O trecho abaixo foi retirado do artigo do El País, escrito por Eliane Brum. O trecho tem link para duas matérias do El País. A principal é o artigo onde o trecho está contido, e uma outra, que está em negrito e itálico, fala da intervenção militar na segurança do Rio durante o (des)governo de Temer. Farei apenas algumas poucas considerações ao texto principal, mas que considero extremamente pertinentes.
Todo o texto de Brum é perfeito, e a consideração que faço é a simples, e explica o motivo de vivermos de golpes e tentativas de golpes o tempo todo. A começar dos motivos que levaram à nossa "independência" de Portugal. Nessa época o país era dominado por grandes latifundiários, que apenas buscavam tirar a intermediação da Metrópole dos seus negócios agro-exportadores. Café no Sudeste, açúcar no Nordeste deram o apoio decisivo ao processo.
Passadas algumas décadas tínhamos no poder um Imperador que mostrava vies moderno, que dentro das possibilidades da época buscava diversificar nossa economia, e que acabou por enfrentar um golpe, chamado de "proclamação da república", quando atacou de forma mais dura os interesses do setor que já tinha promovido nossa "independência".
Em 1930 finalmente uma reação dos setores de vanguarda do Brasil, que assumiram o poder com um golpe, dado em cima de uma eleição fraudada. Washington Luís caiu, e assumiu Getúlio Vargas. Em 1932 a reação dos setores que mandavam no Brasil desde nossa "independência!. Eles foram derrotados, mas ao invés de Getúlio dissolver o poder dessas oligarquias, ele simplesmente reforçou e concentrou ainda mais o poder econômico nas mãos dessa parcela ínfima da população.
Finda a Segunda Guerra Mundial Getúlio foi deposto, e um arremedo de democracia se instalou. Arremedo sim, porque sempre que essa oligarquia perdia as eleições as ameaças de golpe se seguiam. Isso se concretizou em 1964, quando o país mergulhou em 21 anos de destruíção do tecido social e cultural do país, quando serviços públicos e o sentimento de cidadania e nação começaram a ser atacados.
A "redemocratização" foi uma grande farsa. O acordo que levou à Constituinte e aos quase 30 anos de eleições livres sempre foi frágil, e sempre pairou sobre ele a sombra dos 21 anos precedentes. Lula, para assumir, teve que escrever uma "carta ao povo brasileiro", e mesmo que isso não tenha sido nenhum problema para ele, já que efetivamente nunca se contrapôs aos mandatários do país, o fato deixa clara a tutela exercida por essa oligarquia, e a submissão que parte dos que se dizem oposição a ela se submete.
Com esse quadro é difícil impedir, por meios democráticos, o aparecimento e crescimento de forças que busquem desestabilizar nosso frágil pacto social, sempre em prol da oligarquia estabelecida, porque em momentos de maior calma essas forças são sempre suportadas e apoiadas por essas oligarquias, para serem usadas quando assim o julguem necessário.
Foram os casos de Temer e de Bolsonaro. Se tivessem sido previamente eliminados da vida pública, já que não faltavam provas de seus desvios, e seus movimentos estariam cortados antes mesmo de começarem. Mas quem iria cortar suas tragetórias enquanto apenas começavam, mas quando já mostravam potencial para o que fizeram? Ora, ninguém, porque todos estão mancomunados debaixo do mesmo pacto.
O trecho abaixo, e o texto completo do artigo de Brum é o que digo no Blog dos Mercantes há bastante tempo, mas só terá solução quando as pessoas tiverem peito de enfrentarem a estrutura vigente no Estado Brasileiro. A revolução brasileira precisa visar apenas quebrar essa estrutura social-política brasileira, de forma a levar o país a explorar todas as suas reais potencialidades, porque o Brasil de 2020 ainda não saiu de 1822.
Assim como Brum eu não sei se isso será feito operando retroescavadeiras, mas também como ela atesto que ninguém mais, além dos Ferreira Gomes, tem enfrentado toda essa situação com a dureza que ela precisa ser enfrentada. E por enquanto ninguém apareceu com uma solução melhor que a deles (já que a papagaiada do Estado de Direito já se mostrou ineficaz inúmeras vezes ao longo de nossa história), então é a deles que segue valendo.
E quem pensa que não pode ter golpe (ou auto«golpe), então reveja suas posições, porque ele não apenas é possível, como está em andamento. E quem acha que isso seria feito por um projeto de Brasil está redondamente enganado, já que o projeto é para apenas 1% da população, e se os outros 99% vão se estrepar de vez, eles não estão nem aí. Ou isso é mais uma coisa que vocês não entenderam?
Não se vira refém de uma hora para outra. É um processo. Não dá para enfrentar o horror do presente sem enfrentar o horror do passado porque o que o Brasil vive hoje não aconteceu de repente e não aconteceu sem silenciamentos de diferentes parcelas da sociedade e dos partidos políticos que ocuparam o poder. Para seguir em frente é preciso carregar os pecados junto e ser capaz de fazer melhor. Quando a classe média se calou diante do cotidiano de horror nas favelas e periferias é porque pensou que estaria a salvo. Quando políticos de esquerda tergiversaram, recuaram e não enfrentaram as milícias é porque pensaram que seria possível contornar. E aqui estamos nós. Ninguém está a salvo quando se aposta na violência e no caos. Ninguém controla os violentos.
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