centenas de milhares de pessoas foram mortas e feridas, e ainda não é possível fazer uma estimativa aproximada.

A Ucrânia sofreu enormes níveis de destruição e feridas sociais que perdurarão durante décadas. Se é que alguma vez serão ultrapassadas.

Aqueles que defenderam a paz foram rotulados de pró-russos, traidores e cobardes. Marionetas de Putin.

Os russos, e a Rússia, foram maltratados, vilipendiados e expulsos de quase todas as esferas internacionais (cultural, desportiva, social...) apenas por serem russos. Foram atingidos níveis inconcebíveis de russofobia.

Tudo isto, diziam, era pela democracia, que escasseia na Ucrânia; pelos direitos humanos, soberania e integridade territorial (os mesmos que o Ocidente espezinha na Palestina); e pela luta contra a tirania e as autocracias, apesar do grande número de alianças do Ocidente com autocracias.

Quase 700 dias depois, tanto os EUA como a UE já não apoiam incondicionalmente a Ucrânia e a ajuda está agora bloqueada. Esta situação coloca a Ucrânia a um passo do abandono e à beira do colapso.

Um colapso que, a acontecer, depois de centenas de milhares de mortos e meses de destruição, seria um cenário infinitamente pior do que as ofertas da Rússia, tanto antes da invasão como nos primeiros meses da invasão.

A realidade, depois de meses de manifestações teatrais de líderes ocidentais ou de palestras de Zelensky em meio mundo, é que a Ucrânia foi, tem sido e é, por mais duro que seja, apenas uma marioneta dos Estados Unidos (e dos seus vassalos ocidentais, que são também os grandes perdedores). «Carne para canhão» para cumprir os principais objectivos geopolíticos dos Estados Unidos na Europa: a erosão da Rússia; a rutura da relação entre a União Europeia e a Rússia (incluindo o Nord Stream); ou o aprofundamento da vassalagem europeia (e o pagamento dos custos da guerra com o aumento das despesas militares).

Quer estes objectivos sejam ou não bem sucedidos, o que só o tempo o dirá, uma vez que os EUA os tenham alcançado, ou entendam que os alcançaram (o que pode não durar muito tempo), o incentivo para sustentar a Ucrânia desapareceu.

Por todas estas razões, a Ucrânia está a um passo do colapso: já não existe em termos mediáticos (menos ainda desde o massacre da Palestina por Israel) e a ajuda económica está agora bloqueada tanto nos Estados Unidos como na União Europeia. E, quer chegue ou não, todos os intervenientes sabem que não é incondicional, que a jogada ocidental foi um bluff e que, se a Rússia resistir, embora nunca haja certezas e tudo seja possível, será muito difícil a Ucrânia não entrar em colapso.

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