quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

A queda de Bashar Al-Assad

Nas últimas 2 semanas vimos a queda do líder sírio, que muitos consideravam um ditador. A queda foi relâmpago, apesar disso precisamos observar que as duas últimas semanas foram apenas o final de um processo que contou com muitos erros do próprio Assad, e traições internas que possibilitaram sua queda abrupta. Para isso vamos recorrer a alguns processos históricos recentes, que mostram os erros de Assad.

Ao término da sangrenta tentativa de primavera árabe síria, que provocou a emigração de centenas de milhares de seus cidadãos, notadamente para a Europa, houve uma paz frágil costurada por turcos, iranianos e russos. O problema é que, internamente, as coisas não estavam consolidadas na Síria. Assad sofria inúmeras sanções, e apresentava pouquíssima capacidade de lidar com elas. Dessa forma a estrutura que lhe garantiu controle sobre a maior parte do território sírio após os conflitos iniciados em 2011 foi desmosntada. Generais leais foram afastados, Oficiais civis substituídos, a economia seguiu achatada devido a recusas de ofertas de auxílio russas e iranianas, e quando ele finalmente viu o caos em que se encontrava e tentou reagir, aí já era tarde. Suas forças armadas e as instituições civis já estavam impregnadas de traidores em suas altas esferas, não havia mais tempo hábil para recuperar a economia e garantir maior adesão popular, a queda era um
a questão de empurrar. 

Apesar disso as forças externas que garantiram sua permanência na primavera árabe síria voltaram a se mobilizar para ajudá-lo, mas não há força externa capaz de manter em pé um governo que já não tem condições internas de se sustentar (vide a fracassada aventura estadunidense no Vietnã).

A queda de Assad foi um dominó bem montado. Disfarçado de retirada estratégica para linhas melhor defensáveis, onde se poderiam esmagar as forças revoltosas, e corroborados pelos bombardeios aéreos sino-russos, que ceifaram as vidas e feriram milhares de revoltosos, a armadilha estava se fechando, órdens já não eram obedecidas nas fileiras sírias, e as forças leais ao governo se viram isoladas entre dois fogos. Elas se evadiram e garantiram dois bolsões, um a Sudeste, e outro a Oeste. Ao menos Brigada de blindados e uma de infantaria blindada atravessou a fronteira com o Iraque e deve se juntar a forças iraquianas.

Mas a queda de Assad foi consolidada. Sem dúvida um golpe inteligente do Ocidente, mas a situação está longe de estar resolvida.

Na Síria temos 3 hipóteses prováveis: a primeira, e mais provável, é uma guerra fratricida entre os mais de 30 grupos que marcharam contra Damasco. Sem uma interferência isso pode levar à fragmentação e destruição total do que resta de Síria.

A segunda é se unirem, e também ao eixo da resistência, contra um inimigo comum. O líder que representava o novo governo que tentava se estabelecer disse, em pronunciamento na TV local, que nutriam ódio ao eixo da resistência, que Golam era sírio, e clamaram a Israel para investisse no país. 

Israel ouviu e imediatamente investiu. Ocupou muitos quilômetros mais do território sírio, destruiu depósitos de munições, armas e equipamentos militares, quartéis e bases aéreas, enfim, garantiram que os novos "governantes" sírios não tivessem acesso a armas e munições mais pesadas que fusis de assalto e pequenos canhões e metralhadoras montadas nas caçambas de pickups médias.

A terceira hipótese, mas mais longa e improvável, é a reorganização das forças leais a Assad, que se reorganizem, e iniciem a retomada do território desde os dois pequenoa enclaves que ainda dominam e apoiados pelas forças do eixo da resistência. Só que para isso é necessário acompanhar o desenrolar do que acontece na própria Síria.

Geopoliticamente o Irã e o Eixo da Resistência sofrem a maior derrota. Sim, ela é estratégica, importante, mas de forma alguma decisiva. O Hezbollah deve ter um pouco mais de dificuldade para ser abastecido, mas isso não deixará de ocorrer, e rotas e opções que estavam adormecidos ou pouco utilizados devem ganhar mais relevância, isso se não mantiverem as rotas via Siria através dos corruptos grupos que chegaram ao poder. Basta ver que os Houthis não têm ligação terrestre (segura), mas são abastecidos e muito ativos.

A Rússia também perde,  mas menos. Conseguiu a manutenção de suas bases Sírias, e já iniciou "relações" com o novo governo (o próprio Irã também). Essas relações podem ser incentivadas pelos prontos investimentos israelenses no país. 

Ou seja, ainda que seja uma derrota estratégica, que num primeiro momento se criem problemas ao Eixo da Resistência e à Rússia na região, e que as forças Ocidentais tenham ganhado terreno num primeiro momento, nada ali é definitivo, nem mesmo a queda de Assad e de seu grupo (ainda que eu ache que ele não é o homem adequado para estar à frente da Síria neste momento).

O resto o futuro nos dirá. 

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