Bolsonaro vem subindo o tom outra vez. Ele está certo de ganhar a Presidência da Câmara, e também do Senado, tudo graças ao apoio do chamado centrão, e se isso acontecer, nada o impedirá de adquirir a estabilidade necessária, não só para chegar ao fim do mandato, mas também para blindar seus filhos e a si mesmo, e talvez até para tentar aprofundar suas ambições ditatoriais.
Sim, o que digo não está errado, porque não há necessidade primeira de um apoio incondicional das Forças Armadas para isso, ainda mais se eles se mantiverem
Mas mesmo que não consiga conquistar as ambições acima, e vejam que são todas de cunho estritamente individuais, e nada têm a ver com bem-estar da população ou desenvolvimento do país, ainda assim desvia as atenções do mais nevrálgico que existe atualmente para Bolsonaro, sua família, e até seu governo, que são as acusações de corrupção miúda, mesquinha, que todos vêm praticando há anos durante seus mandatos.
Vejam, enquanto ele ataca vacina, segue defendendo medidas contrárias às recomendações científicas, pautas contra as minorias, tenta colocar setores complementares da sociedade uns contra os outros, praticamente todos se esquecem de cobrar explicações pelos vários crimes que ele e seus filhos cometem diuturnamente, e há tempos.
Crivella preso
O Prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, foi preso hoje, em cumprimento a mandato expedido pela Desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita. Segundo a Desembargadora, mesmo a poucos dias do fim do mandato, a prisão se justifica devido ao risco de maiores danos ao erário público, e a continuidade da prática de crimes, que foram cometidos durante todo o mandato, e que teriam sido planejados ainda durante a campanha eleitoral de 2016.
Realmente não acompanho com tanto afinco as movimentações no Rio de Janeiro, mas algumas coisas me soam estranhas, e não por parte da Desembargadora em si, mas de todo o processo.
Senão vejamos: até onde sei, nenhuma nova denúncia foi adicionada a já longa lista de delitos atribuídos a Crivella e parte de sua equipe, sem contar prevaricação e desvio de finalidade que cometeu em vários momentos de seu mandato. Em termos de dinheiro fala-se de R$ 6 bilhões, inclusive com provas materiais, como a movimentação do dinheiro, etc. Mas como disse, até onde sei, todas as denúncias já existiam, e já estavam devidamente incluídas no processo de investigação, inclusive com provas e depoimentos.
Aí tenho a primeira pergunta: por que esse mandato, ou seu pedido, só foi emitido após passadas as eleições municipais? Por que Crivella não foi afastado antes da Prefeitura do Rio?
Entendo que ele tinha sido proibido de participar da eleição, mas uma decisão judicial superior o recolocou no pleito, mas a questão aqui não é a Justiça se envolver ou não na política, mas apresentar constantemente pesos e medidas distintas para casos parecidos.
Outro ponto é a decisão monocrática da Desembargadora. Não li o pedido, nem a decisão da magistrada, mas o afastamento de um Prefeito, mesmo que em reta final de mandato, me parece que deveria ser tomado por colegiado, até para evitar erros, e também para evitar abusos (volto a repetir, não me parece ser o caso, até porque têm sido demonstradas provas dos desvios cometidos).
Mas o fato de que não tenha havido abuso ou erro, não significa que não venhamos a tê-los em outras oportunidades, então me parece que seria importante o Congresso se mobilizar e legislar sobre o afastamento de Prefeitos e Governadores.
De qualquer forma não posso comemorar o ocorrido, seja porque foram cometidos crimes contra o povo carioca, seja porque vários eram previsíveis pelo discurso de Crivella. Além do mais, o fato de que se deva punir desvios, não significa que isso seja motivo de comemoração.