Especificações do Costa Concordia publicadas na internet
Após o desastre com o Costa Concórdia, navio de passageiros que inclusive já esteve fazendo a temporada brasileira de cruzeiros em anos anteriores, a imprensa resolveu voltar suas baterias para o subsetor da Marinha Mercante que explora o turismo marítimo.
Pela maneira como está organizado no Brasil, o Blog dos Mercantes não é um entusiasta desse subsetor, e já deixou isso claro, inclusive cobrando maior rigor de nossas autoridades nas inspeções a bordo, e no sentido de tomarem providências mais incisivas para a solução dos vários problemas encontrados, e que afligem a tripulantes, e mesmo aos usuários do sistema (passageiros).
Mas esses mesmos passageiros não estão em condições de julgar a capacidade técnica da tripulação, o que faz de qualquer análise feita por leigos, através do depoimento de outros leigos, algo totalmente desprovido de credibilidade e sentido.
A reportagem abaixo apontou uma série problemas que os cruzeiros vêm causando no Brasil, muitos deles já denunciados anteriormente, inclusive aqui no Blog, mas a execração pública do Comandante e sua tripulação, baseada na suposição de pessoas sem a menor capacidade para julgar suas atitudes, não faz sentido e não recebe coro do Blog.
Como dissemos acima, vamos sim, aumentar o rigor das inspeções e das cobranças por ações e soluções dos problemas encontrados, inclusive quanto ao treinamento e capacitação das tripulações que operam os navios de cruzeiro, sejam eles marítimos de carreira, ou contratados para os serviços de hotelaria e comércio oferecidos a bordo, e que o governo da Itália conduza uma investigação isenta e profunda, e puna os culpados com o rigor necessário.
Isso seria a atitude correta e sensata a ser tomada. Qualquer coisa que não contemple isso seria o linchamento impulsivo de poucos, para atender ao anseio de justiça da opinião pública.
Leia abaixo reportagem publicada no "Monitor Mercantil" que inspirou este artigo:
Dúvidas no mar
"Especialistas listam problemas dos transatlânticos: MP deveria transferir o controle dos cruzeiros para a Antaq; deveria ser obrigada a utilização de marítimos nacionais, vê os contratos com outros profissionais deveriam ser feitos sob a lei brasileira, e não com base em normas de Chipre, Panamá, Bahamas e Bermudas (o Tribunal Superior do Trabalho (TST) considera esses contratos inválidos, mas a maioria das pessoas não recorre à justiça para questioná-los); não é verdadeiro que os cruzeiros atraiam estrangeiros, pois mais de 90% dos passageiros são brasileiros, o que até enfraquece o turismo interno, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH); a tripulação é uma Babel, com filipinos, ucranianos, peruanos e, no caso de um desastre, essa multiplicidade étnica e de idiomas dificulta salvamento.
Reportou o jornal USA Today, de 18 de janeiro, página B-1: "Muitos passageiros disseram que a atitude da tripulação foi deficiente". Ainda fazem parte da lista: Banco Central e Receita Federal têm acesso limitado às operações de venda de mercadorias e serviços dos navios, que incluem operação de cassinos e bingos; ninguém sabe quanto vendem as butiques de bordo.
E mais: o Sindicato dos Marítimos (Sindmar) já levantou dúvidas sobre segurança da operação, despejo de lixo orgânico e geral, e a Anvisa tem tido enorme trabalho com os cruzeiros; a Codesp fixou normas mais rígidas para atracação, pois os navios apareciam em Santos sem avisar; a prefeitura de Santos se queixa de que milhares de turistas tumultuam o trânsito da cidade e pegam ônibus para São Paulo, sem deixar benefícios na cidade costeira (Búzios, no rio, também critica a chegada de turistas por apenas uma tarde); ninguém sabe de onde a entidade do setor - Abramar - retirou estatísticas que indicam gastos diários de centenas de dólares por cada turista.
A Costa pertence à Carnival Lines, que tem mais 100 navios, distribuídos por 12 marcas - Princess, Costa, Carnival etc. - e, junto com a concorrente Royal Caribbean Cruises, controla 80% do mercado mundial, ou seja, é um duopólio. Cada navio é registrado em um país de bandeira livre e as empresas igualmente têm sede em outros paraísos fiscais.
No dia 17 de janeiro, as ações da Carnival caíram 14% na Bolsa de Nova York. O advogado Mike Eidson declarou ao USA Today que, se for comprovada a culpa do comandante, a responsabilidade da empresa seria pecuniariamente diminuta ante as leis norte-americanas".
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