Se nossa última postagem o Coldplay fez um ótimo cover do Oasis, agora ganhou uma palhinha de Shakira. Também ao vivo, também muito bom.
sábado, 30 de junho de 2018
sexta-feira, 29 de junho de 2018
E não é que está havendo Copa do Mundo?
Eu vejo os jogos que posso. Isso de ser contra é uma grande, enorme bobagem mesmo.
E a Copa passa rápido, tão rápido que já terminamos a "confraternização de entrada", e ficaram apenas os "chefes" para decidirem o "grande cappo" do futebol.
Agora começam os mata-mata, e as emoções aumentam.
Agora começam os mata-mata, e as emoções aumentam.
quinta-feira, 28 de junho de 2018
Neoliberalismo destruindo o país
Apesar de agonizante, desde pela forma como assumiu o poder, passando pelo fato de estar executando uma agenda rejeitada seguidamente pela população, e pelo fato de estar em final de mandato, o governo do deus mercado está claudicante. Interessante que não satisfeito, o deus mercado tenta de todas as formas avalizar novo golpe sobre a população, com a introdução do parlamentarismo (Carmen Lúcia), ou do semi-parlamentarismo (Gilmar Mendes).
Mas apesar de essas tentativas de golpe não conseguirem espaço para avançar, o governo golpista e usurpador segue tentando dilapidar a base que pode alavancar novo ciclo de desenvolvimento ao país. Bancos públicos, Energia, Universidades e Ensino, Pesquisa. Tudo sendo dilapidado, ou destruído sem a menor cerimônia.
A verdade é que a greve dos caminhoneiros foi ocasional, muito mais provocada pelo absurdo preço do combustível devido a metodologia aplicada pelo governo golpista, do que efetivamente por uma conscientização da população.
Esperemos que tenhamos eleições, e que alguém realmente comprometido com o desenvolvimento do país e com o bem-estar da população venha a vencê-las.
Agora, contar com a própria população para garantir tais feitos, não acredito que seja o caso.
O editorial da Carta Capital, abaixo, não está completo, e como sempre basta clicar no título para acessar o artigo diretamente no site.
Política
Opinião
O desmonte da economia nacional: muito mais que uma ópera bufa
O governo, agônico, é duplamente ilegítimo: deriva de uma fraude e executa um programa econômico rejeitado quatro vezes pelo eleitorado
Marcelo Camargo/Agência Brasil
'Michel Temer, nosso pato manco, já chegou à Presidência como mamulengo, ator sem voz própria'
Os norte-americanos grafaram a expressão lame duck (pato manco) para designar o presidente que já está com os dias contados no cargo e nele permanece guardando a cadeira de seu sucessor. Poder esvaziado, nada mais lhe sobra senão arrumar as gavetas.Normalmente, esse esvaziamento se observa entre as eleições e a posse do novo presidente, quando o antigo titular vê crescer a grama na soleira de seu gabinete. É também um período de vácuo, pois o novo presidente é, ainda, apenas uma potência de poder.Michel Temer, nosso pato manco, porém, já chegou à Presidência como mamulengo, ator sem voz própria, tentando desempenhar papel escrito pelos deuses do mercado. Foi sempre um farsante empolado, falso jurista e falso intelectual, sem brilho, sem carisma, sem liderança, sem voto, um intruso rejeitado pela opinião pública, que lhe dedica desprezo e rejeição em níveis até aqui inéditos.O presidencialismo, qual o praticamos desde 1889, não se compadece com a ausência de poder, e hoje o atual presidente é um mero estorvo – que, no entanto, em face das circunstâncias, e tendo em vista as expectativas que se criam com as eleições de outubro próximo, precisará continuar fazendo de contas que ainda preside a República, conduzindo solenidades e fugindo do contato popular.A quatro meses de eleições distantes de qualquer resolução (quando nem o quadro das candidaturas está definido, à direita e à esquerda), a seis meses da transmissão do cargo ao qual ascendeu ilegitimamente, Michel Temer é mera figuração na farsa da presidência tomada de assalto em 2016.A peça que nos é impingida por uma governança ilegítima, seria apenas uma ópera bufa, encenada e cantada por atores menores, não vivêssemos, quase sem reação, o planejado desmonte da economia nacional, a destruição de nossa soberania, o desmonte da escola pública e da universidade, e, nela, da ciência e da tecnologia, as restrições aos direitos trabalhistas, a desindustrialização e o desemprego, a depredação do Estado, o fim da proteção social, em síntese, uma deliberada política de terra arrasada.Leia também:Fica o pato manco, porque manco, mas a destruição do país precisa ser contida.O governo, agônico, é duplamente ilegítimo, porque tanto deriva de uma fraude, o golpe do impeachment, quanto executa (sob o comando do mercado e em aliança com um Congresso em fim de mandato) programa econômico rejeitado pelo eleitorado em quatro pleitos presidenciais sucessivos.Mas, não obstante a irrelevância do presidente, prossegue a súcia no desmonte da economia. Em pleno agravamento da crise interna (política e econômica), e surda e cega diante dos anúncios da crise internacional, insiste na privatização da Eletrobras e na fragilização dos bancos públicos, a começar pelo BNDES, nossa principal agência de desenvolvimento.Ainda é cedo para o inventário dos desdobramentos da greve-locaute de caminhoneiros, mas, de logo, deve-se tributar a essa quase insurreição a denúncia da incompatibilidade do neoliberalismo com os interesses nacionais.A Petrobras pode ser um bom ‘estudo de caso’.A tal propósito, nada mais exemplar do que a administração do Dr. Pedro Parente, cuja herança, de par com o desfolhamento dos ativos da Petrobras, deixa, ainda intocada, uma política de preços que majora os custos internos da produção e os preços ao consumidor, levando o desassossego a uma população de mais de duzentos milhões de pessoas, depois de penalizar dois milhões de caminhoneiros, entre autônomos e assalariados.Para a greve dos caminhoneiros, vitoriosa inclusive do ponto de vista político, independentemente de seus objetivos originais, muito concorreu o apoio da população, tão importante quanto a logística em que se apoiou o movimento paredista, oferecendo caminhos e lições para quem quiser aprender com a experiência, o que justifica o pânico que tomou conta do Planalto e suas adjacências.
quarta-feira, 27 de junho de 2018
Roda Viva | Manuela D'Ávila | 25/06/2018
Muita polêmica em cima da entrevista de Manuela D'Ávila ao Roda Viva. A equipe de entrevistadores era medíocre, e Manuela, a meu ver, não soube escapar da mediocridade de seus entrevistadores. Da mesma fora que em outras oportunidades, a entrevista foi concentrada sobre temas de gênero e ideologia, mas passou tangencialmente em temas muito mais importantes, como crise econômica e desenvolvimento do país.
Cabia a Manuela D'Ávila tomar as rédeas da entrevista, impedir que a entrevista descambasse para temas importantes, mas não centrais, porque dessa forma a "mídia" constrói uma imagem de uma candidata de gueto eleitoral, uma representante de pensamentos feministas e de uma ideologia ultrapassada.
Apesar de ela não ter temido seus sabatinadores, não soube escapar das armadilhas por eles colocadas. Muito por ter se portado na defensiva, mas também por lhe faltar alguns dados. Um exemplo é de quando colocou aumento de impostos dos ricos, e diminuição dos pobres. Quando foi confrontada não soube colocar de forma evidente que isso aumentaria a recadação, nem como o faria. A resposta foi tênue. Da mesma forma não soube encurralar o representante da extrema direita quando confrontada quanto a feminismo, estrupro, etc.
Para quem não entendeu isso, precisam dar uma lidinha em Maquiavel e seu "O Príncipe". O ideal é que o príncipe seja amado, mas se não for amado precisa ser temido. Ela não foi nenhuma das duas coisas, ainda que ela tenha ótimas intensões. Ela precisa de mais consistência.
Quanto a ela ter sido mais interrompida que Ciro, que ela teria sido mais atacada que Ciro, por favor, assistam às entrevistas novamente. Eles tentaram fazer o mesmo com Ciro (como a Jovem Pan também tentou), tentaram desestabiliza-lo, tentaram desacredita-lo, mas ele tinha dados, consistência, e ainda reagiu com a mesma intensidade com que foi atacado, às vezes com mais força, enquanto ela não. Ao contrário, ela em muitos momentos deixou-se ser desacreditada, demonstrou falta de informações. Exemplo, quando se falou de Embrapa. Ela tinha que ter dados, e não podia ter deixado o entrevistador perguntar e responder. E enquanto ele apresentou dados, ela não. Ficou no ar, como muitas das respostas.
A propósito, o Roda Viva piora ano a ano. A bancada de entrevistadores era péssima, despreparada e ideologicamente alinhada contra a entrevistada. Uma das piores entrevistas que já vi na vida, onde se via muito mais disputa ideológica na base do achismo do que posições baseadas em fatos. Quanto a Lula, porque ela não pediu para eles apresentarem uma prova?
Lamento dizer isso a seus admiradores, mas ela não está pronta, mas seria ótima governadora do RS. Ela só reagiu tardiamente, mas aí já tinha perdido as rédeas do encontro.
Lamento dizer isso a seus admiradores, mas ela não está pronta, mas seria ótima governadora do RS. Ela só reagiu tardiamente, mas aí já tinha perdido as rédeas do encontro.
terça-feira, 26 de junho de 2018
Manuela D'Ávila quer união das esquerdas
Muito boa a entrevista de Manuela D'Ávila. Longa, mas construtiva e altruísta. Vale a pena ler, ou passear pelos vídeos espalhados pelo texto. Manuela mostrou assertividade, mas também mostrou pouco jogo de cintura em algumas perguntas, como por exemplo, quando é perguntada sobre aborto.
Mas a meu ver a entrevista foi boicotada pelos entrevistadores, que reduziram o papel da pré-candidata a uma "guru de costumes". Não que alguns temas não sejam importantes, como o de gênero ou maior idade penal, mas os principais temas do momento foram evitados, como a Lava jato tendenciosa, a brutal crise econômica que assola o país, ou o processo acelerado de desindustrialização (para esse tema clique aqui), ou a submissão do país a potências estrangeiras sem justificativa, descompasso econômico que impede crescimento, etc. Manuela até tocou levemente nesses temas, mas pegando ganchos com perguntas que atendiam a interesses exclusivamente de quem provoca esse caos, como privatização da Petrobrás, ou mercado financeiro.
No fim fica claro que Manuela poderia ter sido mais explorada, e que a entrevista foi conduzida de forma a retrata-la como uma simples ativista de direitos de minorias, com ideias exóticas.
As saídas momentâneas desse script foram graças a própria Manuela, mas ela não conseguiu fugir da armadilha, Tal qual Boulos, mostra potencial, mas mostra que ainda não tem a experiência necessária.
Manuela D´Ávila: “Se a minha candidatura é óbice à união das esquerdas, eu a retiro”
Enquanto segue na corrida eleitoral, Manuela D’Ávila (PCdoB) defende a taxação de fortunas e heranças, e propõe uma polêmica cobrança de impostos sobre a venda de drogas
Germano Oliveira e Tábata Viapiana
A deputada estadual pelo PCdoB do Rio Grande do Sul, Manuela D’Ávila, de 36 anos, é a mais jovem candidata à presidência da República. Mas essa sempre foi uma constante em sua vida. Começou a militar politicamente no movimento estudantil ainda aos 16 anos e, de lá para cá, não parou mais. Filiou-se ao PCdoB com 21 anos e logo aos 23 se elegeu como a mais nova vereadora da história de Porto Alegre. Ainda disputou a prefeitura da capital por duas vezes (em 2008 e 2012). Em 2012, já eleita deputada federal, chegou a ficar à frente nas pesquisas, mas em setembro foi ultrapassada por José Fortunati (MDB), que se elegeu ainda no primeiro turno. Por isso, já calejada por tropeços eleitorais do passado, ela não teme uma eventual falta de competitividade de sua candidatura, que patina e tende a não alçar vôos mais altos. O importante para ela é a defesa de suas bandeiras. “Precisamos transformar essa eleição num debate de alternativas para superar a crise”, disse em entrevista à ISTOÉ. Para demonstrar seu desapego, Manuela até admite abrir mão da corrida ao Planalto. “Se a minha candidatura é óbice à união das esquerdas, eu a retiro”, afirma. Desde, no entanto, que a saída de cena resolva o problema de unidade de seu campo político. “Nos retirando, apresentamos uma solução para a unidade da esquerda brasileira?”, voltou a indagar.
Enquanto segue no páreo, sem receio de ir até o fim, mesmo que lhe custe uma eleição praticamente certa ao governo do Rio Grande do Sul, seu estado, Manuela desfia suas ideias. A candidata do PCdoB promete, caso seja eleita, taxar as grandes fortunas e heranças. Outra proposta recheada de polêmica é a cobrança de impostos sobre a venda de drogas, como a maconha, cuja arrecadação seria aplicada nas comunidades que sofrem, segundo ela, com a guerra do tráfico.
Qual a sua opinião sobre a Lei da Ficha Limpa? Em que momento a lei deve começar a valer?
Mas essa questão já não está colocada, que é a partir de uma condenação em segunda instância? Temos que debater no Brasil se as decisões valem em segunda instância ou ao término de todas instâncias. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal adotou um entendimento para outro conjunto de questões. Então acho que é a hora de a gente debater do ponto de vista da legislação mesmo. Como deputada, votei pela Ficha Limpa.
sábado, 23 de junho de 2018
Coldplay - Don't Look Back in Anger [LIVE MANCHESTER]
O Cold Play acabou, o Oasis também, mas antes o Cold Play teve tempo de fazer esse maravilhoso cover do Oasis.
quinta-feira, 21 de junho de 2018
Parece piada, mas não é.
Fernando Henrique Cardoso, chamado por muitos como o "Príncipe da Privataria Tucana", publicou artigo no jornal Estado de São Paulo falando de combate a corrupção, evitar fisiologismo, ter em vista os interesses populares, assumiu a ilegitimidade de Temer, e ainda disse que o próximo presidente precisa ter uma política voltada a criação de empregos em tempos de globalização.
Vejam bem, logo ele que praticou tudo o que condenou, apoiou e foi um dos arquitetos do golpe, arrasou a economia brasileira e quebrou o país 3 vezes no seu governo, e por último indicou Pedro Parente para a presidência da Petrobras.
É muita cara-de-pau.
FHC ADMITE GOLPE CONTRA DILMA E APONTA QUE TEMER CHEGOU AO FIM
Responsável por indicar Pedro Parente para executar o desmonte da Petrobras, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirma que o governo de Michel Temer acabou; "Nada de significativo será alcançado sem que uma liderança embasada no voto e crente na democracia seja capaz de dar resposta aos atuais desafios econômicos e morais", diz FHC em artigo neste domingo, 3; traduzindo, o tucano reconhece que Temer é ilegítimo e resultado de um golpe; ou, como diz ele, de um "impeachment baseado em arranhões de normas constitucionais"
3 DE JUNHO DE 2018 ÀS 10:29 // INSCREVA-SE NA TV 247
247 - Responsável por indicar Pedro Parente para executar o desmonte da Petrobras, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirma que o governo de Michel Temer acabou.
"Dificilmente o governo atual, dada a sua origem e o encrespamento político havido, conseguirá pouco mais do que colocar esparadrapos nas feridas. Nada de significativo será alcançado sem que uma liderança embasada no voto e crente na democracia seja capaz de dar resposta aos atuais desafios econômicos e morais", diz FHC em artigo neste domingo, 3, no jornal O Estado de S. Paulo.
Traduzindo, o tucano reconhece que Temer é ilegítimo e resultado de um golpe. Ou como diz ele, de um "impeachment baseado em arranhões de normas constitucionais".
Leia, abaixo o artigo na íntegra:
Decifra-me ou te devoro
A semana que acabou ontem foi plena de tensão, demonstrando a quem não percebera antes a profundidade das dissensões que vêm de há muito tempo
A semana que acabou ontem foi plena de tensão, demonstrando a quem não percebera antes a profundidade das dissensões que vêm de há muito tempo. As incongruências da política econômica dos governos de Lula e Dilma, em sua fase final, já haviam levado a economia à paralisação e o sistema político a deixar de processar decisões. Daí o impeachment do último governo, ainda que baseado em arranhões de normas constitucionais.
Todo impeachment é traumático. Fui ministro de um governo que resultou de um impeachment, o do presidente Itamar Franco. Este, com sabedoria, percebeu logo que precisaria de um Ministério representativo do conjunto das forças políticas. Como o PT, que apoiara o impeachment do presidente Collor, se recusava a assumir responsabilidades de governo (com olho eleitoral), Itamar conseguiu a aceitação de uma pasta por Luiza Erundina, então no PT. Mesmo eu, eleito presidente por maioria absoluta no primeiro turno sem precisar buscar o apoio do PT, tive como um de meus ministros um ex-secretário-geral do PT.
De lá para cá os tempos mudaram. A possibilidade de algum tipo de convivência democrática, facilitada pela estabilização econômica graças ao Plano Real, que tornou a população menos antigoverno quando viu em marcha uma política econômica que beneficiaria a todos, foi substituída por um estilo de política baseado no "nós", os supostamente bons, e "eles", os maus. Isso somado ao descalabro das contas públicas herdado pelo governo atual, mais o desemprego facilitado pela desordem financeira governamental, levou a uma exacerbação das demandas e à desmoralização dos partidos. A Lava Jato, ao desnudar as bases apodrecidas do financiamento partidário pelo uso da máquina estatal em conivência com empresas para extrair dinheiro público em obras sobrefaturadas (além do enriquecimento pessoal), desconectou a sociedade das instituições políticas e desnudou a degenerescência em que o País vivia.
A dita "greve" dos caminhoneiros veio servir uma vez mais para ignição de algo que estava já com gasolina derramada: produziu um contágio com a sociedade, que, sem saber bem das causas e da razoabilidade ou não do protesto, aderiu, caladamente, à paralisação ocorrida. Só quando seus efeitos no abastecimento de combustíveis e de bens essenciais ao consumo e mesmo à vida, no caso dos hospitais, se tornaram patentes houve a aceitação, também tácita, da necessidade de uma ação mais enérgica para retomar a normalidade.
Mas que ninguém se engane: é uma normalidade aparente. As causas da insatisfação continuam, tanto as econômicas como as políticas, que levam na melhor das hipóteses à abstenção eleitoral e ao repúdio de "tudo o que aí está". Portanto, o governo e as elites políticas, de esquerda, do centro ou da direita, que se cuidem, a crise é profunda. Assim como o governo Itamar buscou sinais de coesão política e deu resposta aos desafios econômicos do período, urge agora algo semelhante.
Dificilmente o governo atual, dada a sua origem e o encrespamento político havido, conseguirá pouco mais do que colocar esparadrapos nas feridas. Nada de significativo será alcançado sem que uma liderança embasada no voto e crente na democracia seja capaz de dar resposta aos atuais desafios econômicos e morais. Não há milagres, o sistema democrático-representativo não se baseia na "união política", senão que na divergência dirimida pelas urnas. Só sairemos da enrascada se a nova liderança for capaz de apelar para o que possa unir a Nação: finanças públicas saudáveis e políticas adequadas, taxas razoáveis de crescimento que gerem emprego, confiança e decência na vida pública.
É por isso que há algum tempo venho pregando a união entre os setores progressistas (que entendam o mundo e a sociedade contemporâneos), que tenham uma inclinação popular (que saibam que, além do emprego, é preciso reduzir as desigualdades), que se deem conta de que o mundo não mais funciona top/down, mas que "os de baixo" são parte do conjunto que forma a Nação, e que, em vez de se proporem a "salvar a pátria", devem conduzi-la no rumo que atenda, democraticamente, com liberdade, aos interesses do povo e do País.
Não se trata de formar uma aliança eleitoral apenas, muito menos de fortalecer o dito "centrão", um conjunto de siglas que mais querem o poder para se assenhorearem de vantagens do que se unir por um programa para o País. Nas democracias é natural que os partidos divirjam quando as eleições majoritárias se dão em dois turnos, quando os "blocos sociais e políticos" podem ter mais de uma expressão partidária. Mas é preciso criar um clima que permita convergência. E, uma vez no caminho e no exercício do poder, quem represente esse "bloco" precisará ter a sensibilidade necessária para unir os que dele se aproximam e afastar o risco maior: o do populismo, principalmente quando já vem abertamente revestido de um formato autoritário.
Na quadra atual, entre o desemprego e a violência cada vez mais assustadora do crime organizado, a perda de confiança nas instituições é um incentivo ao autoritarismo. O bloco proposto deve se opor abertamente a isso. Não basta defender a democracia e as instituições, é preciso torná-las facilitadoras da obtenção das demandas do povo, saber governar, não ser leniente com a corrupção e entender que sem as novas tecnologias não há como atender às demandas populares crescentes. E, principalmente, criar um clima de confiança que permita investimento e difundir a noção de que num mundo globalizado de pouco vale dar as costas a ele.
Tudo isso requer liderança e "fulanização". Quem, sem ser caudilho, será capaz de iluminar um caminho comum para os brasileiros? "Decifra-me ou te devoro", como nos mitos antigos.
*SOCIÓLOGO, FOI PRESIDENTE DA REPÚBLICA
terça-feira, 19 de junho de 2018
A visão externa sobre Lula e o Brasil
Interessantíssima a entrevista com Jean-Jacques Kourliandsky, O pesquisador do IRIS (Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas), e que é responsável pela América Latina no Instituto, dá uma aula de política e de entendimento do mundo atual. Infelizmente às vezes é antagônico, como quando analisa e critica a idade dos "representantes da Frente de Esquerda Uruguaia", ou da esquerda chilena. Aí quando fala de Lula, se esquece de que ele está na mesmíssima faixa etária, e que tampouco soube, ou quis, criar sucessores para seu legado.
Isso mostra que tem amplo domínio sobre o macro cenário da política latinoamericana e mundial, mas se perde quando analisa os desdobramentos da micro política. Isso fica explícito ao assumir alinhamento com o PT, que deve ser a fonte em que bebe da política brasileira, como também pelo distanciamento físico e pela amplidão de sua área de pesquisa. A América Latina é tão grande quanto diferente entre suas inúmeras regiões.
Ai vem seu erro em relação à micro política. Ciro Gomes jamais deixou de ser solidário a Lula, Ciro Gomes jamais deixou de apoiar Lula quanto a sua prisão arbitrária, mas isso não significa cometer um suicídio político, isso não significa deixar de apontar seus erros, e muito menos parar sua vida para defender Lula. Claro que Ciro disse que sem Lula a eleição se torna aberta. Não somente por ele, mas porque as forças de direita também deixam de estarem submetidas ao acirramento que a presença do líder petista provoca. Por último Ciro afirmou que sua candidatura depende somente da indicação de seu partido, mas que não gostaria de concorrer contra Lula, justamente pelo acirramento de paixões que sua presença provoca.
Outro ponto muito interessante é o desaparecimento do Brasil como nação do cenário mundial. Depois de ser o "queridinho" do mundo na primeira década do século, o país caiu durante os governos Dilma, e desapareceu durante o desgoverno do usurpador. De um líder regional ativo e que ganhava espaço e importância globalmente, o Brasil simplesmente deixou de ser considerado, tornando-se um mero penduricalho de outras potências mundiais.
E isso é apenas constatação factual.
A entrevista é longa, mas vale ser lida na íntegra. O link está no título da matéria abaixo.
Um país que não perdeu a relevância, mas a existência internacional. Para Jean-Jacques Kourliandsky, 70, foi isso que aconteceu com o Brasil. O historiador aponta além da ruptura de política externa, o agravamento da crise interna, com mais desemprego, violência e à beira de ser comandado pela extrema direita. Segundo ele, o cenário atual era inimaginável dois anos atrás, mas é um produto da campanha midiática contra a política e de uma justiça que funciona a duas velocidades, lenta demais com as lideranças de direita; muito rápida e severa com a esquerda. A prisão de Lula, afirma, é parte fundamental desse processo.
A judicialização da política, aponta, é o nova tática da direita para tomar o poder, não só no Brasil, mas em diversos países do mundo. Pesquisador no IRIS (Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas) e responsável pelo Observatório da América Latina da Fundação Jean-Jaurès, financiada em grande parte pelo Estado francês, ele me recebe na fundação política, de corrente socialista, localizada no bairro de Pigalle, em Paris, um lugar cheio de crianças, adolescentes, turistas, artistas, e onde fica o Moulin Rouge. O que é fundamental para a esquerda na “democracia de exceção” que se tornou o Brasil? Ele responde nessa entrevista.
DCM – Por que você se interessou em estudar o Brasil e a América Latina ao longo de sua vida?
Jean-Jacques Kourliandsky – Ele veio pela Espanha. Eu nasci no sudoeste da França, perto da fronteira espanhola. Então eu e meus amigos da faculdade íamos com frequência à Espanha para festejar. Nessas ocasiões, eu encontrava uruguaios, refugiados, que me procuravam. Eles sabiam que naquele momento eu trabalhava em Paris. Eles queriam a minha ajuda para constituir um comitê de apoio para libertar o general Liber Seregni, que foi o primeiro presidente da Frente Ampla do Uruguai. Naquela época, nos anos 1979, 1980, os estrangeiros não podiam presidir ONGs. Eles precisavam de alguém um pouco idiota (risos), que não conhecesse bem o Uruguai, para presidir esse comitê.
Foi o que eu fiz, por dois ou três anos. Progressivamente, eu saí da minha inocência. Eu pesquisei sobre o Uruguai, estudei. Comecei a escrever. A partir desse momento, além do Uruguai, fui à Argentina, ao Paraguai, ao Brasil, ao Chile. Praticamente todo ano, passei cinco ou seis semanas em um país diferente. Eu tenho uma formação universitária, mas nesse caso, me formei um pouco como um jornalista, um autodidata. Tentei ter um conhecimento pessoal, sem ter apoio um apoio específico. Como eu não tinha os meios financeiros para conhecer a América Latina, eu busquei a mídia, o IRIS, para fazer pesquisa, para poder pagar parte dessas viagens. Então, ao longo dos anos, fui umas vinte vezes ao Brasil, à Argentina, ao México, à Colômbia…
Por que você diz que eles precisavam de um “idiota” para presidir a Comissão?
Na Frente Ampla, há mais de 20 partidos diferentes. Eles têm um modo de funcionamento particular. Eles conseguem chegar a um consenso. Mas antes do consenso, tem muita disputa. Então, não era para os franceses se misturarem a essas disputas. Era necessário um francês que nao soubesse de nada (risos).
Por que o Brasil é um país decisivo, segundo a Fundação Jean-Jaurès?
Independentemente do interlocutor na França, o Brasil é considerado de uma forma diferente da República Dominicana ou de El Salvador. Éum estado que, pelo seu tamanho, suas potencialidades, interessam muitas pessoas na França e na Europa. É uma questão de escala. Em relação àqueles que estão na corrente progressista, o nascimento da CUT, o nascimento do PT foram sempre acompanhados com muita atenção aqui. Houve o orçamento participativo em Porto Alegre; a corrente dos cristãos de esquerda, a Teoria da Libertação; o Movimento dos Sem Terra; há muitas coisas que fazem com que diferentes correntes de esquerda se interessem pelo Brasil. No campo econômico, as empresas certamente se interessam pelo Brasil, porque tem 200 milhões de habitantes. Aos diplomatas interessa porque o Brasil é quase 40% da América Latina. Há razões objetivas, ideológicas, econômicas, geográficas, há muitos vieses possíveis para despertar o interesse dos não brasileiros. Não quero fazer nenhum comentário desmerecedor, mas há mais razões que os façam se interessar pelo Brasil do que pelos países da América Central ou pelo Paraguai.
sábado, 16 de junho de 2018
quinta-feira, 14 de junho de 2018
"O Brasil não é para amadores"
A frase que dá título a este post tem sido repetida por Ciro Gomes, mas não sei de quem a autoria, já que é dita e adaptada por vários através dos tempos. Mas apesar de importante, a autoria não vem exatamente ao caso, já que importa seu conteúdo.
Ciro vem fazendo um caminho interessantíssimo. Não abre espaço para negociações escusas, mas não fecha caminhos de negociação e alianças. A diferença é que busca fazer tais alianças em torno de ideias e projetos de nação, ao invés de fisiologismo e projetos de poder. Se dará certo ou não saberemos a futuro, mas pela primeira vez vejo alguém com real projeção mantendo esse tipo de discurso, e também de postura.
Celso Rocha de Barros também vê isso.
Ciro está jogando como profissional
O pré-candidato fez dois lances que, se derem certo, podem lhe dar a Presidência
Até o momento, nenhum candidato nas eleições presidenciais de 2018 jogou tão bem com as cartas que tinha na mão quanto Ciro Gomes.
As cartas que recebeu da sorte eram, diga-se, bem ruins. Se Lula fosse candidato, Ciro entraria na disputa como nanico. Seu partido não é grande o suficiente para lhe oferecer muita coisa em termos de tempo de TV ou dinheiro do fundo partidário.
E, no entanto, desde o início do ano, Ciro tem dado sorte, e tem sabido aproveitá-la.
Sua campanha começou, efetivamente, quando Lula foi preso. A maior parte do legado de Lula ainda está em disputa, mas Ciro conseguiu atrair lulistas suficientes para empatar tecnicamente com Alckmin no segundo pelotão, logo depois de Bolsonaro e Marina.
Pouco depois, foi um dos beneficiados pela desistência de Joaquim Barbosa, um candidato de temperamento semelhante que também concorreria pela centro-esquerda.
E Ciro fez duas jogadas que, se derem certo, podem lhe dar a presidência.
A primeira foi manter distância do discurso petista contra a Lava Jato. Ciro não tem contra si acusações de corrupção. Em 2018, depois da Lava Jato, é uma tremenda vantagem, talvez a única carta boa que Ciro tinha desde o início. Se Ciro comprar o discurso “a Lava Jato é uma mentira”, está abdicando dessa vantagem. Por que faria isso? Lula jamais faria, se estivesse na mesma situação.
Enquanto isso, Ciro espera que os apoios petistas venham naturalmente. Os governadores petistas vêm namorando o pedetista. A última coisa que desejam, no momento, é ir para o martírio em protesto contra a prisão do ex-presidente Lula. Precisam fazer alianças, precisam ter candidato a presidente, e Ciro parece uma alternativa razoável.
Essa aproximação também é importante por outro motivo: o discurso atual do PT é bastante radical, e muito incentivado pelos candidatos a deputado petistas. Os governadores não têm o menor interesse nisso, e, em suas administrações, têm feito ajustes fiscais significativos. Se a disputa entre parlamentares e governadores petistas se acirrar, Ciro pode sair ganhando.
Por outro lado, Ciro já declarou que não fará aliança com o PMDB. Nós aqui, eu, você, lemos isso como “Opa, aqueles picaretas todos do Temer vão sair do governo!”.
Mas os picaretas do baixo clero (PP, Solidariedade, etc.) ouvem isso e pensam: “Opa, aqueles cargos todos que estão com o PMDB podem vir pra gente!”.
Talvez Ciro não lhes deixe roubar, mas o Centrão se pergunta se não vale a pena testar isso. Também se pergunta a mesma coisa com relação a Bolsonaro.
O fato é que, ao contrário de Marina, Ciro tem disposição para negociar com os partidos políticos tradicionais brasileiros, que devem manter sua maioria no Congresso no ano que vem.
Tudo isso pode dar errado, e Ciro pode ficar pelo caminho. Se os governadores petistas ameaçarem romper com o PT, Lula vai ter que mudar sua estratégia. Alckmin e/ou Temer devem ter meios para pressionar o Centrão.
Mas persiste o fato: na turma da frente, só Bolsonaro, Marina e Ciro estão fora da Lava Jato. E, entre esses, só Ciro Gomes está jogando como profissional. O que ainda não sabemos é o quanto isso vale em 2018, quando o ceticismo popular com relação ao próprio jogo é intenso. Duvido que não valha nada.
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