Fake News é algo que não foi inventado agora. Bem antes do Facebook, Twitter e outras mídias sociais, o ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, já falava dos "factóides", que guardadas as devidas proporções, não é muito diferente. Na época eram os famosos "dossiês", ou as "notícias" espalhadas por email ou boca a boca, às vezes até mesmo plantadas na imprensa em colunas de jornalistas a soldo. O problema é que agora a propagação dessas meias verdades, ou inverdades completas, hoje é muito mais rápida abrangente.
Mas se isso não é novidade, por que agora fala-se até em lei contra as Fake News, e por que o alvo seriam os seguidores de Bolsonaro, principalmente se pensarmos que todas as correntes costumam ter seus criadores de "fofocas", independentemente da seriedade, ou não, de seus "líderes"?
Há três motivações principais para isso. A primeira já foi colocada acima, e tem a ver com o alcance e velocidade com que se propagam hoje em dia, o que é absolutamente prejudicial aos usurpadores do poder, que já se encontram suficientemente enrolados pelas notícias verdadeiras, que rondam os noticiários oficiais, e que abrem ao povo muitos de seus desvios. Isso também é inconveniente a uma série de partidos e políticos que se esbaldaram das Fake News, participaram ativamente na derrubada de Dilma, mas que hoje não têm tanta evidência na vida pública da nação.
O segundo motivo é a censura e coação que se pode impor a correntes políticas que estejam em desacordo com os interesses dos usurpadores do poder, que podem manipular, tanto a formação das "Fakes", quanto a punição relativas a elas. Claro que outras correntes também podem tentar usar desse expediente, mas elas não têm apoio da ala "messiânica" dos aplicadores das Leis.
A terceira está aí embaixo. Bolsonaro e sua trupe já tiveram sua serventia no golpe, mas extrapolaram o gueto onde deviam se restringir. Isso porque a regra é vender tudo (terras, água, empresas, etc.) a potências estrangeiras, mas não se pode prestar continência a uma bandeiras estrangeira. A regra é oprimir pobres, e todas as chamadas minorias, mas o discurso tem que ser o de democracia e inclusão, jamais o discurso pode ser o de ódio. Esse tempo já passou.
A velha e boa hipocrisia.
SAB, 06/01/2018 - 15:05
Enviado por Michel
Algo me diz que a preocupação da PF, Judiciário, MP e mídia associada em combater as fake news é sincera. Mas, sinto dizer, é uma preocupação tardia e corporativista. E, por incrível que pareça, o alvo desta iniciativa pode não ser a esquerda, mas sim Bolsonaro e seus seguidores, que se enraizaram, com ruído, em todos os órgãos supracitados, principalmente dentro da PF. Mas o 'bolsonarismo' se instalou nas bases, não nas cabeças - estas que ainda continuam com o outro lado da direita, ou seja, o lado mais moderado do conservadorismo.
Não é difícil entender que essa PF (e, por extensão, todas as forças policiais, como a PM, os procuradores midiáticos etc) de hoje, age por mera obrigação formal à Constituição Cidadã - mas com a cabeça ainda ideologicamente atrelada à truculência sob a égide da Guerra Fria nos tempos ditadura. Há exceções, claro. A Constituição de 1988 trouxe muitos avanços para democracia, mas creio que ficou um vácuo no que tange à formação dos jovens sobre a importância da democracia (mais a Declaração Universal dos Direitos Humanos; a consciência da cidadania) em contraponto com a catástrofe da ditadura. Creio que o Brasil falhou nisto. Dói muito constatar, por exemplo, jovens advogados, médicos etc (uma minoria, diga-se) usando chavões tipo “bandido bom é bandido morto” ou defendendo a "intervenção militar", eufemismo para dizer "volta da ditadura". Se o ensino de Direito ou Medicina (para ficar só em dois exemplos) deixa margem para isso, pense na formação dos policiais de hoje. Parece que o conceito "agente da autoridade democrática" ficou reprimido pelo conceito "agente da opressão", de modo que não consigo imaginar que um policial hoje seja muito diferente daquele servidor que, na ditadura, sentia prazer em censurar e reprimir um artista - como se isso rendesse, perante seus superiores, uma espécie de "prêmio moral de erudição" à altura da "arte inimiga" que, naquela visão estreita, agia em favor do "comunismo e da pouca-vergonha". Foi assim, com tal "erudição", que Sófocles, por exemplo, virou "autor teatral comunista” numa peça; e foi assim que “Rosa, Maria e Joana” (respectivamente esposa, mãe e filha homenageadas por Ednardo numa canção) viraram apologia à maconha (“rosa marijuana, heureca, chefia!”) na visão dos gênios da interpretação a serviço da censura.
Voltando às fake news. Ao que parece, Bolsonaro atraiu para si o submundo dos robôs, hackers, fake news etc. Incrível constatar que a web, na campanha 2018, esteja nas mãos de um candidato, diríamos, rudimentar. Por que? Grana, meus prezados, muita grana. Mas qual a origem de tanta grana? Ainda não se sabe, mas dá para desconfiar. Recentes viagens do candidato para fora do Brasil reforçam teses que, por ora, ainda se encontram no campo das teorias conspiratórias. Mas o fato é que os grupos de Bolsonaro nas chamadas redes sociais já estão atuando numa voracidade incrível e com organização militar (literalmente até), combinando "likes" para posts amigáveis e ataques em manada aos posts hostis ao candidato. E as fake news, com "notícias" aos borbotões, entram como braço catalisador dos ataques em manada. Digo isto por relato de um amigo meu, irmão de um jovem militar que repassa para a família, via WhatsApp, os horrores fascistas que, no submundo da alienação e truculência, soa como “consciência política” cujo líder é aquele que chamam de “mito”. Por ironia, a palavra “mito” (V. dic. Aurélio – 5. ideia falsa, sem correspondente na realidade) traduz bem o personagem que eles escolheram para representa-los. Quando meu amigo tenta alertar o irmão militar sobre o fascismo (que o coitado sequer sabe o que significa), o jovem responde com links para fontes... adivinhem... das fake news! E não adianta você apresentar ao seguidor do “mito” um link com alguma notícia da velha mídia como contraponto às fake news. Porque ele vai simplesmente responder que é a mídia que é “fake news” e – olha só que curioso – fará o mesmo discurso da esquerda no que tange às manipulações. A diferença, evidentemente, é que as críticas da esquerda contra as manipulações da mídia partem de jornalistas experientes – e não de curiosos que se habituaram a nortear suas ideias em youtubers, Facebook, MBL etc. Olhem a que ponto de esquizofrenia o Brasil chegou em relação à velha mídia, quando esta, em sua insana escalada da truculência, da manipulação, dos ataques às reputações etc, mandou às favas todos os escrúpulos da consciência (como diria Jarbas Passarinho no AI-5) e jogou o jornalismo no lixo. A preocupação da mídia com as fake news, portanto, traz o caráter de quem tem know-how do assunto e sabe do poder devastador de uma falsa notícia.
Recobremos então ao difícil dilema provocado por Nassif: O que é fake news e o que não é fake news? A resposta, ou melhor, a solução para a praga da fake news seria hoje cristalinamente fácil se a velha mídia levasse a sério (e não como uma afronta ao seu corporativismo tacanho) a Lei Nº 13.188/15 (Lei do Direito de Resposta) e também a Lei Nº 12.965/14 (Marco Civil da Internet). Em vez disso, a mídia optou por continuar no jogo sujo no qual já se viciou – jogo este em que seus donos exigem ser os próprios árbitros.
Como se vê, é inútil querer inventar a roda se a mídia (e a PF e o MP e a Justiça cooptados) só leva a sério as rodas que já existem nos seus robustos veículos que atropelam o bom senso.
Enfim, eu adoraria ter a convicção de que a discussão sobre as fake news tivessem ouvidos para jornalistas como Luis Nassif, Luiz Carlos Azenha, Jânio de Freitas etc - e todos os demais interessados, incluídos nós, comentaristas, colaboladores e ativistas da liberdade de expressão. Mas não, prezados. Infelizmente esta é uma discussão que ficará restrita àqueles que já sabemos.
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