quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Democracia ou ditadura?

Vejam bem, antes de tudo volto a afirmar que sou contra a candidatura de Lula, mas entendo e defendo o direito de Lula se candidatar. É importante lembrar que vejo uma nova eleição de Lula como um desserviço ao país e a ele mesmo.

Isto dito, mais uma vez explicarei o porquê. As conjunturas nacionais e internacionais não são as mesmas de sua primeira passagem pelo governo. Ele diz que fará as mesmas coisas de novo. O remédio não surtirá efeito, primeiro porque a doença é outra, segundo porque o corpo está muito debilitado. Não vai dar certo. Sobre negociação, Lula vai deixar tudo como está, desde que permitam que umas políticas sociais compensatórias sejam novamente implementadas, à custa de impostos sobre uma já sobrecarregada classe média. Essa vai ser a negociação dele.

Até porque não há espaço para grandes negociações, porque uma das primeiras providências, caso alguém de esquerda assuma o governo, é coordenar uma profunda e séria investigação sobre todos os golpistas, processar e prender quem de direito. Implementar reformas reais no Estado, cobrando de quem pode pagar, e acabando com as castas instaladas no país (república é algo muito diferente do que acontece aqui). E essas coisas a princípio não serão feitas com negociações, mas com pulso firme, porque as reações serão muitas e fortes.

Mas Lula poderia manter seu prestígio de grande líder popular, e apoiar alguém de esquerda que estivesse disposto a partir para essa quebra de privilégios, que atrasa o desenvolvimento do país, mantém milhões de brasileiros na pobreza e miséria, e tira as esperanças e perspectivas de futuro para a maior parte da nova geração que está aí.

O PT não tem ninguém com essas características e disposição, nem mesmo Lula. Mas a esquerda tem. É hora de o PT abrir mão de seu projeto de poder e pensar um pouco no país.

Sendo assim, discordo de Aragão, embora entenda que Lula sofre perseguição política.


Aragão: Golpe levará à convulsão social!

Há uma saída negociada: ela se chama Lula!
publicado 06/01/2018
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Conversa Afiada reproduz da magnífica edição da Carta Capital trechos de agudo artigo de Eugênio Aragão, Ministro da Justiça da Presidenta Dilma (ela acertou por último...):
(...)

Ao se aumentar a massa dos que pretendem votar em Lula, o roteiro dos golpistas tende a nos aproximar criticamente da convulsão social. Mesmo com a mídia trabalhando diuturnamente para iludir a chamada “opinião pública”, será inevitável sentir-se na própria pele o colapso da qualidade de vida de milhões de brasileiros. E isso será água no moinho da candidatura democrática.

A resposta dos golpistas à disseminação da insatisfação e ao crescimento do eleitorado pró-Lula vai ser policial e judicial, com maior criminalização de movimentos sociais e inviabilização completa da candidatura de Lula. Haverá ataques maciços a seu partido, o PT. A resposta do abismo é mais abismo, até o limite do sustentável pela repressão. Abissus abissum invocat.

Mas sempre é bom lembrar duas coisas: uma, como já dizia Lafayette, pode-se fazer muitas coisas com baionetas, menos sentar-se em cima delas; outra, a história é um processo contínuo e sua marcha é inexorável; quanto mais se reprime, mais a resposta será dura. Senão hoje, amanhã ou depois. Por isso, a saída negociada ainda é a que oferece menos riscos e pode desembocar num cenário de transição mais suave. Lula é essa saída. Fechá-la é abrir espaço para o descontrole do processo político, que vitimizará, em primeiro lugar, os repressores e seus instigadores.

2018 será inegavelmente um divisor de águas. Ou se conseguirá seguir na restituição da democracia pelo voto livre, ou se aprofundará o esgarçamento do tecido institucional, com a tentação de se usar vias alternativas para desalojar do poder quem dele vem se servindo contra os interesses da maioria das brasileiras e dos brasileiros. A segunda opção não pode ser descartada se as instituições continuarem a ignorar a vontade política da Nação. E, desta vez, não será a mídia que logrará engambelar as massas para impedir sua marcha pela devolução da dignidade ao Brasil.

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