Diferente do que se afirma na
reportagem abaixo, a questão da queda de oferta por navios de cruzeiro no país
não se dá devido ao custo de operação no Brasil. Esse custo está relativamente
de acordo com outras áreas do planeta, talvez até mais baixo, já que para
operar no país as empresas de navegação que exploram esse subsetor da Marinha
Mercante, costumam cortar tripulantes e oferecer serviços aquém dos oferecidos
quando estão operando no exterior. Além disso, o subsetor da Marinha Mercante
que opera cruzeiros marítimos não é regulado no Brasil, o que abre um “mar” de
oportunidades para que as empresas que exploram nossas costas consigam lucros
absurdos, ao não cumprir com uma série de regulamentos aos quais outras
embarcações mercantes estão sujeitas.
Mas claro, a arrecadação deve ser
mais baixa, já que o poder aquisitivo dos passageiros sul-americanos costuma
ser mais baixo que de passageiros europeus e norte-americanos. De qualquer
forma é certo que os operadores alcancem alto grau de lucratividade.
E dentre todas as falácias
contidas no artigo abaixo, a maior de todas é a exigência de contratação de
mão-de-obra brasileira. Não que ela não exista. Ela existe sim, embora não seja
cumprida à risca. Mas ela se torna falácia porque esses brasileiros são contratados
exatamente com as mesmas condições dos tripulantes que eles gostariam de manter
a bordo. E detalhe, esses contratos são frequentemente descumpridos, haja vista
a quantidade de reclamações que os inspetores da ITF e os AF do MT recebem
todos os anos.
Então o que faz com que os
cruzeiros tenham perdido passageiros no Brasil?
Simples, quem quer conhecer uma
cidade ou lugar pega um carro, ônibus ou avião e vai até lá, passa uns dias,
passeia, visita. O turismo de quem faz um cruzeiro é estar a bordo do navio,
porque ninguém conhece uma região turística com as 8 hs de estadia que os
cruzeiros costumam oferecer em cada uma de suas escalas. Essas estadias são
mais para a operação da embarcação do que para turismo, já que servem para
abastecimento, manutenções, e embarque e desembarque de passageiros.
Aí chegamos à nossa resposta:
querendo ou não, o brasileiro melhorou sua condição financeira, e não é burro.
Ele já descobriu que pelo mesmo dinheiro, ou um pouco mais, ele faz um cruzeiro
no Caribe, por exemplo, e ainda passa uns dias em Miami. Outra coisa é que
acabou a novidade. As pessoas já foram, viram como é, e agora voltam seus
interesses para outras coisas. Entendeu?
Os minicruzeiros serão uma
solução, não sei se por longo prazo, mas estarão atendendo uma parcela da
população que ainda não teve a oportunidade financeira de conhecer um navio de
cruzeiro, e que com isso poderá dar uma reaquecida nesse setor que, voltamos a
repetir, deixa muito pouco para o país, tendo a imensa maioria de seus lucros enviadas
ao exterior para as empresas que exploram a costa brasileira nos 5 meses que
vão de novembro a março.
O texto abaixo apenas mostra que
eles querem lucros maiores. Estão no direito deles, e eu no meu de dizer que a
coisa não é bem assim. Na verdade, em minha opinião, a exploração de navios de
cruzeiro no Brasil, traz mais malefícios que benefícios à economia do país.
Precisaríamos de um estudo sério para comprovar minha opinião, mas não me
estranharia que um estudo desses a confirmasse.
A ver navios
A próxima temporada de cruzeiros
marítimos no Brasil, que vai de novembro a abril de 2015, contará com dez
navios no litoral do país. Isso equivale à metade do número de embarcações
registradas no verão 2010/2011. Em passageiros, o movimento encolheu de um pico
de 805.189, em 2011/2012, para 596.532, na temporada passada. Segundo a
Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Clia Abremar Brasil), isso se
deve ao custo de operação no Brasil. Com menor margem de lucro, em comparação a
outros importantes mercados de cruzeiros no mundo, as companhias estariam
deslocando embarcações para navegar em águas de destinos que oferecem maior
rentabilidade, sobretudo na Ásia e no Oriente Médio, explica Roberto Fusaro,
presidente da Abremar.
— Operar cruzeiros turísticos no
Brasil custa entre 50% e 100% que em destinos de Europa e EUA. Taxas
portuárias, custo da praticagem, exigências trabalhistas e outros fatores
tornam a operação menos rentável.
Procura pelos cruzeiros há, garante
Fusaro. A estimativa para a temporada 2014/2015 é elevar o número de viajantes
para 640 mil, apesar de contar com um navio a menos que no verão passado. A
expansão virá da oferta de minicruzeiros, roteiros de menor duração e com preço
mais acessível. Isso vai ampliar o número de vagas disponíveis.
O mercado confirma a demanda
aquecida. Em maio, a operadora de turismo CVC teve aumento de 20% nas vendas de
cruzeiros turísticos, ante igual mês de 2013. Além disso, segundo a Abremar,
quatro companhias — Costa, MSC, Pullmantur e Royal Caribbean — vão oferecer 239
cruzeiros, em dez navios. Precisamente, a oferta vai subir para 640.564 vagas.
— A Copa atrapalhou o turismo
brasileiro. O movimento caiu, as pessoas adiaram as férias. Agora, parecem
estar comprando antecipadamente viagens para o verão. O dólar também está
melhor — diz Valter Patriani, vice-presidente de Produtos, Vendas e Marketing
da operadora.
Para ele, ao montar minicruzeiros, as
companhias marítimas conseguem praticamente dobrar a oferta de saídas, embora
reduzam o tíquete médio. Em dezembro, há saídas de sete dias a bordo do
Sovereign por R$ 1.579 por pessoa. Um minicruzeiro de três dias, no Zenith, no
mesmo mês, custa R$ 699.
INVASÃO MEXICANA NA COPA
Durante a Copa, dois navios fretados
no México estão circulando pelo litoral do país.
— Num cruzeiro ficou muito mais fácil
viajar para acompanhar a Copa. A viagem inclui tudo, hospedagem, alimentação,
ingressos. E é uma ótima maneira de conhecer lugares — diz a engenheira
mexicana Carla Olivares.
Já o empresário Paul Ginsburg
lamentou o fato de o navio ter sido fretado exclusivamente para mexicanos. Ele
pretende voltar ao Brasil:
— Uma das vantagens de um cruzeiro é
conhecer pessoas de vários lugares.
O aumento de passageiros previsto
para a próxima temporada vai garantir a manutenção da receita gerada pelos
cruzeiros turísticos na temporada 2013/2014, que foi de R$ 1,15 bilhão. Este
total representa queda de 18% ante o verão 2010/2011, de acordo com pesquisa de
Clia Abremar Brasil e FGV.
— As empresas querem ampliar a
atuação no país. Mas a melhoria em infraestrutura e custos prometida pelo
governo é lenta. Com isso, o Brasil perde navios para destinos mais lucrativos
— diz o presidente da Clia Abremar.
O Porto Veleiro, em Búzios, que é
privado, aguarda há quatro anos autorização da Secretaria de Patrimônio da
União para concluir a construção de cinco gates, que servem para a chegada de
pequenos barcos que trazem passageiros de navios em escala no balneário
fluminense.
— Temos todas as licenças. Mas o
processo é lento demais. Teremos 97 das 122 escalas previstas para a cidade no
próximo verão. As outras vão para o cais municipal — diz Carlos Eduardo Bueno,
à frente do Porto Veleiro e da BrasilCruise, que reúne os terminais de
cruzeiros marítimos do país.
PACOTE DE INCENTIVOS
A Secretaria de Portos reconhece a
morosidade no avanço em estrutura portuária do país. Mas enumera esforços para
mudar o quadro. Desde novembro de 2011 até o fim do ano que vem, perto de R$
660 milhões estão sendo investidos em modernização e ampliação dos portos de
Santos, Natal, Recife, Salvador e Fortaleza.
— Essas obras permitem receber navios
maiores. Devem ajudar, sobretudo, a fortalecer o circuito de cruzeiros no
Nordeste. Nossa meta é voltar ao patamar de 800 mil passageiros por temporada
no verão 2015/2016 — diz Tiago Correia, secretário de Infraestrutura Portuária
da Secretaria de Portos.
— É preciso lembrar da sazonalidade:
temos receita por cinco meses, custo por 12 — diz, por sua vez, Américo da Rocha,
diretor de Operações do Pier Mauá, no Rio.
Os portos cobram dos navios taxas
como as de embarque, desembarque, trânsito e atracação. Rocha crê que, se a
temporada crescer, esses custos podem cair. Ele diz, porém, que, a despeito da
queda no movimento de passageiros e navios recentemente, essas taxas não
tiveram reajuste.
A incidência de tributos como PIS e
Cofins sobre o combustível, questões trabalhistas, como a exigência de
contratação de 25% de mão de obra brasileira por navios estrangeiros, e a praticagem
oneram a operação no país, diz Rodrigo Paiva, diretor da Mind Estudos e
Projetos, consultoria do setor.
— A competitividade nessa área vai
depender de uma política que ajude a estimular a operação, atacando os altos
custos — opina Paiva.
Isso pode estar perto de acontecer. O
Ministério do Turismo promete para este semestre um pacote de medidas para
estimular atividades em diversos setores, como o de cruzeiros marítimos, afirma
Vinicius Lummertz, secretário nacional de Políticas de Turismo.
— Vamos entrar num momento de grande
ampliação de portos. O PAC prevê um total de R$ 7,5 bilhões para o setor, até
2015. Há outros R$ 6 bilhões para terminais portuários. No total, serão mais de
50 portos beneficiados. E vamos lançar um conjunto de medidas, que inclui novas
legislações, para garantir eficiência ao setor.
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