segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Navio emborca na Turquia

Navio mercante emborca na Turquia, no porto de Ambarth. A causa provável do acidente foi a má distribuição do peso a bordo, que levou a embarcação a um GM negativo.

Dos 15 tripulantes 10 foram salvos pelas equipes de resgate e 5 nadaram até o cais.

Já tinha um tempo que eu não via ou ouvia falar de um acidente provocado por este tipo de erro. 


🇹🇷 A dry cargo vessel keeled over at one of Istanbul's primary ports 


The incident occurred around 4:00 a.m. at Ambarlı Portin the Beylikdüzü district, involving the Comoros-flagged dry cargo ship ANMAH.


The vessel's listing was attributed to improper load distribution. Of the 15 crew members onboard, 10 were rescued by emergency teams, while five others managed to swim ashore unaided.



terça-feira, 17 de dezembro de 2024

China contra-ataca

Interessante a queda de braço entre o globalismo financeiro e o nacionalismo produtivista. Essa disputa se acirra e acelera mês a mês, e coloca o mundo numa encruzilhada. 

Como eu disse, a disputa vem se acirrando nos últimos anos, mais notadamente nos últimos meses, quando após absorver alguma tecnologia já ultrapassada, mas que alguns dos países que representam setores produtivos ainda não detinham, estes passaram a desenvolver a própria tecnologia, e hoje dominam a maioria das pesquisas e são líderes na maioria das áreas de alta tecnologia.

O capital financeiro abutre quer tomar parte nos ganhos que tais tecnologias podem vir a proporcionar, mas entra em choque com o fato de que essas tecnologias não estão sob o domínio dos países que eles controlam, e que os países que dominam as novas tecnologias não se deixam dominar pelos capitalistas financeiros abutres.

O resultado é conflito aberto, seja ele militar, seja ele econômico. Militarmente a maior expressão desse conflito se dá na Ucrânia, e comercialmente se dá na disputa comercial entre China e EUA.

As acusações entre o bilionário Soros e os chineses dão bem o tom dessa disputa comercial. Sim, ela hoje já é acrescida de sanções de ambos os lados, tentativas vãs de asfixia financeira, ou declarações acusatórias dos tipos que vemos abaixo.

A questão aqui é sabermos até quando ficaremos apenas nas disputas retóricas e comerciais, e se e quando passaremos a confrontações bélicas? Lembrando sempre que quando apenas um não quer brigar, então essenum apanha.

CHINA QUALIFICA SOROS DE «TERRORISTA ECONÓMICO GLOBAL»

🇨🇳🇺🇸 O porta-voz do jornal estatal chinês em língua inglesa Global Times, rotulou o bilionário americano nascido na Hungria, George Soros, de “Terrorista Económico Global”, numa troca de palavras que sublinham o aumento da temperatura nas relações entre os EUA e a China.

Num artigo publicado em setembro, a publicação nacionalista chinesa acusava o gestor de fundos judeu de financiar o proprietário de um jornal preso em Hong Kong, Jimmy Lai, para apoiar os protestos contra Pequim em 2019.

Pouco depois, Soros escreveu um artigo de opinião para o Wall Street Journal em que afirmava que o recente investimento de cerca de mil milhões de dólares do fundo mútuo da BlackRock, com sede em Nova Iorque, na China, tinha sido um “erro trágico” e que provavelmente perderia dinheiro para os clientes do gestor de activos. Soros escreveu que o investimento da BlackRock “põe em perigo os interesses de segurança nacional dos EUA”.

Segundo ele, os índices, incluindo o ACWI da MSCI, o ESG Leaders Index e o ESG Aware da BlackRock, “forçaram efetivamente centenas de milhares de milhões de dólares pertencentes a investidores norte-americanos a entrar em empresas chinesas, cuja governação empresarial não cumpre as normas exigidas – o poder e a responsabilidade são agora exercidos por um homem (Xi) que não é responsável perante nenhuma autoridade internacional”.

O bilionário instou o Congresso dos EUA a aprovar legislação que limite os investimentos dos gestores de activos a “empresas cujas estruturas de governação sejam transparentes e alinhadas com as partes interessadas”. Relatórios anteriores referiam que o Hedge Fund de Soros tinha alienado toda a sua exposição a activos chineses no início deste ano.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Não é desdolarização, mas mudança no sistema de pagamento

Mais do que desdolarização, o que se busca nos BRICS é um novo sistema internacional de pagamentos e transferências financeiras. Claro, em certa medida isso desdolariza, porque permite contornar o uso do dólar nas transações entre países, barateando, facilitando, e dando mais garantias ao usuários do sistema.

Essa busca ocorre porque o sistema de pagamento ora em uso, o SWIFT, é controlado pelo Ocidente, e usado como arma de guerra e manipulação geopolítica extrema. As sanções, a retirada de países do sistema de pagamento, e a interferência pelo Ocidente com a alegação de estarem usando suas moedas em transações que não lhes agradam dão o tom da necessidade da criação de tal sistema de pagamento alternativo. Além disso o sistema facilita o comércio internacional, já que um país não é obrigado a ter dólares (ou moeda coligada) para participar no comércio internacional. 

Se você ler o último paragráfo do artigo abaixo, verá que algumas outras medidas são perseguidas pelos BRICS. Essas medidas têm como objetivo o fortalecimento do sistema de pagamentos, maior independência dos países do bloco frente as instituições criadas e manipuladas pelo Ocidente, bem como a facilitação ainda maior do comércio mundial, contornando os mecanismos de controle, manipulação e especulação criados pelos ocidentais.

Claro que isso tudo mina profundamente a hegemonia ocidental no planeta, porque impedirá os ganhos absurdos que os países que controlam os atuais sistemas conseguem obter, mesmo que não sejam eles que trabalhem e gerem as riquezas comercializadas.

O novo sistema que está sendo gestado também abre a possibilidade de maior pluralidade e democracia, já que as decisões podem contornar os sistemas ora estabelecidos (como eu disse, controlados pelo Ocidente), e Estados, e até empresas, poderão negociar e estabelecer os preços para os próprios produtos.

Mas nem tudo são flores. O novo sistema também tende a punir com severidade maus negociadores,l; a gerar uma certa anarquia pelo planeta, já que não teremos mais decisões tão centralizadas; e guerras (já as estamos tendo), ao menos em sua fase de implantação,  uma vez que o sistema que cai tende a defender seus privilégios de todas as forma. E isso é normal quando temos a substituição de sistemas estabelecidos por novos.




🇷🇺🇧🇷 O volume de liquidações financeiras em moedas nacionais no comércio dentro do grupo BRICS é de cerca de 65%, disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov.

“O trabalho em novas plataformas de pagamento foi iniciado no BRICS sob a presidência russa e será continuado pelos nossos sucessores brasileiros durante a sua presidência em 2025”, sublinhou o ministro no simpósio internacional Criando o Futuro. Lavrov observou que a Rússia continuará a desempenhar o seu importante papel neste processo.

A questão dos sistemas de pagamento alternativos estará entre as prioridades da presidência brasileira no grupo BRICS. A este respeito, o alto diplomata russo recordou que foi o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva que colocou a questão dos sistemas de pagamento alternativos em cima da mesa em 2023, durante a cimeira dos BRICS em Joanesburgo. “Os progressos são evidentes, mas devemos levá-los à sua conclusão lógica para que existam mecanismos prontos a utilizar”, observou.

Por sua vez, Moscovo espera continuar a trabalhar em iniciativas propostas pela Rússia no âmbito dos BRICS, como uma bolsa de cereais, uma plataforma de investimentos, um cluster de transportes, bem como a medicina nuclear, antecipou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

A queda de Bashar Al-Assad

Nas últimas 2 semanas vimos a queda do líder sírio, que muitos consideravam um ditador. A queda foi relâmpago, apesar disso precisamos observar que as duas últimas semanas foram apenas o final de um processo que contou com muitos erros do próprio Assad, e traições internas que possibilitaram sua queda abrupta. Para isso vamos recorrer a alguns processos históricos recentes, que mostram os erros de Assad.

Ao término da sangrenta tentativa de primavera árabe síria, que provocou a emigração de centenas de milhares de seus cidadãos, notadamente para a Europa, houve uma paz frágil costurada por turcos, iranianos e russos. O problema é que, internamente, as coisas não estavam consolidadas na Síria. Assad sofria inúmeras sanções, e apresentava pouquíssima capacidade de lidar com elas. Dessa forma a estrutura que lhe garantiu controle sobre a maior parte do território sírio após os conflitos iniciados em 2011 foi desmosntada. Generais leais foram afastados, Oficiais civis substituídos, a economia seguiu achatada devido a recusas de ofertas de auxílio russas e iranianas, e quando ele finalmente viu o caos em que se encontrava e tentou reagir, aí já era tarde. Suas forças armadas e as instituições civis já estavam impregnadas de traidores em suas altas esferas, não havia mais tempo hábil para recuperar a economia e garantir maior adesão popular, a queda era um
a questão de empurrar. 

Apesar disso as forças externas que garantiram sua permanência na primavera árabe síria voltaram a se mobilizar para ajudá-lo, mas não há força externa capaz de manter em pé um governo que já não tem condições internas de se sustentar (vide a fracassada aventura estadunidense no Vietnã).

A queda de Assad foi um dominó bem montado. Disfarçado de retirada estratégica para linhas melhor defensáveis, onde se poderiam esmagar as forças revoltosas, e corroborados pelos bombardeios aéreos sino-russos, que ceifaram as vidas e feriram milhares de revoltosos, a armadilha estava se fechando, órdens já não eram obedecidas nas fileiras sírias, e as forças leais ao governo se viram isoladas entre dois fogos. Elas se evadiram e garantiram dois bolsões, um a Sudeste, e outro a Oeste. Ao menos Brigada de blindados e uma de infantaria blindada atravessou a fronteira com o Iraque e deve se juntar a forças iraquianas.

Mas a queda de Assad foi consolidada. Sem dúvida um golpe inteligente do Ocidente, mas a situação está longe de estar resolvida.

Na Síria temos 3 hipóteses prováveis: a primeira, e mais provável, é uma guerra fratricida entre os mais de 30 grupos que marcharam contra Damasco. Sem uma interferência isso pode levar à fragmentação e destruição total do que resta de Síria.

A segunda é se unirem, e também ao eixo da resistência, contra um inimigo comum. O líder que representava o novo governo que tentava se estabelecer disse, em pronunciamento na TV local, que nutriam ódio ao eixo da resistência, que Golam era sírio, e clamaram a Israel para investisse no país. 

Israel ouviu e imediatamente investiu. Ocupou muitos quilômetros mais do território sírio, destruiu depósitos de munições, armas e equipamentos militares, quartéis e bases aéreas, enfim, garantiram que os novos "governantes" sírios não tivessem acesso a armas e munições mais pesadas que fusis de assalto e pequenos canhões e metralhadoras montadas nas caçambas de pickups médias.

A terceira hipótese, mas mais longa e improvável, é a reorganização das forças leais a Assad, que se reorganizem, e iniciem a retomada do território desde os dois pequenoa enclaves que ainda dominam e apoiados pelas forças do eixo da resistência. Só que para isso é necessário acompanhar o desenrolar do que acontece na própria Síria.

Geopoliticamente o Irã e o Eixo da Resistência sofrem a maior derrota. Sim, ela é estratégica, importante, mas de forma alguma decisiva. O Hezbollah deve ter um pouco mais de dificuldade para ser abastecido, mas isso não deixará de ocorrer, e rotas e opções que estavam adormecidos ou pouco utilizados devem ganhar mais relevância, isso se não mantiverem as rotas via Siria através dos corruptos grupos que chegaram ao poder. Basta ver que os Houthis não têm ligação terrestre (segura), mas são abastecidos e muito ativos.

A Rússia também perde,  mas menos. Conseguiu a manutenção de suas bases Sírias, e já iniciou "relações" com o novo governo (o próprio Irã também). Essas relações podem ser incentivadas pelos prontos investimentos israelenses no país. 

Ou seja, ainda que seja uma derrota estratégica, que num primeiro momento se criem problemas ao Eixo da Resistência e à Rússia na região, e que as forças Ocidentais tenham ganhado terreno num primeiro momento, nada ali é definitivo, nem mesmo a queda de Assad e de seu grupo (ainda que eu ache que ele não é o homem adequado para estar à frente da Síria neste momento).

O resto o futuro nos dirá.