quarta-feira, 17 de julho de 2013

Blog dos Mercantes pergunta: quem foi que disse que o mercado regula?

Deu no "Valor Econômico": "Governo tolera, mas não usa o mercado".

O texto abaixo nos traz alguns fatos e várias falácias sobre a atual situação do país.

É certo que temos os fatos listados no primeiro parágrafo, com as ressalvas de que todas as decisões tomadas (juros baixos, crédito público etc.) são remédios usados mundialmente para incentivar a economia (via consumo e aumento de investimentos), e a moeda não foi desvalorizada artificialmente, mas foi antes valorizada artificialmente.

E dizemos isso porque taxa de câmbio não é um indicador resultado do mercado, mas sim um instrumento de política industrial, comercial e econômico.

Infelizmente o Brasil não tem uma economia tão consolidada, e nem domina tecnologia o suficiente para manter uma taxa de câmbio sobrevalorizada.

Desde a década de 90 do século passado o país vem ensaiando uma desindustrialização, que foi fortemente aumentada na primeira década do novo século. Nesse período o país apostou suas fichas no extrativismo e na produção agrícola, dando as costas a uma política industrial, salvo setores específicos, notadamente ligados à metalurgia e extrativismo.

Com a crise econômica que assola Europa e EUA há cinco longos anos (os americanos cortaram seus incentivos diretos à economia há pouco tempo), e a consequente diminuição do crescimento do leste asiático, nossas comodities desvalorizaram, o consumo continua aquecido (prioritariamente produtos importados), e o resultado é o desequilíbrio de nossa balança comercial.

Ou seja, temos demanda, mas não temos indústrias para atendê-la, porque hoje boa parte de nossas indústrias migrou para a China e outros mercados com mão de obra barata. E o Brasil está caro, inclusive pelo câmbio, que permanece sobrevalorizado.

Com isso, o câmbio sobrevalorizado que fez a alegria da classe média e que possibilita viagens ao exterior, está cobrando seu preço agora.

E, ao contrário do que afirma o texto abaixo, estamos agora pagando pelo erro de o governo não ter intervindo na economia quando ainda tínhamos indústrias e uma balança de exportações muito mais diversificada.

Aliado a isso temos a crise que permanece forte na Europa, e um excedente de sua mão de obra qualificada, que devido a outro erro grotesco de nosso governo, vem admitindo a entrada desses trabalhadores no país, desempregando brasileiros e não contribuindo em nada para a melhoria de nossas relações trabalhistas, pois os estrangeiros frequentemente chegam com salários mais altos que os nossos nacionais, que vêm seus ganhos achatados e suas chances de conseguir empregos e cargos melhores muito comprometidas. Fora isso a maior parte de seus salários (quando não todo ele) é paga fora de nossa folha de pagamentos, não gerando IRRF, recolhimento de INSS, etc.

E nisso tudo em que o México ganha do Brasil? Ora, ganha em muitos pontos na visão do empresariado. O México é vizinho fronteiriço da maior economia do planeta e diretamente dependente dela; apresenta mão de obra barata; baixos impostos; uma razoável infraestrutura para exportação; está sempre disposto a se curvar às vontades norte-americanas; mantém seu câmbio desvalorizado, favorecendo a exportação; não pratica juros extorsivos.

Mas acima de tudo o México continua se contentando em manter sua economia como satélite e complementar à dos países mais desenvolvidos, posição que o Brasil tem mudado ao longo da última década.

O Brasil tem mudado muito nos últimos anos, e tem muito mais a avançar. O bom de nosso país é que podemos fazer isso com nossas próprias forças, incentivando a produção e consumo internos. Mesmo com os avanços dos últimos anos ainda temos um enorme mercado potencial.

Para isso basta um pouco mais de olhos voltados para nossa indústria e mercado internos. 

Leia o texto na íntegra:

Governo tolera, mas não usa o mercado 
Por Claudia Safatle 

Juros reais próximos de zero, metas fiscais flutuantes, desvalorização cambial induzida e expansão da oferta de crédito público foram os diques abertos simultaneamente pelo governo que levaram a economia a sancionar os aumentos de preços - numa indicação de que ele não estava disposto a ceder em nada para conter a inflação. 

O Banco Central, ajudado pela cobrança da sociedade, começou a aumentar os juros. Ele sabe que o IPCA vai cair nos próximos três meses, mas começa a subir novamente a partir de agosto, embora de forma mais moderada do que no segundo semestre do ano passado. De maio a julho a inflação mensal cai, mas não a acumulada em doze meses. Daí em diante, a esperança é de que o IPCA de doze meses comece a ceder e encerre o exercício na casa dos 5,7%. Sem a ajuda da tarifa de energia, da isenção de impostos da cesta básica e outras intervenções oficiais, porém, a inflação rondaria 8%. 

Os primeiros dados de maio sustentam a expectativa do BC. O IPCA-15 foi de 0,46% e o índice de difusão veio mais razoável - caiu de 74% em março para 61% agora. A queda dos preços dos alimentos no atacado, porém, está demorando a chegar ao varejo. O BC suspeita que isso decorra do encarecimento do frete. 

Não há razão para o México ser mais atraente que o Brasil 
Há, nessa composição, portanto, um grave problema de logística que remete às crônicas deficiências da economia pelo lado da oferta, principalmente de infraestrutura. Nos últimos dez anos as concessões na área de logística foram vacilantes. Resultaram num modelo frágil e na ausência de cumprimento dos compromissos assumidos nos contratos. Esse é o caso de várias rodovias que foram passadas para a iniciativa privada entre 2008 e 2009. 

Para recuperar o longo tempo perdido, este governo tentou correr com uma nova rodada de concessões. Mas o cronograma original já está comprometido. O objetivo era licitar todos os trechos de rodovias até abril. Não conseguiu licitar nenhum. As regras dos editais já foram alteradas duas vezes para tentar atrair investidores. No caso das rodovias, eles não concordavam com a limitação da taxa de retorno e com o volume de obras que deveriam ser entregues nos primeiros cinco anos. O governo fez mudanças, mas estas pouco agradaram. 

É intrigante constatar que os investidores e a imprensa internacional estão mais interessados, hoje, no México do que no Brasil. Lá o sistema político não é plural, a distribuição da renda é ruim e a economia é fortemente dependente da americana. E não há uma carteira de bons projetos para investimentos como há no Brasil. Provavelmente, o México atrai os olhares e os interesses mais pelos defeitos do Brasil do que por seus próprios méritos. Por que? 
"Temos um governo que apenas tolera o mercado e, ao contrário do que sugeria Adam Smith, não usa o mercado como instrumento de governo", comentou um empresário, arriscando uma resposta. Esse mesmo interlocutor, que acompanha atentamente o desenrolar das concessões, conta que assistiu por 12 horas as discussões sobre a Medida Provisória dos Portos, na semana passada, no Congresso Nacional. "Como aprovada, a MP vai na direção correta, mas tal como ocorreu com o setor elétrico, o governo não cuidou bem da transição entre o velho e o novo modelo. Os que entrarem agora nas concessões dos portos terão mais vantagens do que os que já estão lá". 

Mais importante do que concessões de subsídios - que podem ser retirados a qualquer momento - o que leva o setor privado a investir é a confiança nas regras vigentes e na expectativa de bons resultados. Para isso, é importante que o sistema de preços funcione. 

Em um encontro de empresários em São Paulo, ontem, discutiu-se custos de produção da indústria. Dados apresentados na conversa apontaram que nos últimos seis anos os custos para a indústria teriam aumentado 1% nos Estados Unidos, 18% na Coreia e 65% no Brasil, dentre outros, contou um dos presentes. Mesmo com toda a desoneração de impostos, esse quadro não mudou. "A desoneração é uma gota nesse oceano", disse. 
Um dos motivos do salto nos custos da indústria doméstica teria sido o aumento do salário real, nesse período, sem qualquer correspondência no aumento da produtividade. Com um mundo que produz mais barato do que aqui, a demanda da economia brasileira está vazando para o exterior. 

Há indícios de que no mercado de trabalho - que até agora não sentiu os tropeços da atividade - a situação também pode estar mudando. Segundo o IBGE, a taxa de desemprego teve um ligeiro aumento, de 5,7% em março para 5,8% em abril. Houve um elevado número de demissões e de contratações. Isso pode significar que os empregados estão tomando a iniciativa de trocar de emprego para melhorar os salários. Mas é mais provável que seja o contrário: um sinal de que as empresas estão demitindo os salários altos e contratando a um preço menor. 

Nesse quadro, o destino da taxa Selic no curto prazo ganha ainda maior relevância. Na próxima semana o Comitê de Política Monetária (Copom) deve aumentar os juros, mesmo ciente de que a inflação reflete a escassez de oferta. O mercado se divide nas apostas de uma alta de 0,25% ou 0,50%. 

A combinação simultânea de políticas fiscal, monetária e de crédito expansionistas, mais a desvalorização forçada da moeda no ano passado, como citado, geraram um ambiente de pressão inflacionária e não produziram crescimento econômico. O mesmo empenho que levou o governo do PT a promover a legítima distribuição da renda deveria ser aplicado, agora, na melhoria da eficiência da economia, com ganhos de produtividade e de competitividade. Sem isso, o futuro dificilmente será melhor do que o passado.

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