sábado, 6 de outubro de 2018

PSDB faz autocrítica

A patética tentativa de Geraldo Alkimin em desligar o PSDB do golpe de 2016 e do posterior governo do usurpador é claramente desmontada por Tarso Jereissati, em entrevista ao jornal Estado de São Paulo. O mea-culpa foi interessante, mas já traz o germe de outro mea culpa a ser feito a médio prazo.

Explico: na mesma entrevista em que elenca os principais erros do PSDB (houve outros bastante graves também) nos últimos, Tasso diz que Ciro é outro daquele que ele catapultou à política nacional nos já distantes anos 80. Ora, Ciro é um dos mais leais ao próprio ponto de vista que já vi. Sua dança de partidos é resumida na busca de um partido que se adeque às sua visão de país, de mundo, sem necessariamente que seja fechada. Por isso deixou o PSDB, o PSB, etc. Todos esses partidos alteraram profundamente aquilo que prometiam, quando foram colocar essas promessas em prática. Ele parece ter encontrado isso no PDT, e o partido mantendo a mesma linha ideológica, dificilmente haverá uma nova saída do político cearense.

Nesse sentido o apoio do PT a Eunício Oliveira é veementemente atacado por Ciro, mesmo seu irmão Cid Gomes fazendo parte do apoio. Ciro por sua vez rejeita o apoio do Presidente do Senado, e já deixou isso muito claro em várias entrevistas, se recusando, inclusive, a subir no mesmo palanque que o Senador. Quem terá que explicar a incongruência de querer apoiar 2 candidatos ao mesmo tempo não é Ciro, mas o governador Camilo Santana.

Por fim a inconsistência da candidatura Alkimin, que mesmo com o latifúndio televisivo, não consegue desbancar o sem-tempo Bolsonaro.

Óbvio que, tanto o ataque a Ciro, quanto o apoio a Alkimin são por interesses políticos, mas isso não qualifica os erros cometidos em uma entrevista que se pretendia de análises francas e sóbrias.

Abaixo a entrevista com Tasso Jereissati.


Tasso Jereissati: ‘Nosso grande erro foi ter entrado no governo Temer’

Ex-presidente do PSDB diz que ‘conjunto de erros memoráveis’ prejudica partido nas eleições

Pedro Venceslau - O Estado de S.Paulo

13 Setembro 2018 | 05h00

ENVIADO ESPECIAL / FORTALEZA - O senador Tasso Jereissati, ex-presidente nacional do PSDB e presidente do Instituto Teotônio Vilela, braço teórico do partido, disse ao Estado que os tucanos cometeram um “conjunto de erros memoráveis” após a eleição de Dilma Rousseff, com reflexos para o próprio PSDB nas eleições deste ano.
'As pessoas estão vendo mal o PSDB', afirma Tasso
'As pessoas estão vendo mal o PSDB', afirma TassoFoto: JARBAS OLIVEIRA/ESTADÃO
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Como o sr. avalia a trajetória recente do PSDB?
O partido cometeu um conjunto de erros memoráveis. O primeiro foi questionar o resultado eleitoral. Começou no dia seguinte (à eleição). Não é da nossa história e do nosso perfil. Não questionamos as instituições, respeitamos a democracia. O segundo erro foi votar contra princípios básicos nossos, sobretudo na economia, só para ser contra o PT. Mas o grande erro, e boa parte do PSDB se opôs a isso, foi entrar no governo Temer. Foi a gota d’água, junto com os problemas do Aécio (Neves). Fomos engolidos pela tentação do poder.
Qual o impacto da gravação da conversa entre Aécio e Joesley Batista (dono da JBS, em que acertam repasse de R$ 2 milhões para pagar advogados do tucano)?
Altíssimo. Esse episódio simboliza todo esse desgaste que tivemos. Desde o dia seguinte à eleição da Dilma, quando fomos questionar o resultado, o símbolo mais eloquente para a população foi o episódio do Aécio. Ele deveria ter se afastado logo da presidência do PSDB.
O ex-governador Geraldo Alckmin ainda não decolou nas pesquisas, apesar de ter mais tempo de TV. Qual sua avaliação?
Até a última pesquisa ninguém se deslocou muito. O próprio (Jair) Bolsonaro subiu um pouco depois do atentado em Juiz de Fora, mas não muito. Com a saída do Lula, parte dos votos dele migrou para outros candidatos, mas principalmente para o (Fernando) Haddad, que foi quem mais cresceu olhando em média as duas pesquisas mais recentes. A partir de agora, com a saída definitiva do Lula do cenário eleitoral, vamos ter, realmente, uma mudança mais consistente no comportamento do eleitorado.
Acredita que o PSDB já deve apelar ao voto útil para levar Geraldo Alckmin ao segundo turno?
Acredito que sim. E agora. Tem muito antipetista votando no Bolsonaro porque não quer a volta do PT.
Como a prisão do ex-governador Beto Richa e a operação da Polícia Federal de busca contra o governador Reinaldo Azambuja, ambos tucanos, também prejudicam a campanha do Alckmin?
Prejudica, sem dúvida. Mas boa parte disso está no preço. O desgaste do PSDB começa a partir dos episódios da gravação do Aécio. Começou ali e continuou. Como nós não tomamos as medidas necessárias naquele cenário, era previsível que o desgaste do PSDB iria perdurar e teria consequências graves nas eleições. O desgaste do PSDB vem dali. As pessoas estão vendo mal o PSDB.
Qual o tratamento que o PSDB deve dar a Beto Richa?
Não confrontamos nem questionamos decisões judiciais. Nem passamos a mão na cabeça de quem a Justiça considera culpado. Tendo culpa, tem que pagar.
Com tudo isso, quais as chances de Alckmin aqui no Nordeste?
Aqui no Ceará é mais difícil que no Nordeste de uma maneira geral. Além do Lula, que inegavelmente é muito popular, temos o Ciro (Gomes, do PDT), que é cearense. Mas ele (Alckmin) tem possibilidade de crescer. Não será um crescimento que supere o Lula ou Ciro, mas deve ter um porcentual maior.
O sr. lançou o Ciro na política. Como avalia o papel do pedetista nesta campanha?
O Ciro de hoje é muito diferente do Ciro de ontem. Ele traçou o caminho dele, que eu discordo. Aqui no Ceará ele está sendo profundamente inconsistente e incoerente com sua trajetória política. A mais feroz das críticas dele é dirigida do MDB. Aqui, no Ceará, ele e o presidente do Senado (Eunício Oliveira) estão unidos.
Acredita em uma transferência forte de votos do Lula para o Haddad no Ceará?

Essa é a grande questão. Aqui você tem no mesmo palanque do governador do PT (Camilo Santana) 99% dos prefeitos, a máquina e o apoio do governo federal. Eunício é o homem do Temer aqui, e ele está ajudando o Camilo. Qualquer nomeação federal aqui passa por ele. Tem político ligado a nós que, de repente, foi para o lado de lá. O candidato majoritário é PT. Como ele vai fazer? Essa é a pergunta que fica no ar. Com Lula era fácil. Mas, e agora que o Haddad é o candidato oficial? O PT não tem estrutura forte aqui. Quem tem é o grupo dos irmãos Ferreira Gomes. Camilo vai fazer campanha para o Haddad? Fica essa hipocrisia e os petistas fazem vista grossa.

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