Ilustração retirada da internet
Deu na Folha de S. Paulo: “Seis em cada dez brasileiros pertencem à classe média”.
É certo que nosso país conseguiu expressivos avanços no campo econômico e na distribuição de renda nos últimos anos. É certo também que houve avanços significativos entre as diversas camadas sociais que compõem a sociedade brasileira, havendo sensível diminuição da pobreza.
Mas devemos ter cuidado quando comemoramos determinados resultados. Os padrões utilizados para a definição de classe média estão desatualizados e não refletem necessariamente melhoria direta na renda das pessoas, mas barateamento de produtos eletro-eletrônicos e principalmente maiores facilidades de crédito.
Tal barateamento é um processo mundial, mas por incrível que pareça não tão sentido no Brasil, que viu o aumento de consumo desses bens devido ao aumento do crédito, como mostrado acima. Nesse processo é importante, principalmente, o aumento do prazo para pagamento, embora também tenha havido uma pequena queda nas taxas de juros pagas, que ainda são extremamente altas.
Ou seja, o acesso a esses bens se deu pelo maior endividamento de médio prazo da população, a preço altíssimo. Por isso é importante um debate maior e mais profundo na análise desses dados.
O Blog dos Mercantes de forma alguma vai negar os avanços alcançados. É claro que houve uma melhora sensível no nível de vida de boa parte da população mais carente, mas daí a transferi-la de classe, vai um salto muito grande.
E como a própria reportagem da Folha demonstra, não houve salto de qualidade no trabalho prestado por essa parcela da população, nem mesmo almejado por ela, o que demonstra a fragilidade de tal movimentação na pirâmide social.
Então, seguimos necessitando de maior nível de escolaridade, de educação de melhor qualidade e mais abrangente. Também seguimos necessitando que brasileiros ocupem as vagas de empregos que exijam realmente esse nível de escolaridade, e que esses empregos sejam suficientes para absorver essa parcela da população que busca ascensão social.
Depois disso a gente comemora o aumento da classe média. Enquanto isso a gente comemora a retirada de uma grande quantidade de brasileiros da pobreza, o que convenhamos não é pouco.
Leia abaixo a reportagem publicada na Folha:
Seis em cada dez brasileiros pertencem à classe média, diz Datafolha
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ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Brasil é um país de classe média. Seis em cada dez brasileiros com 16 anos ou mais já pertencem a esse grupo, segundo o Datafolha.
Com 90 milhões de pessoas --número superior ao da população alemã--, a classe média brasileira, no entanto, está longe de ser homogênea.
A variedade de indicadores de renda, educação e posse de bens de consumo permite a divisão dessa parcela da população em três grupos distintos que separam os ricos dos excluídos.
O acesso crescente a bens de conforto --como eletroeletrônicos, computadores e automóveis-- é o que mais aproxima as três esferas da classe média brasileira.
A partir da medição da posse desses itens, a população é divida em classes nomeadas por letras.
O Brasil de classes médias é aquele que está conseguindo escapar dos estratos D e E, deixando para trás os excluídos, mas ainda quase não tem presença na classe A.
Ganhos de renda --consequência de crescimento econômico mais forte e políticas de distribuição de renda-- e maior acesso a crédito contribuíram para essa tendência.
"Aumentos de renda que parecem pequenos para a elite têm representado uma revolução para as classes mais pobres", afirma o economista Marcelo Neri, da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Se a posse de bens de consumo aproxima as três classes médias brasileiras, indicadores de renda e educação ainda os distanciam.
Rendimento e escolaridade mais elevados são, por exemplo, características que afastam os brasileiros da classe média alta dos outros dois estratos. Já as linhas que separam os integrantes das classes médias intermediária e baixa são mais tênues.
A renda da classe média baixa ainda é, por exemplo, mais elevada do que a da classe média intermediária.
No entanto, os integrantes bem mais jovens da classe média intermediária têm melhores perspectivas econômicas por conta de avanços educacionais mais significativos nos últimos anos.
Esse grupo é o que mais se expandiu no país na última década. Com 37 milhões de pessoas (de 16 anos ou mais), só perde para os excluídos, que ainda formam a classe mais numerosa no Brasil, embora tenham encolhido.
Apesar da expansão significativa da classe média, há quem ainda não sinta fazer parte do grupo. É o caso de Rosiley Marcelino Silva, 46. Casada e mãe de dois filhos adultos, ela vive da venda de salgados e do salário do marido, ajudante de caminhão.
"Não acho que tenho vida de classe média. Mas agora dá para sobreviver", diz Rosiley, que foi classificada pelo Datafolha como classe média intermediária.
A vulnerabilidade da nova classe média é uma questão que preocupa as autoridades.
"Nós estamos tentando pensar em políticas que ajudem essas pessoas a não retornarem para a pobreza, porque esse é um risco", afirma Diana Grosner, economista da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
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