É certo que a automatização tende a reduzir empregos em todo o mundo e em todos os setores.
Assim como é certo que é de interesse de empregadores reduzir custos, incluindo aí os custos com mão de obra.
E como é certo que costumeiramente há conflito entre interesses de trabalhadores e empregadores.
Mas é importante salientar que não se pode colocar em risco a saúde de trabalhadores, o patrimônio, o meio ambiente, e até mesmo os interesses econômicos de outros setores de atividade, em prol do aumento de lucro de apenas um.
Não é de hoje que o Sindmar denuncia ações de empresas que colocam em risco tudo isso que elencamos acima. Agora a CONTTMAF se junta nessa empreitada. A Marinha do Brasil deveria investigar as denúncias feitas pela entidade sindical, porque situações como essas podem levar a consequências muito graves, e não falamos apenas na perda de postos de trabalho.
O Estado de São Paulo – Reportagem – 15/02/2017
Sindicato denuncia Transpetro por redução de equipes
Renée Peixeira
Entidade sindical alerta Marinha para riscos do corte no número de tripulantes nos navios da subsidiária da Petrobrás
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviários e Aéreos (Conttmaf) está acusando a Transpetro, subsidiária da Petrobrás, de reduzir o número de tripulantes em suas embarcações, o que eleva o risco da operação. Desde dezembro, a Conttmaf diz ter encaminhado ofícios à Diretoria de Portos e Costa (DPC) da Marinha para alertar sobre os riscos da prática adotada por empresas na área de offshore.
Um dos maiores riscos, de acordo com a entidade, é a fadiga dos trabalhadores, que poderia resultar em acidentes graves. Em ofício encaminhado no início de dezembro, a associação faz várias acusações à Transpetro e pede que a Marinha aumente a fiscalização nas embarcações.
Segundo o diretor da Conttmaf, Carlos Müller, hoje cada navio da empresa está operando com cinco tripulantes a menos, em média. “Antes, um navio era tripulado por 23 pessoas. Agora tem 19 e há casos em que trabalham só com 16 ou 17.” Pelas regras, cada embarcação tem uma quantidade mínima de trabalhadores definida pela Marinha.
Esses números constam do Cartão de Tripulação de Segurança, conhecido como CTS. Nos anos 1990, houve uma pressão para reduzir o número de tripulantes constante nesse documento. O corte foi autorizado, mas depois de uma série de manifestações contrárias à medida, os armadores voltaram atrás e mantiveram o número de tripulantes. No papel, no entanto, a redução foi mantida.
Nelson Carlini, ex-presidente da CMA CGM, uma das maiores armadoras do mundo, porém, é crítico em relação à denuncia da Conttmaf. Para ele, o Brasil sempre trabalhou com um número de tripulantes muito acima da média mundial. “Há navios que atracam no País com 9 tripulantes. Não há mais necessidade para um monte de gente, como no passado. Todo mundo tem de fazer tudo agora. E, numa situação como a da Petrobrás, é preciso aplicar o bom senso.”
Outras acusações feitas à Transpetro referem-se ao desvio de função de tripulantes que passaram a ser designados para fazer atividades daqueles que foram cortados; alteração de registros de horas trabalhadas para menos; e ocorrência de fadiga na tripulação.
Procurada, a Transpetro não quis se pronunciar. Já o DPC afirmou que se reuniu recentemente com a confederação e com a empresa para buscar alternativas para a manutenção dos empregos e para uma operação menos onerosa nesses tempos de crise.
PARA ENTENDER
Regra sobre tripulações
O Cartão de Tripulação de Segurança (CTS) é um documento usado internacionalmente e regulamentado de acordo com as normas locais. No Brasil, fica sob responsabilidade da Diretoria de Portos e Costas (DPC). O documento discrimina a quantidade mínima, a qualificação de tripulantes de uma determinada embarcação e que tarefas cada um vai executar nas diversas seções de um navio, como convés, máquinas e serviços, explica do DPC.
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