sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A gangorra cambial pode ser tão nociva à economia quanto a supervalorização

Como volta e meia estou embarcado, nem sempre consigo tempo hábil para avaliar todos os assuntos que considero conveniente. Como a reportagem publicada no Estado de S. Paulo sobre Economia com o título: "Alta do dólar pressiona custos de setores da indústria".

Finalmente houve uma pequena desvalorização cambial do real. O texto reproduzido mais abaixo poderia até ser preocupante se não fosse tão fácil derrubar tal falácia. O principal é que os preços cotados em dólar e que, por conseguinte variam com o mesmo, são os de produtos importados. Ou seja, indústrias que se estabeleceram na China, ou outros países aonde o câmbio é desvalorizado, com o objetivo principal de exportar. Vale lembrar que muitas dessas indústrias antes estavam instaladas no Brasil.

Mas se dolarizamos custos, como sugere o artigo do Estadão, vemos que custos trabalhistas, impostos, produtos estrangeiros (como citado acima), etc. tiveram seus preços aumentados, o que na verdade aumenta a competitividade da indústria nacional como um todo.

A pequena parcela de nossa indústria que se vê prejudicada no momento, pode rapidamente reverter tal situação e buscar mercado externo, além de se fortalecer internamente em médio prazo.

E vamos mais além, não só o real deveria estar ainda um pouco mais desvalorizado, como o governo deveria criar outros mecanismos para que o câmbio não valorizasse tanto. Até porque a gangorra cambial pode ser tão nociva à economia quanto a supervalorização.

Leia a reportagem na íntegra:

Alta do dólar pressiona custos de setores da indústria

Demanda fraca impede indústrias que usam matérias-primas cotadas em dólar de repassar alta de custos para os preços

A alta do câmbio dos últimos meses, que só em maio se valorizou 4,25% em relação ao real, deixou as indústrias que usam matérias-primas cotadas em dólar numa saia-justa. Ao mesmo tempo que essas empresas são forçadas a aceitar os aumentos de preços em reais dos insumos por causa da elevação do câmbio, elas não conseguem passar essa elevação de custos para os seus preços por causa do enfraquecimento da demanda. “Somos o recheio do sanduíche”, compara o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, sobre a situação dos transformadores de resinas plásticas em produtos acabados.

Ele explica que o setor sofre pressões de dois lados. Nos últimos dois meses, os preços das resinas plásticas em reais subiram entre 7% e 12%, dependendo do tipo de produto. A elevação de preço é resultado do aumento do câmbio e do preço do petróleo no mercado internacional, que é a base da resina. A resina plástica representa cerca de 60% do custo total de um produto de plástico. O repasse desse aumento de custo da resina para o preço final do produto transformado, por sua vez, está difícil por causa da demanda fraca. Só no primeiro trimestre, as vendas de produtos transformados de plástico, isto é de embalagens até itens que integram eletroeletrônicos, como gabinetes plásticos, por exemplo, caíram 6% em relação a igual período de 2011, diz Coelho. Aço. A história se repete com outros setores da indústria. “Nos últimos 30 dias, os preços do aço em reais aumentaram 5%”, conta o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), César Prata. Ele explica que o aumento reflete a alta do câmbio e o impacto da elevação do minério de ferro, matéria - prima básica cotada em dólar e básica para a siderurgia. “Não conseguimos repassar essa alta de custo de matéria-prima para as máquinas porque sofremos concorrência direta das máquinas importadas”, conta Prata. Com a crise no mercado internacional, os preços em dólar das máquinas caíram entre 20% e 30%. “Boicotados pela Ásia, os fabricantes europeus procuram vender seus produtos no Brasil, mesmo com um Imposto de Importação de 14% sobre os produtos”, explica o vice-presidente da Abimaq.

Os fabricantes de caixas de papelão enfrentam problema semelhante às indústrias transformadoras de resinas plásticas e às de máquinas. Roberto Silva, sócio diretor da Anhembi Embalagens, que produz caixas de papelão para a indústria de alimentos e cosméticos, diz que o preço do papelão em reais subiu 8% em abril por causa do dólar e da cotação da celulose no exterior. “Estamos repassando essa alta para o preço da caixa com muito sacrifício. Não está fácil”, diz ele. A alternativa tem sido parcelar reajustes e buscar novos clientes que aceitem os aumentos.

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