terça-feira, 4 de abril de 2017

Difícil recuperação

Mais uma previsão que acaba com as falácias de Temer e Meirelles. A julgar pelo que temos visto, não apenas ainda não chegamos ao fundo do poço, como a recuperação será lenta, bem lenta.

Mas nesse ponto, permita-me discordar. A análise seria correta, não fossem algumas condições que parecem não terem sido levadas em conta. A primeira delas é que a economia já teve o PIB almejado, sendo assim, ela apenas irá buscar recuperar um "espaço" que já foi dela. É uma demanda que estará represada.

Outro indicativo é que a economia demorará a se recuperar se as condições para isso forem as mesmas que o atual governo oferece, e como vimos apontando frequentemente aqui, essas condições são recessivas. Não há crescimento se as condições macro-econômicas são recessivas. Nada indica que essas condições se mantenham, muito menos que esse governo tenha uma sobrevida após 2018. Medidas adequadas podem acelerar a recuperação econômica.

Também temos que levar em conta que a economia está longe, muito longe de ser um "ente", uma "força da natureza", que se desenvolve ao bel prazer, onde o homem não pode e não consegue interferir. Ao contrário, são muitos os exemplos de que o homem pode e deve interferir na economia. Da mesma forma que interferiram agora para destruir os ganhos de 12 anos de governos desenvolvimentistas, as ações futuras podem ser na direção de retomar a riqueza perdida. E ela estará represada, esperando apenas que se abram as comportas. Tudo dependerá de quem venha a comandar os rumos brasileiros.

Brasileiro levará 10 anos para recuperar riqueza perdida com o golpe


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Luiz Guilherme Gerbelli, via Reuters em 25/2/2017
Os efeitos da crise prolongada e da expectativa de lenta retomada da economia do Brasil vão fazer com que a riqueza do brasileiro demore dez anos para se recuperar do estrago causado pela recessão.
Na projeção de economistas, o pico do Produto Interno Bruto (PIB) per capita alcançado em 2013 só será superado no início da próxima década, entre 2022 e 2023.

“Em 2022, o PIB per capita deve alcançar R$31 mil (em números deflacionados) e aí supera o patamar de 2013, quando estava em R$30,8 mil. É praticamente uma década perdida”, diz o economista e sócio da consultoria 4E, Bruno Lavieri.

A recessão enfrentada pela economia brasileira nos últimos anos fez com que o PIB per capita do Brasil acumulasse forte queda desde 2014, devolvendo os ganhos obtidos no período de forte crescimento da economia. Segundo Lavieri, esse indicador fechará 2017 a R$27,8 mil, voltando a crescer gradualmente apenas a partir de 2018.

A assistente administrativa Andréia Zanetti, de 34 anos, é um exemplo de como o brasileiro sente os efeitos dessa diminuição da riqueza. Desempregada por sete meses, ela até conseguiu nova colocação em novembro passado, mas o salário atual equivale à metade do que recebia no trabalho anterior.

Com isso, precisou reduzir consumo e readequar o orçamento doméstico à nova realidade. “Troquei as lojas em que comprava roupa, deixei de jantar e almoçar fora e cortei o telefone fixo de casa”, diz Andréia. “Mudei até a marca do leite que comprava para o meu filho.”

A economia brasileira vem sofrendo com a forte recessão e, segundo cálculos de especialistas, deve ter encolhido mais de 9% desde o início da crise, acertando em cheio a riqueza da população.
“No acumulado desde 2014 até agora, houve queda de 9,6% no PIB per capita. É uma redução do padrão de vida bastante expressiva”, afirma o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Julio Mereb.
Lenta recuperação - A projeção de lenta recuperação da riqueza do brasileiro é explicada pela expectativa de baixo crescimento econômico nos próximos anos diante da queda do PIB potencial do país.
“A economia deve avançar no máximo em linha com o crescimento potencial, ao redor de 2,5%, nos próximos anos”, afirmou a economista da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro, para quem o PIB per capita do país só vai superar o resultado de 2013 em 2023.

O PIB potencial do Brasil perdeu fôlego na crise atual sobretudo por causa da forte queda do investimento e pelo lento crescimento da População Economicamente Ativa (PEA), cujo avanço mais forte em anos passados também ajudava a elevar a capacidade de crescimento do Brasil.

A PEA chegou a aumentar 2% ao ano, mas deve crescer a uma taxa inferior a 1% nos próximos anos por causa do envelhecimento da população.

Também fundamental para o enriquecimento do país, o desempenho da produtividade –que está estagnada nas últimas décadas- depende de mudanças estruturais na economia, que envolvam reformas para aumentar o investimento, desburocratizar e melhorar o ambiente de negócios da economia brasileira.

“As reformas dão previsibilidade para a economia e puxam o ciclo virtuoso ao tornar o ambiente mais propício para negócios e trazer ganhos de produtividade”, afirmou o economista do Itaú Rodrigo Miyamoto.

Atraso - O estrago da recessão no padrão de vida do brasileiro também fica evidente quando se compara o PIB per capita do Brasil medido em dólar com o de outras economias.

Os últimos números do Fundo Monetário Internacional (FMI), que retiram os efeitos cambias e de inflação, mostram que o PIB per capita do Brasil deve encerrar este ano em US$15,5 mil, bastante distante de economias parecidas como a do Chile (US$24,7 mil) e a do México (US$19,5 mil).

O caso mais emblemático de comparação é o da Coreia do Sul, cujo PIB per capita era bastante parecido com o do Brasil na década de 1980. Hoje, no entanto, a riqueza média dos sul-coreanos é de US$39,7 mil.

“Foi um país que fez um investimento muito grande em educação e liberou a importação de tecnologia para diversos setores da economia, o que ajudou de alguma maneira a qualificar a mão de obra”, explicou o professor de economia do Insper Otto Nogami

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