segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Ocidente se autodestrói

Ricardo Nuno Costa é um jornalista português. O texto abaixo mostra claramente que Portugal, tal qual muitas outras sociedades, não é algo homogêneo e tem vozes dissidentes dos discursos oficiais ou de maioria. Constantemente essas vozes se levantam chamando por pontos relevantes e que deveriam ser melhor considerados antes da adesão automática e autodestrutiva ao ocidentalismo imposto pela UE a muitos países europeus.

Todo esse contexto se condensa no texto de Ricardo Nuno abaixo, e se expressa na repressão que os governos de países europeus vêm promovendo contra as opiniões contrárias àquelas que se propagam das elites globalistas/neoliberais que dominam também as relações político-econômicas da própria Europa. Essa repressão começou com o impedimento ao acesso a informações vindas da Rússia e de alguns outros países (muito democrático isso), e agora já chega ao ponto de prender e buscar penalizar cidadãos europeus por apoiarem uma causa humanitária. Com isso não apenas se contradizem com o que afirmam defender, mas também criminalizam a própria essência do que expressam.

Seria muito ruim se fosse apenas na Europa, mas isso vem se multiplicando por outras partes do mundo dominado por outras parcelas dessas elites.

A única coisa que não concordo com o texto de Ricardo Nuno é o fato de que a China ganhará o mundo. Sim, até o momento tudo indica que sim, porque ela está muitíssimo bem assessorada, além de hoje ser a maior e mais importante nação industrial do planeta, e seus assessores serem, eles mesmos, outras importantes nações industriais. E em confrontação com isso o chamado Ocidente insiste nos erros que os trouxeram a esse momento.

Mas o Ocidente pode mudar. Não, ele não irá recuperar todo o terreno, toda a importância, ou toda a influência que já teve, mas pode reduzir os danos, e até mesmo reverter algumas perdas. Só que para isso o Ocidente precisa mudar, precisa começar a negociar e a cumprir os acordos que faz. Só que até agora os ocidentais seguem com a mesma toada impositiva, arrogante e truculenta.

E não é por falta de aviso.

Geopol.pt

Notas de um pessimismo justificado: A Palestina e fim do Ocidente

Por @Ricardo_Nuno

🇵🇸🇮🇱🇨🇳🇪🇺 «A injustiça cometida contra a Palestina, que se arrasta há mais de meio século e carrega a dor de gerações, não pode continuar!», palavras claras e contundentes do ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, ontem ante um  atónito e devastado Josep Borrell, em cuja cara podia-se descortinar o desespero do Ocidente.

Para aqueles que se horrorizam com a ideia de que os «chineses vão dominar o mundo», tenho más notícias. Não vão «dominar», porque esse é um axioma «ocidental», anglo-saxónico e primário. Mas vão ganhar o mundo, porque merecem ganhar o mundo, na realidade já ganharam.

O terror que se está verificando em Gaza neste exacto momento, com apelos directos dos líderes de um Estado étnico de apartheid à eliminação física de um outro povo, culmina décadas de insulto a todos os povos deste planeta. Foi sobre os palestinos que caiu o peso da perfídia ocidental no paradigma geopolítico dos últimos 50 anos. É impossível prever o que da actual situação advirá, mas pelo já visto, pinta muito mal.

Para além do Ocidente decadente, sempre pronto em dobrar as apostas na confrontação, fazendo uso de mentiras em cima de mentiras, nenhum outro país suporta mais a hipocrisia que envolve o drama no Médio Oriente.

Nem a Ásia, nem a América Latina, nem a África, para não mencionar o mundo muçulmano, hoje muito mais jovem e audaz que o ocidental, onde a causa palestiniana é incontroversa. Mais uma vez o Ocidente encontra-se isolado do mundo, mas crê-se centro do Universo.

A China vai ganhar, porque a China distingue ainda o certo do errado, como a maioria das pessoas no nosso planeta. E a sua diplomacia e política externa agem em conformidade. Mas não é só a China que vai ganhar. Todo um novo mundo se está a configurar rapidamente, por isso burocratas como Borrell têm cada vez mais razões para se mostrarem assustados.

Para aqueles que, desesperados com o advento de um mundo multipolar onde a China é a grande ganhadora, e dizem que defenderão Ocidente sob quaisquer condições, porque são ocidentais, estão de novo equivocados. O «Ocidente» é perífrase dos interesses da elite global para juntar as massas desorientadas na defesa de valores para a sua própria perpetuação no poder. Defender isto é ingénuo.

Eu também sou europeu e tenho orgulho na minha Civilização. Mas o que tem de defensável a deriva das nossas sociedades para o relativismo moral, individualismo, materialismo, egoísmo, elitismo? Não se está a defender o Ocidente quando se justifica a injustiça, a mentira e o oportunismo; está-se simplesmente a justificar os valores que empurram o Ocidente para a decadência.

Pior ainda, não se atisba quaisquer sinais de um renascimento civilizacional, sem antes haver uma «grande tribulação», provavelmente num cenário de confronto com povos forâneos que nós mesmos metemos em casa devido outra vez aos nossos interesses geopolíticos.

E entretanto, as nossas elites afundam-nos com cada passo que dão, contra os ventos da História. Infelizmente não há razões para ser optimista, simplesmente desejo estar equivocado.

O caso da Palestina é paradigmático do estado de espírito dos europeus: todos sabemos da tremenda injustiça que ali germinou, mas só poucos querem dar a cara e se associar ao elo fraco daquela relação. Ao invés, não duvidamos em nos juntar ao elo forte, escondendo a aleivosia debaixo do tapete.

Independentemente do desfecho no Médio Oriente, a actual situação é também o prenúncio do que o sistema neoliberal por aqui reinante vai fazer com todos nós: perseguir, cancelar, exterminar, cortar a voz a quem não acrescente nada à voracidade das elites. Ninguém quererá dar a cara por aqueles, preferirá estar do «lado forte», e esconder mais uma vez as tropelias debaixo do tapete.

A seguir nesta senda, o Ocidente desaparecerá na sua inexorável podridão e nas mentiras nas quais se deixou e se deixa enganar pelo aparelho de manipulação maciça da tecnocracia, sabendo que está sendo enganado.

Após culpar dos seus males os chineses (na pandemia), os russos, os muçulmanos, ou inventar qualquer outra escusa para o seu infortúnio, as suas evasivas serão cada vez menos aglutinadoras. Cada vez mais divididos sob os mais abstrusos motivos, os ocidentais serão deixados cada um por si, sem referências, e acabarão inevitavelmente culpando-se uns aos outros pelo seu infortúnio, enfrentando-se entre todos e desaparecendo como Civilização. É o preço a pagar por já não saber o que é certo e errado, nem saber diferenciar o bem do mal.


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