Vamos ao que importa. Todo o problema causado pelas denúncias sobre Flávio Bolsonaro são sérias, mas não são o motivo de uma eventual queda do atual presidente. Na verdade serão facilmente contornadas, caso Bolsonaro não interfira em certos interesses, entre eles o mais importante: a Reforma da Previdência.
Ora, deixar os militares de fora é deixar de fora uma parte considerável dos eventuais ganhos do sistema financeiro, que estão de olho numa gorda fatia que atende por parte considerável dos atuais benefícios. Mas isso deixa descontente o núcleo duro que dá sustentação a essa colcha de retalhos mal cosida. Assim como mexer nas aposentadorias absurdas de políticos e de juízes e outros operadores masters do sistema judiciário pode abrir brechas para represálias.
Mas isso porque o governo é um saco de gatos, todos de raças diferentes, todos com interesses divergentes, e todos de olho em seu quinhão nesse butim. A briga de foice teria que ser administrada por alguém politicamente hábil, coisa que Bolsonaro não é, seus filhos ainda menos. Bolsonaro foi eleito em cima de falsas premissas e mentiras deslavadas, algo que foi avisado por muitos meses, mas que não quiseram ouvir.
A questão agora não é mais o que farão, mas o que sobrará depois de toda essa guerra insana?
Mais fácil seria se pensassem em país, porque aí todos seriam atendidos.
Mas não é o caso.
A certeza é que o governo Bolsonaro acabou, diz Luis Nassif
Para o jornalista, Bolsonaro dificilmente escapará de um processo de impeachment. Nas próximas semanas haverá uma caçada implacável aos negócios da família
por Luiz Nassif, do GGN publicado 20/01/2019 12h43
REPRODUÇÃO/FACEBOOK
Flávio, Jair e Eduardo: investigações vão mostrar ligações dos Bolsonaro com negócios obscuros com as milícias do RJ
GGN – “A verdade iniciou sua marcha, e nada poderá detê-la”. Emile Zola, analisando os movimentos da opinião pública no caso Dreyffus.
Há uma certeza e uma incógnita no quadro político atual.
A certeza, é que o governo Bolsonaro acabou. Dificilmente escapará de um processo de impeachment. A incógnita é o que virá, após ele.
Nossa hipótese parte das seguintes peças.
Peça 1 – a dinâmica dos escândalos políticos
Flávio Bolsonaro entrou definitivamente na alça de mira da cobertura midiática relevante com as trapalhadas que cercaram o caso do motorista Queiroz. Não bastou a falta de explicações. Teve que agravar o quadro fugindo dos depoimentos ao Ministério Público Estadual do Rio, internando Queiroz no mais caro hospital do país, e, finalmente, recorrendo ao STF (Supremo Tribunal Federal) para trancar a Operação Furna da Onça, que investiga a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Nas próximas semanas haverá uma caçada implacável aos negócios dos Bolsonaro. A revelação, pelo Jornal Nacional, de uma operação de R$ 1 milhão – ainda sem se saber quem é o beneficiário – muda drasticamente a escala das suspeitas.
No dia 07/01/2018, a Folha lançou as primeiras suspeitas sobre Flávio. Identificou 19 operações imobiliárias dele na zona sul do Rio de Janeiro e na Barra da Tijuca.
Em novembro de 2010, uma certa MCA Participações, que tem entre os sócios uma firma do Panamá, adquiriu 7 de 12 salas e um prédio comercial, que Flávio havia adquirido apenas 45 dias antes. Conseguiu um lucro de R$ 300 mil.
Em 2012, no mesmo dia Flávio comprou dois apartamentos. Menos de um ano depois, revendeu lucrando R$ 813 mil apenas com a valorização.
Em 2014 declarou à Justiça Eleitoral um apartamento de R$ 566 mil. Em 2016 o preço foi reavaliado para R$ 846 mil. No fim do ano, a compra foi registrado por R$ 1,7 milhão. Um ano depois, revendeu por R$ 2,4 milhões.
Ou seja, não se trata apenas de pedágio pago pelos assessores políticos, dentro da lógica do baixo clero. As investigações irão dar inexoravelmente nas ligações dos Bolsonaro, particularmente Flávio, com negócios obscuros por trás dos quais há grande probabilidade de estarem as milícias do Rio de Janeiro.