Terminal de contêiner moderno. Foto da internet.
Quando iniciamos nosso Blog dos
Mercantes em 2010, dedicamos algum tempo a falar sobre portos, sobre as
dificuldades em adaptar nossos portos, em sua maioria construída no final do
séc. XIX ou início do XX, às necessidades da navegação atual, e a necessidade
de ampliarmos e modernizarmos nossa estrutura portuária.
O Blog dos Mercantes tem total
consciência do custo e dificuldade que envolvem a construção de novas
instalações portuárias, assim como o é modernizar as já existentes,
principalmente porque não se restringe a uma simples troca de equipamento, mas
na maioria das vezes engloba a mudança de estrutura física, como ampliação de
cais, ou mesmo de características naturais do local, como aprofundamento e
alargamento de canais de navegação. A diferença é que em instalações novas, se
bem projetadas e estudadas, o custo de manutenção costuma ser menor, a
velocidade de acesso aos portos é maior, além de que eles já podem ser construídos
atendendo às necessidades atuais e prevendo-se o futuro das operações.
E apesar dos investimentos que
foram feitos em vários portos, muitos vêm se mostrando ineficazes ou aquém das
expectativas, como mostra o texto abaixo. Isso acaba por influenciar negativamente
a navegação marítima, e entre elas a Cabotagem.
E se há pouco tempo o governo
celebrava o aumento da Cabotagem, muito devido aos investimentos públicos
garantidos nos últimos anos, o Blog dos Mercantes também celebra o crescimento
de nosso transporte de cargas na costa, mas vem ao longo dos últimos anos
colocando os problemas que atingem o setor de navegação como um todo, e a
questão de nossa infraestrutura portuária está entre esses problemas, além de
questões burocráticas e de retro área.
Sendo assim, seguimos louvando as
boas intenções em forma de ações, que foram tomadas nos últimos anos, mas
lembramos que, mais do que boas intenções e atendimento de interesses
políticos, precisamos de planos de expansão bem embasados tecnicamente, o que evitaria
o desperdício de recursos, e um melhor atendimento aos dois setores, tanto ao
portuário, quanto à navegação.
Armadores enfrentam dificuldades
Por Fernanda Pires | Para o Valor, de
Santos
Armadores que atuam no país continuam
com sérias dificuldades de operação, apesar do aumento dos investimentos
públicos nos portos nos últimos anos. As companhias de navegação perderam 67,1
mil horas em atrasos na atracação e desatracação de seus navios nos nove primeiros
meses do ano passado, alta de 3,3% sobre o último dado disponível para o mesmo
intervalo de tempo, de 2010.
Com a piora da situação, o tempo
médio de espera por escala subiu 27,5% na mesma base de comparação - de 14,9
horas para 19 horas. Os dados são do Centro Nacional de Navegação (Centronave),
que reúne armadores de contêineres e carga geral. Mais importante que a alta é
o fato de os números permanecerem em patamares elevados. "Completamente
fora da curva", diz o diretor executivo do Centronave, Claudio Loureiro.
A associação calcula um acúmulo de
prejuízos de US$ 127 milhões, valor que envolve o custo diário dos navios e o
aluguel dos contêineres, entre outros. "Não é possível que o país se
submeta a atrasos e a custos adicionais dessa ordem sem que o comércio exterior
sofra. E ele sofre de várias formas, com custos mais altos de operação",
afirma.
O problema se concentrou nos atrasos
das atracações, responsáveis por 81% das 67,1 mil horas perdidas. Os
recordistas foram: Santos (SP), Itajaí (SC), Paranaguá (PR), Sepetiba e Rio de
Janeiro (RJ), responsáveis, no conjunto, por 82% dos atrasos nas atracações.
As razões apontadas pelo Centronave
variam de porto para porto, mas as restrições de profundidade são recorrentes,
assim como o mau tempo no Sul. Em Santos houve problemas estruturais e pontuais
em 2013. No primeiro caso pesaram a falta de profundidade adequada dos berços
de atracação e os congestionamentos nos acessos terrestres, diz a associação.
Também houve uma restrição temporária na utilização de alguns dos poucos berços
aptos a receber grandes navios. Rio de Janeiro e Itajaí também tiveram
dificuldades devido a limitações de calado.
"As dragagens, em geral, não
tiveram os resultados esperados. Paralelamente, cada vez a safra agrícola está
maior e a infraestrutura terrestre permanece a antiga", diz Miguel
Malaguerra, diretor do armador Grimaldi.
Sem poder escalar Santos, algumas empresas
decidiram ir para outros portos, mas que também não tinham condições de receber
volumes adicionais. "O sistema entrou em colapso", diz um executivo
de uma companhia que perdeu 25% das escalas programadas. Geralmente o índice
fica em 5%.
O resultado do aprofundamento do
canal de Santos, contratado pela Secretaria de Portos (SEP), também criou
limitação à navegação. Para aprofundar o canal, foi necessário diminuir a
largura de uma curva, o que dificultou a manobra de grandes embarcações.
Paralelamente, duraram apenas sete meses os benefícios do aprofundamento: o
calado operacional, ampliado em quase um metro em 2013, foi recentemente
rebaixado devido ao assoreamento.
A SEP diz que não pagou nem pagará
por serviços não executados. E que caso seja verificado o inadimplemento
contratual, poderá rescindir unilateralmente o contrato. A pasta está prestes a
lançar uma licitação para corrigir o traçado de Santos e manter a profundidade
originalmente contratada, de 15 metros. Até 2013, a quantidade de navios com
mais de 300 metros de extensão que vinha ao Brasil girava em torno de 5% da
frota empregada no país. A partir deste ano a fatia será de 25%, diz José
Roberto Salgado, gerente de operações da Hamburg Süd.
"O número de contêineres vai
crescer muito. E ainda há restrições. Navios com mais de 330 metros não podem
fazer manobras noturnas", diz. A SEP não comentou os atrasos nos portos.
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