Como todos sabem, na última quinta-feira
tivemos o início da Copa do Mundo no Brasil. Entre aqueles que apoiam, os que
são contra, e os que estão no meio termo, fato é que o evento começou, e se não
tem sido um exemplo de organização e eficiência, tem sido muito bom no quesito
esportivo e de assistência aos estádios (nunca vi estádios tão cheios em uma
Copa do Mundo).
E em meio a isso tudo vamos fazer
algumas considerações. Aqueles que nos acompanham podem ou não concordar com
elas, mas isso faz parte do jogo democrático, e é através dele que avançamos
como país e sociedade.
- O primeiro ponto é que, quando
tivemos a escolha do Brasil como sede da Copa 2014, pouquíssimas foram as vozes
que se levantaram contra. Ao contrário, boa parte da população foi às ruas
comemorar o “feito” brasileiro. Ora, claro que podemos mudar de opinião, mas
também devemos aprender a assumir e cumprir compromissos. Então, mesmo que
tenham percebido tardiamente o erro de sediar uma Copa, que ao menos colaborem
para que ela ocorra da melhor forma possível, já que a decisão de sediá-la foi
amplamente apoiada;
- As manifestações são um
processo válido e democrático. É isso mesmo, mas existem coerências e
incoerências, assim como momentos. Pedir por melhor educação, transporte,
saúde, segurança, etc. é não apenas direito dos cidadãos brasileiros, como
dever do Estado. E isso sempre. Manifestar-se contra a realização da Copa é um
ato de absurda incoerência. Esse momento passou, e foi há cerca de 8 – 9 anos
atrás, quando o Brasil começou a se mover para candidatar-se a sediar o evento;
- Estádios e obras de entorno
inacabadas, superfaturadas, etc. Isso ocorre em todos os lugares do mundo.
Desculpa? Não, fato. Mas no Brasil ocorreu em percentual maior que em outras
partes do mundo, e revoltou boa parte da população. Direito dos cidadãos ser
contra isso; obrigação de nossos governantes.
- Isenções fiscais à FIFA, seus
patrocinadores, e aos envolvidos com a realização da Copa; desapropriações e
problemas trabalhistas. Só no âmbito
federal já foram cerca de R$ 1,1 bilhão de impostos que não foram arrecadados,
mas as isenções se estendem a estados e municípios. Entre o disse-me-disse
entre FIFA e Governo Brasileiro, fato é que a FIFA teve seu maior lucro da
história (cerca de R$ 11 bi, podendo ser ampliado), e que se não cumprimos leis
brasileiras, se nosso Governo foi exageradamente generoso nas isenções fiscais,
Além disso, fizemos remoções
forçadas e exageramos em muitas coisas, que em alguns casos nem foram
completadas, isso é problema nosso, e exclusivamente nosso. A FIFA não tem nada
a ver com isso, e não pode ser responsabilizada pelos excessos cometidos por
nós mesmos. Querer, agora, imputar à FIFA e à Copa do Mundo todos os nossos
males é risível e infantil, ainda que boa parcela da população tenha abraçado
essa ideia tosca de corpo e alma.
Como vimos nosso problema não é
exatamente a FIFA ou a Copa do Mundo, e sim nós mesmos, que seguimos com a
cultura de “nossa incompetência”. Nelson Rodrigues chamou isso de “complexo de
vira-latas”, eu chamo apenas de cegueira política e social.
Porque uma vez mais dizemos que
só através do jogo democrático iremos melhorar e aperfeiçoar as formas de
prevenção, fiscalização, e punição a esses tipos de problemas.
E fazem parte do jogo democrático
as manifestações, assim como instituições fortes e voltadas a proteger o
interesse público e o cidadão, e não apenas a interesses de pequenos grupos
econômicos ou políticos.
Mas não fazem parte do jogo
democrático os golpes militares e os estados de exceção, que não servem para
nada mais do que perpetuar o que disse três parágrafos acima, através do
mascaramento de problemas e da censura àquilo que não convém aos governantes de
momento.
A Copa do Mundo da FIFA 2014 vem
sendo apenas usada como forma de disputa política interna. Isso também faz
parte do jogo democrático, mas cabe à população ter o mínimo de discernimento
para compreender esse processo, e a fazer suas escolhas de forma inteligente e
perceber onde estão os interesses.
Estou defendendo o governo e a
Copa do Mundo? Não, de forma alguma. Mas acontece que, apesar de eu ser contra
a Copa, ela está aí, e nós devemos fazer dela a melhor possível. Nos gramados
ela vem sendo muito superior às últimas, agora também devemos fazê-la superior
nas ruas. Para isso não é necessário pintar muros e calçadas, mas apenas parar
de atacar a FIFA. Ela é uma instituição capitalista, veio aqui para ganhar
dinheiro, e isso era sabido desde o início do processo que culminou com a
realização da Copa.
Nosso governo errou? Então
cobremos dele. Aproveitar a Copa para fazer pressão sobre o Governo é uma
decisão inteligente, boicotar a Copa nesse momento não passa de demagogia barata.
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