Pois é pessoal, o Brasil sofreu forte ataque econômico e geopolítico do governo do EUA. A partir de 1º de agosto os produtos brasileiros que entrarem no país norte-americano serão taxados em 50%. Segundo o próprio presidente Trump, se o Brasil aplicar a regra da reciprocidade, eles aumentarão em mais 50% a taxação de produtos brasileiros. O problema é que, segundo os exportadores brasileiros, parte considerável dos produtos brasileiros exportados ao EUA já se tornam inviáveis com essa alíquota de 50%. Isso porque são produtos primários, de nenhum ou pouquíssimo valor agregado, e com ampla possibilidade de competição com outros países.
A situação se iniciou no último dia da Cimeira do BRICS, quando Trump anunciou a decisão, frisou a questão do processo que corre contra Jair Bolsonaro, e apresentou alguns dados falsos, além de ficar com uma alegação ridícula de que “o Brasil está sendo mau com o EUA”. Na sequência ele enviou uma carta via Embaixada do EUA em Brasília, em que detalhava essas situações. A carta já começa com a questão de Bolsonaro, segue com uma bobagem de terem tido anos para negociar novas condições de comércio com o Brasil, segue dizendo que esse comércio é danoso ao EUA, e conclui essa parte dizendo que as alíquotas impostas ao Brasil como sendo insuficientes para equilibrar a situação, pedindo para que empresas brasileiras migrem para o EUA e produzam lá.
Aqui vale um primeiro comentário. A tática de Trump é ridícula. O que ele segue tentando fazer é reindustrializar seu país canibalizando empresas de outros países. Alguns europeus caíram nessa armadilha, e se arrependeram, porque as condições do EUA hoje estão muito aquém de outras partes do mundo. Da mesma forma segue atacando de forma estúpida, já que suas tarifas inflacionam o próprio mercado interno estadunidense, e já provoca enorme insatisfação entre a população, incluindo tendo Trump perdido parte substancial de sua base de apoio.
Trump alega um deficit comercial com o Brasil, só que o EUA é superavitário nessa relação comercial há muitos anos. Algumas fontes indicam um superavit de cerca de USD 1 Bilhão nesse primeiro semestre de 2025, e nada indica uma alteração nessa relação.
Também traz a questão das Big Tecs digitais. Empresas como Meta, “X”, e outras, que estão sendo reguladas em sua atuação. Ora, cabe ao Brasil regular as empresas que operam dentro de suas fronteiras, não importando qual é a origem delas. A pressão de Trump sobre isso é simplesmente o desconhecimento de qualquer soberania por parte do Brasil.
Mas isso não é um privilégio brasileiro, já que ele fez isso com todo o mundo Ocidental, e a composição de grupos de negociações não resultou para nenhum país, já que ele não respeita nenhum país que não tenha força. As tarifas já são realidade para Canadá, México, UE, etc, e apenas algumas poucas foram revertidas por pressão interna no próprio EUA. No caso do Brasil essa pressão já se iniciou, e mesmo em outros casos ela permanece. Como dito acima, há relatos de que a problemática economia estadunidense apresenta uma inflação bastante alta. Nos supermercados a alta de preços é sensível, e em itens de consumo industrializados como eletrodomésticos e eletrônicos também se nota uma inflação considerável.
Já falei que o que Trump pretende não é exequível, e da forma que quer é ainda pior. Não há investimentos do país em infraestrutura, treinamento de mão-de-obra, produção de energia, ou seja, em condições para que o país receba indústrias e investimentos. Mas ao contrário, há investimento em tentar destruir essas condições em outros países. Ao mesmo tempo, o pouco que o país investia no desenvolvimento de sua infraestrutura e condições de investimento está sendo retirado pelo próprio governo Trump. Cortes sensíveis em Educação, Saúde, Infraestrutura são vistos, o que tende a agravar o problema e piorar ainda mais as condições para o investimento produtivo no país.
E o Brasil bebe na mesma fonte estúpida do EUA, e também não investe nas condições para a instalação de novas empresas, e qualquer avanço se dá por inércia, não por iniciativa e planejamento. A diferença é que não tenta destruir o que os outros construíram em suas casas.
Na sequência desse monte de mentiras, distorções e intervenções indevidas do EUA, Trump mandou abrir investigação sobre alguns mecanismos brasileiros, como o PIX. Isso porque a transferência interbancária nacional sem a intervenção das gigantes estadunidenses o que gera quebra de receita para essas empresas. A questão de patentes também está sob investigação, e a famosa 25 de Março de São Paulo está na mira, como se pirataria não grassasse pelo próprio país Ianque.
Na verdade o que Trump quer é uma colônia com 215 milhões de habitantes e recursos naturais muito mais vastos que os do próprio EUA.
Isso se escancara na questão das terras raras. Essas riquezas são abundantes no Brasil, mas não são exploradas até o momento. Não da forma que poderia e deveria. Trump já tentou terras raras na Groelândia, na Ucrânia e em partes da África, tendo sido rechaçado em todos, por um motivo ou por outro. Isso se dá porque ele é truculento e não sabe negociar, o que ele sabe é tentar impor condições através da força, e é o que tenta fazer em todas as partes por onde vai.
E isso ocorre porque o grande exportador de minerais de terras raras do mundo é a China bloqueou a exportação de terras raras ao EUA, e não existe indústria de ponta, de alta tecnologia, sem terras raras. A indústria aeroespacial, militar, automobilística, naval, isso sem falar de processadores e semicondutores. Nada disso é realizável sem terras raras. Ultimamente os chineses liberaram as terras raras para os estadunidenses para a indústria civil, mas sob inspeção, e já avisaram que se eles tentarem desviar esses recursos à indústria bélica o fornecimento será cortado de todo. Como eles irão fazer guerra sem esse recurso. Para vocês terem ideia da importância disso, um único F35, o avião caça de ponta do EUA, leva mais de 400kg de terras raras em sua construção. Entendem a importância disso?
Mas isso apenas num primeiro momento. A verdade é que Trump não faz ideia do mundo, mas alguns que estão ao lado dele fazem. O Brasil é BRICS, um dos fundadores do bloco, tem importância estratégica muito grande, principalmente na América do Sul, onde mantém fronteira com quase todos os países do continente, está sendo integrado na economia chinesa, com o investimento maciço em infraestruturas de transporte, energia, e a instalação e ampliação de diversas fábricas brasileiras, incluindo alguma transferência de tecnologias sensíveis, principalmente nas áreas de microprocessadores e de semicondutores.
Ou seja, é um ataque à China através dos BRICS. Assim como no Irã, que foi atacado principalmente por suas relações com Rússia e China (tivemos outros motivos, mas o principal foi isso), o Brasil também está sendo atacado por seu aprofundamento das relações com a China e a Rússia. No Irã houve ataque militar, no Brasil eles não consideram isso necessário, mas garanto que não descartam usar de poder bélico para impor sua vontade.
E também tivemos o envolvimento de Mark Rutte, o secretário geral da NATO, que aderiu às ameaças do EUA e ameaçou alguns países do BRICS de sanções. Entendem quando falo que não hesitarão em usar de força se necessário.
Cabe ao Brasil tomar algumas das atitudes que está tomando, como aumentar a comissão de negociação bilateral, dar reciprocidade caso Trump aumente as tarifas - até ao ponto de inviabilizar completamente o comércio se necessário, porque isso reflete fortemente lá também – abrir oportunidades para o escoamento de parte dessa produção internamente, conquistar novos mercados para esses produtos, e se preparar para uma situação mais complicada, abandonando essa estupidez de arcabouço fiscal e melhorando consideravelmente nossas capacidades de defesa. O BRICS pode ajudar muito nessas demandas, e inclusive já tivemos várias ofertas para isso, assim como já tivemos alguns pronunciamentos de apoio, tanto velados, como explícitos.
Mas nem tudo que o governo brasileiro faz é correto. Não há envolvimento da população, não há politização da questão. Lula antes de qualquer coisa foi pedir a bênção dos rentistas numa rede de televisão e de uma ala religiosa em outra rede de televisão. Só depois fez um pronunciamento à Nação, em que não pautou a questão não envolveu a população, e com isso seu governo segue refém das forças de elite que comandam o país. Ao contrário, Lula tentou criar uma questão eleitoral, optando em enfatizar o “nós contra eles”, em uma atuação eleitoreira despolitizante. Isso não significa que ele não devesse indicar os culpados, mas deveria chamar a uma união para se contrapor ao ataque, em um tema geral da nação, e não num palco de disputa do “eu sou bonzinho, ele mauzinho”.
Para completar, se você acha que isso é algo específico do bolsonarismo, os lulistas vivem fazendo isso. A Ministra dos Povos Originários do Lula foi pedir medidas contra o Brasil ao Secretário de Estado do EUA durante o Governo Bolsonaro, a Ministra do Meio-ambiente do Lula pediu várias vezes medidas contra o Brasil no exterior, a Sra. Lula da Silva pede intervenção de potências estrangeiras no Brasil, porque foi exatamente isso que ela fez na China, e que causou o mal-estar com Xi Jinping. E elas não são as únicas.
E se o Brasil for resiliente já deve ter ganhos em pouco tempo, já que Trump deve ser derretido daqui pouco mais de um ano, quando deverá ser derrotado nas chamadas “mid terms”, as eleições de meio de mandato, e que ele deve perder tão feio quanto ganhou bonito, já que suas ações estão refletindo muitíssimo mal na sociedade americana, que não vê nenhuma de suas promessas cumpridas, vê maior deterioração em suas condições de vida, e buscará mais uma vez alternativa ao que está posto. Mas não nos enganemos, sejam democratas, sejam republicanos, os ataques ao Brasil virão. O objetivo Brasil é meio para outro fim, além do que as ações estadunidenses mostram que não há nenhum respeito por ninguém, sejam aliados ou não do EUA, e a única coisa que entendem é a força. Cabe ao Brasil mudar o rumo desse desenlace, com resiliência, persistência e com investimentos próprios e conjuntos. Claro, uma quebra no rentismo também ajuda, e muito.
Quanto a questão do envolvimento da família Bolsonaro nessa treta toda, isso é muito mais uma aposta menor de Trump, e um interesse egoísta do clã. Se Bolsonaro voltar à liberdade e se eleger, mais fácil para o EUA dos republicanos controlarem o Brasil, mas se isso não ocorrer eles têm outras formas de pressionarem e buscarem esse controle.
Mas apesar disso tudo eu deixo aqui uma pergunta para vocês refletirem. O chamado Ocidente coletivo sem incluir alguns agregados asiáticos, têm cerca de 10% da população do mundo, enquanto só a China tem mais de 15%. A produção industrial de todo o Ocidente coletivo junto é menor que a chinesa apenas. A produção de armas de todo o Ocidente coletivo junto é menor que a russa. Vejam bem, eu comparei o Ocidente coletivo com apenas dois países dos BRICS, mas os BRICS hoje englobam 21 países, sendo 10 membros plenos e 11 membros parceiros. Eles acham realmente que vão reverter essa situação com ameaças, sanções e guerras?
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