Um de nossos últimos posts foi colocando
alguns entraves nas declarações proferidas pelo Sr. Fernando Fonseca, diretor
da ANTAQ, sobre o setor aquaviário do Brasil. Um dos argumentos de Fonseca para
sustentar a pujança do setor, seria o crescimento da indústria naval brasileira
nos últimos anos.
O Blog dos Mercantes, de forma
alguma está aqui para negar que tivemos muitos avanços nos últimos anos. Isso é
nítido para qualquer um que compare a década de 90 do séc. XX com nossos
últimos 12 anos. A questão não é essa.
O ponto crucial é que a indústria
naval ainda não está firmemente estabelecida, e apresenta uma série de
debilidades, que fazem com que não se possa colocar sobre ela a
responsabilidade do soerguimento do setor naval. E esperamos sinceramente que
nossas autoridades acreditem que já temos um setor aquaviário e uma indústria
naval restabelecida, após essa década de investimentos, e que já apresenta
algum certo retrocesso, devido uma série de dificuldades que continuam
presentes na economia nacional, mas que nosso governo segue sem interesse real
em resolver.
Se em décadas passadas já era
difícil se construir um navio inteiro com produção totalmente nacional,
imaginem agora, com o mundo globalizado, e a concorrência muito mais acirrada.
O Blog dos Mercantes não é a
favor de uma abertura total na economia. Esse tipo de solução costuma ser muito
boa para detentores de tecnologia – não é o caso do Brasil – e apresentar bons
resultados durante um tempo, mas invariavelmente redunda em sérias crises, que
costumam destruir grande parte dos avanços conquistados durante o período de
expansão.
Mas no mundo globalizado de hoje
precisamos de incentivos outros, que não se reduzam à simples exigência de nacionalização,
e se traduzam em maiores incentivos à produção nacional, implantação de
empresas e pesquisas científicas. Educação e treinamento da população para
poder operar em um mundo cada vez mais complexo, e tecnológico, e
estabelecimento de políticas públicas setoriais de longo prazo, de forma a
criar realmente estabilidade político-legal e dar credibilidade que suporte
investimentos vultosos.
A questão do índice de
nacionalização nos navios da Petrobrás/Transpetro é importante para incentivar
nossa indústria, mas insuficiente para consolidar um setor tão complexo após
sua quase extinção no Brasil. Ainda mais em período tão curto quanto o atual, e
estando longe de dominar a tecnologia de ponta na construção naval, como é
nosso caso.
A Marinha Mercante agradece de
uma indústria naval forte e consolidada, mas ela não se faz do dia para a noite
e está apenas em fase embrionária no país. Muito ainda temos que avançar nesse
setor, assim como em nossa Marinha Mercante, que foi desmantelada pelos anos de
liberalismo econômico exacerbado dos anos 90.
Hoje o país sente falta dos dois
setores.
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