terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Crise europeia pode beneficiar o Brasil, diz Valor Econômico. Como?

Deu no Valor Econômico: “Crise europeia pode beneficiar o Brasil”. Alguns dados interessantes na reportagem veiculada pelo Valor Econômico. São informações que o Blog dos Mercantes vem passando há tempos e que muito preocupam. A queda nas exportações de produtos com valor agregado, ou seja, os manufaturados e os produtos de alta tecnologia. O aumento das importações desses mesmos produtos é fruto do aquecimento da demanda interna sim, mas é principalmente fruto da desindustrialização do país.

No sentido oposto, as próprias empresas detectaram a queda nas exportações de nosso País, e isso é muito preocupante, já que empresas de contêineres transportam os produtos com maior valor agregado.

Outro fato interessante é algo que o Blog já abordou em outras oportunidades, que é o sucessivo recorde de carga movimentada por vários portos do Brasil. Mas o saldo de nossa balança comercial segue caindo. Isso se deve fundamentalmente à deterioração da pauta de exportações do país. Em outras palavras estamos voltando a exportar matérias primas, e isso cada vez mais rápido.

O Blog só não conseguiu encontrar em que ponto o Brasil vai ser beneficiado com a crise europeia. O citado aumento do tráfego entre Brasil e Ásia, da maneira que está ocorrendo, é muito oneroso ao país, e só asiáticos e as companhias de navegação lucram com ele.

A reportagem na íntegra publicada no Valor Econômico:

Crise europeia pode beneficiar o Brasil
Armadores de longo curso que atuam nos tráfegos da Costa Leste da América do Sul avaliam que o Brasil poderá até se beneficiar no atual cenário de crise na Europa. "Por conta da depressão do consumo no mercado europeu, pode haver incremento na corrente de tráfego do Brasil com a China, até porque o país asiático tem sua produção destinada principalmente à Europa", afirmou o diretor comercial da NYK, Arthur Bezerra.

O armador japonês suspendeu o serviço direto entre o Brasil e a Europa há cerca de dois anos. "Esse tráfego da Europa vinha demonstrando muita dificuldade em trazer retorno aceitável. A crise detonada em 2008 só contribuiu para deteriorar um pouco mais as condições", afirmou o executivo da NYK.

Atualmente, a companhia japonesa opera dois serviços diretos a partir do Brasil: com a Ásia e com a Costa Leste dos Estados Unidos. No ano passado, até novembro, o resultado combinado das duas linhas da NYK cresceu 4%. O incremento foi primariamente causado pelo aumento das importações. Nos dois tráfegos (Ásia e EUA) a importação respondeu por 9% de crescimento nos volumes, com as exportações caindo 2%. Na importação o carro-chefe foi o tráfego da Ásia, que aumentou 12%. "Isso só demonstra um mercado doméstico forte. Obviamente tem o efeito câmbio, mas principalmente o mercado doméstico bem aquecido. A perspectiva é de crescimento continuado", afirmou Bezerra.

O resultado final de 2012 dependerá de como a crise vai afetar o comércio exterior, pondera. "O crescimento pode não ser tão grande, talvez de 5%", disse Bezerra. "Com o domínio da importação, que continuará a crescer mais que a exportação", acrescentou o executivo.

Também a CMA CGM concentra as apostas nas compras brasileiras do exterior. "Hoje temos uma crise política que provavelmente vai se tornar uma crise econômica na Europa. Neste momento, a situação aqui parece um pouco mais positiva. Até para a exportação os clientes estão com perspectivas razoavelmente positivas", afirmou Marc Bourdon, diretor-geral da companhia francesa no Brasil.

Bourdon aposta no crescimento das importações - especialmente da Ásia - e na força do mercado doméstico para blindar os resultados no país. Terceiro maior armador do mundo, a CMA CGM opera atualmente nove linhas saindo ou chegando ao Brasil - a maioria delas em associação com outras companhias.

Enrique Arteaga, diretor para a Costa Leste da América do Sul do grupo CSAV, avaliou que, frente à crise, o desempenho individual de cada empresa vai depender de ações coletivas: "O ajuste de capacidade do mercado como um todo permitirá que as empresas, individualmente, retornem a níveis de rentabilidade sustentáveis", disse Arteaga via email. A saída para a crise, segundo ele, passa não só por ajuste de capacidade, mas também por redução de custos, melhoria da eficiência, ampliação de prazos de crédito e readequação da estrutura de ativos das empresas de navegação.

O diretor afirmou que outra preocupação das empresas de navegação se refere aos altos custos praticados e aos gargalos de infraestrutura nos portos brasileiros, o que aumenta despesas tanto de armadores quanto de exportadores. Arteaga afirmou que as empresas de navegação têm dificuldade de repassar ao mercado a alta de custos derivada, em parte, das ineficiências portuárias.

A CSAV está focada, segundo Arteaga, em um plano agressivo que permitirá à empresa situar-se no topo em termos de performance no setor. "Esse plano já está em grande parte implementado e os resultados foram perceptíveis no quarto trimestre de 2011." 

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