quinta-feira, 12 de março de 2015

Petróleo no Brasil

Vejam que interessante a reportagem abaixo veiculada pelo Valor Econômico. Nela vemos algumas coisas muito características e que são comumente atacadas no Brasil de forma torpe e pouco inteligente. São três pontos básicos que vamos comentar de forma rápida, mas são três pontos cruciais e que estão em debate – nem sempre honesta – no Brasil.

O primeiro ponto é a questão do petróleo brasileiro não ser rentável e que seu custo de extração ser muito alto. Então porque a empresa norueguesa Statoil estaria reduzindo investimentos em várias partes do mundo, mas vai mantê-los no Brasil?

O segundo ponto é a questão do privado/estatal. Alguém observou que a Statoil é estatal? Mas estatais não são sempre empresas deficitárias e mal geridas?

O terceiro é uma questão que afeta diretamente à Petrobrás, e ao seu novo presidente. Alguém observou que o presidente da estatal norueguesa é um cientista político, que não é engenheiro ou algo do gênero? Por que os noruegueses, que são tido como “gênios” nesse setor, fazem tais coisas?

Boas perguntas, que já foram respondidas no Blog dos Mercantes várias vezes. E as respostas são simples, mas caíram numa discussão infrutífera (e entreguista) em nosso país, de forma que paramos de pensar na solução de nossos problemas para ficar discutindo o sexo dos anjos.

O petróleo brasileiro é viável, ainda mais em um mundo onde suas reservas se exaurem dia a dia, e onde a matriz energética principal permanece sendo a do ouro negro. A Statoil é estatal porque não há divergência entre empresas estatais ou privadas, mas sim entre bem ou mal geridas. As duas coisas não estão interligadas. E por último a gestão de uma empresa de petróleo não precisa ser necessariamente feita por um engenheiro, mas sim por quem entenda de gestão.

Não digo com isso que não devemos discutir decisões, muito menos aceita-las sem qualquer tipo de reação, mas apenas que temos que ter argumentos melhores para discuti-las, argumentos esses que levem em conta a qualidade e capacidade das pessoas e ações tomadas, e não que sejam carregadas de ideologias infrutíferas.

Valor Econômico – Reportagem – 02/03/2015

Statoil corta aportes, mas preserva Brasil

Cláudia Schüffner e André Ramalho


O Brasil está longe dos planos de redução dos investimentos anunciados pela Statoil há algumas semanas, em Oslo, na Noruega. A empresa decidiu cortar 10% do seu investimento global em 2015, dos US$ 20 bilhões previstos inicialmente para US$ 18 bilhões. O objetivo da estatal norueguesa é diminuir custos para não afetar suas margens diante da redução dos preços do petróleo, explicou o novo presidente da Statoil Brasil, Päl Eitrheim, em entrevista exclusiva para o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.

Mesmo assim, estão mantidos os investimentos previstos para a segunda fase do desenvolvimento da produção no campo de Peregrino, na Bacia de Campos, cujo objetivo é alongar a vida útil do ativo. O projeto deve exigir, até o fim da década, US$ 3,5 bilhões em sociedade com a chinesa Sinochem, que detém uma fatia de 40% na área.

Observador atento dos desdobramentos da Operação Lava-Jato, que alcançou notoriedade mundial, Eitrheim afirma que o que se apresenta é um cenário "muito desafiador" para indústria brasileira de óleo e gás. O executivo, contudo, avalia que ainda é difícil dimensionar as consequências das investigações que colocaram a Petrobras no centro de um escândalo de corrupção. "Nada disso muda a nossa visão de longo prazo. E o Brasil é estratégico para a Statoil", disse Eitrheim, que chegou ao Rio em meados do ano passado.

O novo presidente da companhia no Brasil afirmou, inclusive, que não descarta a participação da empresa num futuro leilão de novas áreas Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), caso algum deles seja marcado para este ano.

Eitrheim deixou claro que a Statoil será seletiva com seus projetos, mas que o Brasil deve ser preservado. O executivo tem formação incomum. Em um mundo dominado por engenheiros e geólogos ele é formado em Ciências Políticas pela Universidade de Bergen, na Noruega, e a University College Dublin, na Irlanda. Foi chefe de gabinete do icônico Helge Lund, ex-presidente da Statoil e que assumiu a presidência do grupo BG.

A queda abrupta dos preços do petróleo, a partir do segundo semestre do ano passado, pegou a Statoil em um momento em que ela já tinha colocado em marcha um programa de redução de custos. A queda do preço da commodity apenas provoca uma redução das margens, o que exigirá mais eficiência em atividades como a perfuração e produção de petróleo. Como é esperada a paralisação de projetos ao redor do mundo que têm ponto de equilíbrio acima dos atuais preços do óleo, a indústria, e não só a Statoil, poderá aproveitar o desaquecimento do setor para negociar melhores preços de bens e serviços, o que ajudará a reduzir custos.

"O balanço entre oferta e demanda vai fazer os preços do mercado caírem, até porque as margens serão reduzidas. Essa é a nossa expectativa. Estamos convidando fornecedores, não só no Brasil, para discutir os custos a partir de simplificações e padronização de projetos", exemplificou.

No quarto trimestre do ano passado, a norueguesa reportou um prejuízo de US$ 1,18 bilhão, revertendo o lucro de US$ 2 bilhões em igual período de 2013. A empresa, no entanto, fechou 2014 com um lucro acumulado de US$ 3,484 bilhões.

No fim de janeiro, a empresa entregou à ANP o novo plano de desenvolvimento de Peregrino, com uma previsão de perfuração de 21 novos poços, sendo 15 produtores de óleo e seis injetores de água. O objetivo dos investimentos é alongar a vida útil do campo, a maior produção de petróleo e gás da Statoil como operadora fora da Noruega.

Com uma participação de 60% na concessão, a petroleira norueguesa produziu cerca de 73 mil barris de óleo por dia em dezembro. Com a nova fase de produção, a Statoil prevê adicionar cerca de 250 milhões de barris recuperáveis às suas reservas. Peregrino tem um histórico de mais de 90 milhões de barris produzidos desde o primeiro óleo, em abril de 2011.

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