sábado, 17 de fevereiro de 2018

Intervenção militar no Rio de Janeiro

Quem acompanha o Blog dos Mercantes sabe que não é costume aqui do blogueiro, tratar de temas mais sérios aos sábados ou períodos festivos, como os das Festas Natalinas e o Carnaval, assim como não o faço nos finais de semana, mas a decisão anunciada pelo usurpador na sexta-feira, dia 16/02/2018, é tão importante e impactante, que não há como adiar um comentário. Não há paralelo na história, e o resultado disso é absolutamente incerto. Vamos ver o porquê.

O primeiro ponto é que o Rio de Janeiro convive com níveis absurdos e alarmantes de violência urbana há muitos anos. É verdade que por pouco menos de uma década esse nível se manteve estável, mas ele jamais deixou de existir. Assaltos, roubos, arrastões, guerras de gangues, milícias, assassinatos, tudo sempre esteve presente, e nunca foi combatido da forma correta como deveria.

O segundo ponto é que o Rio de Janeiro e sua região metropolitana vêm, há pelo menos 4 décadas, a tentativa de contenção da violência através de ações violentas. A incursão das polícias nas favelas, os cercos, os "pentes-finos", tudo isso é cotidiano na região desde a década de 80. Isso nunca chegou nem perto de resolver o problema.

O terceiro ponto é que o exército já convive no cotidiano da região metropolitana do Rio de Janeiro há alguns meses. Na Rocinha, em São Gonçalo, e em mais alguns pontos onde a violência tem sido observada como mais frequente. Pois bem, a presença das forças armadas em nada ajudou a resolver o problema. Não conteve a guerra de gangues na Rocinha, nem a ação de milicianos em outras áreas, os arrastões e/ou conflitos entre facções e milicianos.

O quarto ponto é que o Rio não é a única área metropolitana problemática (nem a pior) em termos de violência. São Paulo, Fortaleza, Curitiba, Vitória, enfim, todas as cidades grandes do país, também sofrem com esse problema, e se o aperto sobre os cariocas for muito grande, é possível que parte dos que causam essa violência se mudem para outras cidades, apenas elevando ainda mais esses índices em outros pontos do país. Isso porque é sabido que os grupos de criminosos mantém contato e muitas vezes se auxiliam. E aí? Vamos deslocar as forças armadas para essas outras áreas, iniciando uma "brincadeirinha" de gato e rato? Vamos acionar as forças armadas locais?

O quinto ponto seria uma suposta "licença para matar", embutida no decreto de temer, quando diz "tomar as medidas que achar necessárias", para reduzir a violência na capital. Pois bem, caso a ideia seja essa gostaria de lembrar duas coisas, primeiro que não estarão atirando em alvos, mas em pessoas, tão bem ou melhor armadas que as  forças de segurança, e que não se deixarão abater sem revide. Segundo é que ainda que os números de vítimas possam estar nos níveis de uma guerra civil, a situação não é a mesma, mas pode vir a se tornar, caso seja mal administrada.

O sexto ponto que gostaria de salientar é que, apesar de guardarem algumas semelhanças, as situações do Rio de Janeiro e do Haiti são completamente distintas. A começar pela população, que aqui é maior e está condensada numa área menor. A economia do Rio de Janeiro é também mais complexa, mais importante e diferente do Haiti, a população do Rio está mesclada, com amplos setores de classe média, e mesmo alta, próximas aos bolsões de pobreza, o que sempre provocou problemas sérios quando dos confrontos entre as forças de segurança e facções criminosas.

E para concluir o sétimo ponto, já que me parece muito significativo que tal medida tenha sido tomada logo após o Carnaval, período em que esperavam que a população apenas se entregasse à folia, esquecendo as mazelas neoliberais impostas. Mas ao invés disso tivemos protestos organizados na Sapucaí, onde nada menos que 3 escolas vieram com enredos altamente politizados e contestatórios contra os governos das 3 esferas, ou os protestos podem ter sido também espontâneos, como na invasão do Santos Dumont, em que os foliões tomaram o saguão principal do aeroporto para gritar contra os governantes, ou durante os desfiles de rua, onde também se ouviram os gritos de protesto.

Ou o General Walter Braga Netto tira coelho de sua cartola, ou tem tudo para essa brincadeira do usurpador piorar o horrível.


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