Reservas de mercado são necessárias, principalmente quando a concorrência é desleal. De qualquer forma hoje falamos das bandeiras dos países, onde se utilizam mão de obra nacional, treinada e qualificada, o que é estratégico para qualquer país que queira ter garantia da continuidade do seu comércio internacional, ou mesmo nacional.
Além disso as afirmativas do Syndarma sobre isso são corretíssimas. num primeiro momento caem os fretes, num segundo eles sobem acima do que se cobra no momento, perdendo todos os interessados dos dois países, armadores, exportadores, importadores e trabalhadores.
Isso já foi visto e comentado aqui no Blog dos Mercantes, e fica claro em nosso comércio com a África, que se vê muito prejudicado devido a falta de uma frota mercante nacional, capaz de manter nosso comércio com esse continente. Isso se reflete de forma danosa sobre exportadores e trabalhadores brasileiros, que tiveram mercado restringido, e postos de trabalhos fechados.
Atenção para não darmos outro tiro no pé, pensando apenas em ganhos imediatos.
Valor Econômico – Reportagem – 25/08/2016
Acordo de
transporte marítimo com Chile gera disputa entre empresários
no Brasil
Francisco Góes
Um acordo de transporte marítimo
em vigor há mais de 40 anos entre Brasil e Chile tornou-se alvo de disputa
entre as confederações nacionais da indústria e da agricultura - CNI e CNA -,
que querem revogá-lo, e os armadores nacionais, favoráveis à sua
manutenção, mesmo que com ajustes.
A discussão foi levada ao
governo e deve haver decisão sobre o tema a curto prazo.
O que esta em jogo é o interesse
da indústria e da agricultura em promover a abertura dessa rota marítima, o
que reduziria fretes e aumentaria a demanda, dizem. CNI e CNA afirmam que
os custos logísticos no trecho Brasil-Chile são mais altos do que em rotas
marítimas semelhantes.
O Sindicato Nacional das
Empresas de Navegação Marítima (Syndarma) discorda dessa tese. "O fim
do acordo vai ser péssimo para nós, pois empresas de navegação brasileiras
vão perder um mercado importante, mas também será ruim para eles [indústria
e agronegócio] pois a entrada de companhias internacionais de navegação
nesse serviço pode até baixar os fretes em um primeiro momento, mas será
inevitável um aumento [nesses fretes] mais adiante", disse Luís
Fernando Resano, vice-presidente executivo do Syndarma.
Segundo o Syndarma, acordos
internacionais, como o assinado com o Chile, são "gravosos" à
Constituição e, portanto, sua revogação teria que passar pelo Congresso
Nacional. A CNI entende que essa tramitação só seria necessária na
aprovação do acordo.
O governo federal, a quem cabe
tomar a decisão sobre o assunto, ainda não se pronunciou. Em nota, o
Ministério das Relações Exteriores afirmou: "O Itamaraty concluiu um
parecer técnico sobre o tema, que deverá subsidiar a futura decisão do
ministro [José Serra] sobre o interesse brasileiro em manter ou não o
acordo".
O acordo de transporte marítimo
entre Brasil e Chile é de 1975. Assegura a preferência a empresas
brasileiras e chilenas para cargas transportadas entre os dois países. Há
duas empresas fazendo a rota: uma de bandeira brasileira, a Aliança
Navegação e Logística, do grupo alemão Hamburg Süd, e uma de bandeira
chilena, a CSAV, do também alemão Hapag Lloyd. As duas empresas mantêm
serviço semanal entre Brasil e Chile com oito navios com capacidade média
por embarcação de 3.450 TEUs (contêiner equivalente a 20 pés). A rota é
feita via estreito de Magalhães, no sul da América do Sul.
O trecho entre os portos de
Santos (SP) e San Antonio, no Chile, é feito em 12 dias. Serviços
concorrentes via canal de Panamá levam entre 31 e 33 dias. O acordo prevê
mecanismo de "waiver" (dispensa), que permite a participação de
armadores de terceiras bandeiras quando não houver disponibilidade das
companhias dos dois países para transportar as cargas.
Diego Bonomo, gerente-executivo
de comércio exterior da CNI, disse que o acordo cria "duopólio"
com reserva de mercado. Segundo ele, a entidade tem a expectativa que o
conselho de ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex) tome decisão
pela "denúncia" (revogação) do acordo.
Bonomo disse que a CNI recebeu
relatos de setores sobre os altos custos logísticos na rota Brasil-Chile, o
que levou a entidade a pedir ao governo a "denúncia" do acordo.
Entre esses setores, estão automotivo, máquinas e equipamentos, cerâmica,
papel e celulose, cosméticos e metais. "Nosso ponto", afirma
Bonomo, " é que o acordo onera o comércio exterior brasileiro e
queremos garantir situação de igualdade entre armadores e usuários".
Elisangela Lopes, assessora
técnica da CNA, disse que a revogação do acordo será favorável para
consumidores e prestadores do serviço. "Há setores interessados em
utilizar o serviço e não o fazem por falta de competitividade." Citou
os setores de carne bovina e papel.
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