segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Eleições na Bolívia e outros temas

Hoje estamos tendo eleições na Bolívia. Informações para cá, informações para lá, tudo leva a crer que o MAS, partido do deposto Evo Morales, vai levar esse pleito, talvez até em primeiro turno. A direita diz que se isso ocorrer não irá aceitar o resultado. As alegações serão as de sempre, ligadas a um discurso vazio de corrupção, de entreguismo, de fraude eleitoral, etc, ou seja tudo que a direita faz, e sempre tenta imputar ao outro lado.

Agora pensem comigo: a direita, que deu o golpe em Evo, que está no poder, que tem a máquina pública, e que organiza as eleições, diz que não aceitará o resultado com um discurso que, no máximo, se aplica diretamente a ela, porque é ela quem está no poder.

Da mesma forma o mundo silencia sobre essas eleições, e silencia sobre a situação dos golpistas. Provavelmente irão abraçar o discurso da direita boliviana, e apoiarão golpe sobre golpe.

O ataque a lideranças de esquerda

Eles têm vindo por várias frentes, incluindo com as chamadas fakenews. Foi a retirada de Marina Silva e outros políticos de esquerda das listas de lideranças negras, ou as ações da PF em vários estados do país, que geraram inclusive ainda mais fakenews, como a de que Ciro Gomes estaria sendo preso, e Cid Gomes terias seus endereços como alvo das ações.

As ações contra Marina e outras lideranças populares pelo viés identitário é apenas um diversionismo, e uma tentativa de desqualificar essas lideranças por dois vieses de uma só vez. O principal está ligado a parte do que vou comentar abaixo, e tem a ver com o "lugar de fala". Marina, e outras lideranças, não poderiam falar como negros, porque não seriam negros, e sua inclusão nessa raça teria sido uma fraude. Isso atingiu a ala identitária de cheio. Ao mesmo tempo eles atiçam seus cães, que polarizam uma discussão absolutamente secundária, frente aos grandes problemas que assolam o país. Se Marina ou Jean Wyllys são pretos, brancos, homossexuais, não é o cerne da questão, mas sim o que falam, e principalmente, como se posicionam em relação ao que falam

Outra forma de ataque foi feita usando a PF. As ações ocorridas em alguns estados brasileiros têm relação com denúncias feitas pelos irmão Batista. Isso ocorreu há mais de dois anos, e curiosamente apenas às vésperas das atuais eleições é que são tomadas ações relativas a essas denúncias. Não a toa essas ações também foram tomadas em locais onde o atual governo é muito fraco, ou vaza água por todos os lados, indicando um naufrágio desastroso para eles.

Espero sinceramente que o eleitorado brasileiro não caia nesse diversionismo, e vote de acordo com seus reais interesses, que são a criação de empregos, melhoria dos salários, dos serviços, das condições de aposentadoria, etc.

Lacração a Hadad

Fernando Hadad fez um trocadilho com o nome do apresentador Casagrande, que tem defendido pautas democráticas, com o "casa grande" descrito por Gilberto Freyre. Hadad disse "que tem Casagrande que vale a pena".

Aí a turma do "lugar de fala" vem com o papo de que você não pode falar sobre determinado assunto porque você não é parte daquele assunto, ou que você não pode falar de determinado grupo porque você não é do grupo, etc. Ou seja, você não pode falar daquilo que não te afeta muito diretamente.

O outro argumento é que não se pode elogiar ninguém de um grupo que é considerado opressor, ou opositor a outro grupo.

Esses argumentos são facilmente rebatidos da seguinte forma. Primeiro que lugar de fala é uma construção absolutamente individual. Tem a ver com grupo social, mas de forma alguma se restringe a isso. Não fosse assim não teríamos tido um monte de mulheres, negros, homossexuais, etc, votando em Bolsonaro na última eleição. Essas pessoas não só votaram, como muitos ainda o apoiam, e outro tanto participa ativamente de seu governo. Damares, Sérgio Camargo, e Paulo Negão são exemplos claros do que digo. 

Outro equivoco desses argumentos é o de que alguém de uma parcela da sociedade não pode ser elogiada, porque aquela parcela é opositora, ou opressora. Esse tipo de discurso serve apenas para fracionar a sociedade ainda mais, e cortar canais de diálogo e avanços democráticos e sociais.

Você pode até não concordar comigo, mas pense direito no que eu disse, antes de vir me xingar.


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