segunda-feira, 16 de junho de 2014

Blog dos Mercantes na Copa do Mundo

Como todos sabem, na última quinta-feira tivemos o início da Copa do Mundo no Brasil. Entre aqueles que apoiam, os que são contra, e os que estão no meio termo, fato é que o evento começou, e se não tem sido um exemplo de organização e eficiência, tem sido muito bom no quesito esportivo e de assistência aos estádios (nunca vi estádios tão cheios em uma Copa do Mundo).

E em meio a isso tudo vamos fazer algumas considerações. Aqueles que nos acompanham podem ou não concordar com elas, mas isso faz parte do jogo democrático, e é através dele que avançamos como país e sociedade.

- O primeiro ponto é que, quando tivemos a escolha do Brasil como sede da Copa 2014, pouquíssimas foram as vozes que se levantaram contra. Ao contrário, boa parte da população foi às ruas comemorar o “feito” brasileiro. Ora, claro que podemos mudar de opinião, mas também devemos aprender a assumir e cumprir compromissos. Então, mesmo que tenham percebido tardiamente o erro de sediar uma Copa, que ao menos colaborem para que ela ocorra da melhor forma possível, já que a decisão de sediá-la foi amplamente apoiada;

- As manifestações são um processo válido e democrático. É isso mesmo, mas existem coerências e incoerências, assim como momentos. Pedir por melhor educação, transporte, saúde, segurança, etc. é não apenas direito dos cidadãos brasileiros, como dever do Estado. E isso sempre. Manifestar-se contra a realização da Copa é um ato de absurda incoerência. Esse momento passou, e foi há cerca de 8 – 9 anos atrás, quando o Brasil começou a se mover para candidatar-se a sediar o evento;

- Estádios e obras de entorno inacabadas, superfaturadas, etc. Isso ocorre em todos os lugares do mundo. Desculpa? Não, fato. Mas no Brasil ocorreu em percentual maior que em outras partes do mundo, e revoltou boa parte da população. Direito dos cidadãos ser contra isso; obrigação de nossos governantes.

- Isenções fiscais à FIFA, seus patrocinadores, e aos envolvidos com a realização da Copa; desapropriações e problemas trabalhistas.  Só no âmbito federal já foram cerca de R$ 1,1 bilhão de impostos que não foram arrecadados, mas as isenções se estendem a estados e municípios. Entre o disse-me-disse entre FIFA e Governo Brasileiro, fato é que a FIFA teve seu maior lucro da história (cerca de R$ 11 bi, podendo ser ampliado), e que se não cumprimos leis brasileiras, se nosso Governo foi exageradamente generoso nas isenções fiscais,

Além disso, fizemos remoções forçadas e exageramos em muitas coisas, que em alguns casos nem foram completadas, isso é problema nosso, e exclusivamente nosso. A FIFA não tem nada a ver com isso, e não pode ser responsabilizada pelos excessos cometidos por nós mesmos. Querer, agora, imputar à FIFA e à Copa do Mundo todos os nossos males é risível e infantil, ainda que boa parcela da população tenha abraçado essa ideia tosca de corpo e alma.

Como vimos nosso problema não é exatamente a FIFA ou a Copa do Mundo, e sim nós mesmos, que seguimos com a cultura de “nossa incompetência”. Nelson Rodrigues chamou isso de “complexo de vira-latas”, eu chamo apenas de cegueira política e social.

Porque uma vez mais dizemos que só através do jogo democrático iremos melhorar e aperfeiçoar as formas de prevenção, fiscalização, e punição a esses tipos de problemas.

E fazem parte do jogo democrático as manifestações, assim como instituições fortes e voltadas a proteger o interesse público e o cidadão, e não apenas a interesses de pequenos grupos econômicos ou políticos.

Mas não fazem parte do jogo democrático os golpes militares e os estados de exceção, que não servem para nada mais do que perpetuar o que disse três parágrafos acima, através do mascaramento de problemas e da censura àquilo que não convém aos governantes de momento.

A Copa do Mundo da FIFA 2014 vem sendo apenas usada como forma de disputa política interna. Isso também faz parte do jogo democrático, mas cabe à população ter o mínimo de discernimento para compreender esse processo, e a fazer suas escolhas de forma inteligente e perceber onde estão os interesses.

Estou defendendo o governo e a Copa do Mundo? Não, de forma alguma. Mas acontece que, apesar de eu ser contra a Copa, ela está aí, e nós devemos fazer dela a melhor possível. Nos gramados ela vem sendo muito superior às últimas, agora também devemos fazê-la superior nas ruas. Para isso não é necessário pintar muros e calçadas, mas apenas parar de atacar a FIFA. Ela é uma instituição capitalista, veio aqui para ganhar dinheiro, e isso era sabido desde o início do processo que culminou com a realização da Copa.

Nosso governo errou? Então cobremos dele. Aproveitar a Copa para fazer pressão sobre o Governo é uma decisão inteligente, boicotar a Copa nesse momento não passa de demagogia barata.


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