terça-feira, 30 de setembro de 2025

O Mundo vê novos desdobramentos e acirramentos dos conflitos nas últimas semanas

Pessoal, tivemos alguns movimentos geopolíticos interessantes nos últimos dias. Um dos mais importantes foi o ataque de Israel a Doha, capital do Catar. Enquanto representantes do Hamas se preparavam para mais uma reunião de negociação com os estadunidenses na busca para uma paz na Faixa de Gaza, aviões israelenses atacaram o local da reunião. Mas os palestinos não foram atingidos porque haviam deixado seus celulares no local, e saíram para rezar em uma mesquita. Provavelmente houve vazamento de informação acerca da operação, mas isso não isenta o fato de mais uma vez o EUA distrair líderes do Oriente Médio com uma negociação, enquanto os israelenses se preparam e executam um ataque da chamada “decapitação”, ou seja para matar lideranças políticas e/ou militares de países e etnias da região. Muitos analistas geopolíticos, incluindo ex-militares estadunidenses, acreditam numa “participação consciente” do EUA nesses ataques. Pessoalmente eu não discordo desta análise, mas ressalvo o fato de que não há provas concretas dessa participação intencional dos estadunidenses, ainda que haja muita evidência indireta disso, até porque o próprio Presidente do EUA nos faz o favor de concordar e dar apoio a este tipo de ação, em todas as vezes que elas ocorrem, tornam esse tipo de análise extremamente plausível, ainda mais do que aquelas que apenas indicam uma participação “passiva” dos estadunidenses.

E apesar de o evento ter gerado revolta no mundo árabe, não acho que seja o estopim para uma ação concreta contra Israel pelos países da região, ao menos não neste ponto da História. Mesmo com a reunião que houve com líderes dos países da região, das muitas notas de repúdio, e de o Irã ter chamado os países da região a uma reação aos atos israelenses, o fato é que os laços que os líderes árabes têm com o Ocidente ainda são demasiado fortes para garantir uma revolta no momento, mas isso pode mudar, e para isso basta que o Ocidente não mude o modo de aproximação com eles, enquanto as novas forças seguem avançando. Por mais que tenhamos laços, por mais que tenhamos interesses, uma hora os abusos serão excessivos, e uma reação pode ocorrer, ainda mais com o enfraquecimento nítido que os ocidentais estão mostrando.

O enfraquecimento Ocidental fica claro quando o Catar cancelou uma compra junto a Boing estadunidense de USD 158 bilhões, e outra de armamentos estadunidenses de USD 42 bilhões. Os aviões podem ser substituídos por europeus, ou mesmo a Embraer brasileira, enquanto o armamento deve ser substituído por similares chineses.

Mais para a Ásia Central tivemos a derrubada do governo do Nepal, e o motivo teria sido uma proibição de uso das redes sociais virtuais Ocidentais no país. Casas de Ministros foram queimadas, membros do governo arrastados e agredidos pelas ruas, o governo caiu e um novo foi eleito com participação forte da rede social online discord. A nova primeira-ministra do Nepal, Sushila Karki, de 73 anos, fez um discurso em que diz que atenderá os anseios da chamada geração “Z”, que foi a grande responsável pelas mudanças no país. Vale ressaltar que há muitas nuances no Nepal, e as divisões religiosas, que garantem relações e influências de e nos países em volta são importantes nesta equação. O que pode ser mais impactado é a Índia, vizinha do Nepal, e em processo de tentativa de desestabilização pelos estadunidenses. Por sinal, o embaixador estadunidense no Nepal já fez um discurso de apoio e cooperação com o novo governo.

No Leste europeu tivemos um exercício militar com a presença de 100 mil soldados russos e bielorussos. Também tivemos pequenos contingentes da Índia, Irã, Congo, Burkina Faso, e Mali, além de observadores internacionais, incluindo estadunidenses. Cerca de 10.000 sistemas de armas foram usados no treinamento. Os destaques foram as simulações de uso de mísseis Iskander, Zirkon, Oreshnik e de aviões de bombardeio estratégico. O exercício fez com que a Polônia fechasse suas fronteiras com o Oriente e deslocasse 40.000 homens para as fronteiras com Kaliningrado e a Bielorússia, além de ter gerado alerta na NATO. Apesar disso não houve incidentes internacionais durante o evento, que teve um Putin vestido em uniforme militar supervisionando a última etapa do treinamento. As mobilizações do tipo feito pela Polônia são comuns de lado a lado nesse tipo de treinamento, mas um Putin em uniforme militar parece mais um recado de prontidão para a guerra, mesmo que outros canais russos peçam negociações e paz. É só lembrarmos da última vez em que Putin vestiu um uniforme militar, justamente num momento de tensão aumentada com a NATO, e na sequência tivemos uma crescente nas ações militares russas na Ucrânia. É possível que vejamos mais um aperto na ação militar contra o exército ucraniano, cujos sinais de debilidade são cada vez mais nítidos, apesar das retaliações que vez ou outra vemos em território de Novarússia, ou mesmo do território tradicional da Federação Russa. Isso parece certo já que a quantidade de mísseis e drones usados contra o território ucraniano voltou a aumentar, já ultrapassando as 800 unidades conjuntas em um único ataque.

Um desdobramento meio inesperado do treinamento das forças russas e bielorussas é que após o seu fim os poloneses anunciaram um fechamento a tempo indeterminado da fronteira com o Oriente. Essa é uma das rotas das chamadas “Novas Rotas da Seda”, ou “Iniciativa Cinturão e Rota”, que é o nome oficial dos corredores de comércio utilizando ferrovias de alta velocidade que vêm sendo desenvolvidos pelos chineses há pelo menos uma década. Na verdade, essa é a principal rota para se chegar ao Norte da Europa neste momento. O resultado é que a China está inaugurando a primeira rota comercial pelo Ártico. O navio Istambul Bridge será escoltado por quebra-gelos, e deve atingir o porto britânico de Felixstowe em 18 dias, contra uma viagem de cerca de 30 dias pelas rotas marítimas tradicionais, e de 25 pela rota ferroviária.

Além da rota comercial com um potencial incrivelmente lucrativa, o controle do Ártico ainda permite o acesso a enormes reservas de gás, petróleo, e outros minerais. Por isso a briga pelo controle da região é tão grande, e a verdade é que os Russos estão bem à frente de seus concorrentes no momento, seja pela presença efetiva na região, com bases, povoações, etc, como também com equipamentos e tecnologia adequada a adentrar e habitar num dos ecossistemas mais inóspitos do planeta.,

Outro fato inusitado foi a entrega da primeira turbina iraniana de geração de energia para os russos. A turbina é propulsionada a partir do gás, recurso vastíssimo na Rússia, e substituirá turbinas de geração alemãs fornecidas pela Siemens. As turbinas prometem ser 30% mais eficientes do que as alemãs, ou seja, proverão 30% a mais de energia elétrica com o mesmo consumo de gás.

Na sequência tanto China quanto Rússia informaram que não aceitarão e não aplicarão as sanções aprovadas pela ONU contra o Irã. Segundo ambos os países as sanções são ilegais, abusivas e injustas.

Como vemos, o mundo já está bem diferente daquele que saiu dos confinamentos gerados pela COVID-19 no final do 2.021 e início de 2022. É ainda mais diferente do que aquele que entrou nos confinamentos no início de 2020. Ainda não está consolidado, ainda tem muito o que evoluir (não no sentido de melhorar, mas de mudar), e ainda não tem sua formatação final para quando toda essa disputa se acalmar e o planetinha azul em que vivemos possa ter um pouco mais de estabilidade, mas uma coisa é certa, é muito difícil que tenhamos um retorno à estrutura que tínhamos antes de todo esse processo começar. Primeiro porque as forças que comandavam o planeta já estavam debilitadas naquela época, e essa situação apenas se acentuou para esse momento. Por fim porque temos visto muitos erros, que apenas aprofundam as debilidades que essas forças já mostravam, ou seja, tudo o que fazem para reverter a situação é em base de uma força e um poder que já não têm, e isso apenas acelera e aprofunda as mudanças em curso.

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