A chamada "Operação Lava-Jato" vem fazendo verdadeira devassa nos negócios celebrados pela Petrobrás no últimos anos, e quanto mais ela investiga, mais "irregularidades" encontra nos negócios da estatal brasileira. Agora o sonho de consumo de boa parte dos DPs brasileiros aparece também "envolvida" nos esquemas.
Culpa dos últimos 12 anos de governo? Claro que não! Seguramente isso é muito anterior. Aqui mesmo, no Blog dos Mercantes, já mostramos que na década de 90 já se faziam denúncias sobre superfaturamento, devios, etc. Mas só agora está sendo investigado.
Esperamos que essas investigações sejam realmente aprofundadas, que os responsáveis sejam severa e exemplamente punidos, que o dinheiro desviado retorne aos cofres da estatal, e que esta se recupere rapidamente das dificuldades pelas quais passa no momento, podendo a voltar a operar com normalidade, e dentro de padrões normais de mercado.
O país agradecerá.
Estadão Conteúdo – Reportagem – 01/06/2015
Navio-sonda Votória encalha na lava-jato
Construído para operar na extração de petróleo em águas profundas, o navio-sonda Vitória 10000 saiu da Coreia do Sul, em 2010, e atravessou o Oceano Índico em direção ao ambicioso projeto do pré-sal brasileiro. Cinco anos depois dessa viagem, ele está encalhado no meio do escândalo de propinas deflagrado pela Operação Lava Jato no Brasil.
A auditoria que está vasculhando a vida da Petrobras atrás de irregularidades mostra que não só houve um sobrepreço na contratação do estaleiro coreano Samsung Heavy para construir o navio, o que já havia sido delatado na Lava Jato, como foi além e colocou também sob suspeita a contratação do grupo Schahin, que passa por sérias dificuldades financeiras, como operador da sonda.
"A escolha da Schahin foi discricionária", diz o relatório. "A empresa deixou de honrar pagamentos e solicitou receber bônus por performance antecipadamente para liquidar suas obrigações", continua o texto. E segue mencionando "ausência de processo competitivo"; "o argumento de que a Schahin tinha os melhores índices operacionais não se confirmou pelos documentos de avaliação do período"; "os bônus de 15% eram mais altos que os praticados e com parâmetros mais fáceis de serem atingidos"; "reajustes acima dos índices de preços".
Nos contratos, segundo relato da auditoria da Petrobras entregue à força-tarefa da Lava Jato, a Schahin foi financiada pela estatal para comprar o navio que pertencia à própria empresa e simultaneamente ainda assinou um contrato em que receberia US$ 1,6 bilhão pelos serviços prestados.
É como se você comprasse um carro de luxo e quisesse ter um serviço de chofer. Em vez de contratar um motorista, acaba vendendo o carro ao vizinho. Como ele não tem dinheiro para pagar à vista, fica acertado que o pagamento será em 12 vezes.
Nesse mesmo período, ele passa a ser seu chofer cobrando duas taxas: uma pelo serviço de motorista e outra pelo aluguel do carro. O valor da prestação que ele lhe deve, no entanto, é metade do quanto recebe de você por mês pelas duas taxas. No fim das contas, ao fim deste período de um ano, ele fica com o carro e ainda ganha com as taxas que cobrou.
Foi praticamente essa a operação que a Petrobras fez com o grupo Schahin. O problema, segundo o relatório da auditoria, é que, ao longo do tempo, a Schain deixou de honrar os pagamentos e ainda solicitou receber bônus por performance antecipadamente. Bônus estes que eram maiores que o de mercado e que, segundo a companhia, gerariam um sobrepreço de US$ 79 milhões em dez anos.
A Schahin nega que tenha deixado de honrar qualquer compromisso e diz que não recebeu empréstimo da Petrobras. A operação de leasing, no entanto, é uma fonte de financiamento. A Schahin disse ainda em nota que "foi operação celebrada em condições absolutamente de mercado, espelhando operação anterior contratada pela Petrobras com a empresa americana Transocean". Esse contrato, no entanto, também está na auditoria da estatal sob suspeita. A companhia não quis comentar.
Neste ano, a Schahin entrou em processo de recuperação judicial. O único ativo relevante do processo é justamente o Vitória 10000, e a Petrobras figura como a maior credora, com US$ 700 milhões a receber.
Os bancos Itaú, HSBC e Votorantim têm outros US$ 400 milhões, pois financiaram o capital de giro do navio. As outras cinco sondas da Schahin estão fora do processo, mas suas dívidas de R$ 6 bilhões estão sendo também renegociadas. Na semana passada, a Petrobras rescindiu unilateralmente os contratos destas sondas. O site Tráfego Marítimo diz que o Vitória 10000 está parado, em alto mar, na costa brasileira.
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