Interessantíssima a reportagem do Miami Herald. Mais interessante ainda é que o jornal Norte Americano pode ser suspeito de muitas coisas, mas jamais de ser "esquerdista". O sonho americano é para poucos, e isso fica flagrante na reportagem.
Por sinal, o modelo "Yanke" está cada vez mais flagrantemente ultrapassado, quando garante que parte expressiva de sua população esteja alijada das conquistas do mundo moderno. Donald Trump foi um resposta equivocada e atrapalhada ao problema, mas uma hora eles acertam, porque Democratas e Republicanos são os maiores, mas não são os únicos partidos dos EUA,
Miami Herald: milhares de exilados cubanos nos EUA estão retornando à ilha
Uma das razões da volta para casa é a assistência médica, que é gratuita, ao contrário do que acontece nos EUA
13 de março de 2018, 20h08
O jornal norte-americano Miami Herald
publicou uma reportagem no domingo contando as histórias de alguns dos
milhares de cubanos que estão fazendo o caminho de volta e indo morar de
novo em sua terra natal. Uma das razões para isso, diz o jornal, é a
assistência médica. Em Cuba, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, todos os cidadãos têm acesso gratuito à saúde.
Armando, de 40 anos, contou à repórter Sarah Moreno que, ao ficar
desempregado nos EUA, perdeu o seguro de saúde, e justamente quando se
tratava de um câncer no estômago. Em Cuba, sua mãe pediu um visto
humanitário e o levou à ilha, onde primeiro, considerado “estrangeiro”,
foi atendido numa clínica que lhe cobrava em dólares. Após a
repatriação, Armando se tratou gratuitamente no Hospital Oncológico em
Havana e está curado.
Não me arrependo de ter vindo para cá. Se eu te disser isso sereium ingrato. Mas em Cuba o ambiente é diferente, você vai de um lado parao outro e fala com as pessoas. Aqui pode se passar um mês sem ver ovizinho
Outras razões apontadas pelos cubanos em Miami para voltar para casa
são ficar perto da família, herdar imóveis e viver em um lugar onde o
custo de vida é muito menor do que nos EUA. “Não me arrependo de ter
vindo para cá. Se eu te disser isso serei um ingrato”, afirmou o
aposentado René (os entrevistados se recusaram a dar nomes verdadeiros à
reportagem antes de a tramitação dos papéis terminar). “Mas em Cuba o
ambiente é diferente, você vai de um lado para o outro e fala com as
pessoas. Aqui pode se passar um mês sem ver o vizinho.”
René está com 78 anos, ficou viúvo há oito e passa a maior parte do
tempo sozinho em casa, embora viva com a filha e o neto. “A solidão me
mata. O fim dos velhos aqui é ir parar em um asilo porque a família não
pode se dedicar a cuidar da gente. E para mim isso é a última coisa que
poderia acontecer”, disse. Em Guantánamo, vai se juntar a dois filhos,
quatro irmãos e vários netos e bisnetos.
Em Cuba, há um assistente social para cada 600 núcleos familiares e
274 Casas de Avós, instituições diurnas inteiramente gratuitas, abertas a
partir das 8h até as 17h, que atendem idosos cujos familiares não podem
cuidar deles durante o dia. Também há uma assistente social a domicílio
para idosos que moram sozinhos. A Previdência Social paga uma pessoa
para que acompanhe o idoso, nos afazeres ou na vida cotidiana, durante 4
ou 8 horas, a depender da necessidade, da mobilidade e do estado de
cada um, bem como da possibilidade de cuidar de si mesmo.
Segundo dados do governo cubano, em 2017 mais de 11 mil pessoas
pediram a repatriação, a maioria delas residentes nos EUA. O embaixador
de Cuba em Washington, José Ramón Cabañas, disse que entre 2015 e 2016
outras 13 mil pessoas fizeram o mesmo trâmite. “São cubanos de todas as
idades e ambos os sexos, mas há uma preponderância de pessoas acima dos
50 anos”, disse Juan Carlos Alonso Fraga, diretor do Centro de Estudos
de População e Desenvolvimento da Oficina Nacional de Estatísticas de
Cuba.
Segundo dados do governo cubano, em 2017 mais de 11 mil pessoas pediram a repatriação, a maioria delas residentes nos EUA
A “tendência” de inversão do fluxo começou, de acordo com o jornal,
com a reforma migratória empreendida por Raúl Castro em 2013, que
permitiu ao cubanos que deixaram o país antes dessa data, chamados de
“emigrados” pelo governo cubano, solicitar seu retorno e residência
permanente no país. Após os trâmites para a repatriação, os cubanos
exilados podem recuperar seus direitos, inclusive políticos, como
residentes na ilha.
Ativista da organização opositora Somos+, Iliana Hernández voltou da
Espanha em 2016 justamente com a intenção de fazer política, outra das
razões apontadas pelos exilados para o retorno. “Voltei porque é preciso
educar o cubano a perder o medo e para mostrar, com minha atitude, que
podemos lutar por nossos direitos através da luta não violenta”, disse.
Entre os requisitos para ser aceito como repatriado é ter alguém que
acolha em casa e se declare responsável pela manutenção da pessoa até
que ela possa fazê-lo sozinho. Mas a maior parte dos cubano-americanos
volta com bons recursos econômicos e com a intenção de investir em um
pequeno negócio, como um restaurante “paladar” (de comida caseira) ou um
salão de cabeleireiros. Tem até uma piada circulando entre eles. Antes,
os cubanos diziam para as pessoas que deixavam a ilha: “Lola,
traidora”. Agora dizem: “Lola, traz dólares” (“trae dólares”, em
espanhol).
Leia a reportagem completa aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário