sábado, 19 de julho de 2025

XVII Reunião de cúpula dos BRICS: nem êxito, nem desastre

Pois é pessoal, antes de tudo quero explicar que estive um pouco ausente por dois motivos principais. O primeiro é excesso de trabalho, já que estamos em alta temporada para minha atividade atual, e o trabalho aumenta enormemente nesse período. O Outro motivo é uma crise de coluna, que tem incomodado bastante, mas já está sendo controlada.

Dito isso, começamos precisamente por lembrar que o BRICS é, acima de tudo, um grupo de países que busca fugir das interdições político-econômicas impostas pelos países Ocidentais vencedores da 2ª Guerra Mundial, e que controlam rotas comerciais, empréstimos, regras de comércio e produção, além de financiamento e condições de desenvolvimento, dizendo o que cada um pode e deve fazer. Esse controle é usado para controlar não apenas economicamente, mas também politicamente os países que tentam se contrapor a tais controles. Nem sempre deu certo, mas indiscutivelmente tal controle tem trazido instabilidade ao planeta, principalmente aos países menos desenvolvidos. Justamente o que esses países do BRICS buscam são alternativas que permitam se desenvolverem e comerciarem seus produtos sem essas interdições. Não é um processo fácil, não é um processo rápido, e ainda vemos as reações do grupo de países que vê sua hegemonia e controle ameaçados, que buscam minar e impedir a concretização dessas iniciativas de todas as formas, inclusive bélicas.

Nesse contexto o Brasil recebeu a XVII cúpula dos BRICS, que teve a presença de duas dezenas de países, sendo 11 membros plenos, 10 parceiros. Os países são bastante heterogênios, mas a busca por outras formas de comércio e desenvolvimento os unem no momento. Destaco a presença de Cuba, que como membro parceiro tem uma enorme oportunidade para escapar às sanções que são impostas pelo EUA há décadas, e que vêm limitando enormemente a capacidade de desenvolvimento da Ilha.

Sobre a cúpula em si temos que destacar duas coisas principais. A primeira são os trabalhos e as reuniões de especialistas, políticos responsáveis por determinadas áreas e empresários, que concluem negócios, o desenvolvimento de ideias, discutem novas diretrizes, oportunidades, etc. Essas reuniões muitas vezes se desenvolvem por meses, com discussões, estudos e a elaboração de projetos.

O segundo destaque é a declaração final. Como eu disse acima, o BRICS é, antes de tudo, um bloco de fomento de negócios, mas aos poucos está se tornando mais que geoeconômico, mas geopolítico, como a declaração final do evento deixa bastante claro.

Sobre a parte econômica o grande avanço veio da Rússia, com proposta de avanços sobre novas formas de pagamento. Já na parte de negócios houve vários avanços, e o Brasil se beneficiou bastante. Foi alinhavada visita à Índia para o desenvolvimento de um plano estratégico bilateral. Devem entrar em negociação trocas tecnológicas e comerciais em si, além de aproximação dos países em outras áreas também.

O Brasil também foi convidado a participar da próxima reunião da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático), composta por pesos pesados da Ásia, como China, Vietnam, etc. Muitas outras oportunidades de negócios podem se abrir para o Brasil nesta reunião, e no desenvolvimento das relações com a Índia. Neste ponto o encontro dos BRICS me pareceu um sucesso, mas acho que faltaram mais propostas, mais avanços institucionais para facilitar o comércio entre os países membros, ainda que tenhamos tido várias bilaterais entre os membros, e aproximações entre eles são esperadas.

Essa falta de avanço me pareceu proposital, porque o Brasil optou por transformar parte substancial do encontro num pré-Cop30, reunião que o próprio Brasil sediará no final do ano em Belém, e que versará sobre meio-ambiente e mudanças climáticas. Na verdade estes temas são muito mais do interesse do Ocidente político do que de países dos BRICS. Basta lembrar que China e Rússia se preparam para abrir uma rota comercial pelo Ártico, que só é possível justamente pelo degelo causado pelo aquecimento global. E o Ocidente está pronto a disputar o domínio desta rota com estes países do BRICS. Nitidamente há conflito de interesses aqui, sem julgamento de quem está certo ou errado. As rotas comerciais do Ártico são um caso, mas há outros.

Por outro lado há um outro ponto importantíssimo neste tipo de evento, e é sua declaração final. Nessa declaração costumam vir informações que indicam qual o caminho que o grupo quer seguir, quais suas prioridades, atenções, interesses, aspirações, etc. No caso da cúpula que se encerrou a declaração final foi extremamente abrangente. O documento teve um total de 126 itens, que incluíram desde os temas geo-econômicos, que são o objetivo primário dos BRICS, passando por temas sociais, novas tecnologias com destaque para o uso de IA´s e o espaço sideral, temas humanitários, ecologia, mineração, e o fato de que o grupo fatalmente irá enveredar para a geopolítica, porque temas como respeito à carta e a determinações da ONU, reformas em sua estrutura, condenações a atos de guerra específicos, assim como de ações terroristas, o chamamento à paz e ao respeito à soberania do povos de vários países e regiões do mundo, e também quanto ao uso de novas tecnologias e fronteiras tecnológicas com objetivos de desenvolvimento do bem-estar da humanidade e contra seu uso militar, tudo isso indica que a cada reunião o grupo BRICS se vê mais pressionado pelos acontecimentos a abraçar temas geopolíticos. E digo a cada reunião, porque não é a primeira vez que temas geopolíticos são incluídos na declaração final, mas é a primeira vez que eles aparecem de forma tão ampla, profunda e detalhada.

Mas se tivemos coisas boas, também tivemos as péssimas. O próprio Presidente Lula veio com a ideia estúpida de incluir os países do G7 no BRICS, como se esses países não estivessem utilizando de todos os meios, inclusive militares, para minar e impedir a consolidação desse bloco geoeconômico. De minha parte eu realmente não sei se Lula trás essas ideias estúpidas porque está senil, porque não entende o que está acontecendo, porque é coagido a isso, ou porque ele sabe que uma besteira dessas jamais seria aprovada pelos membros do Bloco, e com isso pode parecer bom para o outro lado também.

Mas seja qual for o motivo isso pega mal, e ainda por cima não ajuda Lula a ter uma relação melhor com o Ocidente, tanto é que no último dia da cúpula ele recebeu de presente de Trump a aplicação de 50% de taxas de importação para produtos brasileiros exportados ao EUA, além de nítida interferência em assuntos internos ao exigir uma “anistia” ao pessoal do 08 de janeiro, o fim do processo contra Bolsonaro e os seus, e a não interferência nas Big Techs estadunidenses que operam no Brasil. Mas isso é tema para outro vídeo.

Por esses motivos não me pareceu que a reunião de Cúpula dos BRICS tenha sido esse sucesso todo que a imprensa ligada ao PT grita, mas também não foi o desastre que se esperava por ter tido pouco preparo. Atingiu objetivos geoeconômicos, e até alguns geopolíticos, mas teve algumas escorregadelas, principalmente vindas da própria liderança brasileira. Se não foi o desastre que a maioria dos analistas geopolíticos esperava, também não foi o sucesso que poderia ter sido, e ainda foi aberto mais um setor de conflito direto com o EUA.

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