quarta-feira, 19 de junho de 2013

O mito do povo pacato

Até o The New York Times divulgou em manchete
a violência contra o povo

O brasileiro é um povo pacato e tranquilo. Isso é um mito, criado com a intenção de nos mantermos nesse estado. Somos como qualquer outro povo, e é só olharmos em nossa história para vermos quantas revoltas estouraram por nosso país. Em alguns casos dirigidas por governantes locais, em outros não; mas sempre com massiva adesão popular. Na verdade são tantas que poderíamos elencá-las em ordem alfabética, mas citaremos apenas algumas: Revolta da Vacina, Revolução Farroupilha, Guerra de Canudos, Revolta da Armada, Revolta da Chibata, Confederação do Equador, Inconfidência Mineira, Cabanada, Cabanagem, Sabinada, Revolta do Vintém, Revolução Constitucionalista, e mais recentemente, o Golpe de 64 com sua guerrilha, Diretas Já, e Os Caras Pintadas. E essas são apenas algumas.

Por isso, o Blog dos Mercantes vai fazer uma pausa pontual e necessária para comentar alguns fatos que vêm ocorrendo em nosso país nos últimos dias: a série de manifestações e a repressão violenta e desnecessária das polícias de vários estados brasileiros, governados pela oposição, apoiadores ou mesmo correligionários do governo federal.

A demanda inicial, que é o aumento de míseros R$ 0,20 das passagens de ônibus em São Paulo, não pode ser vista como o motivo principal das marchas em todas as capitais brasileiras. Quando muito foi o estopim de algo há muito reprimido. Tanto é que já aparecem outros pleitos pelo país afora muito mais sérios e justos do que o simples aumento das passagens de ônibus na capital paulista e em outras; e que são motivos de insatisfação popular, mesmo que esse aumento, ao longo de anos, seja muito superior à inflação.

Saúde falida, Educação de péssima qualidade, violência, corrupção, transportes precários e caros, impostos altíssimos e bitributação, pois todos os serviços que se deveria receber pelo pagamento desses impostos são de péssima qualidade. Isso quando existem, e obriga uma parte considerável da sociedade a pagar por esses serviços que ainda assim são de qualidade questionável.

Somado a isso nosso governo vem se curvando cada vez mais a pressões estrangeiras, e abrindo nossas portas a imigrantes para que ocupem nossos postos de trabalho. O caso da importação de médicos é emblemática, e as desculpas dadas pelo governo para a importação são falhas, quando não mentirosas.

Conheço vários médicos, e todos evitam trabalhar no interior, pois uma vez estabelecidos têm os salários cortados (algo que é inclusive proibido por lei), as condições de trabalho reduzidas (equipamentos, auxiliares etc.), enfim os acordos são simplesmente rasgados.

Em nosso setor de Marinha Mercante vivemos situação semelhante. Respaldado por uma série de mentiras, que se traduzem no termo “apagão marítimo” temos visto nossa profissão ser mais uma vez aviltada. Estão sendo formados oficiais em um ritmo muito acima da necessidade do mercado, que nem de longe tem respondido com a aquisição de novas embarcações, sejam elas construídas no Brasil, sejam elas afretadas no estrangeiro.

Isso vem se refletindo num crescente aumento do desemprego entre marítimos, e em condições de negociação muito mais favoráveis às empresas. Gera também insatisfação na classe.

Notemos aqui que falamos de empresas em sua maioria estrangeiras, que não apresentam absolutamente nenhum compromisso com nosso país, nem mesmo por parte de seus gestores, que são sempre enviados diretamente de suas sedes. No máximo encontramos alguns brasileiros que se apresentam para servirem de amortecedores entre a cúpula administrativa e os trabalhadores da empresa.

E isso não acontece apenas com essas duas profissões. Tenho visto o mesmo processo com engenheiros, administradores, e até mesmo com pessoal de nível técnico.

Somemos tudo isso com o descaso que nosso governo tem mostrado a todos os problemas existentes no país, que são conhecidos de todos aqueles que trabalham e vivem em nossas cidades e campos, e temos o caldo formado para todas as passeatas e manifestações que temos visto nos últimos tempos.

Tudo isso vem deixando as páginas do Facebook, do Twiter e de outras mídias sociais, e está tomando as ruas. Finalmente o povo “cansou” de dizer que está cansado, e resolveu demonstrar isso de forma mais contundente.

Não somos contra Copa do Mundo e Olimpíadas. Na verdade são eventos internacionais de grande porte, que trazem visibilidade e credibilidade ao país que os sedia, e que tomamos o compromisso de realizá-los. E digo tomamos porque não vi nenhuma grande campanha contra isso na época, apenas algumas vozes isoladas. Por isso agora temos e devemos cumprir com nossos compromissos.

Mas isso não é desculpa para a absurda falta de planejamento, que inflacionou enormemente os custos desses eventos, nem para a prevaricação que vimos observando nos últimos tempos.

Tampouco é desculpa para os cortes orçamentários que vêm acontecendo em áreas sensíveis (educação, saúde, transportes), para os baixos salários, para mantermos intactos todos os maus serviços e a bitributação existente, para curvar-se ostensivamente a interesses estrangeiros.


Nisso tudo quem parece que realmente acreditou no mito do “povo pacato” não foi o povo, mas aquele que o criou!

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