terça-feira, 29 de julho de 2025

Acordo EUA-UE só beneficia um lado: o que comemoram?

Pessoal, foi anunciado o fechamento de um acordo entre o EUA e a UE. Segundo boa parte dos líderes europeus o acordo firmado entre Bruxelas e Washington foi bom porque dá equilíbrio às relações comerciais entre os dois gigantes econômicos, Georgia Meloni disse que precisa de mais detalhes sobre as condições do acordo, mas há aqueles que têm uma visão que concorre com a minha, ou seja, de que o acordo é desequilibrado. França e Hungria estão entre eles. 

Sim, o acordo diminui as tarifas iniciais impostas por Trump de 30% para 15%, ao menos para parte dos produtos exportados pelos europeus. E isso já é uma derrota europeia. Mas não para por aí, porque a UE se compromete a aumentar a compra de armas do EUA, se compromete a importar 750 bilhões de dólares de gás dos estadunidenses, e ainda se compromete a investir (entende-se por investimentos diretos) 600 bilhões no EUA. A UE não ganha absolutamente nada, apenas oferece, já que suas exportações ao EUA se tornarão mais caras, importarão produtos que conseguiriam mais baratos em outros pontos do planeta, se comprometem a investir num país que tem sua infraestrutura sucateada, e se comprometem a comprar armas que a própria Europa poderia produzir para si mesma. 

Eu realmente não consigo ver qual o ganho que os europeus conseguem com um acordo em que todo o pagamento é feito por eles, e todo o lucro é dos americanos. Pior, os produtos europeus se tornarão mais caros no EUA e por isso mesmo deve diminuir sua demanda, os custos de produção europeia aumentarão ainda mais, e a competitividade econômica do continente deve diminuir ainda mais no mercado internacional. Se a comemoração é por agradar os estadunidenses, esqueçam, porque eles nunca estão satisfeitos. Se é porque acreditam que eles se unirão aos europeus numa futura guerra contra os russos, esqueçam também, porque não são burros. Eu realmente não vejo o que esses líderes europeus comemoram, mas entendo perfeitamente quando os que o criticam comemoram o fato de esse acordo não ser vinculante.


segunda-feira, 28 de julho de 2025

Brasil taxado pelo EUA: Não é só contra o Brasil, nem por Bolsonaro

Pois é pessoal, o Brasil sofreu forte ataque econômico e geopolítico do governo do EUA. A partir de 1º de agosto os produtos brasileiros que entrarem no país norte-americano serão taxados em 50%. Segundo o próprio presidente Trump, se o Brasil aplicar a regra da reciprocidade, eles aumentarão em mais 50% a taxação de produtos brasileiros. O problema é que, segundo os exportadores brasileiros, parte considerável dos produtos brasileiros exportados ao EUA já se tornam inviáveis com essa alíquota de 50%. Isso porque são produtos primários, de nenhum ou pouquíssimo valor agregado, e com ampla possibilidade de competição com outros países.

A situação se iniciou no último dia da Cimeira do BRICS, quando Trump anunciou a decisão, frisou a questão do processo que corre contra Jair Bolsonaro, e apresentou alguns dados falsos, além de ficar com uma alegação ridícula de que “o Brasil está sendo mau com o EUA”. Na sequência ele enviou uma carta via Embaixada do EUA em Brasília, em que detalhava essas situações. A carta já começa com a questão de Bolsonaro, segue com uma bobagem de terem tido anos para negociar novas condições de comércio com o Brasil, segue dizendo que esse comércio é danoso ao EUA, e conclui essa parte dizendo que as alíquotas impostas ao Brasil como sendo insuficientes para equilibrar a situação, pedindo para que empresas brasileiras migrem para o EUA e produzam lá.

Aqui vale um primeiro comentário. A tática de Trump é ridícula. O que ele segue tentando fazer é reindustrializar seu país canibalizando empresas de outros países. Alguns europeus caíram nessa armadilha, e se arrependeram, porque as condições do EUA hoje estão muito aquém de outras partes do mundo. Da mesma forma segue atacando de forma estúpida, já que suas tarifas inflacionam o próprio mercado interno estadunidense, e já provoca enorme insatisfação entre a população, incluindo tendo Trump perdido parte substancial de sua base de apoio.

Trump alega um deficit comercial com o Brasil, só que o EUA é superavitário nessa relação comercial há muitos anos. Algumas fontes indicam um superavit de cerca de USD 1 Bilhão nesse primeiro semestre de 2025, e nada indica uma alteração nessa relação.

Também traz a questão das Big Tecs digitais. Empresas como Meta, “X”, e outras, que estão sendo reguladas em sua atuação. Ora, cabe ao Brasil regular as empresas que operam dentro de suas fronteiras, não importando qual é a origem delas. A pressão de Trump sobre isso é simplesmente o desconhecimento de qualquer soberania por parte do Brasil.

Mas isso não é um privilégio brasileiro, já que ele fez isso com todo o mundo Ocidental, e a composição de grupos de negociações não resultou para nenhum país, já que ele não respeita nenhum país que não tenha força. As tarifas já são realidade para Canadá, México, UE, etc, e apenas algumas poucas foram revertidas por pressão interna no próprio EUA. No caso do Brasil essa pressão já se iniciou, e mesmo em outros casos ela permanece. Como dito acima, há relatos de que a problemática economia estadunidense apresenta uma inflação bastante alta. Nos supermercados a alta de preços é sensível, e em itens de consumo industrializados como eletrodomésticos e eletrônicos também se nota uma inflação considerável.

Já falei que o que Trump pretende não é exequível, e da forma que quer é ainda pior. Não há investimentos do país em infraestrutura, treinamento de mão-de-obra, produção de energia, ou seja, em condições para que o país receba indústrias e investimentos. Mas ao contrário, há investimento em tentar destruir essas condições em outros países. Ao mesmo tempo, o pouco que o país investia no desenvolvimento de sua infraestrutura e condições de investimento está sendo retirado pelo próprio governo Trump. Cortes sensíveis em Educação, Saúde, Infraestrutura são vistos, o que tende a agravar o problema e piorar ainda mais as condições para o investimento produtivo no país.

E o Brasil bebe na mesma fonte estúpida do EUA, e também não investe nas condições para a instalação de novas empresas, e qualquer avanço se dá por inércia, não por iniciativa e planejamento. A diferença é que não tenta destruir o que os outros construíram em suas casas.

Na sequência desse monte de mentiras, distorções e intervenções indevidas do EUA, Trump mandou abrir investigação sobre alguns mecanismos brasileiros, como o PIX. Isso porque a transferência interbancária nacional sem a intervenção das gigantes estadunidenses o que gera quebra de receita para essas empresas. A questão de patentes também está sob investigação, e a famosa 25 de Março de São Paulo está na mira, como se pirataria não grassasse pelo próprio país Ianque.

Na verdade o que Trump quer é uma colônia com 215 milhões de habitantes e recursos naturais muito mais vastos que os do próprio EUA.

Isso se escancara na questão das terras raras. Essas riquezas são abundantes no Brasil, mas não são exploradas até o momento. Não da forma que poderia e deveria. Trump já tentou terras raras na Groelândia, na Ucrânia e em partes da África, tendo sido rechaçado em todos, por um motivo ou por outro. Isso se dá porque ele é truculento e não sabe negociar, o que ele sabe é tentar impor condições através da força, e é o que tenta fazer em todas as partes por onde vai.

E isso ocorre porque o grande exportador de minerais de terras raras do mundo é a China bloqueou a exportação de terras raras ao EUA, e não existe indústria de ponta, de alta tecnologia, sem terras raras. A indústria aeroespacial, militar, automobilística, naval, isso sem falar de processadores e semicondutores. Nada disso é realizável sem terras raras. Ultimamente os chineses liberaram as terras raras para os estadunidenses para a indústria civil, mas sob inspeção, e já avisaram que se eles tentarem desviar esses recursos à indústria bélica o fornecimento será cortado de todo. Como eles irão fazer guerra sem esse recurso. Para vocês terem ideia da importância disso, um único F35, o avião caça de ponta do EUA, leva mais de 400kg de terras raras em sua construção. Entendem a importância disso?

Mas isso apenas num primeiro momento. A verdade é que Trump não faz ideia do mundo, mas alguns que estão ao lado dele fazem. O Brasil é BRICS, um dos fundadores do bloco, tem importância estratégica muito grande, principalmente na América do Sul, onde mantém fronteira com quase todos os países do continente, está sendo integrado na economia chinesa, com o investimento maciço em infraestruturas de transporte, energia, e a instalação e ampliação de diversas fábricas brasileiras, incluindo alguma transferência de tecnologias sensíveis, principalmente nas áreas de microprocessadores e de semicondutores.

Ou seja, é um ataque à China através dos BRICS. Assim como no Irã, que foi atacado principalmente por suas relações com Rússia e China (tivemos outros motivos, mas o principal foi isso), o Brasil também está sendo atacado por seu aprofundamento das relações com a China e a Rússia. No Irã houve ataque militar, no Brasil eles não consideram isso necessário, mas garanto que não descartam usar de poder bélico para impor sua vontade.

E também tivemos o envolvimento de Mark Rutte, o secretário geral da NATO, que aderiu às ameaças do EUA e ameaçou alguns países do BRICS de sanções. Entendem quando falo que não hesitarão em usar de força se necessário.

Cabe ao Brasil tomar algumas das atitudes que está tomando, como aumentar a comissão de negociação bilateral, dar reciprocidade caso Trump aumente as tarifas - até ao ponto de inviabilizar completamente o comércio se necessário, porque isso reflete fortemente lá também – abrir oportunidades para o escoamento de parte dessa produção internamente, conquistar novos mercados para esses produtos, e se preparar para uma situação mais complicada, abandonando essa estupidez de arcabouço fiscal e melhorando consideravelmente nossas capacidades de defesa. O BRICS pode ajudar muito nessas demandas, e inclusive já tivemos várias ofertas para isso, assim como já tivemos alguns pronunciamentos de apoio, tanto velados, como explícitos.

Mas nem tudo que o governo brasileiro faz é correto. Não há envolvimento da população, não há politização da questão. Lula antes de qualquer coisa foi pedir a bênção dos rentistas numa rede de televisão e de uma ala religiosa em outra rede de televisão. Só depois fez um pronunciamento à Nação, em que não pautou a questão não envolveu a população, e com isso seu governo segue refém das forças de elite que comandam o país. Ao contrário, Lula tentou criar uma questão eleitoral, optando em enfatizar o “nós contra eles”, em uma atuação eleitoreira despolitizante. Isso não significa que ele não devesse indicar os culpados, mas deveria chamar a uma união para se contrapor ao ataque, em um tema geral da nação, e não num palco de disputa do “eu sou bonzinho, ele mauzinho”.

Para completar, se você acha que isso é algo específico do bolsonarismo, os lulistas vivem fazendo isso. A Ministra dos Povos Originários do Lula foi pedir medidas contra o Brasil ao Secretário de Estado do EUA durante o Governo Bolsonaro, a Ministra do Meio-ambiente do Lula pediu várias vezes medidas contra o Brasil no exterior, a Sra. Lula da Silva pede intervenção de potências estrangeiras no Brasil, porque foi exatamente isso que ela fez na China, e que causou o mal-estar com Xi Jinping. E elas não são as únicas.

E se o Brasil for resiliente já deve ter ganhos em pouco tempo, já que Trump deve ser derretido daqui pouco mais de um ano, quando deverá ser derrotado nas chamadas “mid terms”, as eleições de meio de mandato, e que ele deve perder tão feio quanto ganhou bonito, já que suas ações estão refletindo muitíssimo mal na sociedade americana, que não vê nenhuma de suas promessas cumpridas, vê maior deterioração em suas condições de vida, e buscará mais uma vez alternativa ao que está posto. Mas não nos enganemos, sejam democratas, sejam republicanos, os ataques ao Brasil virão. O objetivo Brasil é meio para outro fim, além do que as ações estadunidenses mostram que não há nenhum respeito por ninguém, sejam aliados ou não do EUA, e a única coisa que entendem é a força. Cabe ao Brasil mudar o rumo desse desenlace, com resiliência, persistência e com investimentos próprios e conjuntos. Claro, uma quebra no rentismo também ajuda, e muito.

Quanto a questão do envolvimento da família Bolsonaro nessa treta toda, isso é muito mais uma aposta menor de Trump, e um interesse egoísta do clã. Se Bolsonaro voltar à liberdade e se eleger, mais fácil para o EUA dos republicanos controlarem o Brasil, mas se isso não ocorrer eles têm outras formas de pressionarem e buscarem esse controle.

Mas apesar disso tudo eu deixo aqui uma pergunta para vocês refletirem. O chamado Ocidente coletivo sem incluir alguns agregados asiáticos, têm cerca de 10% da população do mundo, enquanto só a China tem mais de 15%. A produção industrial de todo o Ocidente coletivo junto é menor que a chinesa apenas. A produção de armas de todo o Ocidente coletivo junto é menor que a russa. Vejam bem, eu comparei o Ocidente coletivo com apenas dois países dos BRICS, mas os BRICS hoje englobam 21 países, sendo 10 membros plenos e 11 membros parceiros. Eles acham realmente que vão reverter essa situação com ameaças, sanções e guerras?

sábado, 26 de julho de 2025

Guerra no Sul da Ásia

Pessoal, mais um conflito eclode no mundo. Na verdade, o conflito não é atual, mas reacendeu devido algumas circunstâncias históricas entre os contendores. Camboja e Tailândia têm uma fronteira de cerca de 800 km e parte dela está em disputa há décadas. O motivo é que ela foi demarcada por França e Reino Unido durante a ocupação Ocidental do Séc. XX na área, e que difere das fronteiras tradicionais. Desde a emancipação dos países há a contestação, e o conflito armado já ocorreu algumas vezes sem que haja solução. A última grande escalada foi entre 2008 e 2011, e a região estava calma desde então. Uma solução arbitrada pela Comissão Internacional de Justiça da ONU parecia ter pacificado a situação, mas ela voltou a esquentar em maio, quando um soldado cambojano morreu durante uma troca de tiros noturna, e a explodir na última semana com acusações mútuas de ataques injustificados a civis e instalações civis. 

Desde de que voltou a explodir os combates se intensificaram bastante, e se espalharam por quase toda a fronteira, com uso de tropas, aviões de combate, lançadores de mísseis, artilharia, etc. Além disso os combates já contabilizam mais de 30 mortos e dezenas de feridos, além de mais de 170.000 pessoas deslocadas de seus lares devido ao óbvio risco de se estar em uma zona de conflito armado. 

O Conselho de Segurança da ONU já se reuniu e o Camboja solicitou um cessar-fogo incondicional, negado pela Tailândia, que pede ao Camboja que pare de violar a fronteira. Mas ao menos se iniciam conversas que podem levar a negociações tendo a Malásia como mediadora. Lembrando que todos esses países fazem parte da ASEAN, organização que terá uma reunião no final do ano, e que o Presidente Lula foi convidado a participar, justamente pela Malásia, que também é membro dos BRICS. 

Mais que apenas fronteira, estão em jogo ali interesses externos, internos, rotas comerciais, além do controle de um templo religioso que é importante na construção cultural de ambos os países. O problema é que o único interesse econômico que floresce com guerra é o ligado à própria guerra.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Começa a derrubada de Zelensky

Pessoal, a população ucraniana está perdendo a paciência com o governo Zelensky. Ontem milhares de pessoas foram às ruas em Kiev, Livov e Odessa para protestarem contra o governo, que por sinal já deveria ter convocado eleições há mais de um ano. O protesto se deveu ao fato de Zelensky ter assinado uma Lei que diminui os poderes dos órgãos anticorrupção do país. Para lembrar, o governo de Viktor Yanukovych foi deposto em 2014 com os mesmos pretextos. 

Não dá para dizer que temos o mesmo processo de “primavera”, porque a população ucraniana está farta das convocações forçadas para a guerra, que mais se assemelham a raptos, está farta de privações, de viver em condições cada vez mais precárias, e ver seu país e suas vidas serem esfareladas dia após dia. Mas há indícios de que há incentivos externos para esses protestos. Sim, cada vez mais se fala na destituição de Zelensky, e na convocação de eleições na Ucrânia. Isso seria o início de um caminho para se conseguir um acordo com os russos, ainda que não seja a única exigência russa. 

Mas se você acha que a desculpa de corrupção na Ucrânia é algo menor, tente se colocar na pele de um deles, que nos últimos 3 anos e meio viu mais de um milhão de seus concidadãos morrerem numa guerra insana contra os russos, e vê armas destinadas ao exército ucraniano aparecerem no Oriente Médio, em países do Cáucaso, e até em favelas brasileiras. Isso além das mazelas listadas acima. 

Cada vez mais acuado, cada vez mais isolado, Zelensky tenta garantir o apoio de alguns extratos da sociedade ucraniana que ganham com todo o desastre do país para se manter de forma débil no poder, mas seja como for, isso não deve ter um efeito muito longo e parece que a carreira política de Zelensky se aproxima do fim.

domingo, 20 de julho de 2025

Síria volta a ser atacada por Israel

Pessoal, Israel voltou a bombardear Damasco, a capital da Síria. Após algum tempo que o Estado judeu não atacava diretamente alvos sírios, na última semana houve o bombardeio do prédio onde se sedia o Ministério da Defesa sírio, e partes administrativas do palácio governamental. Há relatos de 4 mortos e mais de 30 feridos devido ao ataque, que foi feito durante o dia, em horário de trabalho. Por sinal o ataque foi filmado pela TV Al-Jazeera, que realizava uma entrevista tendo como fundo a sede do Ministério da Defesa, e flagrou o ataque. A justificativa de Israel é que o ataque visava proteger a minoria drusa, que ocupa o Sul da Síria e partes das colinas de Golan, e estava em combates com tribos beduínas e tropas do próprio exército sírio. 

O atual presidente do país, Al-Julani, cujo nome real é Ahmed Al-Sharaa, lamentou o ataque, já que se considera um aliado de Israel. Vale lembrar que ele era um dos líderes do grupo terrorista HTS, tinha a cabeça a prêmio por USD 10 milhões, e esse grupo já havia sido parte do Estado Islâmico, além de já ter servido também na Al-Qaeda. Al-Julani chegou ao poder em janeiro, após a derrubada do governo de Bashar Al-Assad, com apoio de Israel e EUA. 

Após os ataques israelenses, o exército Sírio se retirou da cidade de Sweida, e da província de mesmo nome, onde ocorriam os combates com os drusos. 

Como eu já disse algumas vezes, o governo de Al-Assad mantinha um certo equilíbrio no país, protegendo grupos mais fracos e evitando guerras fratricidas. A ascensão de Al-Julani quebrou o frágil equilíbrio que existia e os diversos grupos passaram a se atacar. Além de divergências históricas entre eles, houve também a interferência de grupos ligados ao novo governo, que também buscam atacar grupos que são considerados desafetos. Vai demorar muito até que a paz alcance os territórios sírios novamente.

sábado, 19 de julho de 2025

XVII Reunião de cúpula dos BRICS: nem êxito, nem desastre

Pois é pessoal, antes de tudo quero explicar que estive um pouco ausente por dois motivos principais. O primeiro é excesso de trabalho, já que estamos em alta temporada para minha atividade atual, e o trabalho aumenta enormemente nesse período. O Outro motivo é uma crise de coluna, que tem incomodado bastante, mas já está sendo controlada.

Dito isso, começamos precisamente por lembrar que o BRICS é, acima de tudo, um grupo de países que busca fugir das interdições político-econômicas impostas pelos países Ocidentais vencedores da 2ª Guerra Mundial, e que controlam rotas comerciais, empréstimos, regras de comércio e produção, além de financiamento e condições de desenvolvimento, dizendo o que cada um pode e deve fazer. Esse controle é usado para controlar não apenas economicamente, mas também politicamente os países que tentam se contrapor a tais controles. Nem sempre deu certo, mas indiscutivelmente tal controle tem trazido instabilidade ao planeta, principalmente aos países menos desenvolvidos. Justamente o que esses países do BRICS buscam são alternativas que permitam se desenvolverem e comerciarem seus produtos sem essas interdições. Não é um processo fácil, não é um processo rápido, e ainda vemos as reações do grupo de países que vê sua hegemonia e controle ameaçados, que buscam minar e impedir a concretização dessas iniciativas de todas as formas, inclusive bélicas.

Nesse contexto o Brasil recebeu a XVII cúpula dos BRICS, que teve a presença de duas dezenas de países, sendo 11 membros plenos, 10 parceiros. Os países são bastante heterogênios, mas a busca por outras formas de comércio e desenvolvimento os unem no momento. Destaco a presença de Cuba, que como membro parceiro tem uma enorme oportunidade para escapar às sanções que são impostas pelo EUA há décadas, e que vêm limitando enormemente a capacidade de desenvolvimento da Ilha.

Sobre a cúpula em si temos que destacar duas coisas principais. A primeira são os trabalhos e as reuniões de especialistas, políticos responsáveis por determinadas áreas e empresários, que concluem negócios, o desenvolvimento de ideias, discutem novas diretrizes, oportunidades, etc. Essas reuniões muitas vezes se desenvolvem por meses, com discussões, estudos e a elaboração de projetos.

O segundo destaque é a declaração final. Como eu disse acima, o BRICS é, antes de tudo, um bloco de fomento de negócios, mas aos poucos está se tornando mais que geoeconômico, mas geopolítico, como a declaração final do evento deixa bastante claro.

Sobre a parte econômica o grande avanço veio da Rússia, com proposta de avanços sobre novas formas de pagamento. Já na parte de negócios houve vários avanços, e o Brasil se beneficiou bastante. Foi alinhavada visita à Índia para o desenvolvimento de um plano estratégico bilateral. Devem entrar em negociação trocas tecnológicas e comerciais em si, além de aproximação dos países em outras áreas também.

O Brasil também foi convidado a participar da próxima reunião da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático), composta por pesos pesados da Ásia, como China, Vietnam, etc. Muitas outras oportunidades de negócios podem se abrir para o Brasil nesta reunião, e no desenvolvimento das relações com a Índia. Neste ponto o encontro dos BRICS me pareceu um sucesso, mas acho que faltaram mais propostas, mais avanços institucionais para facilitar o comércio entre os países membros, ainda que tenhamos tido várias bilaterais entre os membros, e aproximações entre eles são esperadas.

Essa falta de avanço me pareceu proposital, porque o Brasil optou por transformar parte substancial do encontro num pré-Cop30, reunião que o próprio Brasil sediará no final do ano em Belém, e que versará sobre meio-ambiente e mudanças climáticas. Na verdade estes temas são muito mais do interesse do Ocidente político do que de países dos BRICS. Basta lembrar que China e Rússia se preparam para abrir uma rota comercial pelo Ártico, que só é possível justamente pelo degelo causado pelo aquecimento global. E o Ocidente está pronto a disputar o domínio desta rota com estes países do BRICS. Nitidamente há conflito de interesses aqui, sem julgamento de quem está certo ou errado. As rotas comerciais do Ártico são um caso, mas há outros.

Por outro lado há um outro ponto importantíssimo neste tipo de evento, e é sua declaração final. Nessa declaração costumam vir informações que indicam qual o caminho que o grupo quer seguir, quais suas prioridades, atenções, interesses, aspirações, etc. No caso da cúpula que se encerrou a declaração final foi extremamente abrangente. O documento teve um total de 126 itens, que incluíram desde os temas geo-econômicos, que são o objetivo primário dos BRICS, passando por temas sociais, novas tecnologias com destaque para o uso de IA´s e o espaço sideral, temas humanitários, ecologia, mineração, e o fato de que o grupo fatalmente irá enveredar para a geopolítica, porque temas como respeito à carta e a determinações da ONU, reformas em sua estrutura, condenações a atos de guerra específicos, assim como de ações terroristas, o chamamento à paz e ao respeito à soberania do povos de vários países e regiões do mundo, e também quanto ao uso de novas tecnologias e fronteiras tecnológicas com objetivos de desenvolvimento do bem-estar da humanidade e contra seu uso militar, tudo isso indica que a cada reunião o grupo BRICS se vê mais pressionado pelos acontecimentos a abraçar temas geopolíticos. E digo a cada reunião, porque não é a primeira vez que temas geopolíticos são incluídos na declaração final, mas é a primeira vez que eles aparecem de forma tão ampla, profunda e detalhada.

Mas se tivemos coisas boas, também tivemos as péssimas. O próprio Presidente Lula veio com a ideia estúpida de incluir os países do G7 no BRICS, como se esses países não estivessem utilizando de todos os meios, inclusive militares, para minar e impedir a consolidação desse bloco geoeconômico. De minha parte eu realmente não sei se Lula trás essas ideias estúpidas porque está senil, porque não entende o que está acontecendo, porque é coagido a isso, ou porque ele sabe que uma besteira dessas jamais seria aprovada pelos membros do Bloco, e com isso pode parecer bom para o outro lado também.

Mas seja qual for o motivo isso pega mal, e ainda por cima não ajuda Lula a ter uma relação melhor com o Ocidente, tanto é que no último dia da cúpula ele recebeu de presente de Trump a aplicação de 50% de taxas de importação para produtos brasileiros exportados ao EUA, além de nítida interferência em assuntos internos ao exigir uma “anistia” ao pessoal do 08 de janeiro, o fim do processo contra Bolsonaro e os seus, e a não interferência nas Big Techs estadunidenses que operam no Brasil. Mas isso é tema para outro vídeo.

Por esses motivos não me pareceu que a reunião de Cúpula dos BRICS tenha sido esse sucesso todo que a imprensa ligada ao PT grita, mas também não foi o desastre que se esperava por ter tido pouco preparo. Atingiu objetivos geoeconômicos, e até alguns geopolíticos, mas teve algumas escorregadelas, principalmente vindas da própria liderança brasileira. Se não foi o desastre que a maioria dos analistas geopolíticos esperava, também não foi o sucesso que poderia ter sido, e ainda foi aberto mais um setor de conflito direto com o EUA.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Conflito na Ucrânia segue sem solução, e com a Rússia causando enormes danos

Pessoal, a Rússia segue castigando duramente a Ucrânia. Nas últimas duas semanas os ataques se intensificaram e se concentraram. Os russos têm lançados entre 700 e 800 drones e mísseis diariamente, só que agora concentram entre uma ou duas cidades apenas. No final da semana passada foram 741 drones e mísseis contra apenas duas cidades, causando enormes danos à infraestrutura, indústrias e instalações militares. No início desta semana, só contra Kiev, foram quase 500 drones e mísseis, causando danos semelhantes. Apesar de não atacarem áreas civis, temos visto vítimas entre não militares, já que estes trabalham e transitam por essas áreas. 

Outra mudança é que as defesas aéreas ucranianas estão muito debilitadas, porque os estadunidenses retiraram baterias anti-aéreas e seus mísseis para enviá-los ao Oriente Médio, e com isso quase toda a onda de ataques russos passa incólume atingindo seus alvos. Agora Trump diz que enviará novas baterias e mísseis anti-aéreos e que os europeus pagarão por eles. Os alemães também garantiram que enviarão mísseis de longo alcance Taurus e homens para operarem o lançamento dessas armas. Os russos afirmaram que irão bombardear as instalações da Taurus na Alemanha. 

Na verdade, o que o Ocidente pode conseguir com isso é uma sobrevida à Ucrânia, mas não uma mudança de rumo no conflito. E também pode haver uma escalada súbita no conflito, caso alemães e russos cumpram suas promessas. Ao mesmo tempo, os russos parecem estar tentando uma rendição ucraniana devido a um país totalmente destruído e inviável, ao mesmo tempo em que garante que seu dinheiro tomado pelo Ocidente não seja suficiente para recuperar o país. Também parece estar garantindo que se torne pres

a fácil a alguns vizinhos que buscam recuperar territórios perdidos após a WWII. Tudo isso mostra apenas que as negociações estão indo mal, e no momento dificilmente avançarão além das trocas de corpos e prisioneiros de guerra. Apesar dessa situação extremamente desfavorável, a Ucrânia ainda tenta causar danos aos russos, e eventualmente o consegue, mas em instalações civis.

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Brasil sediou a XVII cúpula dos BRICS, e podia ter sido melhor

Pois é pessoal, antes de tudo precisamos lembrar que o BRICS é, acima de tudo, um grupo de países que busca fugir das interdições impostas pelos países Ocidentais vencedores da 2ª Guerra Mundial, e que controlam rotas comerciais, empréstimos, regras de comércio e produção, além de financiamento e condições de desenvolvimento, dizendo o que cada um pode e deve fazer. Nem sempre deu certo, mas indiscutivelmente tal controle tem trazido instabilidade e desequilíbrio ao planeta, principalmente aos países menos desenvolvidos. Justamente o que esses países do BRICS buscam são alternativas que permitam se desenvolverem e comerciarem seus produtos sem essas interdições. Não é um processo fácil, não é um processo rápido, e ainda vemos as reações do grupo de países que vê sua hegemonia e controle ameaçados, que buscam minar e impedir a concretização dessas iniciativas de todas as formas, inclusive bélicas.

Nesse contexto o Brasil recebeu a XXVII cúpula dos BRICS, que teve a presença de duas dezenas de países, sendo 11 membros plenos, 10 parceiros. Os países são bastante heterogênios, mas a busca por outras formas de comércio e desenvolvimento os unem no momento. Destaco a presença de Cuba, que como membro parceiro tem uma enorme oportunidade para escapar às sanções que são impostas pelo EUA há décadas, e que vêm limitando enormemente a capacidade de desenvolvimento da Ilha.

Sobre a cúpula em si temos que destacar duas coisas principais. A primeira são os trabalhos e as reuniões de especialistas, políticos responsáveis por determinadas áreas e empresários, que concluem negócios, o desenvolvimento de ideias, discutem novas diretrizes, oportunidades, etc. Essas reuniões muitas vezes se desenvolvem por meses, com discussões, estudos e a elaboração de projetos.

Como eu disse acima, o BRICS é, antes de tudo, um bloco de fomento de negócios, mas aos poucos está se tornando mais que geoeconômico, mas geopolítico, como a declaração final do evento deixa bastante claro.

Sobre a parte econômica o grande avanço veio da Rússia, com proposta de avanços sobre novas formas de pagamento. Já na parte de negócios houve vários avanços, e o Brasil se beneficiou bastante. Foi alinhavada visita à Índia para o desenvolvimento de um plano estratégico bilateral. Devem entrar em negociação trocas tecnológicas e comerciais em si, além de aproximação dos países em outras áreas também.

O Brasil também foi convidado a participar da próxima reunião da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático), composta por pesos pesados como China, Vietnam, etc. Muitas outras oportunidades de negócios podem se abrir para o Brasil nesta reunião, e no desenvolvimento das relações com a Índia. Neste ponto o encontro dos BRICS me pareceu um sucesso, mas acho que faltaram mais propostas, mais avanços institucionais para facilitar o comércio entre os países membros.

Essa falta de avanço me pareceu proposital, porque o Brasil optou por transformar parte substancial do encontro num pré-Cop30, reunião que o próprio Brasil sediará no final do ano em Belém, e que versará sobre meio-ambiente e mudanças climáticas. Na verdade estes temas são muito mais do interesse do Ocidente político do que de países dos BRICS. Basta lembrar que China e Rússia se preparam para abrir uma rota comercial pelo Ártico, que só é possível justamente pelo degelo causado pelo aquecimento global. E o Ocidente está pronto a disputar o domínio desta rota com estes países do BRICS. Nitidamente há conflito de interesses aqui, sem julgamento de quem está certo ou errado. As rotas comerciais do Ártico são um caso, mas há outros.

Por outro lado há um outro ponto importantíssimo neste tipo de evento, e é sua declaração final. Nessa declaração costumam vir informações que indicam qual o caminho que o grupo quer seguir, quais suas prioridades, atenções, interesses, aspirações, etc. No caso da cúpula que se encerrou a declaração final foi extremamente abrangente. O documento teve um total de 126 itens, que incluíram desde os temas geoeconômicos, que são o objetivo primário dos BRICS, passando por temas sociais, novas tecnologias com destaque para o uso de IAs e o espaço sideral, temas humanitários, ecologia, mineração, e o fato de que o grupo fatalmente irá enveredar para a geopolítica, porque temas como respeito à carta e a determinações da ONU, reformas em sua estrutura, condenações a atos de guerra específicos, assim como de ações terroristas, o chamamento à paz e ao respeito à soberania do povos de vários países e regiões do mundo, assim como ao uso de novas tecnologias e fronteiras tecnológicas com objetivos de desenvolvimento do bem-estar da humanidade e contra seu uso militar, tudo isso indica que a cada reunião o grupo BRICS se vê mais pressionado pelos acontecimentos a abraçar temas geopolíticos. E digo a cada reunião, porque não é a primeira vez que temas geopolíticos são incluídos na declaração final, mas é a primeira vez que eles aparecem de forma tão ampla, profunda e detalhada.

Mas se tivemos coisas boas, também tivemos as péssimas. O próprio Presidente Lula veio com a ideia estúpida de incluir os países do G7 no BRICS, como se esses países não estivessem utilizando de todos os meios, inclusive militares, para minar e impedir a consolidação desse bloco geoeconômico. De minha parte eu realmente não sei se Lula trás essas ideias estúpidas porque está senil, porque não entende o que está acontecendo, porque é coagido a isso, ou porque ele sabe que uma besteira dessas jamais seria aprovada pelos membros do Bloco.

Mas seja qual for o motivo isso pega mal, e ainda por cima não ajuda Lula a ter uma relação melhor com o Ocidente, tanto é que no último dia da cúpula ele recebeu de presente de Trump a aplicação de 50% de taxas de importação para produtos brasileiros exportados ao EUA, além de nítida interferência em assuntos internos ao exigir uma “anistia” ao pessoal do 08 de janeiro, o fim do processo contra Bolsonaro e os seus, e a não interferência nas Big Tecs estadunidenses que operam no Brasil. Mas isso é tema para outro texto.

Por esses motivos não me pareceu que a reunião de Cúpula dos BRICS tenha sido esse sucesso todo que a imprensa ligada ao PT grita, mas também não foi o desastre que se esperava por ter tido pouco preparo. Atingiu objetivos geoeconômicos, e até alguns geopolíticos, mas teve algumas escorregadelas, principalmente vindas da própria liderança brasileira.

sábado, 5 de julho de 2025

Cimeira da NATO em Haia abre novas perspectivas

Pessoal, a última reunião da NATO foi um ato de quase total e absoluta submissão e vassalagem por parte dos europeus ao EUA. Discursos e posicionamentos se alinharam quase totalmente aos anseios e solicitações de Trump, ainda que esse alinhamento possa trazer enormes problemas internos aos próprios europeus. 

Me refiro aqui especificamente ao valor de 5% do PIB de cada país que deverá ser investido em defesa até 2035. Isso é dividido em 3,5% diretamente em armas, e 1,5% em infraestrutura de defesa e produção. O valor obrigatório atual é de 2%, e já vem causando problemas a alguns países, essa elevação de 150% têm potencial para criar sérias cisões internas, principalmente nos países menores. 

Mas nem tudo foram flores para Donald Trump, e o Primeiro Ministro espanhol, Pedro Sanchez, foi categórico ao afirmar que a Espanha não deve seguir o acordado na cimeira da NATO, mesmo porque já vem enfrentando dificuldades para cumprir os atuais 2%, e ainda que outros países tenham se calado, fato é que provavelmente terão ainda mais dificuldades que a Espanha em atender tal demanda. 

Já Donald Trump foi bastante sutil ao ameaçar de retaliar a Espanha caso esta mantenha sua posição. Por outro lado há países, como Reino Unido, e principalmente a Alemanha que apoiam fortemente tal decisão, ainda que também venham a enfrentar dificuldades internas para cumprir tal meta. Os britânicos já apresentam graves problemas sociais, e a Alemanha vê sua economia derreter e problemas sociais que pareciam erradicados da vida germânica ressurgirem das sombras. A França tem apresentado uma posição mais comedida, e tenta conseguir uma forma de se beneficiar com tal investimento, ou de sair dessa obrigação sem abrir uma fissura nas relações. Difícil. 

Por outro lado uma Europa mais militarizada significa uma Europa com maior poder de interferência geopolítica, e talvez mais autônoma em relação aos EUA, que poderia diminuir seus investimentos na Europa e redirecioná-los para outros cenários, como o Oriente Médio ou a China. Mas essa autonomia europeia pode ser só aparente, porque parte substancial das armas que irão adquirir, principalmente as mais modernas e de uso de mais tecnologia devem vir do EUA. 

Pois é, seja para enfrentar uma hipotética e improvável guerra com a Rússia, seja para atender aos anseios estadunidenses, uma Europa militarizada será mais um fator de aumento da desestabilização global. E sim, as armas russas e chinesas parecem ser melhores no momento, mas armas matam, sejam elas as melhores ou não.