terça-feira, 7 de abril de 2015

Para que?

Mês passado circulou a notícia de que a estatal brasileira do petróleo pensa em vender parte de seus navios, como forma de fazer caixa e amenizar a crise financeira que assola a empresa devido aos desvios de conduta de vários de seus dirigentes, e erros operacionais que se constatam nos últimos tempos. 

O Blog dos Mercantes é veemente contra tal solução para os problemas de fluxo de caixa da empresa, pois que tal ideia não é apenas infeliz, mas também não surtiria os efeitos necessários para amenizar a crise financeira, já que a vendas desses ativos renderia em torno de 2% do valor necessário para equacionar as contas, além de causar outros efeitos, que facilmente poderiam se tornar custos mais altos para a estatal.

O preço para a sociedade e o país já foram várias vezes citados aqui no Blog, e vão desde o aumento dos problemas na balança comercial, passando pela queda da competitividade internacional de vários setores econômicos, dentre eles a Marinha Mercante, e afetando diretamente algumas classes de trabalhadores, como os marítimos.

De quebra esses problemas se ramificam por outros setores econômicos, já que tais efeitos são sempre em cascata.

A Petrobrás já conseguiu US$ 3,5 bi em empréstimos na China, o que deve dar um ótimo respiro para a empresa, e dar tempo de se trabalhar e reestruturar a companhia.

No offshore, área majoritária da produção de petróleo da maior empresa brasileira, os contratos vêm sendo encerrados e unidades param suas produções - falaremos disso em post nos próximos dias. Mas mesmo assim acreditamos que as coisas comecem a melhorar ainda esse ano, já que a Petrobrás é fundamental na economia brasileira e virou questão de honra para o governo Dilma tirá-la do atoleiro em que a meteram.

Mas as soluções para a crise financeira devem ser mais criativas e, sobretudo, mais inteligentes do que essa apresentada agora.


Monitor Mercantil/Net Marinha – Reportagem – 13/03/2015

Marítimos denunciam venda em massa de navios da Transpetro

Sérgio Barreto Motta


O Sindicato Nacional dos Oficiais de Marinha Mercante (Sindmar) denunciou que, a pretexto de reduzir custos, a Transpetro cogita vender boa parte de sua frota. A Transpetro já chegou a ter mais de 70 navios próprios e, no momento, estaria com cerca da metade desse número. A uma consulta formal sobre a frota, a subsidiária da Petrobras informou apenas que “opera” 53 navios, sem discriminar quais são próprios ou de terceiros. De acordo com o Sindmar, a alegação para a venda de inúmeros navios é a de que isso geraria recursos à vista para o combalido sistema Petrobras/Transpetro, e o gasto posterior seria diluído, pois o aluguel (afretamento) é pago mensalmente.

O Sindmar refuta essa tese, porque os atuais navios estão envelhecidos e renderiam pouco no mercado internacional. Além disso, o afretamento é pago em dólares – que tem tendência de alta a curto e médio prazo. Alguns navios mais novos, como Cartola e Ataulfo Alves, dão lucro diário de US$ 50 mil e, portanto, não seria sábio vendê-los. Outro ponto é a corrupção. O afretamento de navios é fechado no mercado internacional, onde fica praticamente impossível se detectar se houve propina. No caso de compra de um navio no mercado interno, a operação é mais vigiada. No caso de afretamento, o montante é menor – difícil de ser apurado – mas pago ao longo do contrato, que pode durar dez anos ou mais.

A descoberta dessa intenção de venda pela Transpetro mostra que os dois programas de modernização de frota (Promefs), efetuados a partir de 2003, com a encomenda de 46 navios, dificilmente serão repetidos. Por pretensa medida de economia, a estatal foca o afretamento, como ocorreu no período de 1994/2002, no governo do PSDB, quando nenhum navio foi comprado no país pela Transpetro. Do Promef, a estatal já recebeu oito navios feitos no Brasil e, este ano, deverá chegar a 15 novos em sua frota.

Um documento do Sindmar lembra que, em 2013, o país gastou US$ 6,1 bilhões com afretamento, valor que seguramente aumentou em 2014. “Hoje a marinha mercante brasileira está restrita à navegação de cabotagem (entre os portos nacionais), sem qualquer participação significativa no longo curso, segmento dominado pelos armadores internacionais”, alerta. Para o Sindmar, o afretamento em larga escala é feito de forma simulada, com burla à legislação, alvo recente da Resolução Normativa 1/2015 da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Para o Sindmar, é “distorção que decorre da falta de uma política para o setor”.

Para Severino Almeida, presidente do Sindmar, embora a encomenda de petroleiros tenha sido positiva, não se tem notícia da construção de navios porta-contêineres, básicos para o comércio internacional. Almeida defende um Promef para a marinha mercante voltada ao comércio de bens, não apenas da área de petróleo. E conclui:

– A Marinha Mercante brasileira não pode ser vítima dos interesses da construção naval. Se a indústria naval está voltada para o setor de óleo e gás, porque é mais lucrativo, a marinha mercante nacional não pode estar subordinada a este interesse, sob o risco de desaparecer, como já está ocorrendo – disse o dirigente.

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