Preservação é a palavra de
momento? Não diria tanto, porque existem muitas correntes, principalmente
norte-americanas, que asseguram ser essa preocupação bastante secundária, e o
que é importante mesmo é o lucro. Acredito ser desnecessário dizer que tal visão
vem de uma extrema direita bastante fechada à ideia de qualquer tipo de ameaça
a seus interesses.
Mas não o pensamento
exageradamente voltado ao lucro não produz exclusivamente pensamentos
predatórios, pois existem aqueles que até defendem certo grau de preservação,
no sentido de garantirem acesso a recursos futuros em outras fontes, já que os
estão exaurindo em suas fontes atuais.
Nosso último post foi exatamente
sobre as riquezas que existem no fundo do mar. A estimativa é que superem todos
os “estoques” existentes em terra firme, mas isso em si não é suficiente, e por
dois motivos. Primeiro que a exploração de riquezas minerais marinhas é muito
mais cara que em terra, pois exige muito mais recursos técnicos e tecnologia
mais avançada. Segundo que, ainda que tenhamos enormes reservas de minerais no
fundo do mar, elas ainda não são infinitas.
Então, quanto mais garantirem
para eles, melhor para ele, não?
Mas o texto abaixo é sobre algo,
em minha opinião, muito mais importante do que reservas minerais. Ele fala de
vida.
E a vida é muito preciosa para
ser desperdiçada simplesmente para atender alguns caprichos humanos de
enriquecimento e acumulação de riquezas. A extinção de uma espécie é algo que
não se pode reverter, e isso para atender a ganância ou os caprichos de alguns?
Mas de qualquer forma, seja por
ser o meio de transporte menos poluente e agressivo ao meio ambiente, seja
porque futuramente precisaremos explorar os recursos minerais de nossa costa ou
de nosso direito, precisaremos de uma Frota Mercante extensa e diversificada.
Não podemos parar de viver em
nome do meio ambiente e da preservação de espécies, mas não precisamos destruir
o planeta e outras espécies animais para isso. E o uso do transporte aquaviário
(hidrovias e navegação) é um dos meios mais eficientes de transporte que une a
eficiência e o respeito à natureza.
Atividade humana causou a extinção de
322 animais nos últimos 500 anos
Segundo estudo publicado em uma edição especial da revista
Science, nossa espécie provocou a extinção de 322 animais ao longo dos últimos
500 anos, sendo dois terços nos últimos dois séculos.
Muitos animais ainda correm o risco de desaparecer, e o
ritmo de extinção de anfíbios e invertebrados preocupa os especialistas. O
segundo grupo foi reduzido quase a metade, enquanto a população humana dobrou
nos últimos 35 anos.
Ecologistas, zoólogos e outros cientistas acreditam que
podemos chegar a um ponto irreversível em escala global se medidas urgentes não
forem tomadas para reverter esse processo.
“Se as taxas atuais de crescimento continuarem a subir, a
população humana chegará a 27 bilhões em 2100, o que é obviamente uma opção
impensável e insustentável”, enfatiza o co-autor do estudo, Rodolfo Dirzo,
professor de ciências ambientais da Universidade de Stanford.
Dirzo e seus colegas sugerem uma “redução da pegada humana
per capita” por meio do desenvolvimento e implementação de tecnologias neutras
em carbono, produção mais eficiente de alimentos e produtos, redução do consumo
e do desperdício. Segundo os pesquisadores, também é essencial frear o
crescimento da população humana.
Haldre Rogers e Josh Tewksbury, autores de outro artigo na
mesma edição, acreditam que “os animais são importantes para as pessoas, mas em
geral, são menos valorizados que alimentos, emprego, energia, dinheiro e
desenvolvimento. Enquanto forem considerados irrelevantes para o atendimento
dessas necessidades básicas, os animais selvagens sairão perdendo”,
acrescentam.
No entanto, preservar os animais e a saúde dos ecossistemas
aquece economias em escala global. Tewksbury, diretor da Instituto Luc Hoffmann
do Fundo Mundial para a Natureza, destaca que a pesca na Bacia do Rio Mekong,
no Sudeste Asiático, sustenta 60 milhões de pessoas. Rogers, pesquisador do
Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Rice,
acrescenta que 73% dos visitantes da Namíbia são turistas ecológicos, e o dinheiro
que movimentam responde por 14,2% do crescimento econômico do país.
“A observação de baleias na América Latina, sozinha, fatura
mais de 275 milhões de dólares por ano”, exemplifica Tewksbury. “Diversos
estudos demonstram que as tartarugas valem mais vivas do que mortas”. Nos
Estados Unidos, a observação de tubarões rende 314 milhões de dólares por ano e
gera 10 mil empregos diretos.
A saúde humana, a polinização, o controle de pragas, a
qualidade da água, a disponibilidade de alimentos e outros fatores críticos
também dependem da estabilidade do ecossistema, destacam os pesquisadores.
Um outro artigo publicado na última edição da Science
descreve medidas controversas, que vão além dos esforços básicos de
conservação: o retorno à vida selvagem, ou seja, a reinserção de espécies
subrepresentadas na natureza; a remoção de espécies invasoras e a ressurreição
de espécies já extintas, talvez a mais polêmica de todas.
“As implicações da ressurreição de espécies já são
debatidas, e isso inclui o método de seleção dos melhores candidatos ao
processo”, explica um dos autores do artigo, Philip Seddon. O zoólogo da
Universidade de Otago afirma que os esforços de recuperação e reintrodução de
espécies têm mostrado progressos.
“A águia-careca, o condor da Califórnia e o peru selvagem
são grandes histórias de sucesso”, comenta Rogers, citando espécies quase
extintas nos Estados Unidos cujas populações voltaram a crescer, graças a
projetos de reprodução assistida.
Rogers e Tewksbury também estão trabalhando na ilha de Guam,
onde a cobra-arbórea-marrom, uma espécie invasiva introduzida há 30 anos,
praticamente dizimou os pássaros. Sem seus dispersores de sementes, as
florestas foram prejudicadas, e os danos ambientais causaram prejuízos
financeiros aos moradores.
No entanto, é um erro limitar o valor dos animais
não-humanos a seu valor econômico, acreditam os pesquisadores. “Assim como as
pinturas rupestres, que representam o surgimento da arte, e os ícones globais
da cultura e do esporte, os animais selvagens fazem parte da nossa sociedade, e
sob uma perspectiva evolucionária, devemos a eles quem somos hoje”, comenta
Tewksbury. “Portanto, a perda desses animais em várias partes do mundo é uma
perda para toda a humanidade”, conclui.
Por Jennifer Viegas
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