É verdade, Suape vem batendo recordes de movimentação de carga. Os números aumentaram, consequência também das indústrias que se instalaram em torno do complexo portuário, e que, desde o início do projeto, estavam programadas a se instalarem por lá. Houve caso até de empresa que foi mesmo obrigada a fazê-lo por intervenção direto do governo federal.
Com o cenário acima, nada mais lógico do que o aumento na movimentação de cargas no complexo, assim como do faturamento decorrente dessa movimentação. Muito preocupante seria se o complexo portuário não crescesse economicamente.
Mas apesar do êxito econômico, Suape segue sob a pecha de ser um fator de desestabilização social em Pernambuco, tanto na questão trabalhista, quanto na questão habitacional, e até mesmo de inclusão social.
Isso porque o complexo segue com políticas anti-sindicais, além de estar desalojando muitas famílias que ocupam a área destinada ao complexo há tempos muito anteriores que o próprio complexo.
E como tudo nesse país (e em outros também), os lucros são privatizados e os problemas estatizados, ficando então a cargo do Estado arcar com os problemas trabalhistas criados com as políticas do terminal, e com as pessoas que vêm sendo desalojadas pela expansão do próprio complexo.
Suape quebra recordes em 2014, mas questão social ainda preocupa
Renan Holanda
Representantes do Complexo Industrial Portuário de Suape, no Litoral Sul pernambucano, comemoraram ontem, terça-feira (2), durante evento em um restaurante no Recife, os resultados alcançados em 2014. No ano, houve recorde na movimentação de cargas, com 15 milhões de toneladas, um aumento de 16,7% com relação a 2013, e no faturamento, que cresceu 27,8%, atingindo R$ 103,4 milhões até novembro. Na questão social, entretanto, ainda há um importante passivo a ser vencido, sobretudo na área habitacional.
Atualmente, cerca de 2,6 mil famílias vivem em condições precárias em localidades dentro do Complexo. Outras 75 famílias que enfrentavam situação semelhante na Ilha de Tatuoca, que hoje comporta os estaleiros, foram beneficiadas neste ano com a entrega do primeiro residencial por parte da administração de Suape, o Conjunto Habitacional Vila Nova Tatuoca. O investimento foi de R$ 7,5 milhões. Na zona rural, 126 famílias de agricultores que viviam na área onde irá funcionar a Companhia Siderúrgica Suape foram realocadas em um assentamento no município de Barreiros, na Mata Sul.
"Mais três engenhos, que totalizam 1,8 mil hectares, vão virar reassentamentos rurais. Ainda está sendo feito o desenho, o loteamento, vamos ter que abrir as vias. Ainda tem que trabalhar para ser entregue", relata o vice-presidente do Complexo de Suape, Caio Ramos. Além disso, a administração trabalha na construção do Conjunto Habitacional Nova Vila Claudete, cuja terraplenagem já começou para a construção de 2.620 casas pelo programa Minha Casa Minha Vida. As residências serão destinadas justamente a famílias que ainda enfrentam condições precárias de habitação, moradores de Zonas de Proteção Ambiental em invasões dentro do terreno de Suape.
As casas devem ser entregues até 2016, junto com a consolidação de outras oito comunidades do entorno: Vila Suape, Vila Nova Tatuoca, Vila Nazaré, Vila Cepôvo, Vila Claudete, Gaibu e Massangana I e II. O projeto total vai custar R$ 235 milhões e irá beneficiar diretamente 6,8 mil famílias. A consolidação das comunidades inclui melhorias sociais e de infraestrutura. "São escolas, equipamentos urbanos, além de um projeto social que acompanha os moradores desde o início da obra até o período de adaptação", explica Caio Ramos.
A questão da desmobilização da mão de obra após a conclusão de grandes empreendimentos, ainda que não seja um assunto de competência direta da administração de Suape, também preocupa. O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico e presidente de Suape, Márcio Stefanni, destacou que o governo tem, na medida do possível, tentado amenizar "as externalidades negativas do crescimento". Nesta terça, por exemplo, o governador João Lyra Neto se comprometeu a tentar interceder pelos trabalhadores que prestaram serviço na construção da Refinaria Abreu e Lima.
"Por maiores que tenham sido os protestos [de trabalhadores], foram menores que, por exemplo, Belo Monte, Jirau, Santo Antônio [usinas]. Nós continuamos tendo diálogo com os sindicatos, com as empresas, e procuramos minimizar. É importante enfatizar que nós estamos assistindo, no sentido de dar assistência, enquanto canal de interlocução. No entanto, não há muito que o Estado de Pernambuco possa fazer", pondera Stefanni.
Recordes
No quesito operacional, o Complexo de Suape só tem a comemorar os resultados de 2014. Além dos recordes na movimentação de cargas e arrecadação, o porto também registrou uma ampliação de 15,39% da área alfandegada, atingindo 607,2 mil metros quadrados, além do início da operação do Entreposto da Zona Franca de Manaus, em Ipojuca. Quatro novos empreendimentos iniciaram as operações no ano: a concessionária Rota do Atlântico, a fábrica espanhola de reatores Aguilar y Salas, a planta de PET da Petroquímica Suape e a Cristal PET.
Para 2015, outras quatro empresas devem começar a operar. São elas a Central PET, Iraeta (energia eólica), Selmi (alimentação) e CBMC (cimento). Márcio Stefanni afirma que a chegada de novos empreendimentos não só gera emprego e renda, como também promove uma contrapartida de investimentos em inovação, condicionante da política estadual de isenção fiscal.
No próximo ano também há expectativa de um reajuste nas tarifas das operações públicas do Complexo, congeladas desde 2000. O projeto está em análise por parte do governo federal. Esse reajuste, que deve chegar a uma média de 6%, não vai atingir todo tipo de carga, pois várias possuem contratos de arrendamento. A operação de contêineres também não será afetada. "Não fosse o aumento expressivo da movimentação de cargas, do volume, o faturamento do Porto não atenderia as necessidades que ele tem da sua sobrevivência", conta Stefanni.