Deu no "Valor Econômico": "Governo tolera, mas não usa o mercado".
O texto abaixo nos traz alguns fatos e várias falácias sobre a atual situação do país.
O texto abaixo nos traz alguns fatos e várias falácias sobre a atual situação do país.
É certo que temos os
fatos listados no primeiro parágrafo, com as ressalvas de que todas as decisões
tomadas (juros baixos, crédito público etc.) são remédios usados mundialmente
para incentivar a economia (via consumo e aumento de investimentos), e a moeda
não foi desvalorizada artificialmente, mas foi antes valorizada
artificialmente.
E dizemos isso porque
taxa de câmbio não é um indicador resultado do mercado, mas sim um instrumento
de política industrial, comercial e econômico.
Infelizmente o Brasil
não tem uma economia tão consolidada, e nem domina tecnologia o suficiente para
manter uma taxa de câmbio sobrevalorizada.
Desde a década de 90
do século passado o país vem ensaiando uma desindustrialização, que foi
fortemente aumentada na primeira década do novo século. Nesse período o país
apostou suas fichas no extrativismo e na produção agrícola, dando as costas a
uma política industrial, salvo setores específicos, notadamente ligados à
metalurgia e extrativismo.
Com a crise econômica
que assola Europa e EUA há cinco longos anos (os americanos cortaram seus
incentivos diretos à economia há pouco tempo), e a consequente diminuição do
crescimento do leste asiático, nossas comodities desvalorizaram, o consumo
continua aquecido (prioritariamente produtos importados), e o resultado é o
desequilíbrio de nossa balança comercial.
Ou seja, temos
demanda, mas não temos indústrias para atendê-la, porque hoje boa parte de nossas
indústrias migrou para a China e outros mercados com mão de obra barata. E o
Brasil está caro, inclusive pelo câmbio, que permanece sobrevalorizado.
Com isso, o câmbio
sobrevalorizado que fez a alegria da classe média e que possibilita viagens ao
exterior, está cobrando seu preço agora.
E, ao contrário do que
afirma o texto abaixo, estamos agora pagando pelo erro de o governo não ter
intervindo na economia quando ainda tínhamos indústrias e uma balança de exportações
muito mais diversificada.
Aliado a isso temos a
crise que permanece forte na Europa, e um excedente de sua mão de obra
qualificada, que devido a outro erro grotesco de nosso governo, vem admitindo a
entrada desses trabalhadores no país, desempregando brasileiros e não
contribuindo em nada para a melhoria de nossas relações trabalhistas, pois os
estrangeiros frequentemente chegam com salários mais altos que os nossos
nacionais, que vêm seus ganhos achatados e suas chances de conseguir empregos e
cargos melhores muito comprometidas. Fora isso a maior parte de seus salários
(quando não todo ele) é paga fora de nossa folha de pagamentos, não gerando
IRRF, recolhimento de INSS, etc.
E nisso tudo em que o
México ganha do Brasil? Ora, ganha em muitos pontos na visão do empresariado. O
México é vizinho fronteiriço da maior economia do planeta e diretamente
dependente dela; apresenta mão de obra barata; baixos impostos; uma razoável
infraestrutura para exportação; está sempre disposto a se curvar às vontades
norte-americanas; mantém seu câmbio desvalorizado, favorecendo a exportação;
não pratica juros extorsivos.
Mas acima de tudo o
México continua se contentando em manter sua economia como satélite e
complementar à dos países mais desenvolvidos, posição que o Brasil tem mudado
ao longo da última década.
O Brasil tem mudado
muito nos últimos anos, e tem muito mais a avançar. O bom de nosso país é que
podemos fazer isso com nossas próprias forças, incentivando a produção e
consumo internos. Mesmo com os avanços dos últimos anos ainda temos um enorme
mercado potencial.
Para isso basta um
pouco mais de olhos voltados para nossa indústria e mercado internos.
Leia o texto na íntegra:
Governo
tolera, mas não usa o mercado
Por Claudia
Safatle
Juros reais
próximos de zero, metas fiscais flutuantes, desvalorização cambial induzida e expansão
da oferta de crédito público foram os diques abertos simultaneamente pelo
governo que levaram a economia a sancionar os aumentos de preços - numa
indicação de que ele não estava disposto a ceder em nada para conter a
inflação.
O Banco
Central, ajudado pela cobrança da sociedade, começou a aumentar os juros. Ele
sabe que o IPCA vai cair nos próximos três meses, mas começa a subir novamente
a partir de agosto, embora de forma mais moderada do que no segundo semestre do
ano passado. De maio a julho a inflação mensal cai, mas não a acumulada em doze
meses. Daí em diante, a esperança é de que o IPCA de doze meses comece a ceder
e encerre o exercício na casa dos 5,7%. Sem a ajuda da tarifa de energia, da
isenção de impostos da cesta básica e outras intervenções oficiais, porém, a
inflação rondaria 8%.
Os primeiros
dados de maio sustentam a expectativa do BC. O IPCA-15 foi de 0,46% e o índice
de difusão veio mais razoável - caiu de 74% em março para 61% agora. A queda
dos preços dos alimentos no atacado, porém, está demorando a chegar ao varejo.
O BC suspeita que isso decorra do encarecimento do frete.
Não há razão
para o México ser mais atraente que o Brasil
Há, nessa
composição, portanto, um grave problema de logística que remete às crônicas
deficiências da economia pelo lado da oferta, principalmente de infraestrutura.
Nos últimos dez anos as concessões na área de logística foram vacilantes.
Resultaram num modelo frágil e na ausência de cumprimento dos compromissos
assumidos nos contratos. Esse é o caso de várias rodovias que foram passadas
para a iniciativa privada entre 2008 e 2009.
Para
recuperar o longo tempo perdido, este governo tentou correr com uma nova rodada
de concessões. Mas o cronograma original já está comprometido. O objetivo era
licitar todos os trechos de rodovias até abril. Não conseguiu licitar nenhum.
As regras dos editais já foram alteradas duas vezes para tentar atrair
investidores. No caso das rodovias, eles não concordavam com a limitação da
taxa de retorno e com o volume de obras que deveriam ser entregues nos
primeiros cinco anos. O governo fez mudanças, mas estas pouco agradaram.
É intrigante
constatar que os investidores e a imprensa internacional estão mais
interessados, hoje, no México do que no Brasil. Lá o sistema político não é
plural, a distribuição da renda é ruim e a economia é fortemente dependente da
americana. E não há uma carteira de bons projetos para investimentos como há no
Brasil. Provavelmente, o México atrai os olhares e os interesses mais pelos defeitos
do Brasil do que por seus próprios méritos. Por que?
"Temos
um governo que apenas tolera o mercado e, ao contrário do que sugeria Adam
Smith, não usa o mercado como instrumento de governo", comentou um
empresário, arriscando uma resposta. Esse mesmo interlocutor, que acompanha
atentamente o desenrolar das concessões, conta que assistiu por 12 horas as
discussões sobre a Medida Provisória dos Portos, na semana passada, no
Congresso Nacional. "Como aprovada, a MP vai na direção correta, mas tal
como ocorreu com o setor elétrico, o governo não cuidou bem da transição entre
o velho e o novo modelo. Os que entrarem agora nas concessões dos portos terão
mais vantagens do que os que já estão lá".
Mais
importante do que concessões de subsídios - que podem ser retirados a qualquer
momento - o que leva o setor privado a investir é a confiança nas regras
vigentes e na expectativa de bons resultados. Para isso, é importante que o
sistema de preços funcione.
Em um
encontro de empresários em São Paulo, ontem, discutiu-se custos de produção da
indústria. Dados apresentados na conversa apontaram que nos últimos seis anos
os custos para a indústria teriam aumentado 1% nos Estados Unidos, 18% na
Coreia e 65% no Brasil, dentre outros, contou um dos presentes. Mesmo com toda
a desoneração de impostos, esse quadro não mudou. "A desoneração é uma
gota nesse oceano", disse.
Um dos
motivos do salto nos custos da indústria doméstica teria sido o aumento do
salário real, nesse período, sem qualquer correspondência no aumento da
produtividade. Com um mundo que produz mais barato do que aqui, a demanda da
economia brasileira está vazando para o exterior.
Há indícios
de que no mercado de trabalho - que até agora não sentiu os tropeços da
atividade - a situação também pode estar mudando. Segundo o IBGE, a taxa de
desemprego teve um ligeiro aumento, de 5,7% em março para 5,8% em abril. Houve
um elevado número de demissões e de contratações. Isso pode significar que os
empregados estão tomando a iniciativa de trocar de emprego para melhorar os
salários. Mas é mais provável que seja o contrário: um sinal de que as empresas
estão demitindo os salários altos e contratando a um preço menor.
Nesse quadro,
o destino da taxa Selic no curto prazo ganha ainda maior relevância. Na próxima
semana o Comitê de Política Monetária (Copom) deve aumentar os juros, mesmo
ciente de que a inflação reflete a escassez de oferta. O mercado se divide nas
apostas de uma alta de 0,25% ou 0,50%.
A combinação
simultânea de políticas fiscal, monetária e de crédito expansionistas, mais a
desvalorização forçada da moeda no ano passado, como citado, geraram um
ambiente de pressão inflacionária e não produziram crescimento econômico. O
mesmo empenho que levou o governo do PT a promover a legítima distribuição da renda
deveria ser aplicado, agora, na melhoria da eficiência da economia, com ganhos
de produtividade e de competitividade. Sem isso, o futuro dificilmente será
melhor do que o passado.
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