terça-feira, 30 de outubro de 2018

Exército não é polícia

A reportagem do "The Economist" esqueceu de mencionar três coisas importantíssimas. A primeira é que transformar as forças armadas nacionais de Estados menores em polícias é um projeto norte-americano, e tem por motivação desmobilizar a capacidade de defesa desses Estados.

A segunda coisa é que em todas as experiências em que as forças armadas foram usadas como polícia de forma muito constante ou muito repetidamente em curto período de tempo, houve contaminação das mesmas, não apenas por corrupção, mas também porque parte significativamente importante das tropas vêm das áreas mais pobres, e por isso mesmo mais sujeitas a estarem em contato direto e constante com o crime organizado, ou ao menos nos bolsões onde seus braços armados atuam.

Por último o exército brasileiro (ou ao menos parte de sua liderança) tem voltado a se manifestar politicamente, algo que não lhe compete. Ou seja, está servindo como fonte de instabilidade político-econômica. Tem sido assim por mais de um século, mas não deveria.




The Economist: para que serve o exército brasileiro?

Revista britânica investiga para que o Brasil tem o 15º maior exército do mundo se não participa de guerras

São Paulo – O Brasil tem o 15º maior exército do mundo e gasta mais com defesa do que o estado de Israel. No entanto, o país não tem inimigos militares há séculos.
Na edição de 6 de julho, a revista britânica The Economist decidiu investigar esse aparente paradoxo do aparelho militar brasileiro.
E descobriu que as forças armadas têm se tornado, cada vez mais, forças policiais comuns. E a crise econômica tem um papel central nesse fenômeno: com os estados sem dinheiro, os governantes têm precisado de mais e mais socorro federal.
Embora apenas 20% dos pedidos de patrulhamento extra sejam atendidos, segundo a reportagem, os soldados do exército passaram em média 100 dias em operações nas cidades, mais do que a média dos nove anos anteriores juntos.
Esse desvio de função, de acordo com a revista, não parece desagradar os brasileiros: os militares foram eleitos como a instituição mais confiável do país, e os soldados são vistos como honestos, gentis e competentes.
Os soldados, por sua vez, tentam se adaptar às novas funções: em um centro de treinamento em Campinas (SP), eles testam bombas de gás lacrimogêneo, por exemplo, para poder usá-las em protestos.
No entanto, usar militares em funções policiais tem seus riscos, segundo a publicação. Para começar: soldados custam mais caro que policiais. O uso de alguns milhares de militares pode sair por mais de um milhão de reais, segundo a revista.
Além disso, a Economist alerta que a confiança irrestrita nas forças armadas é antidemocrática. “As tropas são treinadas para emergências, não para manter a ordem no dia-a-dia. E transformar um recurso emergencial em presença cotidiana pode minar a confiança da população nas instituições civis”, diz a reportagem.
O próprio exército tem outras aspirações. Um rascunho do próximo relatório de defesa fala pouco em “ameaças”, mas muito em “capacidades desejáveis”, diz a Economist.
Um dos focos principais do documento é a proteção das riquezas naturais do Brasil, o que pode se tornar crucial se as previsões pessimistas sobre o aquecimento global se mostrarem corretas.

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