domingo, 2 de fevereiro de 2020

Política e a anti-política do governo Bolsonaro

Os últimos dias foram marcados por mais desgastes do governo Bolsonaro. O problema é que, diferente do que diz, o governo Bolsonaro não quer pacificar o país, mas sim impor uma visão de Estado e Sociedade que não contempla a todos, e pior, que exclui a muitos. Em outras palavras, é um governo de raiz basicamente ditatorial. Por isso Bolsonaro renega a política, e fala em "nova" política. Na verdade, isso de novo não tem nada.

Mas todo governo não é autoritário, todo governo não impõe condições e visões de Estado e Sociedade?

Sim e não.

Sim, porque uma vez definido um caminho, então é dever do Estado levar com que todos percorram este caminho, criando condições que isso ocorra, com o menor nível de danos possível aos cidadãos.

Mas não, porque não é o Estado quem tem que definir o caminho, mas sim a Sociedade, através de um amplo debate, em que todos sejam realmente ouvidos, em que acordos sejam feitos, em que todos ganhem, mesmo que parte perca um pouco. Após esse acordo definido, aí sim cabe ao Estado impor o caminho a ser trilhado.

E isso é o que caracteriza a Democracia. Por isso eu digo que o Brasil não vive, e nunca viveu na Democracia, mas apenas num arremedo patético dela, porque nunca foram celebrados acordos, porque sempre só um lado perde, ainda que eventualmente ganhe algo, mas há um lado que só ganha, e nunca perde nada.

É como o caso da Destruição da Previdência, quando o lado que só ganha decidiu acabar com a Previdência, para que eles pudessem ganhar ainda mais. Bem, foi promovido um arremedo de debate, onde se fingiu ouvir o outro lado, porque por mais que se mostrassem várias saídas, várias opções nenhuma delas foi nem sequer considerada, porque a decisão já havia sido tomada.

De vez em quando, o lado que só ganha cansa de fingir democracia, e aí vemos 20 anos de regime militar, Bolsonaro, etc.

A tentativa patética de Regina Duarte em pacificar a classe artística é um grande exemplo. Ela assume um Secretaria de Cultura do Governo, e faz um cartaz colocando as fotos de inúmeros artistas, numa patética tentativa de mostrar coesão e apoio. O problema é que ela não chamou ninguém para conversar, ela não desfez todo o mal estar criado por seu chefe, ela não indicou nenhuma mudança de rumo na política desastrosa, na forma desrespeitosa e irresponsável como a Cultura e os artistas estão sendo tratados por esse governo. O contrário é só se estiverem submetidos ao viés ideológico do próprio governo.

Claro e óbvio que isso não daria certo, porque não há discussão, não há acordo, há apenas a tentativa do governo de impor a visão de um lado minoritário (diferente de minoria) da sociedade. As reclamações e os desmentidos foram tantos, que a coisa para variar degringola.

A questão da reunião de Bolsonaro com alguns artistas também. Uma opinião de parte pequena é colocada em pauta, e são usadas as imagens de vários artistas para tentar angariar apoio a essa causa, mas à maioria deles nem mesmo se perguntou se o tema tem seu apoio. Claro que não pode dar certo.

E isso se expande pela Economia, Justiça, Política Externa, etc.

Bolsonaro e seu governo não fazem política, eles fazem a anti-política. Eles buscam impor visões de mundo, que não têm ampla adesão nem mesmo de seus apoiadores mais diretos. Discussão? Isso não existe, por isso tanta decisão, desistência, outra decisão, tanta crítica, tanto atraso, e tanto tempo perdido.

Para um país quatro anos podem não ser nada, para uma geração pode ser a diferença entre uma vida produtiva e plena, ou desesperada e desperdiçada, para uma pessoa pode ser a diferença entre a vida e a morte.

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